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Por Tales Ciel

Ainda me lembro de quando vi a minha primeira parada gay. Vi pela janela do carro; vi, porque participar eu jamais iria. Lembro-me de pensar “ainda bem que não sou eu”, para muitas das ações incabíveis que estavam fazendo – dois homens que se gostam beijando? O sacrilégio! Mal sabia o pequeno eu o que essa frase iria fazer. Às vezes ainda penso no que poderia ter sido se não tivesse sido doutrinado assim, se não tivesse negado tanto, se não teria começado a perceber mais cedo e me poupado de ter que ir no ritmo que a pandemia me permite, mas sei que não vale à pena ficar pensando nisso. Antes tarde do que nunca, é o que dizem.

Para muitas juventudes LGBTQ+, a percepção de que algo está “errado”, incomodando, começa bem cedo. Para outros ela vem mais devagar, aos pouquinhos. Se é algo do destino ou do subconsciente não tem como dizer e pode ser que seja um pouco dos dois, porque tem pessoas que precisam de mais tempo que outras para entender algo que deveria ser apenas mais uma faceta de existir. Mas o medo, ele nos para, faz com que enxerguemos esses pequenos fatos e condições como errôneos e ruins, com que esses seres humanos que são diferentes – pois é apenas isso que somos, diferentes do “padrão” – se odiarem tanto por dentro, até não acreditarem que merecem viver. Que podem ter uma vida normal, um emprego, uma pessoa para amar. Faz um garotinho olhando duas pessoas que se amam pela janela do carro agradecer por não ser como eles.

E é um absurdo pensar que condicionamos o nosso direito de existir nos padrões que um grupo alheio de pessoas seguem. Que temos que justificar com evidências e provas, um slide de 100 e mais páginas e um estudo de 60 anos o porquê merecemos viver. É uma noção retrógada, nociva e cruel, que muitos não param para perceber. Especialmente num tempo em que os números e fatos que deveriam estar sendo levados em consideração é, talvez, o primeiro lugar que o Brasil ocupa mundialmente no assassinato de pessoas transgêneros ou a relação de uma morte por homofobia a cada 16 horas. Tanto que quando invertemos as cartas, há muitas mais evidências de que nenhum dos que nos subjugam podem provar porquê não podemos, porquê somos “errados”.

Em quase todas as espécies de animais no planeta há a presença de todos as cores do arco-íris, por exemplo existem casais de leões, pinguins, elefantes e muito mais, homoafetivos. Até mesmo nas plantas, com árvores que trocam entre serem do sexo feminino e masculino sem motivação ou interferência externa, apenas o fazem. Sexualidade, gênero e identidade são coisas que fazem parte da mãe natureza e, por extensão, fazem parte da natureza humana. Talvez o problema não seja quem somos, talvez não seja quem amamos, como no chamamos ou queremos vestir. Talvez, o problema não sejamos nós, não seja o menino gay que agradece por não ser o que, na verdade, é. Talvez, o problema seja o medo que aprendemos a ter.

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Foto: Assessoria

Em um país que todos os dias pessoas transexuais e travestis são assassinadas, lutar por sobrevivência, respeito e dignidade é um ato político 

*Por Italo Charles

Sobrevivência, reconhecimento, voz e respeito são alguns aspectos que denotam a luta diária de pessoas tranvestigeneres. Viver em uma sociedade dominada por corpos brancos, cisgêneros e machistas que estabelecem a estimativa de vida de um grupo ou que cria estereótipos sobre seus corpos e atribuições, é, para as pessoas transexuais e travestis  um ato de resistência e política.

Falar sobre a visibilidade trans e travesti é compreender os estigmas que esses corpos carregam e, para além, é atuar na causa política para construção de dignidade às pessoas transvestigeneres.

Anualmente, janeiro é o mês que celebra a visibilidade trans.  Essa conquista se tornou possível a partir de uma manifestação por parte de um grupo trans ativista, no Congresso Nacional, no lançamento da campanha “Travesti e Respeito”  promovida  pelo Ministério da saúde no dia 29 de janeiro de 2004.

A partir de então, o mês de janeiro é marcado por uma sequência de ações que visam o reconhecimento, respeito e visibilidade de pessoas transvestigeneres que, diariamente, lidam com o preconceito e invisibilidade. 

Entretanto, as manifestações por respeito, equidade e, sobretudo, existência de pessoas transvestigeneres não pode ser vista pela mídia apenas no mês de janeiro, uma vez que, pessoas transexuais e travestis vivem diariamente uma luta constante por sobrevivência.

