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Por Keven Souza

A cinematografia sempre foi uma área vulnerável no Brasil. As repressões políticas e sociais que marcam a história do cinema nacional são intimidantes e tem afetado, ao longo dos anos, a forma de documentar e expor com contundência a realidade social no país. O Cine Belas Artes ou Belas, como é carinhosamente conhecido, é um dos últimos cinemas de rua em Belo Horizonte, que veio a enfrentar desafios financeiros e problemas internos que dificultaram, por um longo período de tempo, a função de levar arte aos amantes do universo audiovisual.

Neste ano de 2021, o Centro Universitário Una entrou com ordem de patrocínio ao Belas com intuito de proporcionar melhorias no local e permitir a reabertura do espaço para o público. A parceria tem conectado o cinema aos diversos aparelhos culturais do Circuito Liberdade, ao trazer esperança e alívio de continuar as atividades relacionadas à disseminação da cultura pela capital mineira, além de estender o local às atividades de extensão relacionadas à Una. Por isso, de vizinhos a parceiros, o Cine Belas Artes agora é Una Cine Belas Artes!

 

O Una Cine Belas Artes 

Localizado no coração do bairro de Lourdes, na região centro-sul de Belo Horizonte, o cinema possui um público diverso e fiel, que encanta frequentadores há mais de 29 anos, com seu espaço de café e livraria, além de três salas de cinema, como ponto de encontro para prosear ou manter uma conversa casual. Seu prédio, que abrigou alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), já foi a sede do Diretório Central dos Estudantes, e se tornou no ano de 1992, a referência cinematográfica da cidade: o Una Cine Belas Artes. 

Ao partir do pressuposto que o cinema que é de fato, hoje, constituído a sétima arte do mundo mais atrativa e passiva de entretenimento, o Belas é um espaço comprometido com grupos, eventos e movimentos estruturados, como um modelo de cinema alternativo que possui papel imprescindível na disseminação da cultura, como repertório artístico, ao usar de um reduto de filmes independentes, de arte, para propagar o que há de mais importante na cinematografia brasileira e mundial. Sua grande tela é um dos estilos de arte mais importante para humanidade, capaz de comunicar histórias ou pensamentos e opiniões, que podem criticar a sociedade ou até moldar comportamentos.

Em sua essência é característica a democratização do acesso à cultura, que por ser um cinema de rua, oferece ingressos com preços acessíveis e uma variedade de filmes de baixa circulação que o permite ecoar nas diferentes camadas sociais e econômicas ao proporcionar entradas que variam de 12$ a 25$, sendo menos excludente e mais inclusivo comparado aos cinemas constituídos nos complexos comerciais, como os shopping centers, que os ingressos podem chegar até 40$. 

André Flausino de Oliveira, professor de língua portuguesa e frequentador há mais de 20 anos do Belas, diz que o fato do cinema de rua ser acessível a camadas menos favorecidas da população é de vital importância para a perpetuação da cultura cinematográfica, sobretudo no que se refere aos filmes de arte. “O Belas é sem dúvida um marco de resistência em relação a tantos cinemas de rua maravilhosos que devido à crise e especulação financeira tiveram suas portas fechadas e que hoje existem apenas na memória de seus espectadores”, ressalta. 

Segundo ele, sua relação com o cinema é intrínseca, possui inúmeras lembranças relacionadas ao seus encontros no espaço. Uma delas aconteceu em 2019, quando ao lado de sua colega de trabalho Fernanda Mayrink, que é professora de física, pôde levar os alunos do terceiro ano do Instituto de Educação de Minas Gerais para assistir um documentário inspirado em uma crônica de Caio Fernando Abreu. “Foi sem dúvida uma alegria poder proporcionar esse momento privilegiado aos nossos alunos”, diz André.

Professor André com seus alunos na entrada do Belas

E, afirma que, os filmes apresentados geraram reflexões e impactos positivos na sua forma de ver o mundo. “Tenho um carinho imenso por esse cinema. Já assisti inúmeras produções impactantes e que me marcaram para sempre! É um espaço fundamental na vida cultural dessa cidade”, desabafa o professor.

