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ethan hawke

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Por Paulo Roberto Lima

Ao longo de doze anos, o diretor , conhecido então por filmes como Jovens, Loucos e Rebeldes, de 1993, e Antes do Amanhecer, de 1995, encontrou-se com uma equipe de filmagem (entre eles o ator Ethan Hawke, com quem que já trabalhara) e filmou durante algumas semanas de cada ano, partes do que mais tarde seria o filme Boyhood.

Quando de seu lançamento, Boyhood despertou muita curiosidade pela forma como sua produção foi conduzida. A ideia de se criar uma obra captando o envelhecimento gradual de suas estrelas em tempo real impressionou e o filme ganhou destaque na temporada de premiações, chegando a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme do ano de 2014.

Mas aqui, por enquanto, deixemos de lado tanto a questão de marketing quanto a polêmica que se seguiu. É claro que a logística de uma produção feita ao longo de doze anos está longe de ser fácil, e é justo que só por conta disso o filme ganhe repercussão. Mas, e a parte artística? Qual o impacto desta escolha?

Em Boyhood acompanhamos a vida do personagem principal, Mason (Ellar Coltrane), durante uma década. Ao longo das quase três horas de filme, vemos Mason crescer de uma criança, passando por todo o processo da pré-adolescência/adolescência, até virar um jovem adulto entrando na faculdade.

Junto a ele, também acompanhamos o crescimento (e envelhecimento) das pessoas de sua família, da separação, adição de novos integrantes, brigas, brincadeiras, etc. Não há nada de atípico na vida destas pessoas, ninguém é excepcional, ninguém é especial, nem tem superpoderes. Estas pessoas são comuns, com problemas mundanos. Ou seja, o foco do filme é o próprio tempo, mais do que as personagens. Assim, Linklater tenta montar um retrato de família simples, um coming of age do personagem principal. Com isso, a alternativa de se filmar o crescimento real do ator Coltrane cria um paralelo com a história de seu personagem no filme, afinal, também testemunhamos o coming of age de Coltrane.

Aliás, não só o de Coltrane, mas como de todos os atores que compõem sua família. Se Ethan Hawke começa o filme ainda um jovem adulto, termina-o com linhas de expressão no rosto de um adulto entrando na meia idade. Patricia Arquette é uma mãe jovem e esbelta e ao final temos uma mulher madura, de rosto já marcado.

E é nisso que a ideia de se gravar o envelhecimento em tempo real dos atores se mostra pertinente. Podemos sentir o peso do envelhecimento dos personagens através disso. As rugas em seus rostos são reais, a passagem de tempo é real. A humanidade que isso traz aos personagens do filme é a diferença que esta escolha faz. Ao final do filme, temos a lembrança daquele menino que conhecemos duas horas e meia antes e entendemos que o jovem a ponto de entrar na faculdade é a mesma pessoa, e que o tempo passado para o personagem foi o mesmo para o ator. É esta noção de tempo que justifica e aprofunda o filme e sua produção.

Portanto, para ilustrar, uma cena do início do filme e outra do final:

Mas Boyhood não foi a única vez que Linklater explorou essa ideia. Anos antes ele dirigiu o que viria a ser a primeira parte de uma trilogia, em que cada filme foi produzido com intervalo de nove anos acompanhando o relacionamento entre os personagens encarnados por Ethan Hawke e Julie Delpy.