Tags Posts tagged with "audiovisual"

audiovisual

0 496

Por Tales Ciel 

Todo grande cineasta tem que começar de algum lugar, e o audiovisual, como toda forma de arte, consegue aproveitar bastante a universidade para iniciar suas experimentações e produções. Guilherme Jardim é co-diretor e roteirista do curta-metragem “Dois”, junto com Vinícius Fockiss. Jardim também é aluno do Centro Universitário Una e integrante da agência Una 360.

O curta conta a história de Bernardo e Luix, que buscam aproximação afetiva durante o período de distanciamento social e, em meio ao caos, tentam descobrir outras formas de amar. Foi contemplado pela 6ª Edição do Prêmio BDMG Cultural, nomeado Melhor Filme pelo Júri do Festival Kinolab Tela Digital 2021, e mais. Guilherme Jardim conta um pouco sobre o seu processo de criação de um filme independente e as algumas das dificuldades de produção em meio ao isolamento social.

Em parceria com o Contramão, o Núcleo de Relações Públicas e Cultura traz o Palco 360: onde os estudantes que integram a equipe podem exibir suas produções e trabalhos. Guilherme concedeu uma entrevista sobre seu filme e nos contou sobre sua vida profissional e a produção de “Dois”.

Como é o processo de produção de um filme?

Esse processo de elaboração de filme, pra mim a princípio é um processo muito aberto. Porque, normalmente, pode ser uma frase que me motiva a escrever um roteiro, pode ser uma imagem que eu vi e que tive vontade de fazer uma história baseada nela, pode ser de alguma história que já escutei. Então depende do caso.

O filme “Dois”, por exemplo, que é o filme que eu faço roteiro e direção, surgiu a partir de uma frase que tinha anotado num tipo de bloco de notas do celular. E a partir dali, fui moldando essa história junto com o Vinicius Fox, que é meu amigo e fez esse filme junto comigo. E a gente chegou onde o “Dois” é hoje.

 

Quais as dificuldades que mais te testaram durante o projeto de “Dois”?

As maiores dificuldades que eu enfrentei durante o processo de criação do “Dois” foram, primeiro: o filme foi idealizado e desenvolvido durante a pandemia do coronavírus; o início da pandemia. Então a gente já tinha a primeira dificuldade de produção que seria fazer um filme em dupla à distância. Não podendo nos encontrar e tudo mais.

E aí, depois, também de direção à distância. Porque é um filme que envolve dois atores, o Bernardo Rocha e o Luis Gabriel, e que se fala muito sobre amor em meio ao caos. Então tinha também essa diferença entre a realidade que estávamos vivendo e o que queríamos propor junto ao filme.

Fazer esse direcionamento, tentar se aproximar dos atores e criar essa relação mais íntima mesmo à distância, acho que foi a maior dificuldade. Mas ao mesmo tempo, também, foi a maior alegria, assim, dentro do filme. Porque, eu acho que todo esse processo acabou fortalecendo a mensagem que a gente queria passar com o “Dois” e o queremos propor com essa história. Então, até no meio dessas dificuldades, a gente acabou conseguindo criar novos caminhos, para que as coisas fossem possíveis mesmo de acontecer.

E eu acho que se fazendo cinema universitário independente, precisa ter muita dessa força; de tipo, tem que querer um pouquinho mais do que o normal. Porque qualquer coisa desanima e, enfim, a gente precisa ter essa consistência e acreditar nas coisas que a gente faz.

 

Como é conseguir/ter o apoio da instituição?

É, ter a universidade como apoio no processo facilita alguns passos, principalmente quando a gente tá desenvolvendo a escrita do projeto. Nas aulas a gente tem as orientações dos professores, que têm experiências diversas. Então, isso acaba agregando muito nesse processo de criação e eu acho que é um facilitador também. Muitas vezes nós ficamos em dúvida, inseguros com o que estamos propondo e é bom ter esse apoio junto aos professores, de mostrar a sua ideia e compartilhar e ir construindo juntos.

Acho que um ótimo exemplo no processo do “Dois” foi a nossa relação com a Mariana Mól, que era professora na época da disciplina de P.I. de ficção, e a gente tinha um diálogo muito aberto, muito horizontal. Muitas vezes nós chegávamos com uma ideia e – uma ideia embrionária, que seja – e conversava, e acabavam surgindo novas ideias no meio disso.

Também tem muito haver com o se questionar, sabe? Acho que a universidade dá também essa oportunidade para sermos mais críticos com os trabalhos que fazemos. Colocam a gente pra pensar: ‘Que história é essa?’; ‘Onde que a gente quer chegar com essa história?’; ‘Por que que a gente tá contando ela?’. E ter argumentos plausíveis e profundos. Ao meu ver, acho que cada caso é um caso, e pro “Dois” foi muito importante se questionar várias coisas, acessar memórias afetivas e ter essa troca mesmo; essa relação coletiva e horizontal com todo mundo que estava, de alguma forma, desenvolvendo esse projeto.

