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Por Bianca Morais 

O Centro Universitário Una sempre foi palco para palestras e bate-papos com temas de suma importância, buscando levar aos alunos um pensamento crítico, muito além do aprendizado tradicional.

Em 2019, na cidade de Brumadinho (MG), aconteceu uma das maiores tragédias ambientais que já se viu em toda a história: o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. O desastre chocou o mundo e ocasionou a morte de 271 pessoas, incluindo 9 desaparecidos e a devastação do rio Paraopeba e de todo o ecossistema a sua volta. 

Durante aquele primeiro semestre de 2019, a Una promoveu diversas discussões sobre o assunto, inclusive, foram realizados diversos projetos interdisciplinares envolvendo diferentes cursos. 

 

Os eventos do curso de jornalismo

O curso de jornalismo, no período coordenado pela professora Márcia Maria Cruz, realizou grandes iniciativas. Segundo a jornalista, que acompanhou de perto ação da imprensa frente o rompimento da barragem de Brumadinho,  essa foi uma das principais coberturas jornalísticas do Brasil, comparável até ao 11 de Setembro nos Estados Unidos, em termos mundiais, com desdobramentos gigantescos.

“Em função disso, eu considerei que era importante fazer uma reflexão sobre a cobertura convidando jornalistas que participaram dela e docentes do nosso curso que pudessem fazer uma discussão sobre esse processo para os alunos”, conta ela. 

Na época, o Jornal Contramão ficou responsável pela parte da produção executiva do evento, com objetivo de fazer uma conexão entre a academia e o mercado de trabalho, os profissionais que atuam nas redações e que fazem a cobertura jornalística no dia a dia.  

A organização trouxe ao Contramão uma importante visibilidade.Os debates contaram com um público bem expressivo, alunos da Una e de várias outras instituições, interessados em cursar o curso de Jornalismo, além da presença de diretores de redação de vários jornais, como por exemplo, o diretor de redação do Jornal Estado de Minas, Carlos Marcelo de Carvalho, representantes de outros veículos, como da rádio CBN, Itatiaia, todos para assistirem ao debate. 

“Foi um grande encontro com a presença de estudantes, professores e profissionais de jornalismo, tanto os que foram convidados a fim de compor as mesas e os debates como os que foram com intuito de assistir. Esses encontros são extremamente ricos e importantes tanto para a formação dos nossos alunos, como também para os jornalistas profissionais que têm esse tipo espaço como uma possibilidade de refletir sobre o trabalho que eles realizam no cotidiano”, comenta Márcia.

 

A mostra de fotografias

Inicialmente, foi elaborada uma mostra onde foram apresentadas 30 capas e 20 fotos produzidas por profissionais de diferentes veículos de comunicação de Minas durante a cobertura da tragédia.

Com grande repercussão, a curadoria da exposição ficou a cargo dos professores: Aurélio Silva, Magda Santiago, Leonardo Drummond Vilaça, e o jornalista do Estado de Minas, Fred Bottrel, que foi um dos autores da reportagem em 360 graus realizada em Brumadinho, uma verdadeira inovação na cobertura jornalística. A expografia foi produzida pela professora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Design de Interiores, Janaína Scaramussa, e a montagem pelos alunos do curso.

As imagens presentes na mostra eram de uma autenticidade fora do comum, realistas e mostravam a verdade, mesmo que chocante daquela calamidade. Aquelas fotos precisavam ser expostas, vistas e provocar atenção, com intuito que a morte de centenas de pessoas não passasse em vão, para que o público cobrasse respostas e que as vidas perdidas não caíssem no esquecimento.

A professora Maria Magda compartilha que participar da curadoria da exposição sobre a tragédia de Brumadinho foi um trabalho em que ela precisou olhar de frente o aniquilamento humano e a dor das pessoas. 

“Olhar, sem poder desviar a vista, para a destruição ambiental, o martírio do rio, a agonia dos animais. Ainda sem fôlego, ver a exaustão e o assombro nas expressões dos bombeiros e voluntários”, conta ela.

