PARA SEMPRE RENATO RUSSO: 20 ANOS APÓS A MORTE, OBRA SE MANTEM...

PARA SEMPRE RENATO RUSSO: 20 ANOS APÓS A MORTE, OBRA SE MANTEM ATUAL

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Foto: Pablo Abranches

Há 20 anos, o Brasil ficava órfão de um dos precursores do rock brasileiro: Renato Manfredini Júnior, artisticamente conhecido como Renato Russo. O líder e vocalista da banda Legião Urbana, sucessos dos anos 1980 e 1990, morreu numa clínica no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. O artista nos deixou, aos 36 anos, na primeira hora da madrugada daquele 11 de outubro de 1996, vítima de complicações decorrentes da AIDS O ídolo de toda uma geração passou os últimos anos da sua vida compondo.

Apesar de ter morrido em terras cariocas, Renato viveu em Brasília por muitos anos. Filho de funcionário público e de classe média alta morou nos Estados Unidos e na Europa. Durante um tempo, foi professor de inglês, idioma com o qual interpretou músicas pop para o álbum solo The Stonewall Celebration Concert, em 1994. Na capital federal, a carreira como músico começou a decolar com a banda Aborto Elétrico, com fortes referências da música punk.

Em outro momento, num breve período dos anos 80,  Renato Russo também participou da banda Trovador Solitário. Mais tarde, juntou-se a Marcelo Bonfá, Eduardo Paraná e Paulo Guimarães, onde, jutnos, formaram a Legião Urbana. Em 1983, Dado Vila-Lobos assumiu a guitarra. Aos 18 anos, ainda jovem, assumiu ser homossexual. Gesto de muita coragem e ousadia, sempre presente na sua personalidade controversa. O compositor também teve um filho, que dizem ter sido adotado. Guiliano Manfredini é o responsável hoje por administrar a marca Legião Urbana.

A OBRA

A discografia de Renato Russo e da Legião ficou marcada com grandes sucessos que podem ser comprovados em números. Somados, a discografia conta com dez discos de Diamante e Platina Triplo, tendo alcançado por vários álbuns seguidos mais de 1 milhão de cópias vendidas, como é o caso de Equilibro Distante, lançado em 1995, um ano antes de sua morte. Considerado um músico e compositor único, o roqueiro tinha uma personalidade controversa, mas com grandes doses de poesia e crítica social.

Renato sempre foi um artista à frente do seu tempo e, por isso, sua obra continua atual e, porque não dizer, imortal. Com letras politizadas e românticas o jovem sempre ousou a questionar e problematizar as relações humanas. Renato falava do amor como poucos, além de mobilizar, por meio da música, centenas de milhares de jovens a acompanhar a vida política do país, trazendo à tona referências musicais inteligentes para aquele tempo.

Nas poucas entrevistas concedidas, o cantor demonstrava uma visão de mundo lapidada, reflexiva e democrática. “E de repente – eu como pessoa, indivíduo e como artista – achei que, para manter minha consciência tranquila, seria legal dar uma resposta a isso. Acho que a importância é  informação…é  base do fascismo, do preconceito e da intolerância é a falta de informação. Qualquer pessoa que tem informação já pensa diferente”, disse Renato com acentuado sotaque carioca, ao questionar a cobertura da grande imprensa da época aos fatos políticos do período, durante entrevista para o programa MTV no Ar.

 EM VERSOS

Se vivo, Renato Russo completaria 56 anos em 27 de março deste ano. Mas apesar da morte prematura, suas obras são tão contemporâneas que as gerações de fãs sempre se renovam. Mas ele também tinha seus ídolos, curtia os Beatles e os Rolling Stones, na década de 70, o que viria a influenciar toda a sua carreira musical. Nos primeiros álbuns, ele deixou claro suas fontes e o fascínio que tinha pelo rock britânico.

O primeiro álbum Legião Urbana trouxeram os sucessos Será, Ainda é Cedo e Geração Cola-Cola. Mesmo tendo sido o primeiro LP a ser lançado pela banda, o disco foi o quinto mais vendido e recebeu o Disco de Platina, alcançando mais de 971 mil cópias vendidas. O último disco, Tempestade, foi lançado em 20 de setembro de 1996, menos de um mês antes da morte de Renato Russo reflete o momento de solidão e depressão do artista. O álbum teve vendagem de 996 mil cópias e foi o quarto mais vendido da banda com o certificado de Platina triplo pela Academia Brasileira de Produtores de Discos.

Apesar de póstumas, as obras do cantor se multiplicaram. Onze músicas interpretadas por Renato Russo ou do Legião Urbana fizeram parte de trilhas sonoras de telenovelas de sucessos desde 1990. É o caso de Meninos e meninas (Rainha da Sucata, TV Globo, 1990), Send in the clouds (Pátria minha, TV Globo, 1994), La solitudine (Cara e Coroa, TV Globo, 1995), La forza della vita (O Rei do gado, TV Globo, 1996; e Aquele beijo, TV Globo, 2012), Love in the afternoon (O Clone, TV Globo, 2001), Mais uma vez (Mulheres Apaixonadas, TV Globo, 2003), Vento no litoral (Cobras e lagartos, TV Globo, 2006), Like a flower, com Fernanda Takai, (Tempos modernos, TV Globo, 2010), Será (com Simone, em Perigosas peruas, TV Globo 1992; e com o Legião Urbana em Insensato Coração, TV Globo, 2011), Pais e filhos (A Vida da Gente, TV Globo, 2010). A telenovela mais recente a ter uma canção composta por Renato Russo em sua na trilha sonora foi Velho Chico, com Monte Castelo, tema do personagem Martim (Lee Taylor).