Até teve um caso muito marcante, que eu amo, que foi quando estávamos tendo uma das orientações com a Mariana e ela lembrou de um livro da Ana Maria Martins – Como Se Fosse A Casa. Ela lembrou de um poema específico e falou: “Olha, pelo que vocês estão me falando, me lembrei disso aqui!”. E nós estávamos numa reunião ao vivo e ela meio que abriu o guarda roupa, pegou o livro na hora e leu pra gente. Depois mandou as fotos, para termos o acesso, também, digitalmente, caso fosse interessante usar. Enfim, [usar] como uma inspiração e acabou virando, sim, uma das coisas que usamos de referência. E acho que, também, essa construção afetiva, sabe? Do filme, junto aos professores; acaba criando um corpo que [vai] além do que a gente consegue imaginar e querer. É muito natural e muito bonito.

 

Se pudesse citar um dos seus projetos favoritos, qual seria?

O “Dois” foi um processo muito íntimo pra mim. Tanto pela troca com o Vinicius, de pensar nisso juntos, sabe? Tanto [quanto] fazer um filme para que eu acreditasse no meu potencial. Eu estava vindo, antes do Dois, de um processo que eu me desacreditava muito. Das coisas que eu poderia propor. Eu não me via muito nesse lugar, principalmente de roteiro; tinha muita dificuldade de me enxergar ali. Acho que o “Dois” veio como esse “clareamento das retinas”, “uma correção da miopia”, onde era tudo embaçado pra mim. Acabou ficando mais claro, mais amplo; consegui enxergar mais longe. Eu consegui criar possibilidades a partir do que eu tinha.

O “Dois” também vem muito junto com o meu entendimento com o cinema, que tipo de cinema eu quero fazer. E tem muito haver com um termo que eu gosto de usar, que se chama: auto-ficção. Que é o compartilhamento das coisas que eu vivi e que vivo, e ao mesmo tempo, das coisas que eu invento. Como eu consigo pegar da experiência e transformá-las, também, a partir das coisas que eu queria viver.

 

Qual dica você daria pra si mesmo e os outros?

A dica que eu daria, tanto pra mim e pra outras pessoas seria de ficar sempre atento. Eu acho que o cinema se dá muito ao olhar. Pra quem curte esse tipo de produção hereditária, uma produção que fala sobre nós (eu com um realizador, não-binário, lgbtqia+), é da minha vontade criar imagens pensado nesses corpos e como que eu posso representá-los. É mais sobre a representação do que a representatividade. E como que, a partir da minha vivência e das coisas que eu acredito, posso propor novos imaginários e fazer esse processo de abrir caminhos; abrir mentes.

Enfim, para quem gosta desse tipo de cinema, a dica é estar atento às suas memórias, as coisas que você está vivendo no agora. Eu acho que tem muita coisa que a vida acaba trazendo e a partir [disso], talvez, igual o “Dois”, uma frase que se escreve num bloco de notas, acabe virando filme.

 

Edição: Daniela Reis

Revisão: Keven Souza

 

0 515
Filme Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos. Foto: Divulgação.

Entrevista com Renée Nader Messora e João Salaviza, diretores do longa-metragem “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”

Por Iakima Delamare*

Sobre cinema na aldeia

Em cartaz em Belo Horizonte, no cinema Belas Artes, na sessão das 16 horas, o longa-metragem dirigido por João Salaviza e Renée Nader Messora, “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, mergulha na ancestralidade e fala da relação dos povos tradicionais com a morte e o luto a partir do contato com uma aldeia indígena localizada em Pedra Branca, interior do Brasil.

RENÉE: Meu trabalho na aldeia Pedra Branca começou com uma experiência muito parecida ao VNA. Primeiro eu fui pra lá fazer um documentário sobre essa liderança Krahô, o Pohi, que já faleceu. Fizeram pra ele uma grande Festa de Fim de Luto (Pàrcahàc) que é a festa que a gente vê no filme. Foi o primeiro contato que eu tive e quando eu voltei para São Paulo eu só sabia que eu queria voltar pra lá. E eu tinha acabado de conhecer a experiência do VNA, na verdade. Eu venho do cinema, eu era assistente de direção, fazia publicidade e não tinha nada a ver com este universo indígena.

Então eu escrevi um projeto e fui lá fazer uma oficina com várias aldeias Krahô e a Pedra Branca era uma dessas aldeias. Depois eu voltei à convite da própria aldeia para desenvolver outras oficinas até que no fim eu escrevi um projeto grande, passando um ano na aldeia porque aí acabou se formando um grupo de jovens realizadores, cinegrafistas. A maior preocupação deles era o registro etnográfico, desse saber que de alguma forma podia estar se perdendo.