Para ela era difícil incluir, naquela contemplação angustiante, a observação da linguagem fotográfica, o “ver” de cada fotógrafo, as questões de enquadramento, o trabalho com a luz. 

“O sofrimento exposto nas imagens fazia com que tudo ficasse pequeno – problemas ínfimos, preocupações tolas, chateações fúteis, só pensava que essa exposição poderia ajudar a sensibilizar a comunidade, os nossos alunos, a aumentar as doações. Mas não dava para fugir da consciência do que é perdido, daquele desamparo na paisagem de lama. Por mais ajuda que tivesse, o que olhávamos era irreversível”, conclui a curadora. 

Entre as fotografias expostas apareceram as dos fotógrafos Alex De Jesus, Alexandre Guzanshe, Cristiane Mattos, Douglas Magno, Flávio Tavares, Gladyston Rodrigues, Isis Medeiros, Lucas Prates, Moisés Silva e Uarlen Valério. A reportagem 360 de Fred Bottrel e Renan Damasceno. A primeira página dos jornais Estado de Minas, O Tempo, Hoje em Dia, Super Notícias e Metro BH.

 

As mesas de debate

Além da exposição, também foram organizadas mesas de debates com o tema: “Desafio da reportagem: Cobertura Jornalística de Tragédias”. O bate papo foi dividido em dois momentos, um primeiro com “A produção de imagens em tragédias”, onde foram convidados para contar suas experiências os jornalistas Daniel de Cerqueira (O Tempo), Carlos Eduardo Alvim (Globo Minas), Gladyston Rodrigues (Estado de Minas) e Isis Medeiros (jornalista independente).

Na sequência, era a vez das “Narrativas da Tragédia”, que trouxe Edilene Lopes (Rádio Itatiaia), Márcia Maria Cruz (Estado de Minas) e Pedro Aihara, tenente do corpo de bombeiros de Minas Gerais.

Os convidados que participaram dos debates foram escolhidos de forma que fosse possível uma ampla representação dos veículos que fizeram a cobertura, dessa maneira estiveram presentes repórteres e jornalistas de várias mídias, de jornal impresso, portal, televisão e rádio. 

 

A relevância do evento para o jornalismo mineiro

Todos os eventos contaram com participação massiva dos alunos da instituição, principalmente, do curso de Jornalismo. Com a tragédia ainda fresca na memória de todos, era impossível não prestar atenção a cada fala e depoimento.

O evento foi sem dúvidas um dos maiores realizados em Minas Gerais para tratar da cobertura jornalística de uma tragédia, o assunto é de grande importância, sobretudo com a dimensão que foi o rompimento da barragem da Vale, todas as implicações das vidas perdidas, da destruição ambiental, os danos ao turismo danos e aos rios e bacias hidrográficas, dos pagamentos à comunidades, entre outros.

“E como o jornalismo faz a cobertura de um acontecimento desta dimensão, é fundamental trazer isso à formação de futuros jornalistas, ao curso de jornalismo é importante porque permite mostrar qual é a preocupação e qual é o entendimento que o curso tem com relação ao jornalismo, o que se considera como prioridade”, comenta a professora.

A exposição e as mesas de discussões tiveram grande repercussão e reconhecimento dentro da imprensa mineira, sendo anunciado por diversos veículos, com matérias publicadas falando tanto da programação dos debates como da exposição que foi realizada.

“Entendo que acontecimentos dessa natureza tem uma contribuição para qualificar a cobertura jornalística, para fazer com que ela seja pensada, refletida, e que com isso, possam ganhar em termos técnicos e éticos, termos de tratar um tema de tamanho interesse público”, conclui Márcia. 

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Crédito: Rodney Costa

Thiago Guimarães Valu

A cobertura esportiva jornalística, acompanha as mais variadas práticas e modalidades, há pelo menos, 150 anos. Nesse tempo, evidentemente, muita coisa aconteceu.

Aqui,  trataremos, justamente, daquele que é declarado, pela “grande massa”, como o esporte mais popular do mundo, o futebol. Tenho vivido a experiência da cobertura do esporte, como jornalista, nos últimos seis anos,  e cada vez mais me faço as perguntas: “Qual o limite da liberdade jornalística na cobertura de um clube de futebol?” e “Qual a relevância real”?

