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HQ’s

Por Ked Maria

Existem várias maneiras de contar uma história, podem ser através de causos, poesias, prosas e textos, porém, quando a narrativa se une com os desenhos para transmitir uma mensagem, as coisas ficam mais divertidas, fluidas e às vezes até mais leves. As histórias em quadrinhos ou as HQs fazem parte da vida de muitos brasileiros, na volta para a casa dentro do ônibus ou do metrô, é comum encontrar algum leitor ávido por aventura imerso nas páginas desenhadas.

Wendrick Ribeiro de 23 anos, consome HQs e diz que a produção nacional é muito boa, porém falta um ar de comercialização. No cenário brasileiro as revistas em quadrinhos se restringem a publicações independentes, talvez com investimento das editoras ou instituições de mercado intensifique o que traria um aumento exponencial nas publicações. Sobre o conteúdo o publicitário ressalta que os quadrinistas buscam inspirações estrangeiras o que acaba seguindo um padrão norte-americano. Para ele, os quadrinhos estão caminhando para a democratização, “Os quadrinhos atualmente ganharam uma impulsão com a internet, porém essa impulsão fez com que alguns grupos que não tem acesso ou que não tem contato de forma complexa com a internet em sua totalidade, não conseguem serem absorvido.”

 

“Ainda não é tão democrático para quem produz, afinal os quadrinhos
que estão em evidência tem um público muito pequeno que é
de uma faixa com o poder aquisitivo um pouco maior.” Wendrick Ribeiro

 

 

As histórias em quadrinhos entraram na vida do quadrinista Luan Zuchi, ainda na infância, com a coleção da revista Tex”. “Esse encontro com o universo dos quadrinhos me fez perceber que a ilustração poderia servir para contar histórias, causar sentimentos, tocar o outro com uma boa narrativa.”, explica o desenhista  de 22 anos, que lembra: “O interesse pelas HQs veio aos sete anos, com cópias de desenhos por observação e com as tentativas de ampliar essas cópias”. O foco sempre foi desenhar quadrinhos, destaca o jovem que entrou em uma faculdade de design na busca de uma base teórica. Hoje Zuchi tem 10 histórias publicadas sobre diversos temas e seu último projeto é a HQ Kong Comics, onde o autor promete disponibilizar seus quadrinhos para a leitura digital. “Todos esses projetos foram publicados de modo independente, ou seja, eu mesmo bancando a impressão, naqueles que fui responsável por roteiro e arte também fiz o projeto gráfico e cuidei, literalmente, de todas as etapas, da ideia à venda. ”, afirma Luan.

 

“Essa fusão de imagem e texto é instigante para quem lê e traz
o indivíduo para dentro da narrativa, já que é na cabeça do leitor
que a ação sugerida nos desenhos se desenrola.” Luan Zuchi

 

A vontade de tocar o próximo, causar alguma reflexão ou risos, são algumas das razões que motivam o ilustrador, já as ideias para os roteiros variam em cada edição, como sentimentos, situações inusitadas ou até mesmo um ponto vista sobre a vida em sociedade. “Acredito que o dever de um autor é filtrar o mundo ao seu redor e entregar ao leitor o seu ponto sobre aquilo e, se tudo der certo, gerar uma reação em quem consome.”, explica Zuchi e acrescenta que os quadrinhos fazem parte da cultura assim como o cinema, o teatro ou até mesmo os livros, mas ressalta que as características de cada país afetam o conteúdo das HQs. No Brasil, por exemplo as histórias em quadrinhos são associadas ao público infantil, porém para Luan as revistinhas são suporte para contar uma história e nada impede que um adulto se envolva em uma narrativa voltada para a criançada. “Tenho percebido é que temos uma grande oportunidade, de criar quadrinhos que se conectem com as pessoas pelos seus interesses na narrativa, devido à produção diversificada que temos atualmente, de criar quadrinhos para quem ainda não consome quadrinhos seja de super heróis, infantis ou material importado e traduzido por aqui.”.

 

Dificuldades dentro das HQs

Sobre as dificuldades nas produções independentes Luan Zuchi diz que não é na produção que se encontra muitos obstáculos, mas sim na distribuição. O autor alega que a fonte de capital vem com eventos ou financiamento coletivo. Na primeira opção se tem custos como aluguel do espaço, deslocamento, hospedagem, o que impacta diretamente no lucro das vendas, já na segunda opção há um investimento muito grande de tempo e de energia que poderia ser melhor aproveitado no desenvolvimento das histórias.

