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Banda Ous

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*Por Bianca Morais

Se você está começando a ler aqui esperando que eu conte o significado profundo das siglas O-U-S, que formam o nome da banda OUS, então sinto em lhe contar que não tem significado nenhum.

Não é coruja em inglês e não tem nada a ver com mitologia da Índia.

Segundo Raphael Jardim, vocalista da banda, um amigo de escola, o Marcelo, se referia aos integrantes da banda dessa forma, uma variação de “OU”. Um OU elaborado, por assim dizer. É uma brincadeira interna entre amigos que criou um significado especial para eles.

E é entre amigos de escola também que nasceu essa banda. Eles se uniram inicialmente lá em 2001 (ultrapassando então a idade da Radiotape), com uma conexão musical muito forte, apesar de certas especificidades, elemento em comum como Beatles, Oasis e Foo Fighters, uniram 7 garotos do ensino médio que participaram de alguns festivais e depois acabaram seguindo caminhos diferentes.

Houve um intervalo entre 2002 até 2010, período em que tocavam apenas por diversão.

Mas foi cerca de 10 anos depois do início da banda que o Rapha e o Léo se encontraram  por coincidência na rua, trocaram uma ideia “Pô, por que a gente não volta a tocar?” Segundo o baterista foi assim que a banda se reuniu, e dessa vez com a intenção de um projeto mais sério.

A primeira formação profissional da banda então foi: Raphael Jardim (no vocal), Leonardo Ghudor (na bateria) e Henrique da Mata (na guitarra). O power trio. Nessa época viraram residentes no Collins Pub aonde chegaram a fazer mais de 100 shows. Tocavam covers, mas sempre procuravam mostrar também suas autorais.

Antes mesmo de se tornarem profissionais, lá no embrião da banda, eles já trabalhavam com autorais, os shows que faziam tinha covers, mas o foco sempre foi o autoral. No começo, essas músicas eram um tributo aos seus artistas favoritos, o que é supernormal em uma banda no início de carreira, ser influenciada pelo som que gosta.

Com o tempo vem também a maturidade, com os anos a banda OUS foi criando um som mais com a sua cara, uma personalidade só deles. A banda se define como rock alternativo, aquele rock moderno, um pouco pesado, um pouco clássico. Segundo eles, um pouco de The Killers com um pouco de Beatles.

As letras na maioria são compostas pelo Rapha e a melodia, na maior parte pelo Leo. O Rapha dá os temas e o Léo o ritmo e melodia, trabalham juntos no estúdio fazendo a fusão dessas ideias.

Rapha é um compositor diferenciado, enquanto muitos se inspiram apenas em experiências pessoais, o vocalista da Ous se inspira também em fantasias. Apaixonado por literatura, além das situações que vive em seu dia a dia ele gosta de pegar elementos de livros que leu.

Admirável mundo: O nome da canção não é uma mera coincidência com o livro Admirável Mundo Novo do Aldous Huxley, um dos favoritos de Raphael Jardim. Segundo o músico, o livro conta a história de uma sociedade escrava do entretenimento onde as pessoas sofrem de depressão e tomam um remédio, o Soma, para sobreviver à doença. O livro marcou muito o cantor que uniu a história a uma experiência que viveu. Um dia, caminhando com seu cachorro pelo seu bairro, descobriu que uma menina havia se suicidado bem no lugar onde ele passava todos os dias, poucas horas antes dele passar por lá. Isso foi algo que lhe marcou muito, pois caso tivesse passado antes poderia estar ali no momento.

“Se tem alguém pra me salvar

Você

Me de às mãos  vamos voltar

O mundo é seu”

Ele casou essa experiência com o tema do livro. “Como uma menina poderia querer tirar a vida?”. Uma coisa levou a outra e saiu a letra.

Se depois de ler toda essa história você acha que daí nasceu uma canção triste, você está errado. Porque não só de Rapha existe a Ous, mas também de Léo. Quando o vocalista chegou com a música para a banda, ele tinha uma ideia de ritmo que foi quebrada pelo baterista completamente.  Léo compôs a parte rítmica todo sozinho. É uma melodia animada, que dá vontade de chorar apesar da história da música, escutá-la da vontade de dançar.

Essa é a banda Ous, as letras registradas em conjunto são assinadas por todos, são músicas verdadeiras, que tentam se conectar com pessoas que se identificarem com a banda. Para eles o mais importante é fazer uma música criativa e original que leve as pessoas a terem interesse de escutar. Todo o resto, marketing, fazer show, para eles é acessório, o fundamental é uma música criativa, pois sem isso a banda não tem nada.

Diferente da maioria das bandas que você vai encontrar neste almanaque, a banda Ous tem composições em inglês e não é porque eles são antipatriotas, mas porque as músicas são escritas da forma como elas surgem na cabeça, então às vezes elas vêm em forma de melodia, outras como letra, ritmo, às vezes em inglês e às vezes em português. Mas eles se defendem dizendo que preferem as músicas em português, afinal, inglês está em um ambiente mais genérico, a maioria do mundo canta em inglês, mas em português fica mais autêntico.

Para treinar um pouco seu inglês escute aí: Speechless (a favorita do Rapha).

Durante muito tempo a composição da banda foi Rapha, Léo e Henrique. Em 2013, buscando uma forma de dedicar mais tempo à banda, Rapha e Léo pediram demissão de seus respectivos empregos, porém Henrique tinha outras prioridades profissionais e escolheu se dedicar à carreira de advogado, foi então que saiu do grupo. Como grandes amigos, a saída de Henrique abalou muito a banda, que começou a refletir se queria mesmo continuar.

Será que tá funcionando?

Será que a gente é talentosa o suficiente para fazer isso?

Será que vai ter gente querendo ouvir a gente?

Toda boa banda já pensou em algum momento em desistir, porém a resiliência e a vontade de fazer dar certo serviu de incentivo para eles continuarem.

Henrique da Mata posteriormente acabou engatando um projeto solo, a banda ous chegou a gravar com ele seu disco solo, assim também como Henrique continuou a tocar algumas vezes com eles, entre essas vezes a gravação de Paris. Confira a música Mar aberto e também todo o ep Liberdade nas plataformas de streaming.

O dia 7 de junho de 2014:

Essa data é mais que especial para a banda Ous, pois foi o lançamento do seu primeiro EP, o “Amor Vincit”, no Studio Bar. E não foi uma noite especial só para eles, naquele sábado além do lançamento do primeiro EP da Ous, a Radiotape lançava seu EP “Novo dia” e a Devise (vamos falar deles na sequência) lança seu cd “Lume”. Bandas autorais lançando de forma independente trabalhos autorais em uma casa de show lotada. A memória é fresca na mente de todos os membros dessas bandas.

Rapha e Léo relembram o momento de “banda à moda antiga”, todos eles reunidos no camarim antes e depois dos shows. Ali ninguém tinha estourado, mas o clima de amizade e cumplicidade, de sentir que o movimento das bandas estava acontecendo, que realmente tinha um público que estava escutando e cantando a músicas deles e a união para fazer um evento por conta própria despertava a sensação de que seus projetos estavam dando certo.

 

*Esse é um produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.