Atualmente, sou repórter no canal do YouTube Cruzeiro Sports, onde produzimos conteúdos de cunho jornalístico e opinativo sobre o Cruzeiro Esporte Clube. É um canal democraticamente aberto a todos, mas, logicamente, mais consumido por adeptos do clube em questão. Atingimos a importante marca de 150 mil inscritos, recentemente, e a empresa é registrada como veículo de comunicação jornalística. Todos os seus integrantes estão registrados no Ministério do Trabalho como jornalistas, mas o clube não nos reconhece,  nem considera nosso trabalho dessa forma.

O Cruzeiro Esporte Clube segue, a cada dia, mais afundado em crises financeira, política e estrutural sem precedentes, desde que denúncias de irregularidades, tiveram conhecimento público, no dia 26 de maio de 2019, no programa Fantástico, da Rede Globo, graças a grande trabalho jornalístico da repórter Gabriela Moreira. Em um primeiro momento, a tentativa, por parte dos dirigentes, foi mostrar que se tratava de algo tendencioso, já que, no discurso dos gestores do clube, tentava-se criar um ambiente de instabilidade, já que o Cruzeiro  vivia a incomodar no âmbito desportivo. O que se viu, e se vê, desde aquele dia, é o tremendo desmoronamento de uma instituição centenária, que, graças a gestões temerárias, caminha, desde então, sem rumo e luminosidade.

Quer dizer:- a imprensa, antes querida, ao tratar dos títulos e das grandes partidas, passou a ocupar o  posto de “inimigo número” um do “estado”. A verdade é que a cobertura é agradável aos assessores de imprensa dos clubes e direções, enquanto o enquadramento das notícias e informações, favorece não ao clube, mas à imagem de quem ocupa as cadeiras mais importantes das instituições futebolísticas.

Tenho credencial de jornalista validada na AMCE (Associação Mineira Dos Cronistas Esportivos), mas, no entendimento do clube,  não passo de um influencer. Por isso, as perguntas redigidas por mim, direcionadas ao técnico do clube, na coletiva aberta a toda  imprensa, seguem ordem expressa de não serem lidas. O curioso é que  me preparo para cada jogo, do qual fazemos a cobertura, como os profissional da Rede Globo, da rádio Super ou da Itatiaia,que, aliás, me enxergam e reconhecem  como colega de trabalho. Já o Clube, não.

Pergunto, então:- se o conteúdo não fosse crítico e independente como é, será que teríamos o mesmo tratamento por parte dos mandatários do Cruzeiro? Ou seja, a liberdade para coberturas dentro dos clubes de futebol, parece estar, definitivamente, atrelada aos interesses de pessoas que detêm o poder interno, e não dos torcedores.

*Edição: Professor Mauricio Guilherme Silva Jr.

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Por: Gabriel Barros

Três Pontas, Sul de Minas Gerais. Francisco Barros, meu pai, há mais de 30 anos, é radialista na rádio local da cidade, e, desde que eu me entendo por gente, tem um programa sertanejo diário, que começa às 5h e termina às 8h30. Logo depois de encerrá-lo, já começa a preparar um jornal de notícias diárias, que vai ao ar de 11h30 às 12h. Assim é a rotina do meu velho, em seu trabalho, que realiza com muito amor. Fiz essa pequena introdução, sobre o trabalho de meu pai, devido à grande influência que ele tem sobre a profissão que escolhi para exercer na vida: o Jornalismo.

Desde criança, me aventurava nos estúdios da rádio Sentinela FM. Mexia aqui, fuçava dali, até que, quando eu tinha 8 anos, meu pai resolveu me testar. Em 2007, fiz meu primeiro programa piloto, o “Turma da Bagunça”. E não vou mentir: ficava constrangido sempre que ouvia minha voz nas antigas caixas de som do “estúdio B” da rádio. Não gostava. Adorava assistir a meu pai trabalhando, mexendo naqueles milhares de botões, mandando o famoso “alô” para os ouvintes, mas não conseguia me enxergar fazendo tudo aquilo, àquela época.