Outro assunto que instiga o ilustrador é a democratização das HQs, o que foi tema de um dos vídeos postados em seu canal no YouTube. Segundo o quadrinista as histórias em quadrinhos eram vistas como cultura de massa, estavam nos jornais, nas bancas, no mercadinho ou nos postos de gasolina, eram para serem lidas a qualquer momento, por qualquer pessoa. Os quadrinhos de certa forma começaram a se afundar no elitismo das livrarias, nas capas duras e ilustradas, papel bom e preço alto. “As editoras focam no público que já consome quadrinhos e que exige edições luxuosas. Enquanto esse público, que começou a ler na banca, na rodoviária, em edições baratas, se vislumbra com a qualidade gráfica atual e aceita pagar o preço, o novo leitor em potencial acredita que não se publica mais histórias em quadrinhos, simplesmente por que elas foram retiradas do seu campo de visão.”, externa o desenhista e alega que o caminho para reverter esse fenômeno talvez seja produzir narrativas que atraem o público que ainda não lê quadrinhos, uma vez que, todos são leitores potenciais.

“O mundo inteiro está mudando e se adaptando a
esse novo capitalismo tecnológico, os quadrinhos
também estão passando por isso.” Luan Zuchi

 

Para ele há outros vetores que implicam diretamente como as editoras, distribuidoras, lojistas e consumidores, contudo Luan Zuchi acredita que as HQs possuem capacidades incríveis. “Exatamente por essa efervescência que estamos vendo nos últimos anos, com eventos e novos autores surgindo e conseguindo produzir por aqui mesmo, conquistando seu público e mantendo um contato próximo com ele por meio das redes sociais.”.

Julio Almeida de 24 anos, publicou seu primeiro quadrinho na Comic Con Experience de 2017, a revista em quadrinhos se chama “Gie, The Gift”, onde narra a história de uma bruxinha e um desafio para acertar um feitiço. “Nesta história em especial tudo aconteceu muito rápido e não teve uma etapa prévia de preparação e concepts, eu só sentei e fui produzindo uma página atrás da outra. Por trás dessa trama principal eu quis criar uma metáfora sobre amor e afetividade, o que foi bem intuitivo e fluido.”, conta o ilustrador que atualmente trabalha no quadrinho “Nico e Alf”, previsto para este ano, e diz que desta vez anda respeitando melhor as etapas e preparando tudo com mais calma.

 

Inspirar os leitores é uma das motivações de Almeida, o autor propõe reflexões em suas narrativas de uma forma que sejam honestas e que encoraja o consumidor. “Enquanto artista eu me sinto no dever de produzir algo que encante visualmente e que guie esse vislumbre do leitor para uma reflexão sobre algo que seja real no modo como a sociedade funciona ou funcionou algum dia de forma que ele se identifique em algum grau com o que está sendo contado e que essa experiência seja levada para fora da leitura do quadrinho.”, explica o jovem e acrescenta que os quadrinhos instiga a curiosidade, as percepções visuais, a imaginação, fortalece vínculos com personagens e tipos de personalidade.

Para o quadrinista as HQs no Brasil eram dominadas pela produção estrangeira, há uma ou duas décadas atrás dificilmente um título nacional ganhava destaque ou era nacionalmente conhecido se não fosse algum título do estúdio Mauricio de Souza Produções. O que está mudando, o consumo de quadrinhos nacionais cresceu bastante e vem inspirando o surgimento de novos e bons autores. “Eu acredito que estamos nos encaminhando (muito bem) para que as histórias em quadrinhos estejam enraizadas como cultura nossa mesmo, com estilo próprio, sem influências a quadrinhos americanos, europeus ou japoneses.”, afirma Julio e alega que o cenário nacional vem criando personalidade própria.

O quadrinho é sempre muito mais sobre a experiência
por trás
do desenho do que o visual em si, e essas experiências
não podem ser definidas por idade.” Julio Almeida

Dentro das principais dificuldades que o quadrinista enfrenta é a publicação e distribuição, mesmo com o mercado em crescimento há poucas editoras interessadas nesse tipo de mídia. “A principal ferramenta de publicação de quadrinhos nacionais hoje é o financiamento coletivo em plataformas como Catarse, Vaquinha, Benfeitoria, KickStarter.”, afirma ilustrador que completa dizendo que prejudica um pouco a qualidade do material impresso, uma vez que, se trabalha com orçamentos muito apertados.

Sobre a divisão entre o público infantil e o adulto, Almeida diz que o quadrinho é muito rico e diverso, existem cada vez mais títulos com mensagens poderosas. “Eu acredito que essa definição hoje só existe na questão de “classificação indicativa”, pois realmente existem títulos com conteúdo que não são apropriados para o público infantil. Mas, fora esses casos específicos, no geral é uma grande besteira essas divisões.”.

