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Coronavírus

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Vacinação contra a gripe Influenza em postos de Drive-Thru, no Lago Norte . Sérgio Lima/Poder360 24.02.2020

Por Daniela Reis 

E depois de tantas incertezas e discussão política, o Brasil completa um ano de vacinação contra a Covid-19 com quase 70% da população já imunizada com a segunda dose ou dose única. Enquanto no auge da pandemia o país registrava mais de duas mil mortes por dia, atualmente a média próxima é 130. 

O Brasil viveu momentos de muitos atritos, tanto que a imunização iniciou-se com atraso comparada a países como Argentina, Chile e México. Porém evoluiu de maneira surpreendente, uma vez que a população aderiu a campanha e encheu os postos de vacinação em todos os estados. 

Mesmo superando outras potências em porcentagem de imunizados e com a incrível queda de mortes e casos graves provocados pelo coronavírus, o país ainda enfrenta desafios importantes de combate à pandemia que é o surgimento da Ômicron, uma cepa fez a média móvel de casos no Brasil subir mais de 600%. 

A Ômicron

O primeiro caso confirmado dessa cepa no Brasil, aconteceu no final de novembro de 2021. Naquele momento não se podia prever a rapidez com que o vírus se proliferaria e causaria tantos novos casos. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, chegou a dizer  que a nova cepa “não é variante de desespero” e que o Brasil estaria preparado para uma nova onda de casos do novo coronavírus.

Porém, quase dois meses depois, o tsunami de infecções provocado pela nova variante registra, dia após dia, recorde no número de casos: no mundo, foram mais de 3,2 milhões em 24 horas; no Brasil, a média móvel subiu mais de 600%. 

Ao contrário do que previa o ministro, o país não conseguiu acompanhar a evolução da situação pandêmica. Com a explosão de casos do novo coronavírus, algumas capitais brasileiras já estão sofrendo com grandes filas e lotação de pacientes.

O avanço da variante está provocando falta de profissionais de saúde na linha de frente do combate aos efeitos da doença, devido aos afastamentos de profissionais. Além disso, prefeituras e secretarias de saúde lutam contra a falta de estoque de testes para a detecção dos vírus das duas doenças.

Um estudo feito pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS), em parceria com os laboratórios Dasa e DB Molecular, constatou que a cepa prevaleceu em 98,7% das amostras analisadas no Brasil. Os pesquisadores analisaram 8.121 amostras coletadas entre 2 e 8 de janeiro de 2022.

Desde o dia 1º de dezembro de 2021, os pesquisadores testaram um total de 58.304 amostras em 478 municípios de 24 estados e do Distrito Federal. A Ômicron foi identificada em 191 municípios de 17 estados: Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e também no Distrito Federal.

A análise demonstrou também, um aumento nos testes positivos para COVID-19. Entre a última semana de 2021 e a primeira de 2022, a positividade nos testes saltou de 13,7% para 39,5%.

Vacinação nas crianças 

Mais um avanço para conter a pandemia aconteceu no dia 05 de janeiro, quando o Ministério da Saúde incluiu as crianças de 05 a 11 anos no plano de vacinação contra a covid-19. 

Segundo a nota técnica divulgada pelo governo, a ordem de prioridade na imunização será a seguinte:

  1. crianças de 5 a 11 anos com deficiência permanente ou com comorbidades
  2. crianças indígenas e quilombolas
  3. crianças que vivem em lar com pessoas com alto risco para evolução grave de Covid-19
  4. crianças sem comorbidades, em ordem decrescente de idade: primeiro, as de 10 e 11 anos; depois, as de 8 e 9 anos; em seguida, as de 6 e 7 anos; e, por último, as crianças de 5 anos.

No entanto, estados e municípios podem decidir sobre a vacinação.

Após tantas discussões, o Ministério da Saúde orienta que os pais “procurem a recomendação prévia de um médico antes da imunização” – mas não exigirá receita médica para aplicar a vacina.

A autorização por escrito só será necessária se não houver pai, mãe ou responsável presente no momento em que a criança for vacinada.

A vacina será dada em duas doses e com 21 dias de intervalo,  assim como nos adultos, mas a dosagem, a composição e a concentração da vacina pediátrica são diferentes da dos adultos.

O frasco da vacina para crianças também terá uma cor diferente daquela aplicada em adultos, para ajudar os profissionais de saúde na hora de aplicar a vacina.

Por Bianca Morais 

Dando continuidade a série de reportagens sobre sonhos adiados, hoje o Contramão traz a história de Enza e Jeferson. Um casal que tenta se casar desde o começo do ano, porém com a covid-19 e suas restrições têm adiado a realização desse sonho, mas como jovens apaixonados que são, não desistiram de seu casamento e apesar dos milhares de perrengues enfrentados, esperam ansiosamente a vez de subir no altar. 

A história do casal

 

Enza e Jeferson, moram no interior do Espírito Santo e se conheceram na escola. Apesar de não serem muito próximos o ciclo de amizade era o mesmo, por isso, foi questão de tempo para que o destino os unisse. Em uma noite qualquer do ano de 2015, uma amiga de Enza que namorava o amigo de Jeferson, a chamou para comer um sanduíche com eles. Depois de deixar Enza em sua casa, a garota mandou uma mensagem para ela dizendo que Jeferson havia falado dela no carro, depois de muito insistir para saber o que, a amiga revelou que naquela noite ele disse que “Essa ai eu pego hein”.

Nenhum deles sabia naquele momento, mas aquele encontro despretensioso para comer um lanche seria o início de uma linda história.

O casal está junto há 6 anos, e ano passado resolveram dar um passo a mais na relação, e antes que pensem que esse passo seria o casamento, não é, esse seriam juntos embarcarem para o Canadá e começarem uma vida a dois fora do país. 

Jovens, cheios de sonhos e planos, o casal sabia que estarem casados facilitaria o processo de tirar o visto e embarcar rumo ao futuro juntos, por esse motivo, no dia 10 de julho de 2020, eles contaram aos seus pais a decisão e comemoram o noivado moderno. Moderno porque foi decidido de última hora e as alianças ainda não estavam em mãos, entretanto, isso não diminuiu a importância daquele momento. 

“A gente comemorou o noivado, mas não teve pedido, a gente só falou a bora casar. A aliança a gente foi no dia seguinte na loja encomendar”, conta Enza.

Noivos, e agora?

Dado esse passo, agora eles tinham todo um casamento para planejar, isso, contando que ele deveria acontecer até janeiro de 2021, para que os planos que fizeram de ir para o Canadá, onde Enza iniciaria seu mestrado no meio do ano e Jeferson trabalharia, caso tudo saísse como planejado.

O dia 23 de janeiro, foi a data escolhida para acontecer o casório. Então, de julho de 2020 em diante eles teriam que escolher vestido, terno, buffet, decoração, enviar convite, contratar fotógrafo, agendar cabelo e maquiagem, entre outros. A noiva, em busca de economizar dinheiro para a viagem, decidiu assumir o papel de organizadora.

O planejamento acontecia a todo vapor, e não que tenham ignorado um fator importante, a Covid-19, contudo preferiram acreditar que na data escolhida para o casório, a questão “pandemia mundial” já não seria mais um problema.

“Eu jurei que até dezembro o mundo já ia estar melhor, que todo mundo ia estar vacinado”, comenta a noiva.