No cinema, a vida do maior compositor do rock brasileiro ganhou destaque nos últimos anos. Dois filmes foram lançados, inspirados nas canções e na sua biografia. Em 2013, Faroeste Caboclo, dirigido por Renné Sampaio,  alcançou faturamento de 15,5 milhões de reais, aproximadamente, e levou aos cinemas cerca de 1,4 milhão de espectadores durante seu lançamento. A outra produção foi Somos tão jovens, dirigido por Antônio Carlos de Fontoura, também demonstrou como o artista continua a ser idolatrado pelo público. O filme faturou mais de 18 milhões de reais e levou ao cinema mais um milhão de espectadores, segundo dados do site oficial.

EM LIVROS

Na literatura, a vida e obra do artista, também, foram contadas por vários escritores, entre eles, Regina Rosseau, Henrique Rodrigues e o próprio Renato Russo. A última edição lançada, em 2015, foi Só por hoje e para sempre – Diário de um recomeço, que conta a história dos 29 dias que passou numa clínica de recuperação para dependentes químicos. Sempre exigente, Renato tinha o desejo de que a obra fosse lançada depois de sua morte. Após 20 anos, o livro chegou às livrarias trazendo as memórias de um período valioso, de contato íntimo com o artista durante um momento de profunda reflexão e superação. Em entrevista para a edição do mês de setembro para a revista Rolling Stones, Guilliano, diz que leu chorando em cinco horas o manuscrito original do livro do pai.

Foto: Pablo Abranches
Foto: Pablo Abranches

Também em entrevista para Rolling Stones, Marcelo Bonfá, ex-companheiro de banda, expressa sua admiração pelo parceiro. As letras, de caráter filosófico ou político, muitas vezes foram escritas pelo vocalista após a criação coletiva das melodias. “Acima de tudo, Renato era um cara muito democrático. Assim como sabia aproveitar das pessoas o que precisa para levar suas ideias adiante. Assim nasceram várias canções, nas quais posteriormente todos interviam, dando palpites nas melodias e nas estruturas harmônicas”, explica Bonfá.

Para estudante de publicidade, Geferson Magalhães, 20, sua relação é de fã número 1 com banda que marcou o início do rock brasileiro. “A Legião Urbana é a melhor banda do mundo. Renato é sensacional, quando era adolescente queria fazer uma banda cover, mas infelizmente não deu certo. Mas se ainda aparecer alguém que queira fazer, eu quero muito ainda. Escuto todos os dois dias”, conta Geferson entusiasmado.

Geferson
Geferson Magalhães,  20, se intitula fã número 1 de Renato Russo.

Para a geração que viveu intensamente o Renato durante sua carreira na Legião, como um messias, o músico parecia profético ao escrever de forma tão moderna. Para Manoel Araújo, 45, gerente de auxiliar de cobrança, nos anos 70 a banda que mais curtia era a de Renato. “A música que mais gosto deles é Índios, porque fala de uma inocência, sobre acreditar no homem, acreditar num mundo melhor. As letras dele são tão atuais porque estamos carentes de boas composições na música brasileira e no rock hoje.

Manuel
Manuel Araújo é fã de Legião Urbana desde sua criação.

“Ele era um pensador da época e como pensador escrevia questionando a política, o país, a podridão que existia naquela época e que ainda existe hoje. Por isso as letras dele vão continuar eternamente, vão prevalecer pra sempre. Renato não morreu”, comenta Manoel, fazendo referência ao famoso bordão “Elvis não morreu”, também de outro ícone de uma geração do rock nos EUA.

O LEGADO DE 30 ANOS

Hoje, dia 11 de outubro, homenagens pelo Brasil e nas redes sociais, marcam os 20 anos de sua morte. Recentemente, Marcelo Bonfá, Dado Villa-Lobos lançaram uma turnê para comemorar os 30 anos do primeiro disco. O projeto intitulado Legião Urbana – 30 anos traz o disco original remasterizado e curiosidades da carreira. O show em Belo Horizonte está marcado para o dia 22 de outubro, no Hangar 677. Os ingressos variam R$ 110,00 (2º Lote/pista) até 253 (1º Lote/Camarote Open Bar). Em setembro, a TV Globo reprisou o especial Por Toda Minha Vida, um documentário que conta a história de ídolo com depoimentos e trechos de apresentações do artista que está imortalizada pra sempre na história da música brasileira.

Matéria produzida pelas turmas de terceiro e quarto período de jornalismo, na disciplina Tidir/JOR2B

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