Tags Posts tagged with "autismo"

autismo

0 416

O autismo tem amplitude de doenças não-raras e já é aquele um por cento que precisa ser mais reconhecidos pelos órgãos competentes.

Por Lucas Requejo

No dia 4 de maio, foi realizado um webinar sobre autismo no ambiente universitário, mostrando como os professores podem realizar a integração de alunos com TEA (Transtorno de Espectro Autista) sem que as aulas não sejam comprometidas e nem infrinja o desempenho do aluno durante sua formação no ensino superior.

O TEA, mais conhecido como autismo, está em uma crescente que preocupa especialistas. Segundo o portal Canal Autismo, o número tem aumentado, passando a ser um transtorno não-raro. Estima-se que um por cento da população brasileira que ou nasceu com, ou desenvolveu o TEA.

Porém, se diz estimativa, pois o TEA não possui uma estratégia de diagnóstico bem desenvolvido aqui no Brasil, haja visto que nem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) possui um levantamento assertivo sobre o assunto.

Pensando nisso, a Una se adiantou e ofereceu este evento, por meio do Projeto de Extensão “Ciclo de debates sobre sociedade inclusiva”, que serviu de aporte para discutir um assunto tão importante. E, para abrir a palestra, a professora Carla Soares, de 44 anos, mediou com acadêmicos da universidade e revelou suas expectativas:  “A ideia do webinar é mostrar como o NAPI (Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão) trabalha na inclusão de alunos já diagnosticados com o TEA e trazer todo o aporte de conhecimento sobre os caminhos que a Una traz, em prol da inclusão destes estudantes”.

O Welder Vicente, coordenador do NAPI, de 36 anos, é psicopedagogo formado na UFMG e trabalha na absorção de alunos que possuem transtornos de caráter psicossocial. Trabalhou com diversos projetos, mas, na Una, é mais gratificante. “Meu mestrado é sobre o autismo e eu amo desdobrar este assunto, pois trabalhamos muito para que a inclusão de alunos deste espectro na Una seja cada vez mais volumoso e, consequentemente, satisfatório”.

Welder conectou diversos aspectos do TEA; iniciando com um breve histórico no webinar. “O autismo era encarado como esquizofrenia. Dentro do Hospital Colônia – conhecido como o local que ocorreu o holocausto brasileiro, em Barbacena (MG). Os autistas eram isolados e dormiam sob o chão frio durante o inverno, além de serem submetidos a torturas”.

E complementa: “Com o passar do tempo, como hoje nós conhecemos três níveis de autismo, a primeira era colocada como síndrome de Asperger. Ainda por cima, a psicologia contemporânea começou a relacionar o diagnóstico do autismo diretamente à gestação, transferindo à mãe uma culpa, colocando-a como “mãe geladeira”, dizendo que ela foi tão fria a ponto de não se conectar ao feto, e que, por isso, a criança nascia autista”.

Ao inserir o tema dentro das vias legais e estatísticas, Welder mostrou gráficos que demonstraram a evolução mediante à responsabilidade de políticas públicas para pessoas especiais. De modo geral, as estatísticas começaram a ser levantadas em 2008, com a criação da lei de cotas. A partir de 2015, o TEA foi integrado em todos os seus níveis, e hoje, possui até carteirinha comprobatória.

O autismo era enquadrado, ainda, como Asperger. A partir de 2010, o MEC (Ministério da Educação e Cultura) passou a levantar o cenário de ingressantes com autismo em universidades a nível federal, regional e estadual. De lá até 2019, em todos os aspectos, o volume cresceu mais de 150% em todos os cenários. Porém, o MEC não realizou mais nenhum levantamento desde 2020, mas Welder menciona que, a cada 10 mil alunos matriculados ao ano, dois são autistas.