 

O primeiro adiamento

Acontece que planos e pandemia não são palavras que caminham juntas, em razão disso, cerca de um mês antes da primeira data agendada para acontecer o casamento, Enza e Jeferson acharam melhor adiá-lo para segurança de todos, afinal, na época os números de contágio ainda eram altos e o país ainda não tinha nenhuma perspectiva de começar a vacinação. 

“Quando eu vi que não tinha outra solução a não ser adiar, fiquei muito chateada, foi uma fase muito ruim, porque a gente tinha corrido atrás de tudo muito rápido, conseguimos, estava dando tudo certo e um mês antes foi tudo por água abaixo”, desabafa Enza.

A sensação de impotência tomou conta não somente do casal, mas de todos aqueles que precisaram deixar um sonho para depois em um momento tão complicado. “Ver hoje que tudo poderia ter sido diferente, que se o governo tivesse aceitado as ofertas de vacinas da pfizer lá atrás, as minhas esperanças de que muita gente já teria sido vacinada estariam vivas e que meu casamento poderia ter acontecido. É uma sensação muito ruim de impotência, porque não tinha algo que eu poderia fazer, eu não sei fazer vacina”, completa. 

 

Futuro delongado

A pandemia não adiou somente o sonho de se casar, mas também o de Enza fazer seu mestrado fora do país. O casamento dela não era apenas para mudar seu status de relacionamento, mas juntamente com o presente, ela pediu aos convidados que, ao invés de presentes, contribuíssem com uma quantia para ajudar o casal a construir o sonho de morar fora. O dinheiro que ganhariam no casório era um investimento no futuro deles, visto que, como filha única, o pai de Enza insistiu em pagar o evento.

Enza e seus pais

Além disso, a festa seria uma despedida do casal, dos parentes e amigos próximos, já que quando partirem para o Canadá, não pretendem mais voltar.

“Eu sempre quis morar fora, desde que começamos a namorar eu falava isso para ele, que ou ele ia junto ou a gente terminava. De tanto eu falar, ele começou a pesquisar e animou também, começou comigo, contudo hoje é um sonho do casal”, explica a jovem. 

 

A segunda onda da covid-19

Depois de precisar adiar o casamento pela primeira vez, o casal acreditava que a segunda data, no dia 10/04/2021, finalmente o sonhado dia chegaria, todavia, a pandemia mais uma vez iria arruinar seus planos. Se em janeiro a maior preocupação era que os convidados não estariam vacinados, para abril, as expectativas eram até muito boas, afinal a vacina já tinha chegado e a população brasileira, incluindo o grupo de risco, já havia começado a receber as doses. 

No entanto, a covid-19 é uma doença traiçoeira e quando o mundo pensou que poderia começar a se recuperar dela, ela voltou pior em uma segunda onda mais violenta. Não teve jeito, por mais que a última coisa que a jovem queria era delongar aquilo, por medidas de segurança, mais uma vez ela precisou reagendar. 

Além de toda frustração que é precisar atrasar tudo, ainda existe a dificuldade que é entrar em contato com os fornecedores, conciliar data, e até conseguir uma nova, afinal, não apenas ela como várias outras pessoas que tinham seus casamentos marcados precisaram adiar. 

Da primeira vez, Enza tinha uma data limite até julho para prorrogar, uma vez que iria embarcar para o Canadá em agosto, porém a pandemia ainda atrasou a emissão de seu visto, então a data da viagem também mudou. 

“Conciliar com todo mundo é difícil, porque sempre tem um que não pode em tal data, que não quer devolver o dinheiro, mas apesar de tudo eu ainda não perdi dinheiro”, ressalta. 

 

Contratempos no meio do caminho

Depois de três vezes adiando seu sonho e da dificuldade em encontrar a data do dia 07/08/2021, mais uma vez Enza precisou desmarcar, neste caso, a pandemia não foi o único motivo, e sim que a data conciliou com a da prova da OAB, que ela e a mãe precisam fazer. 

“Mais uma vez vou adiar, acho que dessa vez não escapo do prejuízo. A pior parte é ter que avisar todo mundo, medo de me esquecer de alguém e a pessoa aparecer no dia errado”. 

Desta vez, a noiva infelizmente teve a triste notícia que o vestido que escolheu não está mais disponível para esse ano, então ela vai precisar trocá-lo. “Estou muito triste pois gostei muito dele, mas alguma coisa precisava dar errado depois de três adiamentos”, confessa. 

 

Do amor não se desiste jamais 

Enza e Jeferson sempre tiveram uma relação intensa, com 1 mês e 4 dias ficando, eles assumiram um relacionamento sério, muito jovens, mas sempre muito responsáveis.

Depois de se formar no ensino médio na cidade de Nova Venésia, Enza voltou para São Gabriel da Palha, sua cidade natal, e os dois passaram a viver um relacionamento à distância, 40 minutos de distância, ainda assim distantes para quem se via todos os dias. O casal se encontra apenas aos finais de semana, foi difícil no começo todavia souberam lidar bem. 

Uma viagem especial do casal, Gramado (RS)

Se eles conseguiram levar durante seis anos um relacionamento a distância, não seriam pequenos perrengues encontrados na hora de casar que os fariam desistir. Em janeiro o cônjuge chegou a se casar no civil para tentar agilizar o processo do visto, porém eles seguem aguardando a partida para o Canadá para finalmente escreverem um novo capítulo em suas histórias. 

“Nada mudou, a gente se casou no papel, mas não moramos juntos, não temos uma casa só nossa. No fim de semana ele vem aqui para a minha, e aí moramos eu, ele e minha mãe, então para a gente é como se estivéssemos namorando ainda ou já estivéssemos numa vida de casados há muito tempo, tudo depende do ponto de vista, nunca teve muito essa divisão”, esclarece Enza. 

Como marido e mulher, eles ainda não tem uma casa só deles, mas a cada dia que passa esse dia se aproxima mais.

Enza e Jeferson não tem dúvidas de que querem estar juntos e construir um futuro fora daqui, por isso, não importa o tempo que leve, ou até quantas vezes o casamento precise ser adiado, eles não irão desistir. 

E para as noivas que se encontram na mesma situação que Enza, vários adiamentos e ainda sem muitas expectativas, o conselho da jovem é apenas um: Jogar para 2022. “Isso não é vida”, diz ela em tom de descontração, “ é ruim demais, se você pode jogar para frente só joga, se eu não tivesse o mestrado agora não estaria casando, nem noiva”, completa.

Casamento civil do casal

Fábrica de sonhos

Alexia Lorrane da Silva é uma jovem de 24 anos e influenciada pela mãe, Conceição Martins dos Santos Silva de 51 anos, criaram a empresa Ao Casar, juntas mãe e filha fabricam não apenas vestidos, mas a realização do sonho de muitas noivas. 

Há 10 anos elas começaram a vender vestidos para damas de honra e debutantes, com a queda nas vendas, acabaram ampliando para o aluguel de vestidos de noivas, madrinhas, padrinhos, festas, tudo sob medida e ainda a possibilidade de primeiro aluguel.

Alexia e a mãe, Conceição

Em entrevista, Alexia, conta um pouco como tem sido a rotina na pandemia e como tiveram que se adequar a ela. Confira. 

De onde surgiu a vontade de fazer uma loja de vestidos de noivas?

A vontade partiu do prazer do trabalho minucioso e da criatividade que se pode acrescentar a um vestido de noiva, além da valorização de um trabalho tão bonito.

 

Qual a sensação de materializar os sonhos e desejos das noivas em realidade?

