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death note

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Por Ana Paula Tinoco

Hollywood vem dilacerando obras consagradas do mundo dos animes, HQs e games há anos sem a menor consideração, pudor ou pedido de desculpas. Mas, pasmem, a culpada desta vez é ninguém mais ninguém menos que a tão amada e respeitada Netflix.

Antes, é claro, de me aprofundar sobre o assunto que será tema do texto, quero deixar claro que a opinião parte de alguém que não tem familiaridade com a obra original. Dito isso, não posso ser acusada de ser fangirl e sim uma pessoa que se sentiu lesada com o tempo que perdeu diante da televisão. E se por acaso você ainda não descobriu o que virá nessas mal traçadas linhas, sim, falo do Live ActionDeath Note”.

Os minutos iniciais nos vendem uma ideia de um Light Turner (Nat Wolff) inteligente, meticuloso e altamente centrado, mas todos esses adjetivos caem por terra quando ele encontra o livro que dá nome a obra. Sua inteligência se transforma em devaneios e o que vemos é um adolescente transpirando hormônios sem a menor discrepância do que tem em mãos. Sua inocência chega a ser hilária, para não dizer triste, e ainda não citei o seu primeiro encontro com o Shinigami Ryuk.

Mencionado o embate, a coisa se torna tão caricata e tão filme b da época de programas como do Zé do Caixão, que somente fui me atentar ao belo trabalho que fizeram ao criar a entidade no decorrer do filme, não podemos deixar de mencionar aqui o trabalho impecável do consagrado ator Willem Defoe.

Acerto a parte e sem mais delongas continuo a nadar no mar de decepções tão imenso quanto o nosso Oceano Pacífico quando o roteiro apresenta a personagem feminina do longa, Mia Sutton (Margaret Qualley). Mia, que era para ser a versão de Misa Amane, é uma menina fútil, volúvel e mimada. Vendida aos telespectadores como a garota popular da escola (sim, você não leu errado), ela é aquele belo clichê de filmes da sessão da tarde que se aproximam do Nerd da escola em um relacionamento improvável por motivos e interesses que passam longe do verdadeiro amor.

Relacionamento colocado lá para forçar uma identificação que adolescentes não sentiam desde o forçado triângulo amoroso da Saga Crepúsculo. O desenrolar desse “sentimento” é tão raso que aos poucos você nota que aquilo aconteceu para ter um plot twist tão obvio quanto o abandono de Christian Grey por Anastasia no sofrido 50 tons de cinza.

Nesse momento, já havia me esquecido do que era o famoso livro que dá nome ao anime. Consegue mentalizar toda aquela temática de livre arbítrio e a linha tênue que separa vingança de justiça? Ela se perde nos trejeitos de L (Keith Stanfield). O ator está tão caricato e forçado que o fato de não conseguir tirar os olhos da tela a cada momento em que ele aparece não significa um elogio.

A tão aguardada disputa de intelectos entre Light e L mais lembra dois garotos brigando para saber quem salvou a Princesa Peach primeiro. A rivalidade entre eles e o que conduz o desenrolar dos fatos é preguiçosa, os egos que deveriam ser gigantes são reduzidos a brigas de adolescentes em páginas políticas em que a conversa gira em torno da questão: “o Nazismo é de direita ou esquerda? ”. E a tentativa de dar um ar de suspense à perseguição que se segue a partir da descoberta de L seria cômica se não fosse trágica.

Não poderia deixar de fora as mortes, as punições àqueles que merecem ter seus nomes escritos no caderno da morte. Óbito após óbito o meu cérebro foi fazendo uma junção de dois filmes de suspense: Premonição e Jogos Mortais, mas esqueça o glamour dos dois primeiros, menciono os últimos quando a ideia era banho de sangue para uma maior audiência. O restante do elenco não consigo mencionar, porque eles são esquecíveis, sem graça e estão ali para que o cenário em certos momentos pareça cheio ou para cenas deprimentes como a sequência protagonizada por Paul Nakuchi, o Watari.

Mas, antes que você pense: “nossa, não tem nada de bom? ”. Sim, tem. Como disse no terceiro parágrafo, temos o Ryuk.