No cenário qualitativo da formação e das matrículas dentro da Una, Welder cita os cursos mais procurados como comunicação, pedagogia, psicologia e direito. Porém, sinaliza algumas deficiências: “As áreas de exatas, como engenharia e matemática, e outras de humanas, como moda e arquitetura, não tem uma matrícula sequer”.

Em relação ao ambiente de estudos na universidade, ele traz que, por direito, cada aluno pode ter um mediador interno, para auxiliá-lo na adequação em geral, e que, o custo com este processo não deve ser repassado ao aluno, de forma alguma.

Sobre o desenvolvimento e suas percepções, Welder afirma: “O autista tem algo que chamamos de hiperfoco, e temos que trabalhar para que o aluno não o perca, pois será certa a sua desistência do curso. Mas, não significa que ele terá redução de conteúdo por isso. O que é preciso ser trabalhado é a sua ambientação e seu interesse no curso o qual escolheu.”. E completa: “Já encontrei até professor autista. É gostoso ver ele lecionando o que ama. O hiperfoco ajuda muito.”

O dia a dia do estudante autista, em meio à sua adaptação dentro do ambiente, pode trazer alguns perrengues iniciais, mas que todos precisam ser salientados. Ele citou um exemplo relacionado ao hiperfoco, onde uma estudante, devido estar próxima ao ar-condicionado, somando a temperatura à poluição sonora, ela teve uma crise de ansiedade. Tudo conseguiu ser controlado, graças ao excelente trabalho do NAPI.

Todo o webinar foi acompanhado por mais de 50 participantes no geral e todos saíram realizados com a excelência das falas de Welder e todo seu conhecimento, agregando grande sabedoria a um tema que, a cada dia, precisa ser minuciosamente adequado ao nosso conhecimento, pois, como Welder finalizou a sua palestra, “não dá mais para sermos segregados por não nos conhecerem de fato”.

0 441

Por Lucas Requejo

Tudo na vida necessita de transformação, reconhecimento e adaptação. Por dois anos, tivemos que se adaptar ao novo modo de viver, sem deixar de amar e cuidar uns dos outros. Porém, há mais anos existe uma parcela da nossa população que ainda precisa ter seu espaço ampliado para essa recepção de cuidado: as pessoas com Autismo.

Infelizmente, de acordo com dados do Canal Autismo, portal especializado no assunto, relata que o número proporcional de incidência aumenta a cada período de estudo em que se esclarece diagnósticos de TEA, preocupando especialistas. Isso torna imprescindível que todos os órgãos, diretos e indiretos, tomem iniciativas de acolher essas pessoas que precisam buscar seu espaço desde criança.

Mas, e em casos que ultrapassam a faixa escolar e ingressam à faixa universitária? Pensando nisso, a Una te convida a responder a esta pergunta em um webinar virtual, que será aberto para o público geral, em seu Projeto de Extensão – Ciclo de debates da área de Ciências Humanas.

Evento: O Autismo na vida adulta: A inclusão no ensino superior

Data: Quarta-feira, 4 de maio

Horário: 18 horas

Convidado: Welder Vicente – Mestrando em Educação: Conhecimento e Inclusão Social na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Psicólogo pelo Centro Universitário Una e Líder de Inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior da mesma instituição, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Especial e Direito Escolar (GEPEEDE) – FaE/UFMG.

Mediadores: Profª. Carla Soares e Acadêmicos do projeto

Se inscreva pelo link https://bit.ly/CHUNACDU0405 (copie e cole no seu navegador) e o acesso é gratuito

Participe e faça parte da inicialização deste fato tão importante!

0 963

O Transtorno do Espectro Autista afeta 70 milhões de pessoas no mundo sendo 2 milhões apenas no Brasil

Por Italo Charles

Após uma demora no processo de andar e por volta dos 2 anos de idade, Miguel Gaspar dos Santos – hoje com nove anos – apresentava, também, um atraso na fala, sintoma pouco comum para crianças da mesma faixa etária.

