SUS atende 200 mil pessoas por mês com transtorno mental

SUS atende 200 mil pessoas por mês com transtorno mental

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Ricardo Esteves (ao fundo), palestrando. Foto: Facebook oficial da ABRATA

O Coordenador Estadual de Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde Minas Gerais (SES/MG), Humberto Cota Verona, estima que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do estado atendam em média 200 mil pessoas por mês. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são dispositivos territoriais de urgência para atendimento a casos graves, ao serem estabilizados são referenciados às Unidades Básicas de Saúde para acompanhamento ambulatorial. O SES/MG estima, portanto que, a rede básica de saúde do SUS acompanha aproximadamente 100 mil pessoas com transtorno mental/mês em todo estado.

“Não é possível dimensionar quantos pacientes entram e saem dos hospitais psiquiátricos conveniados com o SUS. No entanto, é possível dizer que esse número reduziu, significativamente em relação ao ano 2000, pois, naquela época, só havia no estado de Minas Gerais 36 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), o que justificava uma demanda maior para internações psiquiátricas”, explica Verona.

Na Idade Média os considerados loucos eram confinados em grandes asilos e hospitais, a classe de indesejáveis: inválidos, portadores de doenças venéreas, mendigos e libertinos. Os mais violentos eram acorrentados e alguns eram permitidos sair para mendigar. Phillippe Pinel, considerado o pai da psiquiatria, propôs uma nova forma de tratamento aos loucos, libertando-os das correntes e transferindo-os aos manicômios, destinados somente aos doentes mentais. O tratamento nos manicômios, defendido por Pinel, baseou-se principalmente na reeducação dos alienados, no respeito às normas e no desencorajamento das condutas inconvenientes.

Com o avanço das teorias organicistas, o que era considerado como doença moral passa a ser compreendida também como uma doença orgânica. Iniciou-se então o movimento da Luta Antimanicomial que nasceu profundamente marcada pela ideia de defesa dos direitos humanos e de resgate da cidadania dos que carregam transtornos mentais. No Brasil, tal movimento começou no final da década de 70 com a mobilização dos profissionais da saúde mental e dos familiares de pacientes com transtornos mentais. Esse movimento se inscreve no contexto de redemocratização do país e na mobilização político-social que ocorre na época, e a partir da inserção da nova política, foi possível o paciente ter seu direito de convívio em sociedade preservada, um tratamento humano e assistido por profissionais comprometidos.

A Política Nacional de Saúde Mental, apoiada na Lei nº 10.216/2001, tem por finalidade proteger e garantir os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e consolidar a importância no tratamento dessas doenças. Conforme o artigo 3º desta lei é responsabilidade do Estado: “O desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.”.

Postos de saúde tem papel importante em atendimento

“No início foi difícil conversar com alguém que eu não conhecia, mas se não fosse isso, talvez eu não tivesse aguentado. É muita angústia.” diz Hudson do Nascimento Reis, 45 anos, sobre o acompanhamento psicológico que teve no Centro de Saúde Dom Joaquim, localizado no bairro Fernão Dias, região nordeste de Belo Horizonte. “Se minha família não tivesse insistido eu nem teria procurado ajuda, ainda bem que procurei.” conta Reis, que foi diagnosticado com depressão após a morte da sua esposa Camila do Rosário Silva Reis de 40 anos que sofria com um câncer no intestino, e foi a óbito em 2012. Ele foi encorajado pela família a buscar apoio para a doença na rede pública de saúde.

A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), informa que a Política de Saúde Mental de Belo Horizonte segue as diretrizes da Reforma Psiquiátrica e os princípios da luta antimanicomial do Ministério da Saúde.

Quanto ao atendimento, cada unidade do Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam) atende demanda espontânea e, também, usuários que são referenciados pelos centros de saúde, UPAs e outros serviços de saúde, além da rede de acolhimento e proteção.

