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19 de Agosto

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Fotografia: Lucas D'Ambrosio

O dia 19 de Agosto representa uma importante data para a história da comunicação humana. Neste dia, são comemorados os 177 anos do comunicado oficial da invenção da fotografia, realizado na França, no ano de 1839. Desde então, essa forma de comunicação imagética passou por transformações significativas, desde a sua forma de produção até os meios utilizados para a sua divulgação. O que antes era realizado por “alquimistas da imagem”, através de processos químicos, hoje se transformou em um trabalho informatizado e digitalizado. Não impedindo, contudo, a utilização de ambos os processos, analógico ou digital, por aqueles mais saudosistas e apreciadores das formas artesanais de se produzir fotografias.

É incontestável a importância histórica que existe na fotografia, não apenas para os canais de comunicação que há muito dependem dela – dos primeiros formatos de jornal impresso até os portais mais visitados da internet – mas, também, para a vida pessoal que é contada e registrada por meio de tantos registros fotográficos. São retratos de memórias e lembranças do passado que ainda sobrevivem espalhados, por entre vários álbuns de capa colorida e com cheiro de mofo, e guardados com esmero nas casas dos nossos pais, avôs e avós. Assim como o trabalho realizado por Fernando Rabelo, em seu blog pessoal. Entre seus trabalhos autorais, dedica parte do seu tempo para reviver fotografias históricas, de várias épocas e locais do mundo, compartilhando um acervo com mais de 5 mil registros.


Fotografia no Brasil

No Brasil, a fotografia desempenha sua função informativa por meio da eficiência do olhar de nomes como Juca Martins ou Nair Benedicto. Assim como outros, eles estiveram entre ruas, pessoas e tropas durante o período em que o Brasil esteve sob o regime da ditadura militar. Nesta fase da história nacional, a fotografia se fez como um instrumento de defesa para deflagrar e denunciar os abusos e crimes cometidos durante o fatídico período. Já em trabalhos que transcendem o fotojornalismo e assumem um papel artístico, o nome de Sebastião Salgado é lembrado. Com o reconhecimento conquistado por trabalhos que tratam da condição humana, em diferentes lugares e contextos sociais, está entre os clássicos e renomados nomes da fotografia mundial ao lado de, Henri Cartier-Bresson, Robert Capa, Ansel Adams, Helmut Newton, Walter Firmo, entre outros.

A nova geração também vem mostrando o seu valor e conquistando reconhecimento nacional e internacional. O fotojornalista independente, Maurício Lima, é o grande representante dessa safra. Com o trabalho realizado sobre a recente crise dos refugiados do oriente médio, em Abril, conquistou o Prêmio Pulitzer na categoria de fotografia de notícias – criado em 1917, tido como o mais importante do jornalismo internacional – se consagrando o primeiro brasileiro a alcançar tal feito. De mesmo modo, a fotografia também vem desempenhando o seu papel informativo durante os últimos anos de instabilidade política no Brasil.

Em meio a protestos e manifestações, essa nova geração de fotógrafos e fotojornalistas se mostram presentes com câmeras e celulares em punho. Com a possibilidade de produzir e divulgar conteúdos de forma instantânea, por meio da transferência de conteúdo pela internet, os acontecimentos são reproduzidos em tempo real e, novamente, se tornaram um instrumento para coagir repressões e fazer denúncias contra abusos policiais e cometimento de crimes. Este incômodo provocado pelas câmeras, ou até mesmo pelas telas de celular, fazem com que profissionais que utilizam da fotografia como ofício se tornem vítimas. Pouco valorizada no mercado, por instituições e por parte da sociedade, a fotografia dificilmente é reconhecida como uma “verdadeira” profissão. Ao contrário de carreiras tradicionais, que possuem regulamentações e condições mínimas de trabalho, a fotografia ainda tenta superar o preconceito e toda sua desvalorização. Como arte, é pouco reconhecida no Brasil. Como profissão, é praticamente esquecida.

“A Cega Justiça”

O caso mais recente é o do fotojornalista Sérgio Silva, de São Paulo. Durante as manifestações de Junho de 2013, foi ferido por um tiro disparado pela polícia e ocasionou a perda da visão do seu olho esquerdo. Depois de três anos do ocorrido, uma decisão da 10ª Vara da Fazenda Pública, do Tribunal de Justiça de São Paulo, TJSP, negou o pedido de indenização realizado pela defesa de Silva. De acordo com a decisão publicada nessa semana, o fotógrafo assumiu o risco ao se colocar entre a linha de confronto da polícia e dos manifestantes. Dessa forma, de acordo com a decisão, ele assumiu as consequências excluindo a responsabilidade do estado. Decidiu-se, portanto, que o fotógrafo Sérgio Silva é o culpado por estar cego. Que o dia 19 de Agosto, assim como qualquer outro dia, seja o dia para se lembrar que, além da arte e além da profissão, a fotografia é feita por gente. Gente que merece respeito e dignidade.

Texto: Lucas D’Ambrosio