Foi então que sua mãe, Maria Beatriz Gaspar, 49, percebeu que algo diferente estava acontecendo e resolveu procurar informações e auxílio médico para entender a situação.

Na época, a procura por profissionais a fim de entender o que havia era incessante e custosa. Miguel e sua mãe, Beatriz, foram a quatro médicos pediatras que alegavam que o atraso na fala era normal, entretanto, já cansada, Beatriz pediu ao último pediatra consultado um encaminhamento para neurologista.

“Nós fomos em quatro pediatras diferentes e todos falavam a mesma coisa, que o atraso na fala era comum e que eu esperasse fazer 4 anos. No último pediatra, já estava cansada, falei que tinha plano de saúde e pedi encaminhamento para um neurologista com a esperança de conseguir um diagnóstico mais preciso”, comenta Maria Beatriz.

Com o encaminhamento em mãos, novamente mãe e filho presenciaram certa dificuldade para encontrar um especialista para a idade de Miguel. Quando encontrado, a consulta demorou, visto que havia poucos especialistas e uma demanda de pacientes enormes.

Chegada a consulta, ao examinar Miguel e perceber alguns gestos, a neuropediatra  questionou Beatriz se seu filho sempre repetia o mesmo gesto e se havia outras características. Beatriz então começou a perceber que Miguel dispunha de vários comportamentos específicos. No final da consulta, a médica encaminhou Miguel para avaliação com psicólogo, fonoaudiólogo e psiquiatra a fim de colocar um laudo para o caso.

“Após a consulta comecei a observar alguns aspectos. Miguel só comia macarrão, podia ser de todo jeito, mas só macarrão. Percebi que ele sempre repetia o mesmo gesto, brincava somente com carrinhos vermelhos, ele tinha muitos brinquedos, mas só brincava com carrinhos vermelhos e, também, usava só um tipo de roupa”, destaca Beatriz.

Outra grande dificuldade foi encontrar os especialistas para idade de Miguel, porém, dado momento e já com  acompanhamento psicoterapêutico Beatriz se viu em uma situação inesperada. “Em uma das consultas, conversei com a psicóloga e disse que a neuropediatra havia solicitado um laudo para poder dar o diagnóstico, mas a psicoterapeuta me disse que já havia o diagnóstico de Autismo, nessa hora eu fui ao céu e voltei”.

Com a notícia e explicações, Beatriz, em casa, começou a se adaptar à situação e fez pesquisas na internet para obter mais informações sobre o Autismo. Ao longo dos anos, com devido tratamento e acompanhamento Miguel evoluiu e é identificado com a “Síndrome de Asperger”.

Transtorno do Espectro Austista

Segundo dados do DCD (Center of Deseases Control and Prevention) em português “Centro de Controle e Prevenção de Doenças”, o autismo afeta 70 milhões de pessoas em todo mundo. Só no Brasil a estimativa é de 2 milhões de pessoas.

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) faz parte do grupo de Transtornos do Neurodesenvolvimento. De acordo com a Psicóloga Jeniffer Viana Lobemwein, o TEA é caracterizado pela dificuldade  persistente na comunicação social e na interação social incluindo dificuldade na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.

Ainda não se sabe a causa exata do TEA, mas, um estudo publicado  pelo JAMA Psychiatry em 17 de julho de 2019 sugere que 97% a 99% dos casos de autismo têm causa genética, sendo 81% hereditário. O trabalho científico, com 2 milhões de indivíduos, de cinco países diferentes, sugere ainda que de 18% a 20% dos casos tem causa genética somática (não hereditária), e o restante, aproximadamente de 1% a 3%, devem ter causas ambientais, através da exposição de agentes intrauterino, como drogas, infecções e possíveis traumas durante a gestação.