É importante ressaltar que o Brasil é o país que mais mata pessoas transexuais e travestis, e pelo 13º ano está no topo do ranking de assassinato de pessoas trans. Segundo dados divulgados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), no ano de 2020 foram mapeados 175 assassinatos de travestis e mulheres trans, número maior que o do ano anterior.

Entretanto, o país que mais mata pessoas transvestigeneres continua no ranking de maior consumidor de pornografia trans nas plataformarmos de conteúdo digital, justo no período em que houve o aumento de assasinatos – 2019 a 2020.

Os dados são alarmantes e mostram como a sociedade reage a esse grupo. Mas, para além dos números (inaceitáveis), a população transvestigere batalha todos os dias enfrentando ameaças, transfobia, racismo e a misoginia para construírem um país mais igualitário.

Dentro do meio político não seria diferente às agressões contra a comunidade transvestigenere, pelo contrário, por se tratar de um âmbito machista, cisgênero, misogino e racista, as pessoas transexuais e travestis enfrentam situações mais desafiadoras para conquitar seus espaços.

O ano de 2020, no viés político, foi muito positivo para a comunidade LGBTQIAP+ em um todo, principalmente para as pessoas transvestigeneres, pois, pela primeira vez na história elegeu um grande número de mulheres transexuais e travestis e homens trans.

Entre as pessoas eleitas, está Duda Salabert, professora de literatura, vegana, ativista, fundadora da ONG Transvest, mãe e a 25ª colocada na lista das 50 pessoas LGBTQIAP mais influentes do Brasil. Eleita pelo PDT com 37.613 votos, Duda é a mulher mais votada da história de Belo Horizonte.

Em entrevista ao Jornal Contramão, Duda Salabert conta sobre as necessidades de ser uma mulher trans na política, os desafios diários e o impacto que sobre a representativa e visibilidade trans.

Duda, o que te motivou a entrar na política?

Para nós, travestis e transexuais, a política não é opção, ela é destino, é sina. Até porque os nossos corpos já são políticos por tensionar e questionar a estrutura e a visão binária da sociedade. Eu entrei na política institucional partidária para combater os números que solapão as identidades das pessoas travestis e ransexuais como fato de que o Brasil é o país que mais mata pessoas transsexuais do planeta há mais de 10 anos consecutivos e 90% das transexuais estão na prostituição.  Esses dois números já mostram a necessidade de construir políticas públicas para a nossa comunidade e a nossa pauta nunca foi protagonismo nem no centro, na esquerda, nem na direita, mas na necessidade de hackear e ocupar o espaço da política partidária institucional.

Quais foram e são os maiores desafios enfrentados na carreira política e como docente sendo uma mulher trans?

As dificuldades em relação à comunidade trans se assemelham às dificuldades enfrentadas pelos grupos tidos como minorias, a população negra, as mulheres, indígenas por que a política partidária institucional é feita para ser mais uma das ferramentas para privilegiar os privilegiados e excluir os excluídos. Então, as estruturas partidárias espelham os preconceitos e violências que são da própria sociedade, dessa forma, nós temos que combater essa estrutura que alicerça o patriarcado e que quer privilegiar homens brancos, cisgêneros e heterosexuais. E isso se espelha também em outras instituições, como no mercado de trabalho, na família, nas igrejas. 

No último ano (2020) você foi reconhecida pela Rede Guiya entre as pessoas LGBTQIAP+ mais influentes do Brasil. Na lista você ocupa a 25ª posição, qual a importância desse reconhecimento e o que muda para situação política atual?

O reconhecimento é importante não em dimensão particular, mas sim na coletiva. Uma vez que quanto mais pessoas transexuais ocuparem esse espaço mais  a pauta trans assume relevo no debate público, então não há vitória particular, mas sim uma vitória coletiva já que eu represento ali a comunidade das pessoas travestis transexuais. Isso é um avanço, porque  na comunidade LGBT a pauta trans ficou em segundo plano, assim, isso mostra que o movimento é organizado e tem ocupado e conquistado mais espaço.

Também em 2020 você foi eleita como a mulher mais votada da capital mineira. Qual a sensação desse marco e como isso influencia contra a transfobia existente na sociedade?