Só quando eu voltei para este projeto mais longo de um ano a gente começou a trabalhar outras coisas e vieram as ideias de ficção. O espectro de cinema se abriu. Eles começaram a perceber também outras formas de usar aquela ferramenta. Eles fizeram um filme que a gente descobriu que acabou circulando entre várias terras indígenas, que era um filme que chamava Tudo Por Um Litro. Eles começaram a entender um pouco mais esses jogos da ficção e como podiam usar esta ferramenta e já em 2015 a gente já tava começando a preparar o Chuva a energia tava quase chegando na aldeia e a gente começou a filmar.

Acho que todas estas experiências foram criando esse terreno sobre o qual a gente conseguiu construir a narrativa do Chuva. Tem momentos em que o filme tem uma mise-en-scène cinematográfica num ponto clássico, quase um cinema clássico. Aquela sequência da fogueira onde tem plano, contra plano, conversa, jogo de olhar, aquilo foi super trabalhado, nada ali é por acaso. Mas depois se for ver a sequência da festa, aquilo lá foi a gente se adaptando à realidade que tava ali na nossa frente. A gente vai conseguir transformar aquela realidade em material fílmico né? Como transformar aquilo em algo que jogue a favor da nossa narrativa? Porque a gente não ia produzir uma festa. A gente jamais pediria pra que eles fingissem que estão chorando ou cantando nessa festa.

Foram duas Festas de Fim de Luto que aconteceram durante estes nove meses que a gente filmou. Elas aconteceram em épocas totalmente diferentes do ano e isto no cerrado faz uma diferença brutal na iluminação. Na seca é uma coisa e na chuva é outra. Então aí também entra o cinema né, o cinema que vai dar conta de fazer aquelas duas festas parecerem a mesma. Que sequer era do pai do Ihjãc.

Então este registro vai se adaptando às necessidades e às possibilidades do filme. A gente não tentava ir contra a maré, a gente tentava ver como era o fluxo das coisas e ele (filme) tenta acompanhar esse fluxo. Por isto que a gente demorou tanto tempo pra filmar. O Ihjãc mesmo, muitas dos dias ele tinha coisa para fazer. Tinha que ir na roça, tinha que pegar palha e o filme vinha sempre depois. O filme não era prioridade, nem do Ihjãc, nem da aldeia, de nenhuma das personagens, talvez nem era nosso (risos)

JOÃO: alguns dias era mas muitas vezes não. Tinha tanta coisa rolando ali né?

Sobre a complexa categoria “cinema indígena”

JOÃO: sobre essa questão do “cinema indígena”. A gente conversou sobre isso, mas a gente não consegue muito bem localizar o filme…

RENÉE: A ideia de “cinema indígena” eu acho meio complexa. Eu não sei se meu filme pode ser considerado um cinema indígena. Eu acho que não. Eu acho que o cinema Indígena tem que trazer outras formas de fazer cinema e não a mesma. Nosso filme quebra com várias ideias do cinema clássico. Mas eu estudei cinema em escola tradicional ocidental e eu não consigo sair muito disso. Então eu acho que o cinema indígena, talvez, deveria um pouco romper com esta forma de olhar e trazer outras. Como já tem. Eu tenho visto alguns filmes que não tem essas referências e esta forma de olhar para o mundo e pras coisas que a gente tem.

JOÃO: a própria construção da narrativa do nosso filme mesmo que tenha algumas bifurcações — como aquela cavalgada de um minuto — mesmo assim é ancorado numa tradição narrativa clássica, greco latina. A gente não descoloniza o olhar por decreto, é impossível. Por mais que a gente tente combater estes automatismos intelectuais e emocionais, não sai assim de uma hora pra outra. Agora, é muito interessante esta produção indígena que está vindo aí, realmente feita por indígenas, sobre temáticas indígenas Neles você raramente encontra uma construção narrativa como essa.

Sobre traduzir o inacessível

JOÃO: Talvez a gente esteja nesse lugar de pensar como a gente consegue traduzir com imagens um universo que nos é totalmente inacessível. O universo dos espíritos a gente consegue entender num plano conceptual e consegue imaginar algumas coisas a partir dos relatos deles e você dá alguma forma. A gente pensa no cinema como uma ferramenta para tentar fazer essa tradução que a antropologia tenta por outro caminho. Mas as vezes acho que é perigoso cair numa espécie de ilustração que se sobreponha ao imaginário Outro, o imaginário de onde essas histórias existem.