O autismo, de acordo com pesquisas da área, pode se manifestar desde o primeiro ano de vida da criança com indicadores de falhas na comunicação e interação. Os primeiros sinais podem ser observados entre os 15 e 18 meses, embora seja uma fase precoce para a conclusão do diagnóstico. Os especialistas apontam como idade ideal para avaliação e diagnóstico da síndrome a faixa etária dos dois aos três primeiros anos de vida da criança.

Psicóloga Jeniffer Lobemwein

Jeniffer explica que segundo o DSM- 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) o TEA possui  3  níveis de comprometimento, são:

  • Nível 1 (leve): Os pacientes necessitam  de apoio, possuem dificuldade para se comunicar, interagir ou não têm interesse em se relacionar, apresentam resistência a mudanças e problemas de organização e planejamento. 

 

  • Nível 2 (moderado): Existe a necessidade de apoio substancial, apresentam déficit notável nas habilidades de comunicação tanto verbal quanto não verbal, possuem pouca interação social com outras pessoas (praticamente sem diálogo), evitam mudança na rotina pois tem dificuldade em lidar com ela. O nível 3 é o meio termo entre o leve e o severo.

 

  • Nível 3 (severo) : Necessitam de apoio muito substancial, apresentam dificuldade severa na comunicação verbal e não verbal, demonstram muita limitação para interagir com outras pessoas, não suportam mudanças na rotina, apresentam comportamentos repetitivos e restritivos que interferem diretamente na vida (do paciente) e das pessoas em suas volta, são mais dependentes dos pais para realizar as atividades do dia a dia, como, por exemplo, se vestir ou comer.

Dentro da categoria Nível 1 está identificada a Síndrome de Asperger – Transtorno que se assemelha e enquadra ao Autismo. O termo foi suscitado em homenagem ao pediatra e psiquiatra Austríaco Hans Asperger que, quando criança, apresentava sinais de transtorno.

Segundo Jeniffer  as pessoas com Asperger apresentam-se mais funcionais e em grande parte dos casos não manifestam atrasos nos marcos do desenvolvimento.

“Embora costumem apresentar interesses restritos e comportamento mais excêntrico, não há deficiência intelectual e algumas apresentam QI superior ou altas habilidades. Também não há atraso significativo na aquisição da fala, porém, a Síndrome de  Asperger conta com particularidades: repertório verbal extenso e mais formal, alteração na prosódia, timbre e altura de voz. Costuma existir falhas na compreensão de figuras de linguagem, gírias, piadas, mímicas faciais e linguagem corporal, interpretações mais literais, além de dificuldades em iniciar e manter uma conversa. A fala geralmente é mais para demanda própria do que para compartilhar”, explica. 

O TEA apresenta sintomas ou sinais, na maioria dos casos ainda enquanto crianças. “Alguns se manifestam com maior ou menor intensidade ou podem não ser observados”, explica Jeniffer.

  • Pouco contato visual;
  • Atraso na fala;
  • Manias (ter um jeito próprio);
  • Não ter medo de situações perigosas;
  • Acessos de raiva;
  • Hiperatividade;
  • Gostar de brincar sempre com o mesmo brinquedo;
  • Dificuldade em expressar seus sentimentos com fala ou gestos.

Como no caso de Miguel, é importante que os pais e familiares percebam possíveis sinais que possam levar ao diagnóstico de Autismo e assim realizar o acompanhamento. 

Para compreender melhor o processo de diagnóstico, a psicóloga Jeniffer explica que o  diagnóstico do TEA é apenas clínico e que para certificar que uma pessoa é autista, é preciso observar o comportamento do paciente e analisar informações coletadas com pessoas que convivem com o mesmo, “Todo o processo é delicado e, por isso, é necessário ser realizado por profissionais capacitados”.

Jeniffer ressalta que de acordo com a faixa etária do paciente os profissionais a serem procurados são diferentes. Enquanto crianças neuropediatras e pediatras, no caso de adultos neurologistas e psiquiatras “Depois de uma avaliação dos mesmos eles encaminham para os profissionais que acharem necessário para realizar o fechamento do diagnóstico e acrescentar no acompanhamento da criança/adulto”, salienta.

