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cultura do estupro

Em um momento onde o grito de uma parcela da população indignada clama pelo fim do feminismo, vemos crescer dia a dia a necessidade daquelas que lutam para a conquista de nossos direitos. Somente em 2014 foram registrados 47.646 estupros, dados que constam oficialmente das estatísticas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Dividindo esses dados, no Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos.

No último dia 23 com a notícia de que uma adolescente de 16 anos sofreu um estupro coletivo. A notícia provocou indignação e comoção em toda a população, que utilizou as redes sociais para se expressar.  Diante da repercussão do fato e dos números alarmantes muito se foi falado sobre a Cultura do Estupro. E você sabe o que é?

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“Algumas vezes me vi com medo…

Sabe aquele medo de se tirar a coberta que está sobre a cabeça, enquanto imaginamos vários monstros sem cabeça, ensanguentados ou com olhos esbugalhados? Ah, esse é o medo mais pueril, assim eu imaginava. O que eu não sabia era que aqueles momentos que eu passava quando minha mãe desligava a luz do quarto, era apenas um prelúdio da história de horror que eu teria que me submeter à vida inteira. Andar em um beco com meia-luz, passar por uma rua iluminada, ficar parada na porta da universidade esperando meu namorado, ou ao meio-dia esperando a condução da escola. Tornaram-se medos constantes…  Agora, junta isso a uma sociedade machista financiada pelo patriarcado e que jura de “pé de junto” que a culpa é da vítima. Não parece o pior de filme de terror de todos os tempos?!

Tenho lido muitas notícias, muitos filmes e até relatos desses medos, e me parece horrível saber que muitas mulheres não se compadecem do estado de horror que alguma outra tenha passado. É como se para justificar seu próprio medo, ela tenha que ocultar algum afeto ou sentimento por aquela situação que ela sabe ser uma barbárie, mas não há permissão para senti-lo. É uma barreira imaginária. Concordar com o agressor, levantar uma bandeira que nem é a sua, querer estar junto da maioria para que não veja a fraca que você é, e quem realmente manda nas suas reações. E quando isso está tão enraizado dentro de você, seu comportamento mecânico, a faz vítima de si mesmo. Daquilo que foi apresentado pela sociedade pra você, um conjunto de comportamentos que exigem que você copie, e julgamentos dentro de leis que você nem faz ideia quem foi o jurista que inventou, mas que as pessoas fazem se entreolhando para ninguém denunciar o medo da outra, ah isso é verídico. A cultura do estupro está se alimentando no sentimento mais puro que temos, e pior é que esse medo não poderá ser amortecido por cobertores, você vai perceber ao apagar as luzes do seu quarto.”, Fabíola Dantas, Professora e proprietária do English Chat Club.

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O termo Cultura do Estupro vem do termo em inglês denominado “Rape Culture”. Assim como vários termos conceituais que surgiram na década de 1970 para falar da desigualdade de gênero, esse conceito foi criado pelas feministas norte-americanas para apontar a violência de gênero na sociedade. Em suma, a cultura do estupro diz de qualquer forma de opressão: seja discursiva, imagética e, infelizmente, a própria violência perpetrada pelo homem contra o corpo da mulher. É a maneira que o homem tem de alimentar o machismo e minimizar a violência de gênero e torná-la naturalizada. Quando um delegado diz que um vídeo_  evidência cabal de um crime_ não é uma prova, ele está reproduzindo discursivamente a Cultura do Estupro. Quando um diretor de cinema diz que os hematomas de uma atriz causados pelo iphone esmagado em sua cara pelo marido são falsos_ apesar da foto_ ele está perpetrando a cultura do estupro. E a pior parte é que qualquer discurso de poder só se mantem constante porque encontra apoio do lado dos próprios oprimidos. Então, quando uma mulher concorda que a culpa é da vitima de violência machista porque ela usava roupa “assim ou assado”, ela está contribuindo para que esse discurso, o discurso da cultura do estupro, se mantenha e seja visto como algo “natural”. Ela está contribuindo, muitas vezes inconscientemente, para que a mulher se mantenha em uma posição de dominada.  E já está na hora de isso acabar!”, Marina Gazire, Professora da UNA/ ICA.

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“Banalização do estupro basicamente. Além da demora e as vezes impunidade dos homens que cometem o crime, o machismo torna ele banalizado como se a mulher pedisse ou deixasse algo dessa natureza acontecer.”, Lorrayne Chacon, estudante de Jornalismo.

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Em uma abordagem geral Cultura é a característica de um determinado local, povo ou raça. Falar sobre Cultura nos da a sensação de um diálogo bom, construtivo e que nos gera conhecimento. Mas nem toda Cultura possui aspectos positivos e prazerosos, ao contrário, algumas são destrutivas e podem causar danos irreparáveis. Um exemplo cultural obscuro é a ‘Cultura do Estupro’, algo presente na maior parte do mundo.

Fui criada como uma ‘princesa’ sendo privada de inúmeras coisas por que ‘sou menina’. Venho de uma família machista e até certa idade acreditava e seguia os padrões machistas impostos sobre mim. Regulavam minha roupa, meu cabelo e o meu corpo… justificam tal privação como uma forma de me assegurar, mas contra o que? Contra os monstros a solta que eles próprios criaram.

Tenho irmão, primos e amigos que aprenderam desde sempre a humilhar e menosprezar mulheres. Homens que são guiados por aquilo que consideram correto. Enfim, a luta pelo fim da Cultura do Estupro precisa começar em casa, pois é em casa que ela começa. A minha roupa, o meu corpo o meu jeito de viver não justificam nunca uma violência, um estupro ou uma morte., Bárbara Mota, Estudante de Psicologia.

Reportagem: Ana Paula Tinoco