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Contra nas Ruas

Fotografia: Lucas D'Ambrosio

Sexta feira, 11 de novembro de 2016. Em meio à Primavera Secundarista, diversas cidades do país se mobilizaram em uma manifestação nacional para protestar contra as recentes medidas de austeridade, congelamento e limitação de gastos públicos federais e a reformulação do ensino médio, promovidos pelo governo de Michel Temer.

Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Fotografia: Lucas D’Ambrosio

Em Belo Horizonte, não foi diferente. Em meio às faixas com mensagens de ordem, carros de som e milhares de pessoas representando entidades sindicais, servidores públicos da área da educação, saúde, segurança e fiscalização, crianças e adolescentes representando as 40 escolas que estão ocupadas na região metropolitana de BH, eis que surge um Mar de Gente.

No meio da Praça Sete, no fundo da passeata que levava os manifestantes a cruzar o centro da cidade até a Praça da Assembleia, um longo tecido branco se estendia por entre a avenida Amazonas, uma das principais da capital das Gerais.

Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Fotografia: Lucas D’Ambrosio
Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Fotografia: Lucas D’Ambrosio

A iniciativa surgiu na ocupação da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A performance foi realizada de maneira coletiva e organizada pela “Frente de Produção da Ocupação Belas Artes”, durante o Ato Nacional Unificado contra a PEC 55 (241) e Medida Provisória 746. Ao todo, mais de 100 pessoas participaram da ação que percorreu a distância de 2Km entre a Praça Afonso Arinos, região central de Belo Horizonte e a Praça da Assembleia, no bairro Santo Agostinho. De acordo com uma das organizadoras da performance, a estudante Debora Guedes, o Mar de Gente, foi “a junção de outras duas performances que usamos como referência: a ‘Divisor’, da Lygia Pape e ‘Painting Reality’ do IEPE”.

Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Fotografia: Lucas D’Ambrosio
Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Fotografia: Lucas D’Ambrosio

Por entre fendas cortadas ao longo do pano, cabeças guiavam a marcha no meio prédios e curiosos que paravam para observar. Mulheres, homens… Todos juntos. Em um passo sincronizado, respeitavam os comandos daqueles que guiavam o marchar do mar vivo, refletido em 50 metros de comprimento, realizando um protesto silencioso.

No entorno desse mar, a mensagem era legível: “igualdade”, “respeito”, “arte”, “empatia” e “humanidade”. O que restava, era somente um rastro: 75 litros de tinta que coloriu as ruas da cidade por entre os caminhos percorridos pelas 96 pessoas que levavam a arte, em forma de mobilização, para as ruas de uma cidade ocupada.

Fotografia: Lucas D'Ambrosio
Fotografia: Lucas D’Ambrosio
Fotografia: Lucas D’Ambrosio

Fotografias e Reportagem: Lucas D’Ambrosio

 

Cine belas Artes, na rua Gonçalves Dias, próximo à Praça da Liberdade. Um dos últimos remanescentes dos cinemas urbanos de Belo Horizonte.

O prédio, com arquitetura típica dos anos de 1950, teve sua primeira utilização pelos alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O que antes era a sede do Diretório Central dos Estudantes, símbolo da resistência estudantil durante a ditadura militar, no ano de 1992, se tornou o Centro de Cultura e Referência Cinematográfica da cidade de Belo Horizonte: o cinema urbano, Cine Belas Artes.

Localizado no coração do bairro de Lourdes, região centro-sul da capital, o discreto edifício ainda mantém viva a cultura da nostálgica combinação de filmes e carrinhos de pipoca. A um quarteirão da Praça da Liberdade, ele recebe seus convidados e oferece, além dos filmes, cafés e livros para aqueles que não dispensam um ponto de encontro para uma conversa casual. Com suas portas abertas à rua Gonçalves Dias, número 1581, o Belas Artes se tornou um símbolo concreto da resistência cinematográfica da cidade.

Cinema possui três salas para as exibições dos filmes. Ao longo da semana, a programação é integrada por oito diferentes títulos que se alternam durante a programação.

Histórias conterrâneas que se cruzam nos corredores do cinema

Em pé, ao lado da entrada principal e próximas à entrada da livraria que existe no salão principal do Belas Artes, duas senhoras mantinham uma longa conversa. Leda Paiva, 83, professora universitária se alegrava com a coincidência do casual encontro em que vivenciava. Suas mãos, firmes e certeiras, seguravam as da educadora popular, Rosa Perdigão, 72.

Os 11 anos de diferença não foram suficientes para separar a história de um inédito (re)encontro, dignos de roteiros de Mario Puzo ou Woody Allen. Leda, mora em Brasília/DF. Rosa, mora na capital mineira. Os 700 e muitos quilômetros que separam as duas cidades, também não impediram o acaso, em uma tarde de terça-feira, naquele lugar.

Rosa Perdição e Leda Paiva. Um encontro de histórias e coincidências no Cine Belas Artes. Fotografia: Lucas D'Ambrosio/Jornal Contramão
Rosa Perdição e Leda Paiva. Um encontro de histórias e coincidências no Cine Belas Artes. Fotografia: Lucas D’Ambrosio/Jornal Contramão

Com brilhos em seus grandes olhos azuis, cobertos pelas lentes de seus óculos, a neta de italianos explicou toda a coincidência com um largo sorriso em seu rosto, “a Rosa veio me perguntar sobre um dos filmes que está em cartaz. Paramos para conversar e descobrimos vários pontos em comum. Sou nascida na cidade de Itabira e ela também é de lá”, revelando que tudo começou com a troca de olhares e pela conversa desinteressada.

Futuro incerto envolve o Belas Artes

Histórias como essa é que tornam o cinema de rua, único para a cidade de Belo Horizonte. Tradicionais na cidade, em certo tempo existiam mais de 40 espalhados pelas ruas de BH. Ao longo dos anos, o costume, tradição e envolvimento da população com essa forma de entretenimento deixaram de ser prioridade para as horas vagas belorizontinas.

Fotografia: Lucas D’Ambrosio/Jornal Contramão

Hoje, o que restou, foram os discursos. Na prática, os investimentos não existem mais. De acordo com fontes que não quiseram se identificar, o cine Belas Artes é outro espaço que está fadado em se tornar uma lembrança para os belorizontinos.

Livraria e cafeteria completam o ambiente formado pelas três salas de cinema do Cine Belas Artes. Fotografia: Lucas D'Ambrosio/Jornal Contramão
Livraria e cafeteria completam o ambiente formado pelas três salas de cinema do Cine Belas Artes. Fotografia: Lucas D’Ambrosio/Jornal Contramão

Apesar do esforço e projetos que existem para revitalizar o espaço e aumentar o conforto para os usuários, a falta de interesse e a dificuldade de encontrar patrocínio é algo que dificulta ainda mais as pretensões para o espaço. O espaço, conta com três salas de cinema o que não se torna suficiente para a automanutenção do espaço que, por enquanto, ainda se sustenta por meio de um esforço que mantém as “telas acesas”.

Fotografias e Reportagem: Lucas D’Ambrosio