Tenho prazer em realizar sonhos através do nosso trabalho, pois no fundo acabo também me sentindo realizada como profissional.

 

Como era a demanda de vocês antes da pandemia? Tinham muitos pedidos de vestidos?

Antes da pandemia nossa demanda era cerca de 20% maior, entramos na pandemia com apenas 5% da nossa demanda, atualmente, um ano depois já estamos atingindo os 90%.

 

Quando se deram conta da gravidade da pandemia e como isso poderia atrapalhar os negócios?

Logo no segundo mês já começamos a sentir o peso da pandemia, falência era algo que a gente pensava todos os dias.

 

No começo da pandemia vocês tiveram prejuízos em relação a cancelamentos de contratos? Como funcionou a negociação com as noivas?

Alguns prejuízos, adiamentos eram fato, mas os cancelamentos nos trouxeram o constrangimento da negociação mais agressiva, pois o cliente queria todo o dinheiro de volta e tínhamos que convencê-los da multa pelo cancelamento, afinal era nosso trabalho e nossas despesas em jogo.

 

Trabalhando dentro da área, você acredita que a maioria das noivas optaram pelo adiamento ou cancelamento do casamento? E por qual motivo?

Adiamento, com certeza, a maioria faz questão de comemorar.

 

O que mudou na rotina de trabalho de vocês durante a pandemia?

Tivemos que nos adequar ao agendamento para não ter aglomeração na loja. Também passamos a agilizar o atendimento prévio, fotografamos todos os vestidos e disponibilizamos as clientes os modelos disponíveis. 

 

Como tem funcionado o atendimento de vocês nesse período? Vocês são flexíveis a adiamentos ou cancelamentos? Oferecem reembolso em alguma circunstância?

Trabalhamos só com agendamento. Quanto ao reembolso, oferecemos carta de crédito para o próximo evento, ou cartão presente, que pode ser repassado para outra pessoa. Também oferecemos a devolução parcial, conforme prazos estipulados pela lei durante a pandemia.

 

Qual foi a maior dificuldade que vocês encontraram nesse momento?

Convencer os clientes a marcar horário, muitos aparecem na porta querendo ser atendidos e alguns até ficam com raiva. 

 

Em algum momento pensaram em desistir do negócio?

Jamais. 

 

No Instagram vocês têm postado diversos modelos novos de vestidos, isso significa que o mercado voltou a se aquecer?

Não exatamente, na verdade a demanda anda entre 60% e 90%. Nós tivemos a ideia de usar o tempo ocioso para criar e lançar novos vestidos.

 

A pandemia interrompeu ou adiou algum sonho de vocês como comerciantes?

Não, ao contrário, nos impulsionou a profissionalizar ainda mais os nossos serviços.

 

Vocês têm algum plano idealizado para quando terminar a pandemia?

Sim, pretendemos preparar um espaço maior para um atendimento mais personalizado.

 

Como vocês têm dado apoio às noivas?

Nós sempre procuramos incentivar apenas a adiar e não cancelar. Aconselhamos elas aproveitarem o prazo do adiamento para acrescentar algo que não seria possível a curto prazo.

 

Qual mensagem vocês deixariam para as noivas não desistirem de casar?

Sonho não se cancela e sim se adia. Paciência e foco, o resto vem com tempo.

 

Edição: Daniela Reis

 

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Por Daniela Reis 

O Contramão traz hoje um TBT que encheu o mundo de esperança. Exatamente no dia 11 de agosto de 2020, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a aprovação da primeira vacina do mundo contra a Covid-19. 

Durante uma reunião transmitida ao vivo pelos meios de comunicação, disse que a vacina se mostrou eficiente durante os testes, oferecendo imunidade duradoura contra o coronavírus. Ele também afirmou que uma de suas filhas já havia sido inoculada. 

O imunizante recebeu o nome de “Sputnik V”, em referência ao pioneiro satélite soviético lançado nos anos 1950, que marcou o início da corrida espacial.

A Rússia foi o primeiro país do mundo a registrar e aprovar para uso da população uma vacina contra o coronavírus. No entanto, muitos cientistas no país e no exterior se mostraram céticos em relação à fase de testes. 

Sputnik V

Entre todas as vacinas contra a Covid-19 já registradas no mundo, a Gam-COVID-Vac (nome oficial da Sputnik V), produzida pelo Instituto Gamaleya, na Rússia, é a única desenvolvida com dois adenovírus inofensivos, nomeados de D-26 D-5. Esses adenovírus não causam doença no ser humano e são aplicados um em cada dose, o que pode ser considerado duas vacinas em uma.  

Os adenovírus são uma família de vírus que atacam humanos e animais e, quando inativados, são considerados vetores, ou seja, servem para transportar material genético de um vírus diferente – no caso a proteína Spike encontrada no coronavírus – para uma célula humana.

Na primeira dose, o D-26 leva a proteína S para dentro das células humanas, o que causará uma resposta imune do organismo, que começa a criar defesa contra a proteína e, consequentemente, anticorpos contra o coronavírus.

Na segunda dose, entra em cena o D-5, outro adenovírus que fará o mesmo papel, mas ao mesmo tempo tende a ser o diferencial mais assertivo do imunizante. Isso porque, segundo cientistas, por ter duas ‘fórmulas’ diferentes, essa vacina pode ajudar a produzir mais anticorpos contra o coronavírus e ser a responsável pela alta eficácia contra o vírus Sars-CoV-2. 

A vacina que leva o nome do primeiro satélite espacial soviético, lançado em 1957, atingiu uma taxa de eficácia de 97,6%, segundo o Instituto Gamaleya.

 

Revisão: Keven Souza 

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Por Bianca Morais 

Todo começo de um novo ano as pessoas estabelecem metas para atingir ao longo dele, alguns planejam começar uma dieta, fazer um exercício físico, entrar na faculdade ou tirar a carteira de motorista. Existem aqueles, no entanto, que diferente de metas, idealizam sonhos e sonham alto. 

Tem aquela estudante que desde pequena tem vontade de fazer um intercâmbio, onde poderá colocar em prática o inglês que aprendeu ao longo da vida, conhecer uma nova cultura e se aventurar no desconhecido. A noiva que foi pedida em casamento pelo amor de sua vida e planeja para aquele ano seu casório perfeito que irá reunir toda a família e amigos. Existe também aquela fã número 1 de uma banda, que esperou por muito tempo para finalmente assistir eles ao vivo, cantar bem alto suas canções preferidas em couro com outros milhares de fãs. 

Sonhos de uma vida inteira e tudo planejado para acontecer em um ano, 2020. Aquele era para ser apenas mais um no calendário de todos, muitos sonhadores com seus planos já agendados. Janeiro é o mês de férias, verão, sol, praia, fevereiro carnaval, o ano, pelo menos para o brasileiro começa a engrenar depois de março, porém o 2020 preparava uma desagradável surpresa que faria o sonho de muitos serem adiados. 

No final de 2019, os primeiros casos de um novo vírus de origem chinesa começaram a ser divulgados na mídia, porém muito pouco se sabia dele. Em janeiro de 2020, o mundo teve conhecimento do novo coronavírus, mas até então ele não tinha chegado ao Brasil e a vida do brasileiro continuava conforme os planos, ou seja, em ritmo de férias e carnaval. Passado essas duas grandes datas o primeiro caso de COVID-19 no país foi identificado e o resto da história todos sabem.