 

Percalços imposto pela pandemia

Ao longo da história o cinema foi um dos meios artísticos que mais usufruiu da criatividade em tempos de tecnologias esparsas e hoje, mais uma vez, encontra-se obrigado a ser criativo e se reinventar diante o cenário pandêmico nestes dois últimos anos. 

A prática de ir ao cinema, que antes era um dos programas de lazer mais tradicionais, foi afetada pela pandemia que estimulou o fechamento de inúmeras salas dos mais variados cinemas do país para coibir as sessões pela pequena distância entre as poltronas e a pouca ventilação no ambiente, o que trouxe como resultado o desfalque de rotatividade e permitiu ao setor de cinema, ficar escasso e sem alternativas para voltar a faturar. 

No caso do Belas – fechado desde março de 2020 e que vinha enfrentando momentos difíceis mesmo antes deste período sensível, criou-se em setembro uma campanha de financiamento coletivo para poder arcar com dívidas, impostos e outros custos, mas com desafios econômicos para se manter aberto e continuar as exibições, ao se somar com os impasses envolvidos por ser um cinema de rua, formou-se um cenário ainda mais complicado que permitiu a situação se agravar durante a pandemia. “Infelizmente vivemos em um país cujos governantes não valorizam a cultura de modo geral e com o cinema não seria diferente”, diz André Flausino, em relação às dificuldades do Belas durante a pandemia.  

 

De vizinhos a parceiros 

Apesar de estarem próximos, este é o primeiro passo em conjunto entre o Centro Universitário Una e o Belas, a parceria, em formato de patrocínio, foi noticiada logo no início deste ano de 2021, mas a princípio aconteceu entre outubro e novembro de 2020, quando o cinema, fechado a alguns meses, começou a comunicar ao público algumas dificuldades financeiras e resolveu desenvolver algumas campanhas de financiamento coletivo. 

O que chamou a atenção da faculdade e desencadeou a proposta do patrocínio promovido pelo Grupo Ânima, que é responsável pelo Centro Universitário Una, que hoje, além de dar o devido suporte para o cinema permanecer aberto e continuar suas atividades, vem para custear melhorias no espaço nas salas em relação a substituição de poltronas, adequação da fachada e banheiros, pintura de mural, entre outros. Além disso, o apoio é também de grande valia para a comunidade escolar ao aproximar todo o complexo acadêmico envolvido na Cidade Universitária da Una, em prol de estreitar os laços entre a faculdade e o cinema como um movimento orgânico e único. 

Em frente ao Belas, com afinidade geográfica, a Una Liberdade é o campus destinado a ser vizinho do cinema e que tem partilhado, muito antes da parceria, de aspectos concepcionais e culturais ao ser constituído pelos cursos relacionados a área da Cultura, Comunicação Social e Artes. Pedro Neves, que é diretor do campus Liberdade, diz que a colaboração entre ambas organizações é uma oportunidade ávida para os alunos e frequentadores do campus explorarem na essência, as ideias, como uma forma de conhecer a parte parte business da cultura. 

“A parceria é revigorante, para o campus da Liberdade é uma tela em branco para se explorar, indo além de uma ação comercial relacionada ao financeiro e a sustentabilidade própria do cinema, ao abrir um leque de diálogo entre o acadêmico e o mundo real”, diz Pedro sobre a importância da parceria para o campus da Una Liberdade.

Neves afirma que estão por vir inúmeras ações e atividades como resultado do patrocínio e que todas elas estarão associadas ao posicionamento da Una, para que de o ensejo a Belo Horizonte de compreender de forma clara e objetiva a função dos pilares da instituição e a importância desses valores para qualquer instituição de ensino. “Digo que os pilares da Una – a empregabilidade, a diversidade e inclusão e o acesso, precisam estar mobilizados, não necessariamente em todos os projetos, mas tocados para mostrar que o espaço em que a Una está inserido envolve ações que reforcem o nosso posicionamento”, explica o diretor. 