Os casos em crise, que necessitam de um acompanhamento mais sistemático e intenso são encaminhados para outros serviços especializados, dependendo de cada caso, mas mantendo a referência do caso na APS (Centros de Saúde). Atualmente, a média de usuários em tratamento na modalidade de permanência/dia é de 70 usuários, em cada um dos CERSAMs, além do atendimento ambulatorial. O tratamento pode variar de 60 a 70 dias e não existe limite quanto ao número de atendimentos quanto à permanência. Todos os usuários que procuram o serviço são atendidos e encaminhados de acordo com a demanda apresentada.

Grupos de apoio oferecem ajuda psicológica

A psicóloga Elayne Aparecida Costa Almeida Dias, 23 anos, ressalta sobre a importância desses grupos para o bem estar do paciente e familiares. “Os grupos de apoio têm, portanto, a função de inserção social, bem como de conscientização não somente do paciente, mas também de sua família”, esclarece Dias.

Por vezes às pessoas com doenças psicológicas sofrem algum tipo de comportamento hostil por parte de alguém sendo sua maioria da própria família, porém, o problema é grave, deve ser reconhecido e tratado com a devida atenção.

“É um local onde ambos terão a oportunidade de se expressarem, serem ouvidos e orientados. O Psicólogo nesses grupos tem, portanto, a função de mediador das conversas ali tidas, promovendo debates, acolhimento, assistência e orientação.” explica Dias.

A ABRATA, abreviação para Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos, é um dos mais reconhecidos centros de atendimento psicológico sem fins lucrativos. Tem por objetivo apoiar psicossocialmente as pessoas com depressão e transtorno bipolar, seus familiares e amigos, reduzir o estigma e melhorar a qualidade de vida das pessoas com transtornos afetivos.

Os recursos para manter a instituição são provenientes de contribuições de associados, eventos de captação, eventuais patrocínios e doações de empresas. “A iniciativa partiu da convivência num grupo chamado GRUDA que fica o Hospital das Clínicas e atuava com médicos e pacientes. Daí nasceu à ideia de criar algo que funcionasse como um grupo apenas com os portadores ou familiares sem presenças dos médicos”, relata o diretor de Comunicação da ABRATA, Ricardo Esteves.

Atualmente, a instituição conta com 5.400 associados e 45 voluntários, sendo 13 psiquiatras e 4 psicólogos, com 2.830 pacientes ativos e atendidos (levantamento feito em 2015) “Eu mesmo comecei participando dos grupos em 2008 e atualmente sou voluntário”, revela Esteves. Entre as atividades de apoio, estão palestras abertas ao público que esclarece sobre sintomas, tratamentos, e dificuldades sobre a depressão e transtorno bipolar, assim como, grupos nos quais os participantes fazem relatos, tiram dúvidas e trocam experiências, possibilitando um conforto entre os iguais.

Ricardo Esteves (ao fundo), palestrando. Foto: Facebook oficial da ABRATA
Ricardo Esteves (ao fundo), palestrando. Foto: Facebook oficial da ABRATA

“A sede é em SP e estamos abrindo o primeiro núcleo fora que ficará em Santos. Qualquer necessidade de um portador ou familiar e amigo, basta entrar em contato com a ABRATA que sempre haverá orientação.” informa Esteves. A ABRATA possui parcerias com outros grupos de apoio, como o CVV (Centro de Valorização da Vida), ASTOC (Associação Brasileira de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo Compulsivo), ABTB (Associação Brasileira de Transtorno Bipolar).

Em Minas Gerais, também, há grupos de apoio com a mesma base solidária, seguem os mesmos padrões de atendimento, com atividades diversas para melhorar a qualidade de vida e bem-estar dos pacientes. A iniciativa tem que partir do próprio membro e a família é essencial nesses casos.

 

por: Lorrayne Chacon

 

Matéria produzida pela aluna do terceiro período de jornalismo, Lorrayne Chacon, na disciplina de TIDIR/JOR2B

 

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