Ter sido a pessoa mais votada na última eleição é um recado que parte da sociedade em relação a não tolerar mais algumas estruturas de opressão, marginalização e exclusão que existia e existe na sociedade. Então, nesse sentido, essa é a vitória de um campo progressista que busca renovar e oxigenar a política e, também, trazer novamente a esperança para o campo da política que foi retirada na última vez devido a consquista do Jair Bolsonaro, que é uma vitória da anti-esperança, da anti-política. Então, em 2020 a sociedade se mobilizou para resgatar essa esperança e resgatar a necessidade de mudar os rumos da política regional que é um termômetro para o nacional também..

Como você enxerga o impacto e a responsabilidade de representar a causa LGBTQIA+ dentro da política?

Sou professora há mais de 20 anos e carrego essa ideia da responsabilidade com o coletivo na minha atividade profissional, no campo da política é uma forma de eu trazer essa preocupação que já tinha em sala de aula para o campo das políticas públicas. Então é uma responsabilidade coletiva que eu já fomentava e que agora é só uma dimensão maior pelo número de votos que tive, mas a ideia central é a preocupação com o social, com a formação de uma nova sociedade que busca a justiça social. Isso  já faz parte do DNA de quem é professora.

Segundo o boletim divulgado pela ANTRA, no período de janeiro a outubro de  2020 em relação ao ano anterior, a taxa de assassinato contra pessoas trans e travestis aumentou 47%. Dessa forma, como você enxerga esse aumento e quais medidas precisam ser tomadas para reduzir esses dados?

É ‘quem tem fome, tem pressa’ já falava o sociólogo Betinho,  importante na história recente do Brasil, que a gente tem que buscar por isso que você merecia mais né na garantia de renda das pessoas transexuais daí hoje uma criação de e aprovação de projetos que garantam a empregabilidade de pessoas transexuais e para Além disso as pessoas políticas estruturais como por exemplo de bater um projeto Educacional que traga a questão da diversidade do respeito à diversidade já que o que transforma a sociedade é educação Então a gente tem que repensar a escola brasileira a fim de que ela construa uma nova mentalidade uma nova perspectiva social de respeito à diversidade e respeito a transexualidade para a gente poder combater esses de violência contra pessoas LGBT especificamente transexuais .

Em relação ao SUS em  BH, existe algum acolhimento específico de pessoas trans e soropositivas, como funciona? 

Nós temos em Belo Horizonte um ambulatório trans que está situado no Hospital Eduardo de Menezes, lá tem uma equipe multidisciplinar para tratar temas referentes à transexualidade. Há  também em Uberlândia e em outros municípios no Brasil.

Como é lidar com a saúde mental em um meio quase que majoritariamente homofóbico, transfóbico e misógino?

‘Há que endurecer sem perder a ternura jamais’, já falava o Che Guevara. Então, o espaço político é espaço de muito enfrentamento e esse enfrentamento vai endurecendo cada vez mais, o casco vai ficando cada vez mais grosso, logo, para nós ativistas que estamos há muito tempo, a gente não sabe como lidar com a saúde mental.  O fato é  que a gente entra blindando e criando um escudo para evitar que a saúde mental seja abalada.

Como é ser uma mulher trans, vereadora, militante e vegana hoje?

A transexualidade e o veganismo têm inúmeros denominadores comuns, entre eles o fato de combater uma lógica sistêmica, estrutural,  histórica e atávica de privilegiar homens brancos, cisgêneros, heterossexuais, europeizados ricos e carnistas. Essa lógica que se configurou a partir do fortalecimento de uma perspectiva antropocêntrica responsável pelas inúmeras violências que tem não só em  relação a seres humanos e não humanos, como também ao meio ambiente, e essa lógica que alicerça o capitalismo, então tanto veganismo como a transexualidade são forças importantes no combate a uma lógica antropocêntrica capitalista é neoliberal.

Anualmente, durante o mês de janeiro, a mídia tem dado espaço para as pautas relacionadas ao mês da visibilidade trans. Entretanto, a cada ano o número de assassinato com transexuais e travestis tem aumentado. O que você acha que deveria ser feito para mudar esse cenário e como os meios de comunicação deveriam se posicionar diante disso?

Os meios de comunicação têm que entender o papel social que eles desempenham, sobretudo  os são concessões públicas. As mídias têm um compromisso com a questão pública e, a questão pública opera sobretudo na busca por justiça social, então os meios de comunicação deveriam ser, em tese, instrumentos para criação de novas consciências que lutam a favor da justiça social, e  a gente não vê isso justamente pelo Lobby que há entre os grandes veículos de comunicação e os oligopólios capitalistas. Entretanto,  uma coisa que deveria mudar é o  entendimento que a pauta das pessoas transexuais não deveria ser discutida só em janeiro, mas no ano inteiro, já que há um genocídio em curso contra pessoas transexuais.

