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Por Daniela Reis 

Hoje, 01 de dezembro, no Dia Mundial de Luta contra a AIDS, trouxemos uma entrevista com a médica infectologista do Hospital Sofia Feldman, Bárbara Silveira Faria Salgado, que explica sobre gestantes soropositivas, os cuidados e muito mais. Confira!

Como as gestantes contaminadas com vírus HIV fazem para que o bebê não seja portador da doença? Quais os principais cuidados que a mulher portadora de HIV precisa ter durante a gestação? 

Gestantes sabidamente HIV positivo devem realizar o pré-natal em centro especializado, fazer uso das medicações antiretrovirais regularmente permitindo que a carga viral se mantenha indetectável, utilizar preservativo nas relações sexuais durante a gestação evitando adquirir outras infecções sexualmente transmissíveis. Além disso, comunicar na maternidade sobre o diagnóstico possibilitando que todos os cuidados com o bebê sejam realizados na sala de parto e não amamentar.

Gestantes HIV positivo que fazem o acompanhamento adequado e recebem os cuidados na maternidade, a chance de transmissão para o bebê é próxima de zero. Todos os bebês filhos de mãe HIV positivo devem ser encaminhados ao centro de referência com infectologia pediátrica.

 

Uma mulher com HIV pode ter uma gravidez tranquila e sem grandes intercorrências?

Sim. É importante realizar o teste rápido de HIV na primeira consulta de pré-natal, possibilitando o diagnóstico e início da terapia antiretroviral precoce. No caso de mulheres que já fazem uso do tratamento, deve-se manter o uso regular da medicação. O principal fator de risco para transmissão do bebê é o valor de carga viral de HIV no sangue materno, fazendo uso regularmente da medicação, esta carga viral se torna indetectável, reduzindo a chance de transmissão.

 

Quais são as principais ações e estratégias necessárias com uma mulher que vive com HIV e quer engravidar?

As intervenções de planejamento reprodutivo devem ser individualizadas de acordo com cada situação apresentada, levando-se em conta as vulnerabilidades sociais e individuais. Para a concepção, deve ser ofertada orientação desde o período de planejamento reprodutivo até o pré-natal, parto e puerpério, com informações sobre estratégias de redução da transmissão vertical do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, bem como para as parcerias sexuais. Importante adequar medicações de potencial teratogênico, quando for o caso.

 

Se a mulher é HIV positivo e seu parceiro não, como planejar a concepção para que ele não seja infectado? Em um cenário em que o homem é HIV positivo e a mulher não, como proceder?

As orientações quanto à saúde sexual de parcerias sexuais sorodiferentes consiste em garantir que o parceiro com HIV esteja em tratamento regular com antiretrovirais e  assintomáticos, atualizar situação vacinal, assegurar que tenham pelo menos duas cargas virais indetectáveis consecutivas, sendo a última com até seis meses de realização; garantir que tenham exames negativos para sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis.

A boa adesão aos medicamentos e a manutenção da carga viral HIV indetectável reduzem o risco de transmissão sexual do HIV a níveis insignificantes

 

Qual a importância do pré-natal para as mulheres soropositivas?

Gestantes diagnosticadas com HIV devem realizar o pré natal em serviço especializado para avaliação das indicações das medicações para tratamento e efeitos colaterais.

Deve-se realizar um acompanhamento compartilhado, em conjunto com a unidade básica de saúde.

 

Quando a gestante só descobre o HIV já durante os exames de pré-natal, existe algum cuidado específico?

O cuidado é o mesmo para todas as gestantes com diagnóstico de HIV, ressaltando a importância da boa adesão ao tratamento e consequentemente reduzindo a chance de transmissão para o bebê.

Importante que o profissional de saúde estabeleça uma boa relação com o paciente, com uma linguagem acessível para explicar os aspectos essenciais da infecção causada pelo HIV, bem como a importância do acompanhamento clínico-laboratorial e do uso da medicação contribuindo para a adesão ao tratamento e ao seguimento.

Sabe-se que mulheres que iniciam o pré-natal sabidamente HIV, com carga viral indetectável, a chance de transmissão para o bebê é muito baixa. Por isso é importante a testagem universal da população, para que seja possível um diagnóstico precoce e início de tratamento. Atualmente, o ministério da saúde recomenda a testagem anual para adolescentes e jovens e semestral para pessoas do grupo de risco.

 

A mulher soropositiva pode amamentar?