Fui criado no meio do Jornalismo. E, a partir dos fatos que irei contar, descobri que, para ter sucesso num ofício, não basta ser um bom profissional. A paixão e o tesão pelo que se faz são essenciais para alcançarmos os objetivos traçados em nossos sonhos. O apoio que tive dos meus pais foi um grande diferencial para meu início de carreira. É importante, porém, levar em consideração que, em diversos casos, os pais oferecem grande resistência à profissão escolhida pelo filho. Debateremos isso ao longo da história.

Meu pai, junto a minha mãe, sempre me incentivou. Eu era resistente, contudo. Após a decepção com o programa piloto, meu pai tentou me inserir no meio jornalístico, com outras atividades. Gravei até propaganda para o dia das mães, em lojas da cidade: “Mamãe, eu te amo muito. Feliz dia das Mães!”. E, uma vez mais, ao ouvir minha voz gravada, não me sentia satisfeito. Fiz diversos spots para testar, aprimorar e trabalhar minha voz. E meu pai sempre a meu lado.

Passaram-se os anos, e fiquei na geladeira. Meu pai me deu um tempo, para, realmente, decidir o que eu queria. A paixão pelo Jornalismo, porém, habitava em mim, de maneira bem tímida, mas não conseguia enxergar o futuro, e não estar inserido no meio. Até que, em 2016, no auge de meu ensino médio, último ano de escola, e de cursinho preparatório para o Enem e o vestibular, meu pai, uma mais vez, me testou. No dia 23 de setembro, em Três Pontas, é realizada a Festa do Beato Padre Victor, evento religioso que envolve toda a população da região. A rádio Sentinela FM aparece de novo no cenário, juntamente a meu pai, que me chamou para ajudá-lo na cobertura jornalística do evento.

Um misto de nervosismo, animação e adrenalina tomou conta de mim. Mens desinibido, mas ainda bem contido, iniciava, ali, às 15h do dia 23, na praça da Matriz, minha jornada em busca de depoimentos de romeiros que tinham história em particular com o Beato Padre Victor. Daquele modo, ao lidar com pessoas de diversas cidades, estilos e hábitos, meu sonho de ser jornalista, finalmente, aflorava. A emoção das pessoas, ao me contar suas histórias, me fez voltar e lembrar do quão emocionado eu ficava, ao assistir meu pai a trabalhar…

No final da cobertura, às 19h, cheguei à rádio com a memória do gravador – aqueles “tijolões” da época – bem cheia. E, quando fomos passar os áudios ao computador, para editarmos e já prepará-los para ir ao ar, pela primeira vez, não fiquei desconfortável com minha voz nas caixas de som, agora no “estúdio A”. Fiquei, em verdade, muito feliz com o resultado. E a alegria não vinha, apenas, do fato de minha voz parecer menos “estranha”. Ali mesmo, ao olhar para o lado, meu pai, com os olhos carregados de lágrimas, me parabenizou pelo trabalho e disse: “Que orgulho, meu filho”. Aquilo foi a virada de chave para seguir meu sonho.

Não sei se, ao final deste relato sobre minha vida, você se identificou com algo. Fato é que a paixão levou-me a esta linda profissão. Falo da paixão por assistir a meu pai trabalhando, e da paixão das pessoas ao serem entrevistadas. E da paixão que, hoje, meus pais têm por mim, por ter seguido minhas convicções.

Hoje, no último ano da faculdade de Jornalismo, relembro tudo o que já vivi, e não me canso de agradecer, a meu pai, pelos puxões de orelha, pela paciência e pelo respeito que sempre teve comigo. E pelo tempo que tive para absorver o que desejava em meu futuro. Levarei comigo os aprendizados de meu pai e de minha mãe. Além de me educar e fazer de tudo por mim, eles me fizeram – e ainda me fazem –, acreditar que a profissão que escolhi pode transformar o mundo em um lugar mais plural, harmônico e democrático.

 

*A crônica foi produzida sob a supervisão do professor Maurício Guilherme Silva Jr.