Pandemia, quarentena, home office, aula online, serviços não essenciais proibidos de abrir, fronteiras fechadas. Há mais de um ano o mundo vivencia um isolamento social intenso para conter a disseminação desse vírus letal que já levou milhares de vidas, adiamento de planos, cancelamentos de ações, afim, o mundo parou e a gente teve que se adaptar. 

Aos poucos a humanidade tem enxergado uma luz no fim do túnel, um fim para todo esse sofrimento. A chegada das vacinas, a diminuição no número de infectados. A frustração foi grande mas é necessário ser positivo.

Buscando por pensamento positivos em um momento de tanta incerteza, o Jornal Contramão trás a série de reportagens “Sonhos adiados”, onde apresentamos histórias de pessoas que tiveram seus sonhos interrompidos, mas que não deixaram de acreditar que uma hora vai acontecer, que o sonho não acabou apenas foi adiado.

Iremos conhecer a história de Jordania, Enza, Mayura e Isabella, quatro jovens que tiveram que adiar seus planos mas têm consciência de que nada está perdido.  

E como diria Walt Disney: “Todos os nossos sonhos podem se realizar, se tivermos a coragem de persegui-los”.

O intercâmbio dos sonhos

Jornania no Uruguai

Jordania Larissa Santos é uma jovem de 22 anos, que tem entre seus hobbies favoritos viajar, por isso, um de seus maiores anseios sempre foi fazer intercâmbio, pois além de aprender o inglês que é uma língua a qual tem muita dificuldade, ela iria adentrar em outros países e em culturas diferentes.

Ela tinha tudo preparado para embarcar com destino a Inglaterra em seu primeiro intercâmbio, no dia 11 de julho de 2020, porém um pouco antes daquela data, mais precisamente dia 26 de maio, véspera de seu aniversário, recebeu a notícia que seria impossível fazer a viagem naquele momento. Devido à pandemia, diversas passagens de avião haviam sido canceladas, países de todo o mundo fecharam suas fronteiras, a fim de conter o vírus e não foi diferente para Jordania, sua passagem foi suspensa.

Os eternos 15 dias

No começo daquele 2020, a jovem viajante fazia sua primeira viagem do ano, um cruzeiro, e jamais imaginaria que dentro de alguns meses viajar seria uma palavra bem distante de sua realidade. “Na televisão do navio passava notícias de todo o mundo, em um dos canais passou a pandemia na China, meu pensamento ali era que isso nunca chegaria no Brasil”, comenta. 

Veio o mês de março e com ele o primeiro caso no Brasil. Esperançosa, a garota ainda acreditava em uma melhora naquela situação, então veio o primeiro caso em Minas Gerais, depois em Belo Horizonte, e por fim decretado a quarentena. “Primeiramente eu disse a mim mesma, quarentena, vai ficar todo mundo em casa 15 dias e vai passar”, conta ela.

Com tudo preparado para a viagem, roupas de calor compradas para o verão europeu e expectativas a mil, porém infelizmente aqueles 15 dias, que ela acreditava que durariam o lockdown, se estendeu mais 15 e mais 15 e no final ela foi informada que precisaria adiar aquele sonho.

“Na época eu lembro que chorei muito, fiquei extremamente chateada, eu não queria acreditar. No fundo eu sabia que isso ia acontecer, mas não queria acreditar, eu falava vou conseguir, só que em maio do ano passado a gente não tinha dimensão do que era a pandemia como temos hoje”, desabafa.  

Surto e desespero

Essas são as palavras que mais descrevem a sensação que Jordania teve quando aceitou que não teria outra escapatória a não ser adiar seu tão almejado intercâmbio. 

“Foi uma mistura de sentimentos, surto, desespero, sensação de estar velha, porque na época que eu fechei o intercâmbio, na minha cabeça era para eu estar agora no meu terceiro. Eu não queria ir para os países simplesmente para conhecer, eu queria estudar e enriquecer meu currículo futuramente”.

Nos planos da jovem incluíam um intercâmbio aos 20, 21 e outro agora aos 22 anos, mas nem tudo sai conforme o planejado, e Jordania já sabia disso, afinal não foi a primeira vez que ela que ela teve adiar esse sonho. Seu pacote havia sido fechado primeiramente no ano de 2019, porém sua faculdade entrou em greve e o calendário atrasou, por esse motivo, o final de seu semestre conciliaria com a data da viagem.

“Eu tive que escolher, ou eu ia para o intercâmbio ou abria mão do meu semestre. Na minha cabeça eu pensava, tenho uma vida inteira para vivê-lo, o mundo está normal, se eu não for nessas férias, vou nas próximas”.

As próximas férias dela eram em janeiro de 2020, verão no Brasil, porém inverno rigoroso na Europa, ela resolveu então adiar um ano. E um ano se passou, a pandemia veio e ela ainda não embarcou.

O tempo perdido

Jordania assim como milhares de adolescentes ao redor do mundo estão vendo o tempo passar e sem poder fazer nada para que ele renda. Não apenas em seu intercâmbio, mas em sua faculdade ela também sente essa perda. 

Ela faz geografia, o curso em si já tem tudo a ver com sua personalidade, e para a estudante o intercâmbio complementaria seus estudos de uma forma enriquecedora, com a troca de território, a vivência com novas culturas. A garota sempre teve dificuldades em aprender inglês em cursos e aulas, por isso, a viagem serviria para aprender na marra uma língua tão fundamental. Morando fora ela vivenciaria inglês o dia todo, então por mais que não voltasse fluente de primeira, voltaria bem melhor do que havia ido.

Em sua graduação, constantemente ela se depara com textos em inglês e se sente desamparada ao lembrar que a essa naltura, caso tivesse realizado o intercâmbio que queria, já estaria muito mais avançada.

“Eu faço licenciatura, logo vou me formar e dar aula. Só que esse é o pensamento de um estudante comum e a minha visão não é comum, eu sempre quero mais. Quando entrei na faculdade me deparei com textos que complementariam meu aprendizado, porém todos em inglês, se você sabe ler bem, se não tem que se virar”, desabafa.

O tempo segue passando, sua graduação acontecendo e a estudante ainda sem realizar o intercâmbio que tanto quer.

“Em geografia ainda existe muito material não traduzido, assuntos extremamente interessantes e que ainda não existem na língua portuguesa, sem contar que caso eu queira fazer uma pós o inglês é fundamental, por isso queria ir o mais rápido possível”, completa.

A importância de buscar auxílio profissional 

Foi sozinha, que há dois anos, a jovem começou a pesquisar sobre intercâmbios, isso sem comunicar aos pais, já que acreditava que eles não teriam condições de bancar esse sonho, que para ela era algo fora de sua realidade. “Comecei a olhar como eu deveria me planejar no meu trabalho e com meu salário, para saber o que eu precisaria para poder ir”, relata.

Posteriormente sua mãe descobriu e depois de conversarem decidiram que a melhor maneira de embarcar nessa experiência seria com o apoio de uma agência.

“Não me arrependo de ter procurado auxílio profissional, foi onde me ofereceram os melhores preços e oportunidades, me explicaram o que me esperava lá fora, vi que eles não queria apenas ganhar meu dinheiro, e sim me oferecer uma experiência inesquecível” explica ela.

Jordania também compartilha que estar respaldada por uma agência diminuiu e muito seus prejuízos. “Principalmente com a chegada da pandemia eles foram essenciais, se eu tivesse que remarcar tudo sozinha, passagem, moradia, escola, eu não daria conta”, acrescenta.