Não, está contra indicado em todas as mães HIV positivo, independente da carga viral e do uso de ARV.  O fato de a mãe utilizar ARV não controla a eliminação do HIV pelo leite, e não garante proteção contra a transmissão vertical. Sendo assim, toda puérpera vivendo com HIV/aids deve ser orientada a não amamentar. Ao mesmo tempo, ela deve ser informada e orientada sobre o direito a receber fórmula láctea infantil. São terminantemente contraindicados o aleitamento cruzado (amamentação da criança por outra nutriz) e o uso de leite humano com pasteurização domiciliar.

Em países de baixa renda como por exemplo a África a amamentação é liberada uma vez que a criança tem maior risco de complicação devido a desnutrição e anemia, então recomenda-se o uso de medicação para essa mãe na tentativa de reduzir a transmissão para seu filho. Essa recomendação é exclusiva para estes países.

 

Explique como funciona a Terapia Antirretroviral (TARV) na gestação.

A TARV é indicada para todas as pessoas com HIV, independente do estágio clínico, tendo como principal objetivo reduzir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida. Em gestantes está indicada durante a gestação visando reduzir a carga viral de HIV materna e consequentemente a transmissão para o bebê. Deve ser mantida também após o parto.  A incidência de reações adversas em gestantes a medicamentos ARV é baixa, além de pouco frequentes, os efeitos adversos geralmente são transitórios e de intensidade leve a moderada, sendo bem tolerados.

 

Como é a assistência da mulher com HIV durante o trabalho de parto e qual a melhor via de parto a ser adotada?

A via de parto depende do valor da carga viral da paciente, carga viral alta ou desconhecida recomenda-se cesariana, já carga viral indetectável ou baixa (<1000 cópias) a indicação da via de parto é obstétrica podendo ser indicado parto normal.

Para as mulheres que estão em uso de TARV, os medicamentos deverão ser mantidos nos horários habituais, mesmo durante o trabalho de parto ou no dia da cesárea eletiva.

Vários cuidados são realizados na sala de parto de um pacientes HIV, tais como contraindicar procedimentos invasivos, evitar uso de fórceps, evitar toques desnecessários, evitar bolsa rota prolongada, a ligadura do cordão deve ser imediata, recomendado banho precoce do recém nascido assim como iniciar a profilaxia para a criança conforme a classificação de risco.

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Primeiro de dezembro é conhecido como a data que marca a luta contra a Síndrome de imunodeficiência adquirida (Aids)

 

Por Italo Charles

Há muitos anos falar sobre Aids e HIV era visto como tabu. Muitas pessoas fugiam desse debate, mas, ao longo do tempo, visto a necessidade de falar sobre a doença que era temida e considerada a doença dos “gays”, as manifestações para disussão se tornaram pauta.

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – mais conhecida como AIDS em inglês ou SIDA em português – é causada pelo vírus HIV que atinge o sistema imunológico do ser humano. Entretanto, o que muitos não sabem é que quem contrai o vírus HIV não necessariamente será acometido à AIDS.

A ciência e a medicina se evoluíram muito ao longo dos anos e com isso têm proporcionado às pessoas soropositivas uma vida saudável. Atualmente, as formas de tratamento e cuidados para os pacientes têm sido de grande eficácia, diferente das situações ocorridas até o final da década de 1990 quando não se sabia muito e não havia tratamentos eficazes.

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, há no Brasil aproximadamente 900 mil pessoas com HIV, desse montante 642.362 mil pessoas estão em tratamento e, no último ano (2019)  foram diagnosticados 41.919 novos casos.

Vivência – O diagnóstico da infecção por HIV, para muitos soa como “um fim”. Não diferente para João (nome fictício para manter em sigilo a identidade do entrevistado), que por um tempo viu a sua estimativa de vida se esvair devido ao diagnóstico e a situação na qual foi exposto.

Em 2017, no mês de novembro, João passou por uma situação que jamais imaginaria. Com 21 anos, em uma festa após ter bebido muito, ou supostamente ter sido drogado por algo na bebida, se sentiu mal até que os amigos o colocaram em um quarto para descansar. Mas, no meio da noite ao acordar no susto, percebeu que havia alguém sobre ele no ato de estupro. Ainda sob efeito do álcool ou talvez do entorpecente que pudera ter sido acrescentado em sua bebida não teve forças para reagir.

