Os protestos da capital sob o olhar de quem não estava nas...

Os protestos da capital sob o olhar de quem não estava nas ruas

O sol refletia nas janelas dos carros parados no sinal, os carros que fechavam o cruzamento. E batia também na minha pele que já começava a ficar vermelha. No momento em que o motorista se aproximou do meio fio, foi obrigado a abrir as portas para que as pessoas pudessem descer e caminhar até seu destino final. Percebi que alguns deles estavam a caminho da manifestação, esperando ansiosos pela oportunidade de gritar pelos direitos que estão sendo praticamente negados. Para os outros, restava avisar a seus chefes o atraso.

O que se ouvia eram buzinas e reclamações de motoristas, passageiros, pedestres e trabalhadores do local, que não entendiam o que estava ocorrendo poucas quadras acima, na Praça Sete. Quem estava informado tentava repassar a informação. Enquanto isso, comerciantes da região aglomeravam-se na porta de suas lojas, alguns com buzinas e perucas verde-amarelas, participando quase sem querer daquilo que marcaria a cidade de Belo Horizonte e todo Brasil na segunda feira, 17.

Aos poucos, o transito fluía e pude observar, mesmo que de longe, uma pequena parte de manifestantes gritando em meio a Avenida Afonso Pena. Nunca tinha viso nada igual, nem quando criança, nas oportunidades em que meus pais me traziam ao centro para assistir o desfile de Sete de Setembro. Confesso, me arrepiou. Aquela imagem não saia mais da minha cabeça: jovens com cartazes desconectaram-se dos 140 caracteres, desligaram-se do Facebook para fazer, de fato, uma revolução.

Até que ponto a realização de um grande evento esportivo pode contribuir para uma cidade? Até que pontos estes eventos beneficiam o cidadão, em dia com seus impostos e em hora com seus tributos? Era isso entre várias outras coisas que eles reivindicavam. E saíram pra isso, rumo ao Mineirão, cheios de toda a coragem do mundo e seguidos de toda energia positiva de quem organizava, ajudava e informava nas redes sociais a primeira das várias manifestações previstas para essa semana na cidade.

As imagens mostraram a pacificidade do movimento. Estudantes, professores e a população em geral participavam da caminhada pela Avenida Antônio Carlos. Superando barreiras, literalmente falando, eles se aproximaram do Mineirão, e foi em frente ao campus Pampulha da UFMG que aconteceram os confrontos. Foram cenas de guerra lamentáveis. Uso da força por parte da polícia e uma pequena parcela dos manifestantes que não respeitavam as ordens, transformando uma bela causa em um triste fim de tarde. Era pra acabar melhor, mas infelizmente teve gente ferida e outros presos. Neste momento, confesso que senti medo. Bombas, fogo, tudo aquilo me assustava. Não esperei que essas coisas fossem chegar até o ponto que chegaram. A geração conectada me surpreendeu.

Enquanto isso, mais protestos aconteciam no centro. A Praça Sete estava mais uma vez tomada e quem pôde, voltou da Pampulha para se juntar aos manifestantes do centro.

Na volta pra casa mais uma surpresa. Pessoas engajadas numa discussão até divertida no ônibus. Todos comentavam. Motorista, cobrador e os poucos passageiros que restaram no deserto do centro após as 23h, falavam da importância deste tipo de ação e os próximos passos para uma efetiva mudança política no Brasil.

Quem participou é suspeito pra falar. Eu ouvi, acompanhei pela internet. Me assustei em alguns momentos, mas me orgulhei muito dessa juventude frustrada. Tá certo que uma parcela é por modinha, mas é bom ver que também são influenciados por algo além de publicidade, algo que vale a pena correr atrás.

Por Ana Carolina Vitorino

Foto: Ludmila Teixeira

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