Os planos para o pós pandemia

Atualmente, alguns países voltaram a receber estrangeiros, como é o caso da África do Sul, local inclusive, para onde Jordania adquiriu um novo pacote de intercâmbio durante a pandemia. “Achei as condições bacanas, depois eu estava no meio de uma pandemia, sem o que fazer, já que não podia sair, achei que uma boa coisa seria investir em educação”. 

Como a África do Sul está aberta e a Inglaterra, por enquanto, não tem previsão de reabertura, Jordania cogita realizar a viagem para a África antes da tão sonhada Europa, porém alguns receios ainda rodeiam a mente da jovem que vive a realidade de um país onde a Covid-19 está longe do fim.

“Tenho medo de chegar lá e simplesmente não quererem me receber e eu ter que voltar para trás, ou falarem que está tendo um novo surto e vou ter que ficar de quarentena em um hotel, arcando com as despesas e ainda perder metade da minha viagem isolada”. 

Todo o mundo se encontra em uma situação bem delicada, o uso de máscara ainda é obrigatório em vários lugares e muitas pessoas ainda não foram vacinadas. A realidade de um intercâmbio consiste em imergir em uma nova cultura a fim de aprender uma nova língua, agora imagine a busca de contato em meio a uma fase que o ideal é manter distanciamento das pessoas como proteção.

“Aprender uma nova língua já é extremamente difícil, pensa numa situação dessa, tendo que conversar de máscara. Se fosse para eu ficar uma quantidade de tempo maior acharia viável, agora pouco tempo não compensa”.

Jordania na Casa Rosada – Argentina

Desistir jamais

Se antes Jordania levava inglês na brincadeira, desde que teve a maturidade de entender a importância dele a garota passou a se empenhar em seus estudos e visualizar seu futuro. Apesar de todos os perrengues que passou e de ainda não ter conseguido embarcar em seu sonho, ela nunca pensou em desistir ou cancelá-lo, ao contrário afirma que pode levar até 10 anos que ela vai conhecer a cidade de Eastbourne, no interior da Inglaterra.

Antes da pandemia, quando seu sonho ainda estava vivo, Jordania se encontrava empolgada, estudava bastante o inglês e pela primeira vez estava de fato empenhada. O foco, entretanto, se perdeu depois que ocorreu o adiamento da viagem.“Foi um pouco frustrante no início, lembro que eu fiquei 4 meses bastante abalada, tipo assim, eu vou estudar para que o mundo está acabando em pandemia”.

Com esperanças e energias renovadas depois de um período de desânimo, Jordania voltou a dedicação ao inglês, desta vez abandonou o cursinho e passou a fazer aulas de conversação. “Eu preciso me aprimorar de qualquer maneira”, completa.

A estudante de geografia sempre teve afinidade com o google maps, em função disso, quando ainda planejava a viagem, pegou o mapa de Eastbourne e marcou todos os lugares que deveria ir. “Eu gosto muito de fazer isso, ser uma pessoa planejada, ter roteiros. Quando eu pesquisei a cidade que eu iria, lá em 2019, tinha muita pouca informação, então pensei em disponibilizar isso de algum jeito”, comenta.

Dessa forma, nessa época, Jordania criou um Instagram de viagens, em um primeiro momento ela pretendia postar sobre o intercâmbio, como adiou, passou a fazer postagens sobre as diversas viagens que já fez, isso claro, para ocupar seu tempo enquanto a hora de partir para o exterior ainda não chega.

“O foco principal do Instagram sempre foi e sempre será meus intercâmbios, porque acredito que dentro dele eu posso juntar tudo que eu mais gosto: viagens, estudos e geografia”, compartilha a jovem.

Só a educação pode mudar o mundo

Para além da Inglaterra e África do Sul, ainda está guardado na gaveta de Jordania o seu sonhado intercâmbio para a Irlanda. Desde o começo era sua ideia principal, porém o país que é um conhecido destino entre os intercambistas por oferecer estudo e trabalho, é bem restrita a aceitar alunos que não irão para ficar mais de seis meses.

Como Jordania ainda está na faculdade, o período não lhe atendia, mas isso é questão de tempo. “Na teoria minha graduação terminaria no meio do ano, então eu me formo e no restante do ano vou para lá, estudar e esfriar um pouco a cabeça da faculdade, me dedicar ao inglês e trabalhar com algo que eu jamais trabalharia aqui no Brasil, aí sim voltar e ingressar na profissão que eu quero que é dar aula”, conta a garota.

Se tem algo que dá forças e incentivo para ela não desistir de seus planos é a educação. Como futura profissional, a estudante acredita que apenas ela é capaz de transformar as pessoas.

“Não pretendo nunca desistir do meu sonho de fazer intercâmbio, demore o tempo que for, porque a educação é a única coisa que existe que pode mudar o mundo, principalmente o país, se você está procurando alguma coisa para investir, invista na educação, porque conhecimento é algo que ninguém pode jamais tirar de você”, conclui a jovem. 

Jacqueline Nayara Martins, 29 anos, é gerente de vendas da agência de intercâmbios CI, em Betim. Ela está no mercado de intercâmbios há 6 anos e em meados de 2020, viu pela primeira vez, uma pandemia mundial mudar o rumo do negócio que administra há tantos anos. 

A CI intercâmbios é uma empresa que está no mercado há muitos anos e em um momento de tantas incertezas, precisou criar estratégias para não deixar o cliente na mão. 

Em um primeiro instante, eles ofereceram a todos os intercambistas a primeira alteração gratuita, sendo assim, eles receberam um crédito no valor total de seu pacote, para usar na mesma escola que escolheram inicialmente ou também a possibilidade de trocar o programa de intercâmbio para um outro de sua escolha, já que alguns países como Austrália e Nova Zelândia, segue fechados e sem previsão de reabertura e outros como Dubai estão abertos.

Em entrevista ao Jornal, Jacqueline relata com detalhes e propriedade, de quem esteve a todo momento, desde o início da pandemia, acompanhando diversos jovens que tiveram seus sonhos de intercâmbios interrompidos, como tem sido essa fase tão difícil e como ela não desiste de alimentar as esperanças de que muito em breve eles estarão decolando em busca de todo esse tempo perdido.

Jacqueline Nayara

1. Quando você se deu conta da gravidade da pandemia do coronavírus e como isso poderia atrapalhar seus negócios?

Em março de 2020. Eu havia acabado de voltar de um treinamento em São Paulo, e na mesma semana iniciamos o lockdown no Brasil. Ainda havia muitos estudantes no exterior e começamos na mesma época um trabalho de “resgate” deles, pois muitas escolas estavam sendo fechadas por causa também do lockdown em seus respectivos países e tinham poucos voos operando naquele momento. Desde então, nossa primeira atitude foi dar assistência aos estudantes no exterior e concomitantemente iniciamos as alterações dos intercâmbios de estudantes que estavam com embarque mais próximo.

2. Trabalhando dentro da área, você acredita que a maioria das pessoas optaram pelo cancelamento ou adiamento do intercâmbio? E por qual motivo?

Felizmente, nossa taxa de cancelamento foi mínima e aumentou um pouco no início de 2021, mas no geral, a maioria alterou a data do intercâmbio. 

Acredito que viver um tempo fora, estudar e estar imerso a uma nova cultura é o sonho de vida de muitos, e apesar de não termos clareza de quando isso tudo irá passar, nós sabemos que uma hora isso vai passar. 