A parceria também faz parte das ações relacionadas aos 60 anos da Una comemorados neste ano e permitirá aos alunos, a partir de agora, usufruírem do espaço do Belas para atuarem, além da sala de aula, como uma injeção de ânimo para as práticas extensionistas. O que reforça os elementos do pilar da empregabilidade, ao dar abertura aos estudantes de participarem de forma direta, especificamente aqueles que são da área de Comunicação Social ou da Arte, e utilizar do espaço como meio de exibição dos trabalhos envoltos a produção de filmes de curta a longa-metragem, mostra culturais, entre outros eventos. 

Para a estudante Milena Prado Bárbaro, que cursa Cinema e Audiovisual na Una, por meio da parceria haverá a oportunidade dos alunos se aproximarem, na íntegra, com o hábito de ir ao cinema e vivenciarem algo diferente do que se é fornecido nas plataformas de streaming hoje em dia. Além disso, está ansiosa para o retorno presencial para que o cinema possa fomentar um espaço de encontro, de ideias e projetos institucionais. “Os projetos nesse espaço podem ser bem interessantes para quem está estudando Cinema e Audiovisual e estou ansiosa para ter acesso a essas possibilidades”, diz a universitária. 

A estudante acredita que o Belas é um dos locais de maior relevância no quesito de espaço cultural em Belo Horizonte, que estaria a perder sua essência artística se não fosse através do patrocínio fornecido pelo Grupo Ânima. “Durante os últimos meses acompanhei as dificuldades do Belas para manter as portas abertas em meio a pandemia e seria uma enorme perda para a cidade encerrar as atividades de mais um cinema de rua”, explica Milena. 

Por definição, o Una Cine Belas Artes é o ponto de encontro entre a essência das duas organizações, é o alto comprometimento com a cultura e a solene responsabilidade de dialogar com práticas de resistência, vivência e liberdade. É em síntese, a cooperação fomentada pelo acreditar, de ambas, no poder do cinema de rua como instrumento influente que ecoa nas diferentes camadas sociais para construção de identidades e valores, que transforma as distintas realidades que se pode encontrar no ambiente urbano por meio da arte. 

Cine belas Artes, na rua Gonçalves Dias, próximo à Praça da Liberdade. Um dos últimos remanescentes dos cinemas urbanos de Belo Horizonte.

O prédio, com arquitetura típica dos anos de 1950, teve sua primeira utilização pelos alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O que antes era a sede do Diretório Central dos Estudantes, símbolo da resistência estudantil durante a ditadura militar, no ano de 1992, se tornou o Centro de Cultura e Referência Cinematográfica da cidade de Belo Horizonte: o cinema urbano, Cine Belas Artes.

Localizado no coração do bairro de Lourdes, região centro-sul da capital, o discreto edifício ainda mantém viva a cultura da nostálgica combinação de filmes e carrinhos de pipoca. A um quarteirão da Praça da Liberdade, ele recebe seus convidados e oferece, além dos filmes, cafés e livros para aqueles que não dispensam um ponto de encontro para uma conversa casual. Com suas portas abertas à rua Gonçalves Dias, número 1581, o Belas Artes se tornou um símbolo concreto da resistência cinematográfica da cidade.

Cinema possui três salas para as exibições dos filmes. Ao longo da semana, a programação é integrada por oito diferentes títulos que se alternam durante a programação.

Histórias conterrâneas que se cruzam nos corredores do cinema

Em pé, ao lado da entrada principal e próximas à entrada da livraria que existe no salão principal do Belas Artes, duas senhoras mantinham uma longa conversa. Leda Paiva, 83, professora universitária se alegrava com a coincidência do casual encontro em que vivenciava. Suas mãos, firmes e certeiras, seguravam as da educadora popular, Rosa Perdigão, 72.