“Na manhã seguinte, juntei minhas coisas e fui embora dali o mais rápido que pude, sem que ninguém me visse. Nunca havia me sentido tão mal em toda a minha vida. Estava com muita vergonha e raiva de mim mesmo”, desabafa.

Na época, o jovem que hoje está com 24 anos, não tinha muitas informações sobre HIV/AIDS e consequentemente sobre os meios para minimizar os riscos após a exposição. Dessa forma, por se sentir envergonhado e culpado não contou a ninguém e sequer sabia como procurar ajuda.

Passado o tempo, ao se relacionar com um rapaz – aproximadamente três meses após o estupro – este mesmo rapaz se viu com alguns sintomas e resolveu procurar o médico e fazer exames, ao ser diagnósticado informou a João para que pudesse realizar os exames também. Dado o dia, angustiado por ter sido infectado com gonorreia e ao fazer os testes, foi diagnosticado como reagente para o HIV, neste momento viu seu mundo cair. 

“No início foi difícil, confuso… eu havia acabado de passar por um grande trauma e receber a notícia só piorou; eu não conhecia os procedimentos, a quem procurar, se eu deveria contar para minha família ou não, se eu iria morrer pelo vírus, se minha vida mudaria muito ou não e se mudasse, o que mudaria? Além, é claro, a questão do medo, medo de mim mesmo, medo de sempre ser excluído e rejeitado pelas outras pessoas”, explica.

A falta de liberdade para falar do assunto amedronta muitas pessoas e com isso provoca a desinformação. Até o momento em que João teve que enfrentar o medo para fazer os exames, as informações que tinha eram poucas. “Eu tinha muito pouco conhecimento, não estamos mais nos anos 80 e 90, mas ainda há sim muitos tabus e estigmas, como o pensamento de que HIV e AIDS são a mesma coisa, AIDS é uma palavra que assusta pelo seu histórico no mundo, então as pessoas não abordam muito esse assunto; eu por exemplo, não sabia sobre a prep, que é a prevenção que temos disponível para situações de exposição ao vírus, se eu soubesse na época, muita coisa seria diferente”, salienta João.

Enfrentar desafios é parte da vida de qualquer indivíduo, mas para pessoas soropositivas, muitas vezes se tornam muito maiores e temerosas. “A questão mais difícil sobre HIV que enfrentei e ainda enfrento é a questão psicológica, isso te afeta, te deixa pra baixo, você tem medo de ser rejeitado ou discriminado e consequentemente é mais difícil se relacionar com alguém intimamente, você se fecha e teme que alguém entre”.

Mas nem só de desafios a vida é feita. Ao se pensar no acaso e no destino é possível observar que certas situações estão ali para revelar algo de positivo, gerar aprendizados e experiências. “O maior aprendizado é que passei a ser mais grato pelas coisas que antes eu não era, amadureci e fui impulsionado a correr atrás do que eu quero e, com certeza isso me deixou mais forte em alguns aspectos, quando você faz parte de alguma minoria, tem que ser duas vezes melhor pra conseguir metade daquilo que os outros tem, então peguei isso como filosofia e seguir em frente”, conclui.

 

Em entrevista com a médica infectologista, Bárbara Silveira Faria, do Hospital Sofia Feldman, algumas questões a respeito do que se difere a AIDS e o HIV, os meios de prevenção e tratamento foram levantados.

Bárbara Silveira Faria – Médica Infectologista do Hospital Sofia Feldman
  • Quais são os sintomas mais comuns após a infecção de HIV?

Estima-se que 10 a 60% dos indivíduos com infecção precoce por HIV não apresentaram sintomas. 

Em pacientes com infecção sintomática aguda, o tempo normal desde a exposição ao HIV até o desenvolvimento dos sintomas é de duas a quatro semanas, embora períodos de incubação de até dez meses tenham sido observados. 

A maioria dos sintomas associados à infecção aguda por HIV tem resolução espontânea; no entanto, a gravidade e a duração dos sintomas variam amplamente de paciente para paciente.

Uma variedade de sintomas e sinais pode ser observada em associação com a infecção aguda sintomática por HIV. Os achados mais comuns são febre, linfadenopatia, dor de garganta, erupção cutânea, mialgia / artralgia, diarréia, perda de peso e dor de cabeça.

Nenhum desses achados é específico para infecção aguda por HIV, mas certas características, especialmente a duração prolongada dos sintomas e a presença de úlceras mucocutâneas, são sugestivas do diagnóstico.