Muitos estudantes já estão com o intercâmbio todo pago, outros alteraram para novos destinos, pois há países que já estão abertos (como é o caso dos Emirados Árabes e da África do Sul) então, creio que é mais uma questão de tempo para que eles possam realizar esse sonho. A empresa tem mais de 30 anos de mercado e vejo que os nossos estudantes confiam muito no trabalho desenvolvido por nós.

3. Vocês da área do intercâmbio sentiram o peso financeiro causado pela pandemia? Se sim, de que forma?

Sem dúvida, o nosso setor foi um dos mais atingidos pela pandemia, vejo que vários outros setores também sofrem com os reflexos dessa situação. Contudo, é exatamente nestes momentos de dificuldade que percebemos que estamos fazendo um bom trabalho, pois após um ano de pandemia, nós ainda permanecemos no mercado, estamos assistindo nossos clientes, e estamos com os processos comerciais e de vendas ativos, nos reinventando todos os dias. Nossa demanda não cessou e as pessoas valorizam a educação internacional, elas sabem o quanto é importante essa vivência na vida e carreira delas. Vejo todos os meses a empresa crescer e estou muito feliz com os nossos resultados.

4. Quais têm sido as principais reclamações vindas dos intercambistas?

O principal ponto é a ansiedade que essa espera cria em muitos deles, principalmente nos estudantes mais jovens, alguns lidam melhor do que outros com essa expectativa. Temos uma relação muito amigável com os nossos clientes e isso ajuda a lidar com essas frustrações, vejo que eles também nos ajudam muito, se colocam em nosso lugar, pois nesta situação, não há culpados.

5. Como vocês da empresa de intercâmbio têm dado apoio a esses jovens que tiveram de adiar seus sonhos?

Como disse anteriormente, nós temos uma relação muito amigável com os nossos clientes e isso nos permite estar mais próximos deles. Trabalhamos fortemente para deixá-los atualizados sobre os seus processos, sobre as novas regras, mudanças e etc. Enquanto especialistas de educação internacional, estamos a todo momento analisando os cenários e trabalhando com transparência, para que eles possam tomar as melhores decisões sem grandes preocupações.

6. Na sua opinião, qual a importância de um intercâmbio na vida de um jovem? E o que você diria como incentivo para que eles não desistam, mesmo em um momento tão complicado?

Buscamos todos os dias tornar a educação internacional mais acessível aos diferentes tipos de público, para que todos possam ter a oportunidade de vivenciar essa experiência. 

Muitos vão em busca do desenvolvimento acadêmico, seja estudar inglês, fazer o ensino médio no exterior, ou a universidade, porém a experiência nos permite aprendizados superiores ao acadêmico, digo isso por experiência própria, há uma Jacqueline antes e uma pós o intercâmbio. Aprendemos a ser mais flexíveis, a respeitar mais o próximo, a entender as nossas diferenças e a ter mais empatia, são habilidades que só aprendemos através das experiências.  

Com muita frequência eu recebo áudios e mensagens dos nossos estudantes sobre como eles tiveram a oportunidade de se conhecerem melhor durante o intercâmbio, alguns pensam em empreender, outros começam a dar mais valor a vida que levam aqui no Brasil, e outro dia, eu ouvi uma estudante dizer o quão feliz ela fica em ver o sol, pois onde ela está morando hoje tem pouco sol. 

São coisas simples que mudam a nossa vida e o olhar que temos sobre o mundo. 

O momento é muito complicado, mas é preciso ter fé que vai passar e que as coisas vão melhorar. É momento de se planejar para realizar o seu sonho, busque mais informações, converse com especialistas da área, com estudantes que já moraram fora, pois isso tudo vai passar.  Não desista, jamais! 

 

 

Edição: Daniela Reis 

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Por Flávio Figueiredo, Patrick Ferreira, Tales Ciel e Tawany Santos

A atual pandemia da Covid-19 tem gerado muitos debates sobre a gestão dos governos diante do controle da doença. Hoje o Contramão traz uma matéria especial para outras crises sanitárias em nosso país.

O mundo já passou por inúmeras crises sanitárias globais e a Covid-19 tem se mostrado a mais grave que as gerações atuais já viram. No século XX, os governos precisaram enfrentar desafios em quatro graves doenças que assustaram as pessoas: a gripe espanhola, a AIDS, a gripe suína e agora, a Covid-19. Relembre como foram as gestões dos governos diante das crises.

Pandemia da gripe espanhola – 1918/1920

Gripe Espanhola também foi tratada com negligência no Brasil

De origem misteriosa, a Gripe Espanhola foi uma pandemia que ocorreu entre os anos de 1918 e 1919 atingindo todos os continentes deixando uma marca de no mínimo 50 milhões de mortos. Não se sabe ao certo em qual país a doença surgiu, mas existem suspeitas que tenha sido na China ou mesmo nos Estados Unidos, onde se tem os relatos dos primeiros casos.

Pesquisas da época identificaram que o vírus da gripe espanhola era uma mutação do vírus Influenza (H1N1), que se espalhou das aves para os humanos fazendo suas primeiras vítimas em uma instalação militar no Kansas (USA) em meio às movimentações das tropas no período da 1ª Guerra Mundial, impactando de maneira direta países que participaram desse conflito.

Naquele tempo, assim como recentemente com o Coronavírus, houve negligência por parte de autoridades, Woodrow Wilson presidente americano da época (1856-1924) além de não notificar os demais países da existência do problema, censurou a imprensa para que as mortes não fossem noticiadas, bem como as demais autoridades participantes do conflito não divulgaram as informações em seu país, ficando assim a Espanha que não estava diretamente ligada ao conflito incumbida de trazer as notícias sobre a doença e por isso ela ficou conhecida como Gripe “Espanhola”.

No Brasil, a Gripe Espanhola fez números catastróficos, os dados mais exatos vinham do Rio de Janeiro, a capital da República na época. Estima-se que a doença fez cerca de 15 mil óbitos entre os meses de setembro a novembro de 1918, devido aos recursos escassos e à falta de conhecimento sobre a doença, autoridades da época demoram muito a tomar as primeiras atitudes e ajustar ações e criar medidas efetivas contra a enfermidade.

Naquele tempo, assim como atualmente, algumas das medidas que foram tomadas consistiam no distanciamento físico, uso de máscaras e restrição às aglomerações. No início, a doença foi tratada como piada pela mídia da época, quando Carlos Seidl, então diretor-geral de Saúde Pública, cargo hoje competente ao ministério da saúde, falou sobre a doença e não foi ouvido por muitos. A situação ficou insustentável após ataques da mídia que fizeram Seidl renunciar ao cargo.

Após o acontecido, coube ao médico carioca Theóphilo Torres assumir o posto de diretor-geral de Saúde Pública convidando o também médico e pesquisador Carlos Chagas para assumir as ações de combate à gripe espanhola junto a ele. Em diferença aos tempos de hoje os governantes da época, não foram contra as ações tomadas pelo diretor-geral de Saúde Pública e quanto menos fizeram propagandas de medicamentos ineficazes a doenças.

A pandemia do HIV/Aids – 1981/atualmente

Governos começaram a criar campanhas de conscientização e prevenção ao HIV

Em anos anteriores à década de 1980, uma doença acometia muitos jovens, causando sintomas que não eram uniformes. Alguns tinham complicações como uma pneumonia, uma tuberculose, ou um sarcoma, uma doença de pele, que de forma avassaladora os levava até à morte. Mas foi em 1981 em que foi catalogada, a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) causada pelo vírus HIV. Ele ataca matando as células de defesa (CD4) deixando a pessoa sem imunidade para vários tipos de doença.