Adquirir o diagnóstico precoce possibilita que o paciente seja condicionado aos tratamentos que tendem a propiciar condições melhores ao desenvolvimento a partir do momento em que os profissionais começam a trabalhar as principais habilidades, sobretudo aquelas que estão ligadas à comunicação e à sociabilidade.

As possibilidades surgidas durante esse processo são inúmeras, a começar pelas orientações que os médicos e os demais especialistas dão em cada consulta. A informação repassada aos pais é essencial para a condução da criança, seja no ambiente doméstico ou até mesmo escolar.

Desenvolvimento e impacto

O TEA em meninos é mais comum. A proporção é de quase 5 meninos afetados por cada menina. Os sintomas iniciais apresentados pelos meninos autistas incluem maneirismos, comportamentos repetitivos e interesses altamente restritos. Acredita-se que os sintomas menos reconhecíveis em meninas estão levando não só ao diagnóstico tardio, mas também a uma sub-identificação da condição.

Como no caso de Miguel, o atraso na fala pode ser muito comum, entretanto, com o tempo pode ocasionar sérias consequências quando não diagnosticado e tratado. 

“O atraso da fala pode trazer sérias consequências para o processo de aprendizado, assim como para as interações sociais. É a partir do quarto mês que o bebê começa a balbuciar e emitir alguns sons repetitivos, esse é um dos marcos principais para o desenvolvimento da fala. Por isso, se o bebê não está balbuciando, é preciso investigar “, comenta Jeniffer.

Não somente o atraso na fala, há também comportamentos repetitivos que podem ser importantes para a identificação do autismo. Denominado hiperfoco ou interesse restrito é uma condição intensa de concentração em um mesmo tema ou tarefa. 

Em pessoas com TEA o hiperfoco acaba fazendo parte da categoria de padrões comportamentais restritos e repetitivos. A estereotipia que consiste em bater os pés, balançar o corpo, girar objetos, emitir sons repetitivos, entre outros, são movimentos auto regulatórios feitos para buscar sensação de bem-estar ou ainda para aliviar o estresse.

Mitos relacionados ao Autismo

O Transtorno do Espectro do Autismo carrega em si muitos estigmas e mitos, muitos deles podem e são ofensivos aos autistas e seus familiares.

 

  • O autismo é causado pela falta de afeto dos pais;
  • O autismo é causado pela exposição a determinados materiais tóxicos, como o mercúrio;
  • Uma criança autista pode ser curada com uma intervenção psicoterapeuta
  • A única coisa que pode ajudar uma criança autista são as intervenções médicas
  • O autismo passa com a idade;
  • Nenhuma terapia é realmente útil: na verdade, não há nada a fazer;
  • O autismo é um distúrbio muito raro;
  • Uma criança autista é, na verdade, um gênio;
  • Se a criança fala, não pode ser autista;
  • Uma criança autista só precisa de amor;
  • Autismo é causado por vacinas;
  • Autistas não conseguem olhar nos olhos;

Desafios e Direitos

Assim como Beatriz, muitos pais não possuem informações do Transtorno do Espectro do Autismo. Além da dificuldade em encontrar profissionais capacitados, existe também a dificuldade de encontrar espaços sociais que incluam a criança.

Jeniffer Lobemwen possui 15 anos de experiência na psicologia, durante sua formação e carreira trabalhou com locais que atendiam pacientes autismo. Ao longo do tempo, foi pesquisando e aprendendo mais sobre o transtorno.

Em determinado momento, Jeniffer se viu em uma situação parecida com a de Beatriz. Para além de psicóloga, Jeniffer é mãe do Cauã Viana Lobemwein Brandão, 9 anos, portador da Síndrome de Asperger.

A dificuldade para Jeniffer, diferente de Beatriz, era menor por ter mais informações e ter experiências com autistas, mas os desafios e aprendizados diários foram se apresentando durante o tempo.