Além desses sintomas mais comuns, são considerados como apresentações sintomáticas atípicas, infecções oportunistas e manifestações do sistema nervoso central.

 

  • Com qual periodicidade devem ser feitos os testes?

O teste de HIV deve ser realizado para diagnosticar o HIV em pacientes com sinais e sintomas clínicos de infecção aguda ou crônica, bem como naqueles com possível exposição ao HIV. O teste de HIV também deve ser incorporado ao rastreamento de rotina de indivíduos saudáveis, incluindo mulheres grávidas. 

Para pacientes sem fatores de risco para infecção por HIV, é recomendado pelo menos um teste de HIV em adultos e adolescentes de 13 a 75 anos de idade. Além disso, as mulheres grávidas devem ser testadas para o HIV no início de cada gravidez usando uma abordagem de “exclusão”, mesmo que tenham sido testadas durante gestações anteriores. 

Embora o teste único em uma visita de rotina à clínica médica seja razoável para a maioria dos pacientes, testes anuais ou mais frequentes são recomendados para pessoas de alto risco, incluindo:

 

  • Homens que fazem sexo com homens com parceiros sexuais infectados pelo HIV ou com sorologia desconhecida, podem se beneficiar do teste a cada três a seis meses
  • Usuários de drogas injetáveis.
  • Pessoas que trocam sexo por dinheiro ou drogas.
  • Parceiros sexuais de pessoas infectadas pelo HIV, bissexuais ou drogas injetáveis.
  • Pessoas que fazem sexo com parceiros cujo status de HIV é desconhecido.

 

  • Quais são os meios de prevenção?

A melhor técnica de evitar a Aids / HIV é a prevenção combinada, que consiste no uso simultâneo de diferentes abordagens de prevenção, aplicadas em diversos níveis para responder as necessidades específicas de determinados segmentos populacionais e de determinadas formas de transmissão do HIV.

Intervenções biomédicas

São ações voltadas à redução do risco de exposição, mediante intervenção na interação entre o HIV e a pessoa passível de infecção. Essas estratégias podem ser divididas em dois grupos: intervenções biomédicas clássicas, que empregam métodos de barreira física ao vírus, já largamente utilizados no Brasil; e intervenções biomédicas baseadas no uso de antirretrovirais (ARV).

Como exemplo do primeiro grupo, tem-se a distribuição de preservativos masculinos e femininos e de gel lubrificante. Os exemplos do segundo grupo incluem o Tratamento para Todas as Pessoas – TTP; a Profilaxia Pós-Exposição – PEP; e a Profilaxia Pré-Exposição – PrEP.

Intervenções comportamentais

São ações que contribuem para o aumento da informação e da percepção do risco de exposição ao HIV e para sua consequente redução, mediante incentivos a mudanças de comportamento da pessoa e da comunidade ou grupo social em que ela está inserida.

Como exemplos, podem ser citados: incentivo ao uso de preservativos masculinos e femininos; aconselhamento sobre HIV/aids e outras IST; incentivo à testagem; adesão às intervenções biomédicas; vinculação e retenção nos serviços de saúde; redução de danos para as pessoas que usam álcool e outras drogas; e estratégias de comunicação e educação entre pares.

Intervenções estruturais

São ações voltadas aos fatores e condições socioculturais que influenciam diretamente a vulnerabilidade de indivíduos ou grupos sociais específicos ao HIV, envolvendo preconceito, estigma, discriminação ou qualquer outra forma de alienação dos direitos e garantias fundamentais à dignidade humana. Podemos enumerar como exemplos: ações de enfrentamento ao racismo, sexismo, LGBTfobia e demais preconceitos; promoção e defesa dos direitos humanos; campanhas educativas e de conscientização.

Representação gráfica da Prevenção Combinada | Fonte: Ministério da Saúde/ Aids.gov
  • Hoje, as pessoas soropositivas podem viver uma vida comum e saudável?

Apesar de ser uma doença sem cura, quase 40 anos após o começo da epidemia, e com os avanços na medicina, o paciente soropositivo que segue o tratamento corretamente, consegue levar uma vida normal. 

A implementação de testes rápidos que possibilitam o diagnóstico precoce contribui para o  urso da doença, uma vez que o tratamento precoce oferece alguns benefícios, reduzindo eventos clínicos e a mortalidade em pacientes com infecção pelo HIV  

Preconceitos ainda estão muito presentes na sociedade, precisamos desmistificar os estigmas sobre a doença, fazer com que os portadores do HIV consigam falar abertamente sobre o assunto, e mantê-los sempre incluídos na sociedade. 