Os 11 anos de diferença não foram suficientes para separar a história de um inédito (re)encontro, dignos de roteiros de Mario Puzo ou Woody Allen. Leda, mora em Brasília/DF. Rosa, mora na capital mineira. Os 700 e muitos quilômetros que separam as duas cidades, também não impediram o acaso, em uma tarde de terça-feira, naquele lugar.

Rosa Perdição e Leda Paiva. Um encontro de histórias e coincidências no Cine Belas Artes. Fotografia: Lucas D'Ambrosio/Jornal Contramão
Rosa Perdição e Leda Paiva. Um encontro de histórias e coincidências no Cine Belas Artes. Fotografia: Lucas D’Ambrosio/Jornal Contramão

Com brilhos em seus grandes olhos azuis, cobertos pelas lentes de seus óculos, a neta de italianos explicou toda a coincidência com um largo sorriso em seu rosto, “a Rosa veio me perguntar sobre um dos filmes que está em cartaz. Paramos para conversar e descobrimos vários pontos em comum. Sou nascida na cidade de Itabira e ela também é de lá”, revelando que tudo começou com a troca de olhares e pela conversa desinteressada.

Futuro incerto envolve o Belas Artes

Histórias como essa é que tornam o cinema de rua, único para a cidade de Belo Horizonte. Tradicionais na cidade, em certo tempo existiam mais de 40 espalhados pelas ruas de BH. Ao longo dos anos, o costume, tradição e envolvimento da população com essa forma de entretenimento deixaram de ser prioridade para as horas vagas belorizontinas.

Fotografia: Lucas D’Ambrosio/Jornal Contramão

Hoje, o que restou, foram os discursos. Na prática, os investimentos não existem mais. De acordo com fontes que não quiseram se identificar, o cine Belas Artes é outro espaço que está fadado em se tornar uma lembrança para os belorizontinos.

Livraria e cafeteria completam o ambiente formado pelas três salas de cinema do Cine Belas Artes. Fotografia: Lucas D'Ambrosio/Jornal Contramão
Livraria e cafeteria completam o ambiente formado pelas três salas de cinema do Cine Belas Artes. Fotografia: Lucas D’Ambrosio/Jornal Contramão

Apesar do esforço e projetos que existem para revitalizar o espaço e aumentar o conforto para os usuários, a falta de interesse e a dificuldade de encontrar patrocínio é algo que dificulta ainda mais as pretensões para o espaço. O espaço, conta com três salas de cinema o que não se torna suficiente para a automanutenção do espaço que, por enquanto, ainda se sustenta por meio de um esforço que mantém as “telas acesas”.

Fotografias e Reportagem: Lucas D’Ambrosio

O Festival Varilux de Cinema Francês começa nesta quinta-feira, 10, em BH. O evento está na 5ª edição e cria um circuito entre 45 cidades das regiões sul, sudeste e nordeste do país. Na programação, 15 filmes inéditos que foram lançados nas últimas semanas na França, além do clássico “Os Incompreendidos”, em versão restaurada, que faz uma homenagem aos 30 anos da morte do diretor François Truffaut.

Um dos destaques da programação é o filme “’Yves Saint Laurent’, dirigido por Jalil Lespert, que conta a história do estilista que assume a marca Christian Dior e do encontro dele com o companheiro e sócio Pierre Bergé. O longa ganha sua exibição comercial ainda esta semana.

Outro destaque do festival é a presença do diretor do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, Jean-Pierre Jeunet, que apresenta seu mais novo filme “Uma viagem extraordinária”. Segundo a organização do evento, o longa será projetado em 3D gratuitamente para crianças em sessões educativas, nos dias 11 de abril, às 13h30, no Cine Belas Artes, e 13 de abril, às 15h30, no Cine Art Ponteio e Belas Artes.

“Uma Viagem Extraordinária”, de Jean-Pierre Jeunet

A expectativa de público para este ano é de mais de 100.000 pessoas. O diretor do festival, Christian Boudier, diz que o sucesso do Varilux é mais uma prova que o público brasileiro gosta muito e confia no cinema francês: “ao longo dos anos, o Festival Varilux se tornou um dos maiores eventos de cinema a nível nacional”. Para ele, “esse feito só é possível graças ao crescente interesse do público pela cinematografia francesa; nesta edição, não será diferente”.