Além das dificuldades encontradas no percurso da vida, é importante ressaltar que existem direitos que auxiliam os pacientes autistas e seus familiares para manutenção da vida e tratamento. 

No Brasil há leis específicas para pessoas com deficiência (Leis 7.853/89, 8.742/93, 8.899/94, 10.048/2000, 10.098/2000, entre outras). Cada município ou estado também possui suas leis. 

No geral, os benefícios incluem atendimento na Assistência Social (CRAS e CREAS), Benefício de Prestação Continuada, que é um benefício socioassistencial regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei 8.742/93), atendimento educacional especializado (mesmo em escola regular, é possível um acompanhamento de um profissional específico com conhecimentos em Transtornos do Neurodesenvolvimento), na Saúde, com atendimento terapêutico e dentário, entre outros, além de passe livre no transporte público (consulte as leis municipais ou estaduais da sua região).

Existem também vagas específicas para deficientes em estacionamentos que podem ser asseguradas a quem tem Autismo ou acompanha um autista, inclusive há a possível redução da jornada de trabalho sem redução de salário em alguns casos. 

Por lei, o CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) deve prestar atendimento às pessoas diagnosticadas com TEA. Porém, há poucos pelo Brasil. Cerca de 31 Unidades de Atendimento Infantil no país (dados de 2017).  Além disso, a inclusão da pessoa com TEA é assegurada por diversas leis, a principal delas, a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Lei Nº 12.764, ou Lei Berenice Piana), sancionada em 2012. Segundo esta, o indivíduo com TEA também é considerado portador de deficiência. Desse modo, a Lei Nº 7.853, que dispõe apoio à pessoas portadoras de deficiência e sua integração social, torna-se aplicável.

 

“Falar sobre Autismo é quebrar estigmas e estereótipos levando às pessoas informações que propiciam conforto e cuidado! No dia 02 de abril é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, a data foi instituída pela ONU em 2007”.

 

Edição: Bianca Morais e Daniela Reis

 

0 1981
O afeto e a inclusão são os melhores tratamentos para o autismo

Especialista sugere que estigma em relação às pessoas com autismo tem que ser quebrado e que a educação tem um papel determinante na inserção 

Por: Moisés Martins

De acordo com dados da instituição americana CDC (Center of Deseases Control and Prevention), existe hoje, um caso de autismo para cada 110 pessoas. Dessa forma, estima-se que o Brasil com seus 200 milhões de habitantes, possua cerca de 2 milhões de autistas. Contudo, apesar de numerosos, os milhões de brasileiros autistas ainda sofrem para encontrar tratamento adequado. 

Apesar do transtorno ter uma grande incidência, a síndrome só foi catalogada pela Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde OMS) em 1993. A demora na inclusão do autismo neste ranking é reflexo do pouco que se sabe sobre a questão. Ainda nos dias de hoje, o diagnóstico é impreciso, e nem mesmo um exame genético é capaz de afirmar com precisão a ocorrência da síndrome. 

O garoto Miguel Henrique Burmann, de 5 anos, foi diagnosticado com autismo não verbal com  dois anos e três meses. Sua mãe, Manuela Burmann, teve que se habituar à uma nova rotina, pois o menino está de pé todos os dias às seis da manhã para assistir desenho. O tratamento do autismo exige da mãe e do filho, durante a semana, são três visitas à APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), onde ele é recebido com muito carinho e atenção pela equipe. Lá ele é atendido por diversos especialistas; como fonoaudiólogo fisioterapeuta e psicóloga.

Segundo relato de sua mãe, Miguel não gosta muito de lugares fechados, característica comum do portador de autismo, por isso, a psicóloga inseriu a equoterapia em seu tratamento. A terapia com cavalos ajuda no estímulo e desenvolvimento da mente e do corpo, além de possibilitar que o paciente tenha contato com a natureza. 