  • Por que soropositivo?

Chama-se soropositivo um indivíduo portador de anticorpos no sangue que provém a presença de um agente infeccioso. O termo é mais usado para descrever a presença do vírus HIV, causador da Síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), no sangue. 

A AIDS é uma doença crônica e que pode ser potencialmente fatal. Ela acontece quando a pessoa infectada pelo HIV tem o seu sistema imunológico danificado pelo vírus, interferindo na habilidade do organismo de lutar contra os invasores que causam a doença, além de deixar a pessoa suscetível a infecções oportunistas.

Por isso, é importante lembrar que: Ser soropositivo não é a mesma coisa que ter AIDS! Há  soropositivos (termo usado para designar a pessoa infectada pelo vírus do HIV) que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção.  

 

João foi o nome utilizado para preservar a identidade real da fonte.*

 

**A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

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Usar preservativo é melhor maneira de se proteger contra as ISTs

Em 10 anos houve um aumento de mais de 4000% nos casos de sífilis

*Por Sheila Silva

“Foi em novembro de 2017, eu tinha 21 anos na época. Fui a uma festa, na qual acabei exagerando no álcool – ou talvez alguém tenha colocado algo na minha bebida – eu passei muito mal e meus amigos me puseram em um quarto para descansar, pois eu já não estava consciente. No meio da noite, eu acordei e tinha alguém sobre mim, me estuprando. Na manhã seguinte, juntei minhas coisas e fui embora dali o mais rápido que pude, sem que ninguém me visse. Nunca havia me sentido tão mal em toda a minha vida. Estava com muita vergonha e raiva de mim mesmo, por isso não contei a ninguém. Na época, eu não tinha acesso e nem conhecimento a respeito da PEP (Profilaxia pós-exposição), então acabei não fazendo nenhum tipo de exame ou acompanhamento médico, só segui a vida da melhor forma que pude”, relata “O.D”, jovem de 23 anos que prefere manter sua identidade em sigilo.

 

Todos os dias surgem um milhão de novos casos de IST’s (Infecções Sexualmente Transmissíveis) curáveis em todo o mundo, em homens e mulheres de 15 a 49 anos, segundo dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em junho de 2019. A mesma organização também divulgou que o número de infectados por HIV caiu 16% em todo o mundo, nos últimos 10 anos. O Brasil, porém, não segue essa tendência, pois aqui foi registrada uma alta de 21% nos casos no mesmo período.

 

Apenas em novembro do ano passado o Ministério da Saúde lançou a primeira campanha exclusiva de prevenção de ISTs. Focada em jovens de 15 a 29 anos, a campanha carregava o slogan “Sem camisinha você assume o risco” e apostava no choque e aversão de pessoas reagindo às imagens de algumas infecções.  A intenção era fazer com que os jovens procurassem as imagens na internet, e tivessem na repulsa, um motivo para se proteger.

 

Para os especialistas, o maior responsável por esses números é o chamado comportamento de risco, caracterizado principalmente pela negligência no uso do preservativo e a relação com múltiplos parceiros. Porém, nem todos os infectados se encaixam nesse perfil. É muito comum encontrar pessoas que contraíram ISTs dentro de um relacionamento, como é o caso de Marta de 34 anos e Daniel de 33 (nomes fictícios, pois ambos preferem não se identificar). Marta se relacionou durante anos com o pai de sua filha, e conta que contraiu a sífilis dentro um relacionamento que para ela, era monogâmico. Após perceber os sintomas, ela procurou atendimento, acreditando estar com candidíase, infecção fúngica bastante comum entre mulheres, ou algo do tipo. O diagnóstico foi choque, pois além de ter que lidar com a doença, ainda teve que assimilar a infidelidade do companheiro. Marta tentou manter a relação, mas a desconfiança falou mais alto. “Eu não sabia o que fazer quando a médica me falou que eu estava com sífilis, achei que fosse outra coisa”, conta.

 

Já Daniel, adquiriu gonorreia em um relacionamento aberto. O combinado era que as partes usassem preservativo ao terem relações com terceiros. “Eu comecei a ‘ficar’ com uma menina que já tinha um relacionamento aberto. Nos aproximamos bastante e eu acabei ocupando o lugar de segundo namorado dela, porém mantendo o acordo de sempre usar camisinha ao ter relações com pessoas de fora do relacionamento.”