Para o estudante Luis Gustavo Lima, que participa pela primeira vez do evento, a expectativa é enorme. Segundo ele, o cinema francês vem nos presenteando com grandes produções nos últimos anos: “o fato de termos filmes inéditos no festival serve como mais um grande atrativo para o evento e a possibilidade de acesso a filmes que ainda não entraram em cartaz nos grandes centros é um grande presente aos admiradores do cinema francês”. “É uma iniciativa fantástica”, elogia. Luis Gustavo também comenta sobre a agitada programação de cinema de Belo Horizonte. Para ele, “esse modelo de evento que Belo Horizonte vem participando – mostra de filme Alemão, Bergman e Varilux – nos dá a oportunidade para apreciar e conhecer o cinema de todos os cantos do planeta, sem nenhuma restrição”.

Em Belo Horizonte, a extensa programação do Festival Varilux segue entre os dias 10 a 16 de abril,  no Cine Belas Artes e no Cine Art Ponteio Lar Shopping.

Rio e São Paulo

Na edição de 2014, o festival traz a atriz Isabelle Huppert e os diretores Jean-Pierre Jeunet, Jean Marie Larrieu, Arnaud Larieu, Jalil Lespert, MarcFitoussi, Philippe Claudel, Laurent Tuel, Nicole Garcia, que participam dos debates nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

O Varilux traz o renomado diretor Jean-Pierre Jeunet para ministrar um masterclass que será realizado no dia 8 de abril em São Paulo e no dia 10 de abril no Rio de Janeiro. Além do masterclass, a programação oferece diversas oficinas, com destaque para a 3ª oficina Franco-Brasileira de Roteiros Audiovisuais, voltada para o desenvolvimento de roteiros de longa-metragem, direcionado para o público de estudantes e profissionais do cinema.

Maiores informações: https://variluxcinefrances.com/

Por Lívia Tostes

Foto: Divulgação

Desde de 1978 Marcelo Amâncio dos Santos é projecionista em casas de cinemas da capital mineira. Hoje, é o responsável pelas projeções do Cine Belas Artes, localizado na rua Gonçalves Dias, próximo ao Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Conhecido pela exibição de filmes que raramente entram em cartaz em outras casas de cinema, Amâncio dos Santos considera o público do Belas Artes como mais maduro.

Desde adolescente Marcelo Amâncio já se interessava por sombras e projeções. Descoberto por seu vizinho, que na época era técnico do Cine Brasil, se viu lançar nesta profissão aos 18 anos. O profissional considera ter aptidão nata para a tarefa, precisando de apenas dois meses de curso, na época oferecidos pelo Cine Akaiaka, para se estabelecer como um dos mais respeitados operadores de cinema de BH.

Questionado sobre a modernização das salas de cinema e a experiência do espectador em ir ao mesmo, Marcelo Amâncio é enfático, lamentando que em algumas salas as películas venham sendo substituídas por projetores digitais: “o espectador está perdendo sim, porque o cinema é feito com 35”. É uma película tipo fotograma, cinema é o projetor, e tudo digital não é projetor. As pessoas perguntam qual a diferença do 35” para o digital: a cor no 35” é de um vermelho forte e bonito, diferente do digital, que é uma cor braquicela (sic). Isso para mim não tem graça nenhuma”, reclama.

Com tanto tempo dentro de um cinema, o operador tem gosto bem polido, tendo predileção para musicais como Embalos de Sábado a Noite e Greace: Nos Tempos da Brilhantina, ambos com destaque para a performance de John Travolta. Os filmes marcaram tanto que Marcelo Amâncio puxa na memória: “projetei eles no Cine Metrópolis, hoje fechado”. Com quase três décadas de carrreira, rememora sua história mais marcante enquanto projecionista: a sala estava cheia e o filme já havia começado quando o motor da máquina que roda a película queimou, deixando o profissional com poucas chances para continuar a projeção: “eu só sei que troquei o prato todinho e rodei o filme todo na mão. Mais de 40 minutos. Isso ficou na minha cabeça”, se orgulha deixando ver um sorriso satisfeito.