O primeiro dia na escolinha foi um desafio, Manuela ficou com bastante receio, pois o fato do filho não falar poderia ser um obstáculo junto com os colegas. Meses mais tarde, ela diz ter acertado em sua escolha e hoje se surpreende com o fato do filho ser apaixonado pelo ambiente escolar. “Não demorou muito, e ele se inseriu nesse universo, já socializa e senta ao lado dos colegas de sala para lanchar. O Miguel sabe o horário de ir para a escolinha”, conta ela bastante entusiasmada.

Outro caso é o do garoto Heithor Gomes, de 6 anos. Ele nasceu com 34 semanas e sua mãe, Luciana Mourão, ficou internada quinze dias antes do seu nascimento, o motivo foi a perda de líquido amniótico. Quando Heithor completou dois anos, em uma consulta com o neurologista veio o diagnóstico: grau dois de autismo e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

O pequeno Heithor tem uma rotina bastante intensa. Ele vai ao fonoaudiólogo, psicopedagoga e terapia ocupacional, e, de três em três meses, o garotinho precisa ir ao neurologista para renovar sua medicação.   “No início, quando Heithor entrou para a escolinha, ele era  bastante agitado, pelo fato de os coleguinhas não entenderem o que ele falava. Com os tratamentos e as medicações, ele passou a socializar e hoje está melhor inserido no grupo de amiguinhos”. contou a mãe.

Com a palavra, a especialista 

A psicóloga Daisimar Sampaio alerta que, ainda que as intervenções para a socialização do autista seja muito difícil, é preciso dar voz às pessoas com esse transtorno, com o intuito de elevar o conhecimento em torno da área de pesquisas. Isso porque ainda há muitas dúvidas e perguntas em torno da síndrome. Nesse sentido, a educação é algo imprescindível no processo.

O autismo é uma síndrome que causa alterações na capacidade de comunicação, um transtorno no desenvolvimento. Os seus sinais aparecem nos três primeiros anos de vida da criança. A síndrome provoca sinais e sintomas como dificuldades na fala, bloqueios na forma de expressar ideias e sentimentos, assim como comportamentos incomuns, como não gostar de interagir, ficar agitado ou repetir movimentos. O autismo pode surgir em pessoas de diferentes idades, habilidades e limitações.

O preconceito que os autistas sofrem, segundo a psicóloga, é um tema recorrente que deve ser avaliado com muito cuidado. É preciso promover a conscientização da sociedade com o objetivo de quebrar a estigmatização que essas pessoas sofrem. 

O comportamento apresentado por pessoas com autismo gera, no imaginário das outras, uma série de equívocos. Mais uma vez, a psicóloga desmistifica a impressão que o senso comum têm em relação aos autistas que não falam. “Não falar não significa não saber. Não falar não significa não sentir”, conclui Daisimar Sampaio referindo-se ao autismo não verbal. 

Durante toda entrevista, a médica ressalta a questão do preconceito que os autistas sofrem por serem diferentes. “ A sociedade não entende que o autista é especial e merece um pouco mais de cuidado e atenção. O preconceito é real e nem sempre é só uma escolha do autista, mas da sociedade de estar preparada para inclusão, nossa sociedade está cada dia mais envenenada pelo preconceito”.  afirmou a especialista

Num caráter mais surreal, Daisimar conclui a entrevista dizendo: “Eles podem entender a alma das pessoas tendo uma grande sintonia com os sentimentos, isso é muito lindo”. 

 

 

*O estagiário escreveu a matéria sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

Por Ana Paula Tinoco

A Netflix vem nos surpreendendo a cada lançamento. Entre séries, filmes, documentários as produções se dividem em vários gêneros e são raros aqueles que nos decepcionam. Colecionando sucessos de público e crítica, o serviço de streaming vem ganhando espaço e respeito daqueles que são amantes do entretenimento feito com qualidade e o último a arrebatar minha atenção foi Atypical.