Enquanto vegana e defensora dos animais, quais são os planos para o recolhimento e adoção de animais de rua, campanhas de castração e vacinação?

Há muito o que fazer como, por exemplo, lutar na política orçamentária para valores maiores destinados ao centro de controle de zoonoses, como também garantir o castramóvel nas regionais de Belo Horizonte. Além disso incentivos fiscais tais como: desconto no IPTU para ativistas que resgatam animais de rua e fazem papel que o poder público não faz, como também a criação de um banco de ração para que receba doações de empresas e pessoas da sociedade em geral para que esse banco posso distribuir as rações para os ativistas e ONGs cadastradas na defesa animal na prefeitura. 

Mas as pessoas têm que  entender que a pauta defesa animal não é somente sobre  “gato”, embora sejam problemas visíveis na sociedade, mas também nas outras espécies que coexistem conosco, sobretudo, em Belo Horizonte que há muitos espaços de vegetação com uma diversidade muito grande, então isso passa pelo debate sobre a valorização da educação ambiental nos currículos escolares.

Você acha que seria possível acabar com os preconceitos contra as pessoas lgbtqiap+, se sim, de qual forma?

Os preconceitos só podem ser rompidos a partir de uma revolução. Até porque o capitalismo se alicerça tendo como pilar a exploração e a opressão, então a própria dinâmica do capitalismo transforma as diferenças como um mecanismo de garantir mais lucro para as pessoas privilegiadas no campo da opressão e  também a exploração na luta de classe. Sendo assim, uma das formas de combater qualquer tipo de opressão é acabar com o sistema capitalista, isso não quer dizer que em uma sociedade socialista não teria preconceitos até porque o preconceito é uma coisa cultural e não acaba  da noite pro dia, mas a revolução seria uma das formas da gente buscar o combate às opressões.   Não é a garantia de que elas acabariam, mas é o único meio possível de sustentar o fim dela, já que na dinâmica capitalista a opressão e  exploração são duas faces da mesma moeda.

O que você mais se orgulha dentro do seu trabalho?

Me orgulho de ser professora em um país que não valoriza a educação nem os profissionais da educação, então só de estar 20 anos me mantendo nesse campo de atuação já é para mim motivo de orgulho.

Qual o impacto da criação e manutenção da Transvest?

Não dá para mensurar o impacto da Transvest, porque as principais transformações que a gente fez não está no campo da objetividade mas sim da subjetividade, no sentido de pessoas resgatarem autoestima, ter um espaço de encontro, de afeto e de congregação, então a Transvest acaba sendo uma ilha de afeto e acolhimento no oceano de transfobia que é Belo Horizonte. Isso está no campo do imensurável justamente por não operar na dimensão material, mas no campo do material nós tivemos pontos positivos, como a criação da primeira casa de acolhimento de pessoas trans na capital, também aprovações na UFMG, UEMG, PUC, Milton Campos, Una e outras universidade.

Qual seu posicionamento acerca da visibilidade trans e quais pontos devem e podem melhorar?

O que tem que melhorar não é a visibilidade trans, mas sim a sociedade.  A visibilidade trans é um movimento criado por pessoas transexuais que buscam tornar público alguns problemas que nos tocam, então não tem problema algum uma semana no mês da visibilidade trans, o problema está na na sociedade.

 

*Transvestigenere

Termo adotado pelas ativistas Erika Hilton e Indiana Siqueira, a fim de desconstruir os estereótipos negativos que as palavras “transexual” e “travesti” carregam, além de compreender todes e quaisquer pessoas que não se encaixem na cisgeneridade.

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Bandeira com as cores da causa LGBT no Beira-Rio (Reprodução)

          Time belo horizontino fundado em 2019 possibilitou a inserção de pessoas LGBTQIA+ no futebol

Por: João Gabriel

O futebol é mesmo fascinante e sempre conquista mais amantes ao redor do planeta, sendo indivíduos de diferentes classes sociais, nacionalidades, etnias, idades, gerações e gêneros. Todos reunidos ansiosamente à espera do gol, acompanhando lances protagonizados pelos artistas do jogo.