 

Ele conta ainda que, certa vez, ela viajou para uma convenção da faculdade e lá acabou ficando com um outra pessoa. “Ela me contou, porém tudo muito vago, não imaginei que ela pudesse ter descumprido o acordo. Nós tivemos relação e, em torno de três semanas depois, percebi  uma secreção de cheiro desagradável nas minhas partes íntimas. Fui ao médico e ele confirmou que eu estava com gonorreia. Entrei em contato com ela, conversamos, e depois disso não tivemos mais contato sexual. Não fiquei bravo e nem briguei, mas fiquei um pouco decepcionado, pois confiava nela.”

 

Para o médico infectologista, Leandro Curi, foi-se o tempo em que essas doenças eram quase que exclusivas de certos grupos sociais. “Antes havia uma ideia que apenas homens que transavam com homens e profissionais do sexo contraiam e portavam tais doenças. Hoje eu atendo pacientes de todas as idades, raças, orientações sexuais e classes sociais”, explica.

 

Para Curi, além dos jovens, as ISTs, principalmente o HIV, vem aumentando também entre idosos, e isso se deve aos medicamentos para ereção, que apesar de melhorarem a saúde sexual dessa parcela da população, contribuiu para o aumento dos números, pois esses pacientes tendem a não se cuidar por acreditar que só jovens contraem doenças no sexo.

 

“Atualmente está havendo uma explosão de sífilis, não que se possa esquecer das outras ISTs, mas é realmente assustador, para cada novo caso de HIV, há 9 de sífilis.” O médico considera que o grande responsável pela negligência dos jovens é a falta de medo “vimos o número de infecções por HIV cair, e agora estamos vendo crescer novamente. O motivo é que os mais novos não têm medo, pois eles não viram o que os mais velhos viram. Hoje praticamente ninguém mais morre de Aids, e isso é muito bom, porém faz com que os mais jovens não temam contraí-la. Muitos dos meus pacientes adolescentes recebem o diagnóstico do HIV como se estivessem ouvindo que tiraram uma nota vermelha em matemática” diz Curi.

 

“Em fevereiro do ano seguinte, eu tive que fazer alguns exames médicos. Então decidi ir ao centro de testagem e aconselhamento, CTA, pois havia alguns meses que não fazia nenhum teste, algo que eu fazia com frequência, pois sempre me cuidei muito. Foi aí que descobri ser HIV positivo. No início, meu mundo caiu, eu fiquei sem chão. Até aquele ponto, ninguém sabia sobre o estupro, era algo que eu tinha guardado só pra mim, pois tinha abalado meu psicológico profundamente. Decidi me abrir com meus dois melhores amigos, um deles sendo meu ex, e o apoio deles foi essencial naquele momento. Outra pessoa fundamental foi a minha mãe, ela não me julgou em momento algum, e me deu todo o apoio. Graças a essas pessoas eu fui capaz de, com o tempo, me aceitar naquela condição. Desde o momento em que eu me descobri HIV positivo até quando consegui parar de me odiar e me culpar por isso, os três foram meus pilares. O que mais me afetou não foi o preconceito que veio de fora, mas sim o que eu tinha contra mim mesmo. Não conseguia me aceitar como HIV positivo e me culpava muito por isso. Ainda hoje, sinto dificuldades em me relacionar com outras pessoas, coisa que eu não tinha antes. Sempre fui muito aberto e tinha facilidade em namorar, mas hoje sinto receio de como a outra pessoa vai reagir ao descobrir”, diz O. D.

 

Curi aconselha que toda pessoa que teve a relação desprotegida e suspeita que possa ter contraído uma IST, deva se dirigir o mais rápido possível para uma unidade de pronto atendimento, UPA, para fazer uso da PEP, que consiste em uso de medicamentos para evitar que a pessoa venha a contrair diversos tipos de infecções, entre elas o HIV. Já no caso da pessoa que está desconfiada de ter contraído a um tempo maior, ela pode se dirigir a um centro de testagem especializado, que já tem em quase todos os municípios do estado, e em 15 minutos a pessoa terá o resultado. Em caso positivo, será encaminhada para tratamento pelo SUS. Para ele, a educação sexual nas escolas é o melhor caminho para conscientizar os jovens dos riscos de uma IST e também de uma gravidez não planejada. “É necessário mostrar desde cedo a importância do preservativo, e mostrar para o adolescente que a camisinha é um parceiro, algo que existe para protegê-lo. O governo e a mídia também têm seu papel, devendo trazer as campanhas de prevenção cada vez mais para a realidade do jovem, para isso usando a internet, a TV e o rádio.” Conclui o médico.