A série que foi lançada em agosto do ano passado, 2017, pode passar despercebida se não tivermos um olhar atento e quando damos uma chance, ela nos surpreende a cada episódio. Com uma doze de humor balanceado, atypical (atípico) como já diz o nome não cai no marasmo dos estereótipos, como é o caso de vários filmes que retratam psicopatas, como: Hannibal ou Psicopata Americano e abre uma discussão leve e interessante acerca do autismo sem romantiza-lo.

No papel principal encontramos o jovem ator Keir Gilchrist (25 anos), Gilchrist é Sam, um jovem de 18 anos que diagnosticado ainda criança com Transtorno do Espectro Autista guia o caminho para que assim possamos enxergar o mundo pela perspectiva de seus olhos. Passando pelas mazelas da juventude e as descobertas que ela traz, viajamos por ambientes diversos narrados por ele, o que permite choramos, rirmos e sofrer junto a Sam.

Esses ambientes são compostos pelos núcleos que o rodeiam: família, amigos, escola e terapeuta, cada um servindo para compor o dia a dia do nosso protagonista. Em uma ótima interpretação Gilchrist nos sensibiliza a tentar compreender como é a vida de um garoto autista que diferente de nós vê o mundo com suas próprias cores e nuances.

Sua família que a princípio parece perfeita pode ser vista como a base geral de sua vivência. Com uma mãe super protetora, Elsa (Jennifer Jason Leigh) faz com que o espectador a ame e ao mesmo tempo a odeie, serve como um freio, o medo. Não permitindo a Sam a descoberta e podando sempre que pode sua vontade de mergulhar em novos mares. Seu pai, Doug (Michael Rapaport), pode ser visto como a ignorância diante do desconhecido, mas que aos poucos, assim como qualquer pessoa que procure o conhecimento, se guia e ajuda o filho na autodescoberta enquanto o mesmo vai perdendo o preconceito diante da própria inabilidade.

Sua irmã Casey (Brigette Lundy-Paine) é seu porto seguro. O tratando como uma “pessoa normal”, ela mostra seu afeto e dedicação por seus gestos, olhares e às vezes com palavras. Os dois em cena são um dos pontos fortes da série, a química entre ator e atriz é perfeita e entregue na medida certa.

Porém, não é apenas Casey que enxerga Sam além de seu diagnóstico, seu amigo Zahid (Nik Dodani) é seu conselheiro e às vezes faz com que ele saia dos trilhos, rendendo as melhores cenas quando o roteiro transita entre o drama e o humor. Sua namorada Paige Hardaway (Jenna Boyd) que o ajuda a entender a complexidade do envolvimento com outra pessoa e que é necessário haver uma troca. Sua terapeuta Julia Sasaki (Amy Okuda) e seu consultório são os fios condutores do entendimento do espectador, pois é ali entre essas quatro paredes que Sam descreve seus medos, anseios e quais são suas limitações.

A escola, esse é o núcleo que mais causa desconforto, sensação que pode ser gerada não pelos clichês de escolas de ensino médio, mas pelo fato de que muitas vezes somos capazes de nos identificar com aquelas pessoas que transitam pelos corredores ofendendo e discriminando alguém apenas pelo fato de não conhecermos e algumas vezes não procurarmos o conhecimento sobre determinadas coisas que não são familiares do nosso cotidiano.

O fato é que Atypical é uma ótima série, um convite para que conceitos pré-estabelecidos sobre aqueles que possuem transtornos caiam por terra e abre o nosso olhar para entender o lado do outro. Então não tenha medo de dar o play e divirta-se, apesar de ser um assunto delicado, a roteirista Robia Rashid soube dosar na medida certa sua visão sobre o assunto.

A primeira temporada possui oito episódios e foi renovada para uma segunda que contará com 10 e ainda não possui data de estreia.