A gente pensa muito no nosso filme. Tem um risco de cair na ilustração, na romantização. É um terreno cheio de riscos e possíveis contradições. A gente fica muito feliz de ver a sequência do início do filme e o Ropoxet também fala: é desse jeito mesmo, a gente encontra o Mekarõ é assim mesmo”. Então a gente pensou em como filmar essa sequência de uma forma mais ou menos naturalista. Que ela é. O menino chega, fala pra água. Não vê o pai, a gente não sabe se é a câmera que não vê o espírito né? A nossa câmera não é pajé. Então a gente não vê o espírito. Talvez o Ijhãc tá vendo ou talvez não tá, mas a câmera não vê.

Mas a gente tentou filmar esse relato de uma forma mais ou menos naturalista, apesar daquela luz. Porque a forma como ele nos contou desses encontros, o relato não é diferente de “eu tava andando no mato e encontrei o vizinho caçando” ou “eu tava andando no mato e encontrei o espírito do meu pai. Não é muito diferente da forma como eles contam porque de fato o mundo espiritual e o mundo material estão ali diluídos. Na Europa muitas vezes nos perguntam: “essa sequência mais fantástica ou mais onírica” e a gente fala “não, não tem nada de onírico” até porque o Krahô não faz essa divisão. Não tem subconsciente pro Krahô.

RENÉE: Se aquela sequência talvez fosse filmada com uma luz mais naturalista, ninguém falaria isso. Na verdade isso vem de uma incapacidade nossa de filmar naquelas condições, no meio do mato, para a equipe era impossível, então foi meio que uma solução que o filme encontrou.

Elenco e realizadores do filme “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”

Sobre o equilíbrio entre narrativa de sensibilidade subjetiva e comentário político

RENÉE: a nossa grande preocupação, nem era uma preocupação, era uma vontade com esse filme era tentar filmar esta subjetividade desse menino Krahô, que são muitos meninos Krahô que a gente convivia durante tanto tempo e a nossa grande vontade era dar conta disso.

JOÃO: e é esse menino, não é um adolescente genérico

RENÉE: e esse menino, essa história, que queria contar. Porque é claro, a gente também pensa que nessas outras narrativas é como se o índio não existisse antes do branco. Ele só existe a partir do momento em que tem um branco querendo roubar a terra dele ou olhando para ele e falando: “olha só que bonito, que exótico, olha essa festa que ele faz, olha como ele se veste, olha essa pintura corporal do índio”. E na nossa cabeça esse filme não queria dar conta disso. A gente queria contar a história de Ijhãc, desse Krahô que é adolescente hoje num Brasil tão hostil à existência dele.

É claro que é impossível você falar de um índio hoje e não esbarrar nessas outras questões. É claro que construímos ideias, e muitas coisas dali estão porque escolhemos que estivessem, como aquela parada do agronegócio ali no meio da cidade, é claro que eu escolhi botar aquele plano ali, eu achei necessário e eu escolhi botar o hino nacional também naquela sequência. Mas esse nunca era o foco do filme, e também mesmo que não escolhêssemos fazer isso, essas coisas estão sutilmente na cidade. Essa agressividade ela existe, tá ali o tempo todo. Talvez se eu não tivesse pontuado algumas dessas coisas essa ideia ia passar um pouco mais despercebido. Mas isso existe, isso tá lá.

Sobre Kôtô e a possibilidade de um filme sobre as mulheres indígenas

JOÃO: a Kotô cresceu muito durante a filmagem.

RENÉE: a Kotô na verdade, é uma menina muito tímida. Pra ela falar pra gente, demorou muito. As mulheres Krahô, são muito tímidas, é muito difícil você aceder ao universo feminino e eu acho que isso é uma especificidade de vários povos, não é só o Krahô.

Eu sempre tinha essa vontade de ter uma protagonista feminina. Porque é realmente um universo, mas é um universo quase secreto. Ainda mais para quem não fala a língua. Mas conforme a gente foi filmando a Kotô ela foi se mostrando e as vezes ela continuava tímida e fechada mas ela entendia perfeitamente a nossa proposta para as cenas e ela conseguia inclusive contribuir com as ideias dela para o desenrolar das sequências. Durante o processo ela foi ganhando cada vez mais força e agora eu olho para o filme e a Kotô, para mim, tem uma coisa muito especial.

Tenho muita, muita vontade de trabalhar com as mulheres inclusive quando eu comecei a fazer as oficinas umas das condições era que fosse metade metade as turmas, metade meninos e metade meninas. E quando comecei essa molecada tinha 13, 14 anos, só que com o passar do tempo elas vão engravidando porque lá o pessoal engravida muito cedo, então elas viram mães e acabam ficando naquela rotina da maternidade.