Com a missão de proporcionar um espaço inclusivo e de aceitação no esporte, nasceu em 2017, no Rio de Janeiro, a primeira edição do campeonato de futebol gay do Brasil: A Champions LiGay – nome inspirado na famosa Champions League – que por sua vez é organizada pela LGNF (Ligay Nacional de Futebol), disputada em quadras society. A segunda edição do torneio foi disputada em Porto Alegre/RS e passou de 8 para 12 clubes, a mais recente aconteceu em Belo Horizonte no ano passado, desta vez com 28 clubes de diversas partes do Brasil.

Com a boa recepção do campeonato, várias outras equipes do gênero continuam a surgir pelo país entre elas o “Predadores FC” do bairro Ipiranga, região Nordeste de Belo Horizonte. O clube mineiro teve sua criação em 19 de Fevereiro de 2019 com a proposta de acolher e inserir LGBTs no futebol.

Seu surgimento se deu neste período após a dissidência entre integrantes de outros clubes da categoria. A equipe conta com staff que inclui comissão técnica formada por duas treinadoras, personal trainer e psicólogo esportivo que se encarregam na manutenção da filosofia de trabalho, da técnica e autoestima dos atletas durante as competições oficiais e treinamentos.

Reiterando o espírito coletivo e a seriedade do trabalho realizado, o presidente Marcos Berna comentou “Nossos atletas/irmãos são muito conectados a família Predadores Futebol Clube. A frente da psicologia  desportiva temos o grande profissional Nil Costa que sempre pratica intervenções no cotidiano, e passa várias técnicas de relaxamento, auto controle e ansiedade.”  Segundo ele, as treinadoras e o psicólogo desempenham a função de forma voluntária.

Fora das quatro linhas o time ‘Predadores’ não contempla o amparo e auxílio de padrinhos ou patrocinadores, embora muitas vezes surgem interessados ou aproveitadores que acabam declinando o projeto no meio do caminho por inúmeros motivos “Tivemos apoiadores temporários, muitas promessas feitas e poucas cumpridas. Sempre aparecem pessoas que querem divulgar sua marca sem ajudar em nada a equipe. Mas, aos poucos identificamos as reais intenções e afastamos alguns. Alguns resolvem não patrocinar pela equipe ser LGBT, outros não renovam por opção própria ou tendo outras modalidades em vista”, esclareceu Marcos.

Quanto a escolha dos atletas, o clube adota uma política que vem a corroborar com o sentido de diversidade em todos os níveis, sem impor restrições a possíveis jogadores quanto a faixa etária, biótipo, padrão estético ou fisiológico. “Basta ter vontade de competir, recrear, que está dentro de nossa filosofia. O único pré requisito básico é ser integrante da nossa sigla LGBTQIA+. Aos interessados, só nos procurar no Instagram, via direct ou demonstrar interesse e comparecer em nossos treinos. Todos são muito bem vindos”, reforçou o presidente.

Sobre a presença de pessoas que sejam heterossexuais na composição do elenco, ela é parcialmente permitida, porém, sob algumas regras e exceções “Na categoria feminino podem sim atletas heterossexuais, no masculino permitimos treinos esporádicos, mas veremos a participação em campeonatos. Porque seria (caso acontecesse) uma forma de excluir os LGBTs que estão conosco no dia a dia.” 

Como consequência em torno dessa ação, mudanças positivas são proporcionadas no cotidiano dos jogadores envolvidos. Henrique Júnio, 21, relata sua sensação de poder vivenciar a experiência “Quando cheguei no time fui bem recebido por todos, não sabia que tinha time gay. Foi onde comecei a me abrir mais, foi uma experiência muito boa, hoje tenho o Predadores como minha segunda família. Não abro mão dele por nada.”

A rejeição à comunidade LGBTQIA+ no ambito geral do esporte revela sinais de mudanças mundo afora. Em pesquisa divulgada pela BBC em 2016, a conclusão é que 82% dos torcedores britânicos de várias modalidades, não se importariam se um jogador de seu time anunciasse ser gay. Apenas 8%, disseram que fariam questão de deixar de acompanhar a equipe se isso ocorresse. Neste mesmo levantamento 71% dos entrevistados defenderam que os clubes devem contribuir no combate a homofobia.