Mesmo 40 anos depois, ainda é uma pandemia ativa, porém com tratamentos muito eficazes em que a pessoa vive de forma plena, sem nenhum comprometimento na saúde caso siga corretamente tomando as medicações devidas. O Brasil é referência mundial no tratamento à pessoa vivendo com HIV. Porém, o mundo nos anos 1980, fez vista grossa a essas pessoas, por conta dos infectados e mortos serem principalmente homossexuais. O preconceito fez com que a AIDS se tornasse também uma doença social.

O Brasil não tinha nenhum tratamento no início de tudo. A partir de 1987 que surgiram os primeiros recursos, onde em 1996 deu-se um passo maior, onde a ciência descobriu que uma combinação de medicamentos antirretrovirais, conhecida popularmente como “coquetel”, que era capaz de controlar a multiplicação do vírus, em média eram até oito comprimidos. A partir de 2017, entre um e três comprimidos apenas já são capazes de controlar. Também há como prevenção a PREP (Profilaxia Pré-exposição), onde a pessoa toma regularmente um medicamento que impede a infecção pelo HIV e a PEP (Profilaxia Pós-exposição) que após uma situação de risco, a pessoa pode tomar um medicamento para impedir que o vírus infecte o organismo.

O papel dos governos brasileiros na prevenção e tratamento da AIDS sempre foi satisfatório, apesar das dificuldades biológicas e preconceitos. A partir de 1987, o governo de José Sarney se voltou ao incentivo do uso de preservativos e os “perigos” que as práticas sexuais e uso de drogas guardavam, até que em 1990, no governo de Fernando Collor, intensificou as campanhas educativas muito polêmicas. Em determinado comercial, quatro pessoas deram um depoimento, sendo três de outras doenças e um de AIDS, onde este dizia que a doença dele era incurável e vinha um slogan: “Se você não se cuidar, a AIDS vai te pegar!”. Isso causou muita revolta de grupos ativistas da época por discriminar e estigmatizar a pessoa que estava com a doença. O governo de Collor foi marcado pela indiferença com a epidemia que com a crise fiscal, congelou preços e salários, porém autorizou o aumento em todos os medicamentos de tratamento à doença.

A abordagem do governo de Fernando Henrique Cardoso foi de mais leveza. Deram atenção mais devida às pesquisas e descobertas e passaram a fazer uma campanha mais leve onde incentivava o sexo seguro, para proteção de quem ama, tirando o teor terrorista de anos anteriores. Foi nesta época onde surgiram os primeiros tratamentos mais eficazes e mais pessoas puderam se tratar.

O governo Lula seguiu a favor do tratamento à AIDS, chegando a cometer um ato histórico. A primeira quebra de patente de um medicamento no Brasil. O então presidente Lula decretou a quebra do Efavirenz, do laboratório americano Merck Sharp&Dohme, usado no tratamento da AIDS -e ameaçou repetir a medida com outros fabricantes se considerar que os preços praticados são injustos. O governo Dilma seguiu com medidas semelhantes, acompanhando as evoluções da ciência.

O HIV/AIDS ainda persiste nos dias de hoje. Várias evoluções ocorreram, incluindo testes de uma vacina no Brasil e até mesmo um tratamento de cura desenvolvido pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), onde um paciente vivendo com HIV, com a junção de várias drogas ficou por 17 meses sem replicar o vírus no organismo. Porém, o governo Bolsonaro segue indiferente com as conquistas. Não há investimento para a pesquisa e Ciência, já manifestou preconceitos em falas como “A pessoa que vive com HIV, além de ser um problema para ela, é um gasto para o país”. Se mostra contrário a tudo que favorece a população LGBTQIA +, que embora não seja mais a maioria que é infectada (58% dos infectados hoje se declaram heterossexuais) segundo dados do Ministério da Saúde). Apesar disso, as pessoas que vivem com HIV recebem um acolhimento adequado pelo SUS. Os medicamentos, exames são gratuitos e recebem até mesmo assistência social e psicológica para manter a vida mais plena possível.

Pandemia H1N1 – Gripe Suína -2009/2010

Em 2008, o ex-presidente Lula (PT) e o então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), se uniram para divulgar campanha de vacinação em massa contra a gripe.  Foto: Ricardo Stuckert

A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o estado de pandemia moderada para a Influenza A (H1N1) em 11 de junho de 2009, após os casos se espalharem por países da América, Europa e Ásia. Contudo, os primeiros casos de gripe suína já haviam sido registrados um ano antes, no México. Dados da Organização mostram que  foram diagnosticados 504 mil casos da doença e cerca de 6.300 mortes. No Brasil, o Ministério da Saúde registrou entre os anos de 2009 e 2010, 44.544 casos e 2.051 mortes. O estado de pandemia foi encerrado em agosto de 2010 após estudos reconhecerem que a doença estaria sob controle e passaria a se comportar como outras enfermidades localizadas.

Na época, o país apresentou um comportamento ativo no combate à pandemia e se consolidou como a nação que mais vacinou cidadãos pelo sistema público no mundo. A imunização contra o vírus H1N1 começou em março de 2010. O plano de vacinação definido pelo Ministério da Saúde contemplou cinco grupos prioritários para a vacinação: indígena, gestantes, portadores de doenças crônicas, crianças entre seis meses e dois anos de idade e jovens com idade entre 20 e 39 anos. Diferentemente da Covid-19, os idosos não eram considerados grupo de risco.

Sob o governo de Lula foram mais de 100 milhões de pessoas vacinadas. Destas, 88 milhões em apenas três meses. A ideia do Governo Federal era conter uma “segunda onda” de casos da doença no outono e no inverno. A fim de combater os boatos que colocavam em dúvida a eficácia e a segurança dos imunizantes, o governo também lançou uma campanha contra essas fake news. Como resultado, mais de 45% das pessoas foram vacinadas. Nenhum lugar do mundo imunizou tanto quanto o Brasil.

Pandemia COVID-19 – 2020/atualmente

Manaus 06/05/2020 – Cenas dos leitos semi intensivos do hospital Platão Araujo sob responsabilidade do Governo de Manaus. Foto Jonne Roriz/Veja

O surto de vírus do Covid-19, nem precisa de introduções, completando agora quase um ano e quatro meses de crise infectológica no país. E de acordo com um estudo australiano, o Brasil é o país que pior lidou com a pandemia. Esse levantamento foi feito com base em análises com mais de 100 nações sob critérios como casos confirmados, mortes e capacidade de detecção da doença. Segundo dados, adicionalmente, do consórcio de imprensa, o país possuía, até janeiro de 2021, quase 9 milhões de infecções confirmadas e 220 mil mortes, para uma população de 209,5 milhões de habitantes.

Esses números são ainda mais indignantes quando olhamos para os países que sofreram intensamente nos primeiros meses de pandemia, como a própria China, onde tudo começou, a Itália e Espanha, têm visto suas infecções despencaram, as do Brasil continuam a subir. De acordo com a maior pesquisa feita sobre o surto em terras tupiniquins, de Darlan Candido, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, é possível que as infecções tenha vindo de muitas mais fontes internacionais, o que indica que a movimentação dentro do país pode ter sido um contribuinte para a disseminação do vírus.

“Quando as diminuições de mobilidade foram impostas, houve uma queda importante do R0, que chegou a menos de 1 em São Paulo entre 21 e 31 de março, no início do isolamento social. Só que, depois dessa redução, o número subiu de novo, estimulado pela diminuição na adesão à quarentena. ”sumariza a jornalista Chloé Pinheiro, em reportagem da revista Saúde Abril.