Tem uma coisa ali do universo feminino que é essa realidade de que elas são mães cedo né, então fica mais difícil dar continuidade aos trabalhos. Mas sim, tenho muita vontade de conseguir levar a cabo um projeto só de meninas. A gente continua trabalhando na aldeia, continua pensando em coisas para fazer com eles.

JOÃO: Sobre a cena delas na água, ela reflete muito do que a Renée disse, da Kotô ser bem tímida. No começo quando a gente decidiu filmar com Ihjãc a gente tinha esta ideia desta macroestrutura do filme mais ou menos inspirada neste outro menino que passou por um processo semelhante, fugiu para a cidade durante um ano e acabou voltando. A gente tinha mais ou menos estas âncoras para poder ir filmando e tentar introduzir outras coisas no processo.

Quando começamos a filmar com Kotô, eu acho que uma das primeiras cenas que nós filmamos, a gente filmou mais ou menos de uma forma cronológica é a cena do Ihjãc contando para Kotô que tá virando pagé. Aquela cena dos dois deitados na casa que eu acho que é uma cena super bonita, de uma intimidade total. Mas a gente pensou que ela continuava sendo essa figura da mulher que apoia o homem, escuta o problema do homem. E que a Kotô não pode ser só isso no filme.

RENÉE: E ela não é. Ela é o oposto. Ela é quase mais um problema para ele. Acho que ela é a força do Ihjãc. Ela é aquilo que faz ele pra frente.

JOÃO: Mas essa cena da água é muito interessante porque a gente propôs ela escolheu pessoas com quem ela queria filmar. Claro que a gente ia ter também a proposta de ficção. Na água que tem todo o lado lúdico e tem as crianças brincando, tem uma coisa cotidiana aqui muito mais interessante do que aquele clichê do cinema do que duas pessoas em cima de um prédio olhando a cidade e conversando contemplativamente sobre seus problemas existenciais. Ali não, ali há um fluxo, tão banhando, tão brincando e tão conversando e tem gente ali perto.

Sobre a língua Krahô

JOÃO: o que a gente saca hoje da língua Krahô nos permite entender dos temas das conversas. A gente consegue ter falas muito simples como “vem cá”, “vamos comer”, “cadê você?”. Mas a gente não consegue ter uma conversa. Mas tinha uma coisa assim nossa, de entender uma verdade da cena quase como se a língua fosse gesto também que vem de ter uma intimidade com eles.

RENÉE: não importa saber exatamente o que elas estão falando porquea essência da cena tá em outros lugares que tem muito a ver com a própria forma deles de se expressar. Os Krahô se expressam de outras formas que não é só o verbal.

Essa relação de poder que é estabelecida quando você aponta a câmara para alguém, quando você não entende o que a pessoa está falando ela é quebrada então a gente também fica numa posição um tanto frágil no momento em que a gente não entendia exatamente o que eles diziam. A gente também tinha que confiar neles.

É quase como se eles dirigissem a gente. Era uma coisa de ida e vinda porque a gente também tinha que confiar demais neles, eles confiavam na gente mas nós tínhamos que confiar muito neles.

E foi muito bonito também que por conta disso, este ato de dirigir o filme, que geralmente é um ato de um querer um diretor,ele é o grande senhor do filme. A vontade dele é tem que ser é. Isso daí foi totalmente de outras formas também, dessa diretamente, em relação ao material fílmico, mas assim do que a gente conseguiu captar a gente não tinha o controle de tudo a começar pela fala deles , isso foi muito bom, eu acho que foi muito bom.

JOÃO: fazê-los donos da sua própria fala mesmo que a gente não os entenda.

Sobre os diálogos

JOÃO: Não queríamos que fosse um processo de entrevista que tem esta espécie de ping pong dialético que é: “eu quero que você fale sobre isso e você responde”. “Onde você mora? Quem é sua esposa?”. E você pergunta até chegar nas respostas. Então a entrevista é um dispositivo, é claro, tem coisas incríveis mas existe um jogo de poder e para nós era mais interessante que a gente sugerisse temas.

Essa fala do Ropoxêt na cena da fogueira quando ele fala sobre a ambiguidade do pajé, o plano dele, que é um monólogo de dois minutos falando sobre o pajé, este plano não existia na montagem. A gente terminou a sequência no Ihjãc. Quando a gente finalmente fez a tradução, meu pai assistiu e disse “eu não entendo qual é o problema desse menino em virar pajé. Pajé “é uma figura incrível, pajé é um velho sábio que usa cachimbo, é uma coisa maravilhosa…”

RENÉE: isso é uma idealização nossa. O pajé é uma figura super ambígua, problemática. Tem gente que odeia, tem gente que atravessa a rua quando vê um pajé.

JOÃO: mas é também esta coisa, como que a gente pensa um procedimento de cinema para introduzir uma coisa que é didática entre nós. A gente está fazendo uma tradução…

RENÉE: queremos que se entenda.