 

“Se eu pudesse falar algo para o “eu do passado”, eu falaria para o meu eu de quando recebi o diagnóstico, diria para ele ser mais Gentil consigo mesmo, não se culpar tanto, não ser tão cruel com ele mesmo, porque na época ele foi. Então, eu acho que isso ajudaria bastante no processo de aceitação e de evolução disso tudo”, desabafa O. D.

 

Prevenção

As UBS (Unidades Básicas de Saúde) distribuem gratuitamente preservativos, todos devidamente liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. As unidades também dispõe de profissionais qualificados para testar, identificar e tratar ISTs, assim como Núcleo de Planejamento Familiar e distribuição de contraceptivos orais.

 

Para mais informações, busque a UBS mais próxima.

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Teste rápido de HIV, Hepatite B e C e Sífilis - Foto:Cristine Rochol / PMPA

O novo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) será oficialmente inaugurado próximo ao carnaval, mas, já está funcionando. Destinado para diagnóstico e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), é possível realizar gratuitamente os exames para Hepatite B e C, Sífilis e HIV. O CTA fica localizado no 5º andar dos Centros de Saúde – Centro-Sul da Rua dos Carijós, 508, no centro da capital mineira.

O atendimento no CTA é totalmente sigiloso e tem como objetivo diagnosticar e aconselhar as pessoas sobre as dsts, independente do resultado do exame. Os testes demoram, em média, 45 minutos. Os exames são simples, basta um furo no dedo para coletar uma amostra de sangue para o diagnóstico de Hepatite B e C, Sífilis e HIV. O teste é seguro.

Segundo a coordenadora e farmacêutica do CTA, Rosangela Nascimento, as pessoas com resultados positivos são encaminhadas a um infectologista ou para suceder a exames complementares. “Daqui a pessoa é encaminhada para os serviços de referência. Às vezes, ela vai para a fila do serviço especializado, mas, é orientada até sair a consulta”, explica.

O número de DSTs aumentou nos últimos anos por falta da utilização de camisinha. Em 2016, o estado de Minas Gerais registrou 8027 casos de sífilis. Já em 2015, Boletim Epidemiológico Mineiro (BEM) informa que desde 2010 o número de casos de HIV crescem 10% ao ano. O diagnóstico antes da evolução de um vírus, pode proporcionar uma vida saudável mesmo com uma de qualquer doença.

O CTA começou a funcionar no dia 29 de dezembro e de acordo com Nascimento, como ainda não foi inaugurado, a procura está sendo mais baixa que os outros centros de testagem.  Porém, mesmo que o movimento esteja sendo baixo,ela diz que do dia 29 de dezembro até 17 de janeiro já atenderam quase 200 pessoas.

O horário de atendimento para coletagem é de 08 horas às 12 horas e de 13 horas às 16 horas, mas o CTA fica aberto até as 17 horas.

Texto: Amanda Eduarda

Começou nesta segunda feira, 26, a campanha da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) que visa a conscientização da população a respeito da prevenção e tratamento do vírus HIV. Durante toda semana, das 8h às 17h, a Coordenação de DST/Aids da SMSA realizará testes grátis no segundo andar da rodoviária, que fica no centro da capital. Quem passar pelo local ainda receberá preservativos e informativos.

De acordo com o portal PBH, atualmente, em Belo Horizonte, existem 8.087 pessoas em tratamento antirretroviral. E quanto aos números de casos registrados na cidade, eles afirmam que foram constatados 523 novos casos de Aids em 2011, e este ano, até o momento, foram confirmados 365 novos casos.

Ainda de acordo com o portal da secretaria, durante o período, o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e a Unidade de Referência Secundária (URS) Centro-Sul irão intensificar a oferta de teste rápido para HIV/Aids na suas unidades.

A iniciativa faz parte dos eventos do Dia Mundial de Luta contra a Aids, que é comemorado no dia 1° de dezembro. Neste dia a Coordenação de DST/Aids estará, de 9h às 12h, na Praça Rio Branco, distribuindo preservativos, informativos e camisas.

Por Ana Carolina Vitorino

Foto: Internet