Na análise australiana, elaborado pelo Lowy Institute, na Nova Zelândia, aponta que, por exemplo, nos países europeus, um comportamento similar ocorreu. “Isolamentos sincrônicos (…) conseguiram parar a primeira onda [de infecção], mas as bordas abertas deixaram os países vulneráveis para renovação de surtos em países vizinhos [tradução nossa].”. Ou seja, o primeiro passo para o controle da pandemia seria o isolamento social e fechamento das fronteiras e aeroportos, coisas que não aconteceram no Brasil. Aqui, cada estado foi deixado, por abandono do supremo, a si próprio, muito como os Estados Unidos no início de seus contágios.

Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, os Estados Unidos registraram 33.478.513 casos e 600.935 óbitos, até junho de 2021. Assim como aqui, um governo negacionista, deixou os estados por conta própria e minimizou a gravidade da doença e a importância de medidas de prevenção – como o uso de máscara e o distanciamento social. O ex-presidente, Donal Trump.

Porém, após a troca de presidentes e um plano de vacinação, a média semanal de mortes pela Covid-19 nos EUA caiu em quase 90% do pico em janeiro. O país, que ocupa, por enquanto, o maior número de mortalidade pelo vírus do planeta, fechou suas fronteiras oficialmente em 2020 e começou a reabertura gradual já em setembro do mesmo ano. De acordo com a Hopkins, a campanha de vacinação em massa teve um grande impacto na redução das mortes. Em dezembro de 2020, o país começou a vacinar seus cidadãos e, desde então, de acordo com a universidade, cerca de 44% da população americana já recebeu as duas doses e, por consequência, o número de mortes caiu 18% e o número de internações por infecção pelo coronavírus também baixou 28%.

Já no Brasil, as mesmas campanhas anti-ciência continuam e os casos só aumentam. Em entrevista para a revista Saúde Abril, o pneumologista Fred Fernandes faz uma análise das relações humanas e como foram afetadas pelo Coronavírus. Quando questionado sobre a situação no Brasil, Fernandes destacou a falta de coerência no discurso sobre a doença, citando como exemplo a situação em que o presidente falava uma coisa e os médicos outra. Isso fez com que a população ficasse perdida e diminuindo a eficácia das orientações médicas.

“Quando falamos do uso da cloroquina, por exemplo, isso não está baseado em evidência científica.”, ele cita. “Tem muita gente advogando a favor da cloroquina logo na fase inicial e em indivíduos de baixo risco. Mas trata-se de uma medicação que traz efeitos colaterais conhecidos. E isso pode fazer mais mal que bem.”

 

Edição: Daniela Reis

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Por Igor Tiago Ribeiro

Você já se perguntou hoje quem está mais exposto a este tiroteio que é a pandemia de covid-19? Conheço quem tenha a coragem de dizer “eu”, ou “todos nós”. Mas, infelizmente, os dados provam que essa não é uma verdade absoluta. A periferia tem sofrido cada vez mais porque o mal que a acomete não é somente a pandemia de covid-19, a distância dos centros de saúde, a falta de acesso ao saneamento básico, a quantidade de pessoas que moram na mesma casa, mas também a falta de acesso à educação, o aumento da presença messiânica da igreja nas comunidades e o quanto isso, infelizmente, a aproxima do discurso negacionista escancarado no mais alto escalão da política brasileira.

Pode soar conspiracionista demais que estes fatores se somem aos péssimos que já existem e resultem em uma chacina da população menos favorecida de um país, mas onde já vimos estes fatores acontecer, a história posterior fez questão de mostrar que nunca é somente só o fato, mas, sim, tudo o que está por trás dele. E eu, como jornalista, seria um irresponsável se não estivesse atrás da origem do fato de o Brasil ter ultrapassado mais de 300 mil mortes por covid-19, e elas estarem, em maioria, na população mais pobre.

Você ainda lembra que a primeira vítima fatal de covid-19 no Brasil foi uma empregada doméstica? Essa cena se repetiu outras milhares de vezes e foi um estudo publicado pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde da PUC-Rio que primeiro confirmou tudo. Levando em conta as primeiras 30 mil notificações de casos de covid-19 disponibilizadas pelo Ministério da Saúde, o estudo concluiu que quanto maior a taxa de escolaridade, menor era a letalidade da doença, ficando em 71,3% entre pessoas sem escolaridade e 22,5% em pessoas com nível superior.

Se aprofundarmos os dados e cruzá-los com as características de raça, vemos que pardos e pretos sem escolaridade representam 80,35% dos dados de frente, com 19,65% dos brancos com nível superior. E esse é apenas o resultado de uma pesquisa no início da pandemia, em maio de 2020. O problema mesmo está no fato de que, com a permanência da pandemia, os dados ficam mais específicos e confirmatórios – por vezes, até mais assombrosos.

Pesquisa do estúdio de inteligência de dados Lagom Data, feita em exclusividade para o jornal El País, comparou os dados de 2020 com os de 2021 e confirmou aumento de até 60% das mortes entre as pessoas com vínculos profissionais comprovados que não puderam ficar em casa. Em especificidade, as profissões que não exigem formação de nível superior e não ganham o suficiente para sair das regiões marginalizadas onde habitam são as mais afetadas.

Mas o que a igreja tem a ver com isso? É meio difícil imaginar como a religião possa impactar numa crise humanitária quando seu papel, na história da sociedade, sempre foi o de passar uma imagem humanizada para a sociedade que a cerca [e a sustenta].

Segundo pesquisa divulgada pelo instituto Datafolha, em janeiro de 2020, pré-pandemia, 60% das pessoas que compõe o perfil do brasileiro evangélico se autodeclaram pretas ou pardas. Isso é resultado do crescimento da presença dessas igrejas nas regiões onde essa população está, em sua maioria, nas regiões mais periféricas. Essa representatividade não existe somente nesta população. Pelo contrário, está, até mesmo, no cenário político brasileiro, no qual compõe 20% do Congresso, em Brasília.

Só nas eleições municipais de 2020, foram, aproximadamente, 13 mil candidatos espalhados pelo Brasil, que usaram a própria religião como bandeira política, segundo o Instituto dos Estudos da Religião. E o maior problema é que a religião faz oposição à ciência, e, quando forma representatividade política, colocamos os estudos científicos em xeque na mão dos representantes do povo. Afinal, a voz do povo é a voz de Deus.

É com esse discurso que o próprio presidente Jair Bolsonaro conseguiu puxar para si a taxada irresponsabilidade social durante a gestão da pandemia. Principalmente, porque representa o combo perfeito entre negacionismo, religião e poder. E, quando esse discurso ecoa entre as pessoas que frequentam os centros religiosos neopentecostais, que é são as mesmas, mas sem acesso à educação, e representam a maioria entre os seus eleitores, temos o resultado catastrófico de um número maior de mortes nesta população.

Infelizmente, ainda estamos numa realidade longe do ideal de conseguir separar política de religião, formar cada vez mais pessoas em ensino superior, e voltar a investir em educação pública para aumentar o acesso da população mais pobre a melhores oportunidades de vida. Em 2021, já não bastava que brasileiro, o que, no geral, já é difícil? Também ser pobre e preto é a certeza de que não há como sobreviver a mais uma pandemia.

 

*Edição: Professor Maurício Guilherme Silva Jr.