Em solo brasileiro já podemos notar esforços, ainda que tímidos por parte de federações  neste sentido, desde a iniciativa de incluir o número 24 (medida adotada por alguns clubes na numeração de uniformes). Estigma que começa a cair aos poucos, mas que perdurou por bom tempo no imaginário coletivo, até a abolição de cânticos homofóbicos nos estádios, sob pena de multa a instituição que não se enquadrar. Atitude até então simples, que a médio/longo prazo pode trazer transformações profundas em outras áreas no país.

Esta modalidade que diferente de outras, não necessita um tipo físico específico para praticá-la (no âmbito amador), sendo sua aplicação acessível às pessoas de características singulares, baixos a altos, de franzinos a mais fortes, de magros a gordos. Considerado o  esporte mais popular do mundo, que em tese, deveria exercer seu principal valor social, a inclusão, independente das diferenças sejam quais forem. Como todo entretenimento é um reflexo de nossas qualidades e fraquezas enquanto sociedade, o futebol tem em sua história tristes capítulos, com episódios de racismo e homofobia ainda muito corriqueiros.

História

Em 1990, época a qual o tópico em relação à orientação sexual não era sequer mencionado e discutido no mundo do futebol, Justin Fashanu, jogador inglês de futuro promissor, foi o primeiro – e até hoje, único –  atleta do futebol da história a revelar publicamente sua homossexualidade estando em atividade na carreira, enquanto atuava na primeira divisão do campeonato inglês. Passou por clubes tradicionais do país como Manchester City e West Ham. Também vale destacar que ele foi o primeiro jogador britânico a valer 1 milhão de Libras em uma transferência.

Em virtude de sua declaração pública no ano de 1990 apesar de possuir destreza ímpar com a bola nos pés, Justin perdeu cada vez mais espaço no meio futebolístico sofrendo frequentes boicotes por parte de cartolas de outros clubes, passando a conviver com ataques homofóbicos cada vez mais pesados derivado de companheiros de time, torcida, dirigentes e imprensa, que volta e meia especulava a sua sexualidade e até mesmo de seu irmão John Fashanu, que também era jogador e passou a rejeitá-lo.

A somatória de acontecimentos negativos em sua carreira e vida pessoal atribulada, culminou no melancólico fim de Justin Fashanu, que decidiu pôr fim a sua vida  em 1998, após falsa acusação de abuso sexual por parte de um jovem de 17 anos. Antes de sua morte, Justin deixou uma carta, onde negava as acusações, afirmando  que o ato sexual foi consensual e que sofreu uma chantagem por parte do jovem que queria dinheiro, e ainda considerou a possibilidade de não ter um julgamento imparcial e justo em virtude de sua orientação sexual.

Eu percebi que já tinha sido considerado culpado. Não quero envergonhar minha família e amigos. Ser gay é uma personalidade muito difícil, mas não posso reclamar. Queria dizer que não agredi sexualmente o jovem. Tivemos sexo consensual, mas no dia seguinte ele me pediu dinheiro. Ao recusar o pedido, ele falou ‘espere e você vai ver só’. Se esse é o caso, eu ouço vocês dizerem, por que eu fugi? A justiça nem sempre é justa. Percebi que não teria julgamento justo por conta da minha homossexualidade”.

O ex jogador Richarlyson, que embora nunca tenha se declarado a respeito, como Justin, foi outro caso notório de como a intolerância e a discriminação no futebol ainda continuam presentes. O anúncio de sua contratação, feita pelo Guarani em 2017 foi recebido de forma negativa e jocosa, com piadas por parte da torcida rival, de figuras públicas como o vereador Jorge Schneider  e protestos da própria torcida do “Bugre”, apelido do clube de Campinas.

A decisão de um atleta em revelar este lado da vida pessoal divide opiniões. Falas controvérsias à respeito disso, como a do conhecido treinador Renato Portaluppi podem colaborar, ainda que indiretamente, para a invisibilidade de gays no futebol profissional. Em entrevista para o jornal Folha de São Paulo, há alguns quando indagado se um jogador deveria assumir ou não sua condição Se tem um gay na música é normal, se tem um gay ator é normal, se tem um gay em qualquer profissão é normal. Mas se tem um gay no futebol, vira notícia mundial. Por quê? Não entendo isso”, opinou.

 

* Matéria supervisionada por Italo Charles e Daniela Reis

 

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Por Ana Paula Tinoco

A diversidade desembarca em Belo Horizonte (MG) com o Festival TransArte. Entre os dias 4 e 12 de outubro, produtores, artistas e público, pretendem dialogar e explorar temas relacionados a identidade de gênero e sexualidade com espetáculos teatrais, performances, exposições, shows, bate papos e oficinas.