JOÃO: queremos tornar as coisas mais ambivalentes possíveis, então tomara que nosso filme não contribua para reproduzir este estereotipo do pajé que é uma figura iluminada, é muito mais interessante mais complexificado assim.

JOÃO: Quando filmamos Ropoxêt falando sobre o pajé o procedimento cinematográfico era: “Ropoxêt você tá aqui, tem o Ihjãc, tem Kotô, tem figuras mais jovens, fala para eles, eles sabem a figura do pajé, mas fala para eles sobre isso e não pra nós”.

Sobre a cosmologia e o encontro entre ficção e documentário

JOÃO: O mito para eles não é, é a história do antigo mas não é uma mentira. Não é uma lenda, o mito é realmente o sol, a lua…

RENÉE: É como ele falou ontem…hoje o bicho não fala mas…de começo todo o bicho falava…

RENÉE: isso daí…passado…ele reconhece como passado, não reconhece como um tempo mítico

JOÃO: Ele sabe que foi há muito tempo.. mas existiu…

RENÉE: talvez o tataravô dele pegou esse momento e não é um outro tempo, é um tempo anterior,

KIMA: ou nem tanto, né? A arara fala com ele no filme.

JOÃO: Exato, a arara fala.

KIMA: acho que isso é interessante, vocês colocam tudo no mesmo nível. Todos os acontecimentos, ces aterram eles.

RENÉE: era uma coisa muito importante para a gente que esse mundo fosse contíguo. Ele não é outro, é o mesmo, o mesmo plano.

JOÃO: isso se vê na aldeia todo tempo.

RENÉE: Sonho não é só sonho. Seu Karõ sai do corpo e faz tudo aquilo.

KIMA: Karõ é o que exatamente?

JOÃO: Karõ é o espírito, um duplo que tá por aí. Quando você tá doente, é também o espírito que saiu do seu corpo e o trabalho do pajé é trazer ele de volta. As vezes ele consegue, outras vezes não dá conta. O pajé vai realmente no mato, conversa com o espírito, volta para a aldeia, conta como foi este encontro. Eles contam histórias de porrada, que bateu, que puxou o braço e falou que não ia voltar…

RENÉE: eles apanham, é perigosíssimo!

JOÃO: e o Mekarõ é o seu duplo, a sua sombra. a imagem numa foto é o Karõ, o reflexo na água é o Karõ… O espírito é o Karõ. É um duplo, um espectro. Esta palavra é tão complexa que a gente decidiu não traduzir para o filme.

RENÉE: mas essa palavra não é só o espírito, ela é o desdobramento. A palavra no decorrer do filme vai ganhando sentido.

RENÉE: é tão difícil traduzir um conceito que é tão amplo, quer dizer, não era interessante traduzir, só perdia, reduzindo isso a palavra escrita.

JOÃO: a palavra foi uma decisão super difícil de “será que a gente assume que é o espírito e pelo menos a gente dá conta de um dos sentidos da palavra?” ou a gente corre o risco de ela não ser absolutamente nada?

RENÉE: mas eu nunca achei isso…

*(Entrevista editada pelo jornalista Felipe Bueno).

0 479

A temática da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes, “Corpos Adiante”, abriu espaço para sujeitos invisibilizados na sociedade

Por Helen Oliveira*

O Jornal Contramão desembarcou na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, para a 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes, realizada na última semana, entre os dias 18 e 26 de janeiro. Ao todo, foram exibidos 108 filmes brasileiros, em pré-estreias mundiais e nacionais, de 41 estados, em sessões que movimentaram a cidade histórica por nove dias.

Durante o evento, que abre o calendário nacional de festivais dedicados à sétima arte no país, Tiradentes recebeu, com hospitalidade ímpar, em suas ruas charmosas, e cinemas montados na praça e tendas, cinéfilos e turistas de todo o Brasil. A programação contemplou não apenas a exibição de filmes que ganharam destaque no último ano, mas, também, inúmeras atividades como debates, seminários e oficinas.

A programação da mostra de cinema de Tiradentes contou com inúmeras atividades como debates, seminários e oficinas, além da exibição de vários filmes. Foto: Helen OIiveira.

O festival ampliou sua programação com exposições, teatros, cortejos de rua, lançamentos de livros e debates acerca da temática da mostra. Críticos, jornalistas, pesquisadores e profissionais do audiovisual tiveram a oportunidade de, junto ao público, refletir e discutir questões a respeito das novas produções cinematográficas e atual momento da cultura no país.

Cinema sob novos olhares

A Mostra de Cinema Tiradentes, desde o princípio, se destaca de outros festivais por jogar luz sobre temas pouco visíveis, que estão à margem de discussões, além de apresentar ao público, através de um cuidadoso trabalho curatorial, filmes com novas linguagens e abordagens.

