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CineOP

A curiosidade do Coutinho era avassaladora, não havia nada que não o interessasse.”

A 11ª edição da CINEOP homenageou o jornalista e cineasta Eduardo Coutinho, considerado pela crítica como um dos maiores documentaristas da história do cinema brasileiro. Na sessão especial, dedicada ao cineasta, foi exibido o longa “Um Dia na Vida”. Para falar sobre o filme, Cezar Migliorin, Consuelo Lins e João Moreira Salles foram convidados para compor a banca do seminário “Fragmentos da vida: sobre um dia na vida, de Eduardo Coutinho.”.

Em outubro de 2009, Coutinho gravou por 24h a programação dos canais de TV abertos brasileiros. Trechos de programas, intervalos comerciais, chamadas e fragmentos de novelas, telejornais, entre tantos outros formatos de imagens compõe o filme que, por meio de citação, levam o espectador a questionar a televisão aberta, o Brasil, o tempo atual e os valores cultivados.

A professora Consuelo Lins, que trabalhou diretamente com Coutinho, discutiu a importância de se eternizar essas imagens que, com o tempo, cairiam no esquecimento. Para Lins, esses fragmentos são nosso bem comum e, portanto, o filme “Estimula o espectador a ser um montador em potencial, um decifrador por excelência, apto a usar a sua memória das imagens para comparar o que vê e o que já viu, e criar sua própria impressão das configurações propostas”, pontuou a professora.

Segundo produtor do filme, João Moreira Salles, o formato do longa se liga de maneira muito clara com as preocupações de Coutinho a respeito de “Quem diz a verdade?”, “Como diz a verdade?”, para ele, tudo que Coutinho experimentou de maneira muito explícita no documentário “Jogo de Cena”, não foi abandonado neste projeto. “Tem uma coisa que ele adorava e queria explorar neste filme, que são as maneiras de dizer”, conta.

Outro fato observado ao longo do seminário foi a preocupação do cineasta com a recepção do filme. De acordo com Consuelo, os efeitos múltiplos pensados por Coutinho, são mais eficazes quando o filme é exibido em uma sala de cinema, “Ele não sobrevive inteiramente como objeto autônomo, vendo em casa”, explica. João Moreira Salles observa: “A ideia da apropriação de uma coisa, levada para outro lugar, estava no centro das atenções de Coutinho quando ele decidiu fazer Um Dia na Vida”.

A importância da desambientação, isto é, tirar as imagens da TV e trazer para uma tela de cinema, foi explicado ao longo do seminário. Quando se está assistindo, na sequência que lhe foi imposta pela programação e com o controle nas mãos, podendo trocar de canal, não fica evidenciado de maneira tão clara as configurações da programação da TV aberta. Um dos participantes da plateia destacou: “A TV naturaliza aberrações e as torna naturais”.

No desenrolar do debate, muitas questões vieram à tona a respeito da construção do filme, da maneira de trabalhar de Eduardo Coutinho entre outras. Assista no vídeo abaixo:

Texto Bruna Dias
Vídeo: Yuran Khan

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O ator e diretor de teatro, cinema e TV, Milton Gonçalves, declarou que a situação do negro no cinema e na televisão pouco se alterou dos anos 1960 para cá.

“Nós, negros, não agimos. Se chegar dez mil cartas na TV Globo, a gente seria ouvido. Só eu falado lá dentro é pouco”. A declaração foi dada durante a coletiva de imprensa da 10ª Mostra CineOP.  Gonçalves é o homenageado da mostra cujo tema é “O Negro em Movimento”.

Segundo o ator e diretor, é possível criar uma sociedade igualitária através do cinema, mas para isso é preciso mobilização. “Todos os filmes têm que ter personagens negros que sejam relevantes na história que está sendo contada. Nem que seja vilão. Nossos programas não têm isso, o negro é sempre palhaço. e isso me irrita”, desabafou.

Texto e foto: Camila Cordeiro

Nesta quinta-feira, 29, aconteceu a abertura oficial da 9ª Edição do CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto. A cerimônia aconteceu no Cine Vila Rica, onde apresentou à temática e os homenageados desta edição.

A CineOP se caracteriza pelo único evento a ter enfoque a preservação, a história e a educação audiovisual no Brasil. Entre os homenageados, estão os cineastas Luiz Rosemberg Filho, Ricardo Miranda e ao grande preservador e ex-curador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), Cosme Alves Netto.

Na temática histórica, Rosemberg, é considerado um dos mais inventivos, radicais artistas da geração de 68, onde desenvolveu um cinema mesclando erotismo, crítica, política e amor ao cinema. Já Ricardo Miranda, foi um artista, montador, cineasta, professor e um cinéfilo que o fez uma das grandes referências da sétima arte das duas últimas décadas. Pensando na temática de preservação, ninguém melhor do que Cosme Alves Netto, que esteve à frente da cinemateca do MAM entre 65 e 88, resistindo à ditadura militar, lutando e organizando a memória do cinema, além de ter sido um dos maiores incentivadores da produção cultural e independente da época.

Durante a cerimônia, os homenageados receberam o simbólico troféu Vila Rica. As viúvas de Ricardo e Cosme subiram ao palco para receber o prêmio e falaram da importância do reconhecimento do trabalho de ambos para o cinema brasileiro. Rosemberg, foi aplaudido de pé e, como já era de se esperar, não fez nenhuma declaração, visto que sempre se manteve longe dos holofotes da mídia, mas dedicou o prêmio aos amigos mais próximos.

Após a cerimônia de abertura, a pré-estreia do documentário “Tudo por amor ao cinema”, de Aluísio Michiles, que narra à trajetória da vida de Cosme Alves Netto através de depoimentos de amigos e cenas de filmes, que ajudam a narrar um momento de sua vida – intercalação de filmes que ajudam a ilustrar e narrar cada momento relembrado em cena. Michiles contou que “Desde jovem, me perguntava para onde iam os filmes aos quais assistia no cinema, eu queria saber o que acontecia com eles”, por isso resolveu dirigir um longa-metragem que contasse a vida de um dos homens que mais representam essa memória cinematográfica no país.

Mais informações: www.cineop.com.br 

Por Lívia Tostes
Fotos: Leo Lara/Universo Produções