O projeto TransArte que nasceu no coração da Lapa, no Rio de Janeiro (RJ) em 2008, pelas mãos de travestis e transexuais, antes chamados de “Damas em Cena” cresceu e transformou-se em Festival em 2014, com apoio de várias instituições como Sesi Cultural (Rj), Instituto do Ator e Universidade Veida de Almeida. O TransArte busca através da arte, da música e das performances colocar em prática a discussão sobre valores como: o respeito às diferenças, a não-violência, o acesso aos bens culturais, a igualdade de direitos e a liberdade de expressão.

Em sua segunda edição, o festival traz para a capital mineira, cerca de 50 produções com mais de 100 artistas. O produtor e fundador e mestre de artes, Douglas Resende entende que existe uma diversidade de eventos com a temática da identidade de gênero e sexualidade e ressalta que o grupo é resguardado com “seriedade, respeito e comprometimento por todos os seus apoiadores”.

Para ele, é o amor pela arte é o que faz com que ele e outros artistas sigam com o projeto. “Esses são os primeiros guerreiros, os resistentes, os que veem na arte a possibilidade de mudança para uma vida melhor. São nossos primeiros apoiadores.”.

Ministério da Cultura e a Funarte também compraram e abraçaram a ideia do coletivo, sendo eles, os apoiadores institucionais. “Eles compraram a ideia devido a relevância e excelência da iniciativa”, destaca Resende que completa orgulhoso: “O projeto obteve a pontuação máxima na licitação.”.

A diversidade de artistas

A seleção dos artistas passa por uma curadoria que busca a multiplicidade existente em diferentes grupos. “O processo tenta abarcar uma pluralidade de vozes, garantindo um diálogo mais consistente e uma troca produtiva.”, explica o produtor Douglas Resende que garante, “A escolha também sempre considera o que as pessoas querem falar, o que elas querem dizer”.

 

De acordo com a também produtora, Dandara Vital, um evento desse porte tem uma grande relevância para a sociedade pois ele também foca na capacitação de pessoas trans e travestis, mostrando que o nosso lugar é onde a gente quer estar: “Acredito na arte como forma de transformação, temos a possibilidade de atingir pessoas, e assim poder incentivar a não desistir, a resistir.”.

 

Público e expectativa

 

Quando questionados sobre o que o público pode esperar, Douglas Resende revela seu desejo de que a inclusão com o TransArte alcance não só os artistas, mas também os visitantes das oficinas, bate-papos e shows. “Espero que se divirtam, que façam amizades, que conheçam pessoas novas, façam trocas. Espero também que diferentes públicos compareçam ao evento, já que ele preza a diversidade e, portanto, o respeito às diferenças como caminho para uma sociedade mais justa e mais inclusiva.”, finaliza.

 

Drag-se

 

Entre vários grupos e artistas que irão participar da segunda edição do TransArte um deles é a Drag-se, criado em 2014 como “um convite a liberdade”. Segundo Bia Medeiros, uma das fundadoras da marca, o movimento Drag-se celebra a diversidade através da arte, cultura e entretenimento.

Antropóloga e documentarista, Bia Medeiros compartilha a sua experiência e revela como será a participação do grupo no evento. “A Drag-se foi o nosso primeiro projeto voltado para a criação na internet e o YouTube veio como uma das melhores ferramentas para nos consolidar como um canal de referência na arte Drag brasileira.”. De acordo com uma das fundadoras, o Drag-se participa do TransArte em duas etapas: “A primeira será no simpósio na mesa ‘Encontro de YouTubers’ que a Drag-se vai dividir a mesa com o youtuber Lucca Najar do canal Lucca Najar e em um debate sobre internet, ativismo, como a causa LGBTQIA pode ser beneficiada pelo ativismo online. Já a segunda participação será em novembro, em que participaremos como jurados do concurso Transarte Drag-se, lá o público poderá conhecer Marco Aurélio, nosso produtor, Betina Polaroid, nossa drag fotógrafa e Ravena Creole, a drag do povo.”.

 

Serviço:

A programação completa com locais, horários e datas aqui: TransArte.

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Imagem retirada: Arco-íris/ UOL Blog

No dia 23 de agosto, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG – lançou o Programa de Pró – Equidade de Gênero e Raça com o objetivo de discutir assuntos que giram em torno de transexualidade, racismo, pessoas com deficiência e gênero feminino. Com um comitê formado por profissionais do Banco, a ação foi dividida em quatro módulos e acontece no auditório da própria instituição.