Foto por João Alves

Texto por Alex Bessas e João Alves

A 6ª Mostra CineBH, faz o público refletir sobre o mercado audiovisual mineiro, nacional e internacional. O evento, que se encerra amanhã, nasceu com o intuito de contextualizar o cinema no mercado e entender como este mercado se configura, hoje, no Brasil e no exterior. “No Brasil, existe uma política pública de produção, mas ainda falta uma [política] de difusão”, explica a produtora da Universo Produção Raquel Hallak.

Segundo Raquel Hallak, os eventos da Universo Produção, responsável pelo mostra, são instrumentos a favor da produção impendente que envolvem a realização de baixo orçamento e que imprimem uma identidade. “São filmes autorais que, muitas vezes, não têm a oportunidade de chegar até o publico, porém são eles que deram a nova cara do cinema brasileiro”, avalia a produtora.

Público – Mostra CineBH

Para o programador do Cine104 Daniel Queiroz, o mercado no geral encontra-se em uma mudança enorme com diretrizes boas e ruins. “A juventude de hoje tem algumas dificuldades com o cinema tradicional, como, por exemplo, de se concentrar em um filme de duas horas de duração”, observa Queiroz. Por outro lado, ele percebe que os filmes estão circulando de novas maneiras, sem se prenderem somente a formatos e a gêneros tradicionais.

Entre o público, estavam àqueles que acompanham a trajetória de dez anos da Teia, como é o caso de Pedro Aspahan, formado em Rádio e TV. “Acho que a Teia tem um trabalho consistente, com poesia, e que nos inspira a produzir novos trabalhos”, afirma.

Para os homenageados o clima era de felicidade e frio na barriga. “Ser homenageado é bom, dá uma alegria, um frio na barriga. É um reconhecimento e uma certeza que não podemos acomodar, temos que continuar seguindo em frente”, declara a produtora do grupo Teia Clarissa Campolina.

Clarissa Campolina

Hoje, um dos destaques do evento é a apresentação do filme Tabu, do diretor Miguel Gomes, cartaz do Cinema Belas Artes 1.

Por João Vitor Fernandes e Rafaela Acar

Foto João Vitor Fernandes e Rafaela Acar

O Cine Belas Artes promove entre os dias 12 e 18 de outubro a segunda edição da Mostra Internacional de Cinema Infantil, que exibe filmes de diversos temas, produzidos em países como Argentina, Itália e Espanha. “Procuramos fazer uma seleção menos comercial possível dos filmes e todos eles tangenciam a cidadania de alguma forma. São temas como, por exemplo, a ecologia”, explica o diretor do Belas Artes, Pedro Olivotto.

Ainda de acordo com o diretor, a mostra tem o objetivo de criar uma visão mais crítica nas crianças, fugindo dos estereótipos criados pela grande mídia.  “As crianças de três, quatro anos ficam a cargo da televisão como educadora. O cinema no Brasil precisava de um projeto infantil para interferir na alfabetização do olhar”, afirma Olivotto.

A primeira edição do projeto ocorreu em 2010 no Parque Municipal e buscou atrair o público de áreas mais distantes da região central de Belo Horizonte. Desta vez a mostra será levada para outros bairros e outras cidades. Após o término das exibições no Belas Artes, haverá duas extensões, uma no Barreiro e a outra na cidade de Macacos.

Os filmes são exibidos diariamente em duas sessões, às 14:40 e às 16:30. O cinema está localizado na Rua Gonçalves Dias, 1581 – Lourdes. A entrada é gratuita.

Por Marcelo Fraga e Ana Carolina Vitorino

Foto: Marcelo Fraga

EntrevistaPedroOlivotto by jornalcontramao