A roteirista norte-americana responsável por histórias do Deadpool, Simpsons e Red Sonja esteve recentemente no Brasil para participar do FIQ e conversou com nossa equipe sobre feminismo e quadrinhos.

 

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A fotógrafa Alexandra DeWitt foi encontrada morta dentro de um freezer. A vítima estava dentro da geladeira do ex-namorado, Kyle Rainer, com sinais de estrangulamento. A descrição acima _ cena corriqueira de violência doméstica _ poderia ter saído das páginas policiais de qualquer jornal diário. Mas não, essa “não é uma notícia real”. Essa descrição, na verdade, estampou graficamente as páginas do volume #48 dos quadrinhos do Lanterna Verde, ano de 1994.

Se você foi leitorx de quadrinhos na década de 1990, talvez, quem sabe, se lembre de que essa época ficou conhecida sob o epíteto “década perdida”. O mercado estava péssimo: a Marvel declarou falência em 1996, o publico dos quadrinhos estava mudando e os super-heróis eram desenhados de maneira anabolizada e hiperssexualizada. Esse cenário de transição deu margem a uma tendência desesperada por dramas mais realistas. Porém, a década de 1990 não foi perdida apenas porque o ramo dos HQ’s como negócio estava mal das pernas. Soma-se a essa conta a espetacularização da morte de heroínas e personagens mulheres para o deleito sádico de leitores misóginos creditados como salvadores de um mercado em suposta decadência. Afinal, arte imita a vida, não é mesmo?

Gail Simone discorda. A época do episódio de Alex DeWitt, algumas perguntas surgiram à mente da roteirista de quadrinhos norte-americana, ao se deparar com a sanguinolenta da morte de Alex DeWitt : “quem escolhe transformar em arte essa realidade? Até quando esse tipo de cena misógina será sinônimo de sucesso com o “público alvo”; o público masculino?”. Simone viu ali, na crueldade fria do assassinato de DeWitt, uma oportunidade. Sua revolta de deu origem a um site chamado “Women in refrigerators” (Mulheres no refrigerador), famoso a partir do ano de 1997. A ideia era a de denunciar a injusta representação das mulheres nas páginas dos gibis. O site de Simone funcionava como apoio para um, então, grupo minoritário de leitoras das editoras Marvel e DC Comics. Simone mal imaginava que um dia seria uma das grandes roteiristas de quadrinhos das empresas que censurava.

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O nome do site  mulheres em refrigeradores se tornou uma expressão amplamente usada na língua inglesa para descrever episódios de machismo. Foi também a partir dali que a futura roteirista alcançou uma carreira séria na crítica a um gênero cada vez mais respeitado por adultxs. Sua coluna “You’ll all be sorry” (Vocês irão se arrepender) passou a ser publicada semanalmente no site especializado Comic Book Resources. Em 2001 ela estreou como escritora do comic Killer Princesses, quadrinho dedicado ao público feminino e publicado apenas nos EUA. Trabalhou como roteirista de episódios dos Simpsons e hoje é uma das estrelas da DC Comics e Marvel, escrevendo para revistas como Deadpool, Aves de Rapina e Red Sonja. Simone esteve na última edição do Festival Internacional de Quadrinhos, que foi dedicado à presença das mulheres nessa indústria para participar da mesa “Fantasia e Quadrinhos”. Em sua breve passagem pelo Brasil, Simone conversou com a equipe J.E².D.I sobre a necessidade do feminismo no mundo nos quadrinhos:

 

th (2)  1) Você trabalha a relação entre quadrinhos e misoginia desde do final da década 1990 quando criou o site “Women in refrgerators” (Mulheres no Refrigerador). Antes disso você sempre já tinha se envolvido com alguma questão feminista?

Não de uma maneira organizada como era no site. Minha avó foi uma sufragista que lutou pelos direitos da mulher ao voto. Ela era uma enfermeira que lutou pelos direitos da mulher ao auxílio saúde e minha mãe foi influenciada por ela. Portanto, eu fui educada a lutar pelos meus direitos e pelos das outras; lutar por aquilo que eu acredito ser o certo. A ideia do site “Women in refrigerators” foi a de indagar o porquê, naquela época, de tantos personagens femininos serem “assinados” porque os “rapazes” não gostavam delas. Já não bastasse o fato de personagens femininos serem uma minoria no mundo dos quadrinhos, essa tendência começou a se tornar frequente. Eu era uma fã da indústria dos quadrinhos e só queria saber o porquê disso estar acontecendo.

