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desCobstruir

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Por Keven Souza

As mulheres têm conquistado seu espaço e seus direitos quando fala-se na inserção feminina no mercado de trabalho. Embora seja uma conquista de tamanho avanço social, a luta pela equidade de gênero ainda existe, que além de ser contínua, é necessária para diminuir as diferenças de oportunidades, salários e qualidade nos diferentes âmbitos profissionais. É uma luta que deve ser tocada por todos da sociedade, inclusive pelas instituições acadêmicas, para que haja um mercado de trabalho mais justo e gentil às mulheres. 

É neste propósito que o Centro Universitário Una acredita e se flexibiliza para criar e projetar projetos e cursos extensionistas voltados às pautas que envolvem a sociedade, que além de proporcionar uma formação à vida, corrobora para um ambiente acadêmico mais diverso e atento às causas sociais. 

Na Una Jataí (GO) os estudantes contam um projeto de extensão que contribui para a construção de um mercado de trabalho mais equiparado e alinhado às mulheres, focado na valorização e colocação delas em áreas profissionais que são predominantemente masculinas, como as Engenharias, a Agronomia e a Medicina Veterinária. A atividade extensionista, nomeada de projeto “desConstruir”, foi idealizada pela professora Janaína Martins Gouveia, que atua hoje, como coordenadora da extensão junto à professora Vanessa Assis, para debater o assédio nos diferentes meios profissionais e acadêmicos, além de buscar formas de combatê-los. 

O projeto foi iniciado no primeiro semestre de 2020, pensado, a princípio, inerente a área das Engenharias, mas devido ao seu sucesso e o grande interesse por parte dos alunos da instituição em desenvolver uma visão mais aberta e plural, abrange hoje alunos e alunas de quaisquer cursos da Una campus Jataí. Desde de então vem sendo renovado consecutivamente a cada novo semestre letivo e soma em sua trajetória cerca de 80 extensionistas já atuantes no projeto e que atualmente está ativo mediante a relevância no campo acadêmico. 

“O desConstruir foi projetado frente ao mercado de trabalho de Engenharias de forma geral, que ainda se comporta como preconceituoso e machista. Por diversas vezes sofri preconceito, questionamentos e passei por situações desconfortáveis, como o assédio, simplesmente por ser mulher. E quando me tornei professora, idealizei este projeto, para que minhas alunas não tivessem que passar pelo o que eu passei” – diz a coordenadora do projeto, Janaína Martins. 

Na visão da professora, o projeto ser desenvolvido como atividade extensionista, é para ele atuar de maneira concentrada na base do mercado de trabalho, no qual se refere aos graduandos, e estimular a atuação em conjunta, de forma equiparada, dos homens junto às mulheres nos ambientes profissionais e acadêmicos. “Entendemos que seria mais difícil trabalhar no topo, cujo pensamento dessas pessoas já está formado há anos, então trabalhamos na base, onde temos a oportunidade de trabalhar e preparar os alunos e alunas para um mercado de trabalho mais empoderado às mulheres e desconstruído de um padrão imposto pela sociedade” explica ela. 

Com a premissa de desenvolver o empoderamento feminino, o desConstruir propõe a aplicação de oficinas e consultorias às mulheres para que possam desenvolver competências e outras técnicas e habilidades importantes no mercado. Tem por objetivo tratar de assuntos que possibilitem a todos os alunos pensarem e refletirem sobre suas ações em relação a assuntos de equidade de gênero, assédio sexual e moral, maternidade e temas correlatos, por meio de rodas de conversa, campanhas e palestras. 

Participante da oficina “Mulheres na obra”, promovida pelo projeto

Devido a sua estreia ter sido durante a pandemia de coronavírus, as ações presenciais foram limitadas e destinadas a atuar de modo remoto com atividades através da plataforma do Instagram, onde é desenvolvido a produção de conteúdo envolvendo a pauta feminina. 

Entre as principais realizações promovem roda de conversa sobre a maternidade e o mercado de trabalho; lives com convidadas sobre cuidados femininos; oficina de currículos, onde estimula mulheres a construir um currículo atrativo; oficina presencial “Mulheres na obra”, onde levam meninas para obras e as mesmas colocaram a mão na massa; vídeos sobre “Faça você mesma”, com troca de chuveiro e troca de pneus; cartilha sobre outubro rosa e o câncer de mama e o estudo dirigido aos extensionistas, através da promoção e valorização da cultura por meio de séries, filmes, artigos e debates do universo feminino.

Encontro online do projeto

Para a estudante Edivaine Martins, que está no sexto período de Engenharia Civil e participa desde o início do projeto, as rodas de conversas então entre as atividades que mais a permite estimular a empatia e lhe engaja para debater sobre seus medos, anseios e posicionamentos. Uma metodologia que a ajudou a crescer como mulher e a observar melhor comportamentos machistas ao seu redor. “A escolha do projeto foi de interesse pessoal, sempre trabalhei em ambientes majoritariamente constituídos por profissionais homens e enfrentei muitas situações constrangedoras no decorrer de todos esses anos. Mas, cresci muito com esse projeto, me sinto hoje apoiada e empoderada”, explica.

Segundo a aluna, o projeto foi um dos ensejos que a estimulou a abrir o seu próprio negócio e se tornar empresária aos 35 anos. Uma decisão que nunca pensou tomar, já que havia insegurança e auto sabotagem consigo mesma. “Se não fosse o projeto não teria forças para abrir meu próprio negócio, eu não acreditava no meu potencial, não passava pela minha cabeça chegar até aqui, ser empresária e tomadora das melhores decisões da minha vida e não ser comandada por alguém como fui até então”, desabafa a aluna.

Walisson Oliveira, aluno do sexto período de Engenharia Civil, afirma que, através da sua participação, o projeto pôde abrir ainda mais sua mente em relação a possuir preconceitos e fundamentos antiquados, e que por ser homem observa a importância de existir pautas sociais relacionadas às mulheres para quebrar tabus criados pelo universo masculino. 

“O projeto é fantástico. Escolhi um curso onde há muito preconceito com as mulheres, então resolvi entrar para projeto para fortalecer o movimento e ter uma voz masculina apoiando, para mostrar que independente do sexo, devemos lutar por igualdade dentro das profissões”, diz ele.

O estudante é o exemplo de que o desConstruir está sendo, na íntegra, um projeto bem-sucedido direcionado aguçar a visão ampla dos alunos sobre o entendimento do  papel feminino no mercado de trabalho, para que compreendam que as mulheres possuem a liberdade de escolha de decidirem onde querem ou pretendem estar e que não devem sofrer nenhum tipo de objeção por isso. Ressalta ainda, que a essência da extensão é debater a equidade de gênero em todos os seus âmbitos, principalmente dentro da universidade, para ensinar a todos, independente do gênero, a se respeitarem e valorizarem o trabalho do outro, e acima de tudo, lutarem pelos seus direitos em conjunto.