Nesta edição, o evento, através da temática “Corpos Adiante”, destacou a importância da construção de novas perspectivas e narrativas por sujeitos invisibilizados na sociedade brasileira, reforçando discussões sociais e questões atuais dentro do universo cinematográfico.

“Corpos Adiante” tem personalidade própria, renova o cinema contemporâneo brasileiro, trabalhando de forma lírica e fictícia as temáticas abordadas com caráter de resistência política, trazendo à tona esses novos sujeitos no cinema. Mulheres e homens negros, LGBTQs, moradores das periferias, excluídos pelos padrões da sociedade, oprimidos e invisibilizados.

De acordo com a diretora da Universo Produção e coordenadora da mostra, Raquel Hallak, “Corpos Adiante” é uma situação retrato da produção hoje, a inclusão social tomando seu lugar de direito no cinema. “A diversidade que dá voz e vez ao personagem, incorporando corpo político, se posicionando e mostrando o que esses corpos estão dizendo. A temática é um conjunto de todas as vozes falando que elas existem na sociedade”, comenta.

Homenagem e coroação do cinema

O troféu Barroco dessa edição agraciou Grace Passô, atriz, dramaturga e diretora mineira. Mulher negra e brasileira, ela se destacou mundialmente, rompendo barreiras, inovando o cinema nacional. Conhecida pela sua força e talento para a arte, Grace é uma profissional consagrada no teatro e em ascensão no cinema. A abertura do festival foi referenciada com a exibição do filme “Vaga-Carne”, peça que foi adaptada para a sétima arte, de direção de Grace Passô e Ricardo Alves Júnior.

A força dos novos realizadores

Novos realizadores do cinema, equipe do filme “Arteiro” comemora o reconhecimento na mostra de cinema de Tiradentes. Foto: Helen Oliveira.

A 22ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes vem reconhecendo os novos talentos do setor em Minas Gerais e Brasil afora. O trabalho realizado pelo Centro Universitário Una, por meio do corpo docente e alunos do curso de cinema, vem sendo reconhecido pela curadoria. Neste ano, três produções da instituição de ensino foram selecionados e exibidos na mostra. Os filmes foram produzidos a partir de uma proposta dentro da sala de aula e ganharam visibilidade.

Para Bruno Carvalho, diretor do filme “Arteiro”, exibido na Sessão Jovem da mostra, o festival é muito importante para realizadores de cinema que ainda estão na faculdade. “É uma validação do trabalho, um carimbo, Tiradentes é o lugar de lançar tendências no cinema, colocar em evidência as novas narrativas contemporâneas, expor meu trabalho dessa forma me faz entender que fiz uma boa escolha”, reconhece.

Além de “Arteiro”, de Bruno Carvalho, outras produções de alunos do Centro Universitário Una foram selecionadas para a 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes, como é o caso de “Salve Todos”, de Isabela Renault e “Peixe”, de Yasmin Guimarães.

Premiações

A 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes exibiu mais de 100 filmes a partir da temática “Corpos Adiante”. O cinema goiano foi consagrado no Festival, com “Parque Oeste”, de Fabiana Assis, como melhor documentário do ano e “Vermelha”, como melhor filme da mostra Aurora pelo júri da crítica. Na categoria júri popular, o vencedor foi o curta-metragem paulista “Negrum3”, de Diego Paulino, esse mesmo filme também recebeu o prêmio Canal Brasil de Curtas.

Pelo trabalho realizado em “um filme de verão”, Cristina Amaral conquistou o prêmio Helena Ignez, que reconhece a participação feminina no cinema. Na mostra Foco, o júri da crítica escolheu “Caetana”, dirigido pelo paraibano Caio Bernardo, e como melhor longa-metragem, o júri popular escolheu “Meu Nome é Daniel” do carioca Daniel Gonçalves.

Confira os premiados da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes:

° Melhor longa-metragem Júri Popular: Meu Nome é Daniel (RJ), de Daniel Gonçalves.

Troféu Barroco;

° Melhor curta-metragem Júri Popular: Negrum3 (SP), de Diego Paulino.

Troféu Barroco;

°Melhor curta-metragem pelo Júri da Crítica, Mostra Foco: Caetana (PB), de Caio Bernardo.

Troféu Barroco;

° Melhor longa-metragem pelo Júri Jovem, da Mostra Olhos Livres, Prêmio Carlos Reichenbach: Parque Oeste (GO), de Fabiana Assis.

Troféu Barroco;

°Melhor longa-metragem da Mostra Aurora, pelo Júri da Crítica: Vermelha (GO), de Getúlio Ribeiro.