2)Você acha que essa tendência de eliminar as heroínas, presente na década de 1990, continua até os dias de hoje? Já tentou fazer uma estatística das mulheres assassinadas nos quadrinhos?

Eu não atualizei o número no site, porém sinto que essa era uma tendência muito específica para aquela década. Eu sinto que a iniciativa do site “Women in Refrigetarors”_ e toda a crítica que essa tendência recebeu naquele período tornou os roteiristas de quadrinhos conscientes de que mulheres também liam quadrinhos e que elas se sentiam pouco representadas por histórias que seguiam esse caminho. Foi uma mudança muito positiva.

3) A expressão “mulheres no refrigerador” passou a ser usada para além dos contextos dos quadrinhos por causa de seu site. Você usa essa expressão para outros acontecimentos referentes a violência contra a mulher?

Eu sinto que isso se tornou um fenômeno e o termo cresceu em estatura. Já escutei advogados usando esse termo. Escutei produtores de Hollywood usar essa expressão também. Tive reuniões com grandes executivos que usaram a expressão “mulheres no refrigerador” sem saberem que a expressão teria sido criada por mim. É um pouco estranho. A ideia do site nunca foi a de livrar as personagens femininas de situações dramáticas ou ruins, mas sim denunciar o que tinha de preconceito e machismo nas histórias.

4) Como foi o início de sua carreira de como roteirista de quadrinhos? Você já se encontrou acidentalmente reproduzindo nos seus roteiros alguma situação machista ou sexista?

Eu comecei minha carreira escrevendo quadrinhos dos Simpsons, depois disso os do Deadpool para a Marvel. A arte para algumas das primeiras histórias que escrevi eram um tanto “bregas”, por assim dizer. O roteiro não era voltado para um público feminino, pelo menos era isso o que os editores pensavam. Mas na medida em que as vendas das minhas histórias começaram a aumentar, eu consegui que as personagens mulheres fossem desenhadas de maneira mais realista. Isso aumentou ainda mais as vendas dos quadrinhos. Eu não me preocupo muito se os quadrinhos que escrevo serão sexistas. Eu não ligo se as pessoas não gostam de um quadrinho que eu considero bom. O que eu quero é que existam mais escolhas para além do machismo; eu quero que surjam mais HQs que não alienem as mulheres. Existe um elemento fantástico nos quadrinhos de super-heróis em particular. Nós esperamos que eles sejam maiores do que a vida. Eu quero apenas que boas histórias cheguem a todo tipo de pessoas possíveis. Por um longo tempo, pouquíssimos quadrinhos eram voltados ao público feminino. Atualmente, este é o seguimento de quadrinhos com maior crescimento de público leitor e eu sinto que faço parte disso, mesmo que seja de uma pequena parte.

5) Pensando que a indústria cria nichos editorais dividindo os leitores entre mulheres e homens, o que torna um personagem feminino diferente de um personagem masculina em termos de ações e objetivos? Ou não existem diferenças em sua opinião?

Eu penso que o objetivo não é o de comparar um personagem masculino com um feminino. Acho que o objetivo é o de simplesmente criar um espectro de personagens disponível desde o começo. Prefiro que existam opções. Uma personagem mulher pode ser brava, alegre, corajosa, covarde, protetora, egoísta, de todas as maneiras possíveis. No mundo dos quadrinhos você tem personagens homens que são feitos de pedra ou fogo, mas a maioria das personagens femininas são demoníacas ou namoradinhas. Eu não entrei para a indústria dos quadrinhos como uma crítica raivosa, eu entrei como alguém que possui um profundo amor pelos personagens e pela cultura dos quadrinhos. Pra mim, a maneira de retribuir esse amor é tentar melhorar os quadrinhos e abrir as portas para um público mais diverso.

6) Qual é a sua quadrinista favorita?

Eu não possuo uma quadrinista favorita, um dos acontecimentos mais incríveis da última década é o de que agora existem muitas quadrinistas para escolhermos. Porém, sou uma fã declarada de G.Willon “Ms. Marvel” Wilson¹, Marjorie “Monstress” Liu², Kelly Sue “Pretty Deadly” DeConnick³, e muitas, muitas outras. Estamos vivendo um tempo de abundância na produção feminina, algo que seria inimaginável há 10 anos. As mulheres têm sido muito requisitadas. Nas convenções de quadrinhos, vemos filas imensas de leitores querendo falar com alguma de nós. É o que eu mais queria quando comecei lá trás.

