Refúgios urbanos: a interrupção como um novo caminho

Refúgios urbanos: a interrupção como um novo caminho

Foto: Marina Rezende

A vida moderna tenciona as pessoas a, cada vez mais, aumentarem a velocidade de suas atividades. O trânsito caótico e os horários “apertados” as tornam mais estressadas e, consequentemente, menos atentas a onde vivem. Na contrapartida disso, ainda existem pessoas que se desligam, pelo menos um pouco, do estresse da vida moderna e se empoderam da cidade.

No meio da Praça da Liberdade encontramos o estudante de Relações Internacionais, Felipe Xavier. Ele lia o início do livro Encontro Marcado, de Fernando Sabino, antes de ser abordado por nossa equipe. “As pessoas não costumam prestar atenção na cidade.”, aponta. Segundo Xavier, o momento crucial que sinaliza a necessidade de reduzir a velocidade do dia-a-dia é quando o cansaço (físico e mental) chega ao extremo. “A plasticidade da cidade é um refúgio, traz descanso e tranquilidade.”, finaliza.

“De tudo ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”

Encontro Marcado – Fernando Sabino

No banco ao lado de Xavier havia um casal. Vivendo em bairros distantes, Ana Carolina Cordeiro e Cairo Luís, ambos estudantes de 18 anos, fazem da região central um ponto de encontro. “Serve para aliviar, melhorar o humor, relaxar.”, argumenta Luís, enquanto segura a mão direita de Ana Carolina. Ela, por sua vez, ressalta as características da Praça da Liberdade que influenciam na escolha do local para dar uma pausa na rotina. “É um ponto que está mais acessível, no centro da cidade. É aconchegante, tem guarda-municipal, natureza, etc.” O casal, ainda, declara o amor um pelo outro. Luís conta que eles se conhecem há dez anos e que a amizade ajudou no namoro, que já dura um ano e um mês.

Também encontramos Rosilene Carneiro, coordenadora pedagógica de 50 anos que cuidava de crianças que se divertiam próximas às árvores. “Estamos na fila de um museu há um “tempão” e não conseguimos vagas. Daí, dividimos. Viemos com duas turmas: uma está lá dentro [museu] e nós estamos aqui, esperando, e aproveitando a Praça da Liberdade.”, explica. Quando a perguntamos da importância de as crianças terem, desde cedo, a cultura de passar pela cidade com calma, Carneiro fez sinal positivo e acrescentou que só faz isso nas férias. “Você não tem tempo para relaxar. É só trabalho, trabalho, trabalho, e você fica por conta disso. Não dá para, por exemplo, caminhar na praça, pois existem muitas, muitas outras atividades a serem feitas.”, justifica.

Com sacolas em punho, Ana Caldas, 46, servidora pública, caminhava com passos largos e ligeiros. “Durante a semana eu tenho obrigações. Horário de serviço, de levar minha filha na escola, de buscar, compromissos que não podem ser adiados para poder parar para apreciar a cidade”, declara enquanto corre. Ela diz que nem sempre o rápido e o devagar representam o que parecem. “Às vezes você pode fazer as coisas rapidamente de uma maneira tranquila. Não significa que é devagar e tranquilo.”, compara.

Por fim, avistamos uma idosa sentada com alguns papéis em mão. Ao nos aproximarmos, fomos recebidos com um sorriso largo e um convite para sentar no banco que, antes, era ocupado pelas sacolas que carregava. Berenice de Oliveira, de 74 anos, nos contou sobre seu dia. “Hoje eu tenho uma manicure, então resolvi sentar na praça para ler e relaxar. Eu não substituo esse momento, comigo mesma, por nada”, reconhece.

Por: Gabriel Peixoto

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