Troféu Barroco;

Da Dotcine: máster DCP para longa de até 120 minutos

° Prêmio Helena Ignez para destaque feminino: Cristina Amaral, montadora de Um Filme de Verão (RJ).

° Prêmio Canal Brasil de Curtas: Negrum3 (SP), de Diego Paulino.

*(A estagiária escreveu a reportagem sob orientação do jornalista Felipe Bueno) 

A 8ª CineBH – Mostra internacional de cinema e 5º Brasil CineMundi foi aberta na noite de quinta-feira, 16, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A noite de estreia apresentou o longa-metragem “Deserto Azul”, do mineiro Éder Santos. O diretor subiu ao palco com toda sua equipe de produção, incluindo os atores Odilon Esteves e Chico Diaz, protagonistas do filme.

Durante a apresentação, Éder pediu para que todos deixassem os celulares ligados. Sua equipe montou quatro redes de wifi com o nome do filme e distribuíram um código para que pudessem digitar. Durante a projeção, o público pôde obter informações adicionais sobre o que estava sendo exibido, criando assim, uma forma de interação entre os espectadores e o filme em exibição.

O cineasta argentino Santiago Loza, foi surpreendido antes da sessão. A produção preparou uma singela homenagem. “Faço filmes pequenos, muito pessoais e intimistas, não esperava por isso, não imaginava que meus filmes seriam tão reconhecidos”, comentou Loza. A programação aprensenta uma retrospectiva pela carreira  do cineasta.

A sexta-feira, 17, começou agitada no Palácio das Artes. Com 21 convidados internacionais, o 5º Brasil CineMundi – International Coproduction Meeting apresentou uma série de seminários e debates. Entre os temas, “Mercado Audiovisual Brasileiro – Políticas Públicas, Avanços e Perspectivas”, contou com a presença de representantes da Ancine, SAV (Secretaria do Audiovisual) e ABTIV (Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão), com mediação do crítico e jornalista Pedro Butcher, no qual debateram diretrizes públicas, ações de intercâmbio e coprodução do audiovisual brasileiro.

Santiago Loza apresentou uma masterclass onde relembrou toda a sua carreira, que passa pelo cinema, literatura e teatro. O crítico mais aguardado da CineBH e Brasil CineMundi foi Tag Gallagher, que também ministrou uma masterclass. Tag, é conhecido no meio do audiovisual como um dos maiores nomes da crítica cinematográfica em atividade, mas ninguém conhecia o rosto dele, nem a produção, nem seus próprios admiradores.

A CineBH e Brasil CineMundi se estende até dia 23 de outubro. Filmes, seminários e oficinas são gratuitos.

Mais informações: https://www.cinebh.com.br/

Por Lívia Tostes

A 6ª Mostra CineBH, faz o público refletir sobre o mercado audiovisual mineiro, nacional e internacional. O evento, que se encerra amanhã, nasceu com o intuito de contextualizar o cinema no mercado e entender como este mercado se configura, hoje, no Brasil e no exterior. “No Brasil, existe uma política pública de produção, mas ainda falta uma [política] de difusão”, explica a produtora da Universo Produção Raquel Hallak.

Segundo Raquel Hallak, os eventos da Universo Produção, responsável pelo mostra, são instrumentos a favor da produção impendente que envolvem a realização de baixo orçamento e que imprimem uma identidade. “São filmes autorais que, muitas vezes, não têm a oportunidade de chegar até o publico, porém são eles que deram a nova cara do cinema brasileiro”, avalia a produtora.

Público – Mostra CineBH

Para o programador do Cine104 Daniel Queiroz, o mercado no geral encontra-se em uma mudança enorme com diretrizes boas e ruins. “A juventude de hoje tem algumas dificuldades com o cinema tradicional, como, por exemplo, de se concentrar em um filme de duas horas de duração”, observa Queiroz. Por outro lado, ele percebe que os filmes estão circulando de novas maneiras, sem se prenderem somente a formatos e a gêneros tradicionais.

Entre o público, estavam àqueles que acompanham a trajetória de dez anos da Teia, como é o caso de Pedro Aspahan, formado em Rádio e TV. “Acho que a Teia tem um trabalho consistente, com poesia, e que nos inspira a produzir novos trabalhos”, afirma.

Para os homenageados o clima era de felicidade e frio na barriga. “Ser homenageado é bom, dá uma alegria, um frio na barriga. É um reconhecimento e uma certeza que não podemos acomodar, temos que continuar seguindo em frente”, declara a produtora do grupo Teia Clarissa Campolina.

Clarissa Campolina

Hoje, um dos destaques do evento é a apresentação do filme Tabu, do diretor Miguel Gomes, cartaz do Cinema Belas Artes 1.

Por João Vitor Fernandes e Rafaela Acar

Foto João Vitor Fernandes e Rafaela Acar