Segundo o presidente do BDMG, Marco Crocco o senso de justiça é o tema central da pauta da atividade realizada pelos profissionais do Banco: “A diversidade produtiva, cultural, de gênero, raça e orientação sexual é elemento de desenvolvimento. A atividade da instituição é promover avanço social como inclusão, respeito à diversidade e garantir direitos.”.

Na quarta-feira, 24, iniciou-se o primeiro módulo que fala sobre transexualidade. Essa semana, dando continuidade à programação, os palestrantes farão um ciclo de palestras sob o tema: visibilidade travesti e transexual, com as abordagens “saúde, identidade e violência”, hoje 30, e na quarta, 31, “Mercado de Trabalho e Acesso à Educação”. Com entrada franca, não é necessário realizar inscrições para participar.

O programa que terá continuidade em outubro e dezembro irá abordar assuntos relacionados ao bem-estar de pessoas com deficiência. Em 2017, no primeiro semestre, o BDMG abrirá discussões abordando racismo e gênero feminino.

Programação: 

23/08 – 18h30

Abertura oficial do Programa de Pró-Equidade

24/08 – 18/30

Apresentação da peça Flor de dama, com o ator Silvero Pereira

Projeção de fotografias de Lucas Ávila, projeto “Elas Madalenas”

30/08 – 18h30

Módulo 1 – “Visibilidade Trans”

Mesa 1: “Saúde, identidade e violência”

Convidados – Anyky Lima, Sissy Kelly, Paulo Bevilacqua, Raul Capistrano, Sofia Favero, Vanessa Sander

31/08 – 18h30

Módulo 1 – “Visibilidade Trans”

Mesa 2: “Mercado de trabalho e acesso à educação”

Convidados – Sayonara N. B. Nogueira, João W. Nery, Daniela Andrade, Maria Clara Araújo, Rafaela Vasconcelos Freitas

 

Reportagem: Ana Paula Tinoco

Fonte: Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG

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A partir desta quinta-feira, 8, até o dia 26 de Outubro a Casa Una de Cultura recebe o III Mês da Diversidade Casa Una. Realizado pelos projetos Una-se contra a LGBTfobia e Jedi  – ambos projetos de extensão do Instituto de Comunicação e Artes do Centro Universitário Una. O evento oferecerá ao público exposições, debates, bate papos, exibições de filmes, mesas redondas e intervenções. Afetos, comunicação e políticas serão os focos deste ano.

Na estreia, às 19 horas de hoje, o tema: “Mulheres negras e racismo”, será discutido na mesa redonda “Que cabelo é esse?!”, trazendo ao debate o racismo nada cordial contra mulheres negras.

Para o bate papo foram convidadas Jessica Pinheiro e Stefaniny Ratto, ambas fotógrafas e publicitárias, idealizadoras do projeto NÓS e Marina Gazire, professora do Instituto de Comunicação e Artes do Centro Universitário Una, mestre em comunicação e semiótica e Jornalista freelancer.

O evento, que vai até a última semana de Outubro, será realizado na Casa Una Centro de Cultura e terá entrada franca sujeita à lotação.

Endereço: localizada na Rua dos Aimorés, 1451 – Lourdes.

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Veja a programação completa:

8 de Outubro (quinta) – 19h

Mesa redonda “Que cabelo é esse?!”

Com: Jessica Pinheiro, Stefaniny Ratto e Marina Gazire.

22 de outubro (quinta) – 19h

Mesa-redonda A pessoa com deficiência e seu processo de inclusão na Educação Superior: a relação entre os discentes.

Com: Alexandre Ferreira Campos e Luiz Henrique Carneiro Campos.

26 de outubro (segunda) – 19h

Exibição do Documentário “Nossos filhos”

Após a exibição do filme, haverá uma roda de conversa com o diretor.

(2015; 85 min.)

O documentário aborda, de forma delicada, o universo de cinco mães que, em determinado momento da vida, tiveram de lidar com a orientação sexual de seus filhos e filhas. Do momento da descoberta ao enfrentamento dos preconceitos contra gays e lésbicas, o filme do jovem diretor Robert Filgueira Jr., recém-formado em Cinema pela Una, é um mergulho em histórias que celebram o amor entre mães e filhos.

Por Marina Rezende