7) Você tem algum conselho especial para as garotas que estão interessadas em seguir a carreira nos quadrinhos?

Meu conselho para as quadrinistas aspirantes é o mesmo que para qualquer pessoa, independente do gênero. Trabalhe suas habilidades e seja verdadeiro com você mesmo. Você precisa das duas coisas para vencer. Não se consegue ir longe sem essas qualidades.

Por Nina Gazire
Equipe: Amanda Eduarda e Ana Paula Tinoco

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Como uma programação que varia de edição para edição,o Festival Internacional de Quadrinhos – FIQ que ocorre a cada dois anos em Belo Horizonte, começou nesta quarta-feira (11). A 9ª edição do FIQ promete reunir durante quatro dias convidados de relevância nacional e internacional, promover exposições, lançamentos de HQs e livros, feira de publicações, sessões de vídeo, oficinas, palestras, mesas redondas e outras atividades. Entre os convidados deste ano está a quadrinista e integrante do grupos ZiNas, Aline lemos, que conversou com o Jornal Contramão.

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1. Quando surgiu sua paixão por quadrinhos?

Eu leio quadrinhos desde muito pequena, principalmente o Turma da Mônica e mangás. Além disso, desenhar sempre foi pra mim uma forma prazerosa de me expressar. Quando era adolescente, tinha uma ideia vaga de que gostaria de ser quadrinista e até cheguei a fazer um curso. Mas isso nunca esteve muito claro para mim como uma possibilidade real, por falta de conhecimento da área e principalmente de confiança. O empurrão que eu precisava para começar a produzir quadrinhos veio da movimentação da própria cidade, quando eu via pessoas daqui publicando no FIQ por exemplo, e de iniciativas de incentivo á novas autoras mulheres. Ver pessoas fazendo quadrinhos, e pessoas como eu, era muito empolgante. Os meus primeiros quadrinhos depois de adulta foram feitos em 2013 para a Revista Inverna e para o Zine XXX. Desde então tenho estado conectada com outros quadrinistas jovens em grupos de discussão na internet e participando de coletivos de mulheres artistas, como as ZiNas em BH e Mandíbula na Internet .

2. Quais Foram suas principais influências no mundo dos quadrinhos?

Eu sempre li muito mangá, então foi minha primeira grande influência. O manga me deixou encantada com contar histórias visualmente e com layouts de pagina dinâmicos, emotivos e não convencionais. Depois eu conheci autores como Neil Gaiman e Alam Moore e isso me abriu novos interesses nos quadrinhos. Quanto a nacional, foi uma revolução descobrir a Laerte e a Lovelove6. Hoje, eu leio de tudo e tendo aprender com tudo que leio. Mas acredito que a principal influência seja dos autores e autoras jovens independentes brasileiros, que acompanho de perto.

3. Como você entrou para o ZiNas?

Eu sou integrante mais recente das ZiNas, então participei da sua formação. Fui acolhida por elas em um momento decisivo para mim. Eu estava muito frustrada por não saber onde começar a divulgar meu trabalho e conhecer outros artistas. A Carol Rossetti me convidou para conhecer o grupo e logo comecei a participar das publicações colaborativas, que são muito gostosas de fazer. As ZiNas me apresentaram o mundo das feiras e das publicações independentes. Nós nos ajudamos e fortacemos nosso trabalho juntas, aprendendo, trocando ideias, realizando projetos que sozinhas não poderíamos.

4. Quais são suas expectativas para o FIQ ?

Estou muito empolgada! Frequento o festival há muitas edições e acompanhei o seu crescimento, bem como o crescimento da cena em BH. Pessoalmente, foi um grande incentivo para mim. Acredito que estamos em um momento muito estimulante para os quadrinhos no Brasil, com muitos autores e autoras produzindo e se unindo para fortalecer a sua produção. O FIQ também está acompanhando esse movimento e propôs uma programação muito bacana. É um festival interessante porque reúne um público muito grande e variado, de todas as idades e gostos, bem como quadrinistas de muitos lugares. Estou muito animada em encontrar todos eles.

5. Como você acha que o ZiNas é visto no mundo dos quadrinhos?

Somos um grupo pequeno e nosso trabalho mantém as raízes modestas do fanzine. Mesmo assim, fico muito feliz com a receptividade que as ZiNas tem tido. Participamos de festivais e feiras independentes há muito tempo e sempre temos uma acolhida muito boa pelo público e pelos nossos colegas. As pessoas gostam do nosso modo de tratar temas considerados “tabus”, mas que na verdade sentem muita falta de serem discutidos. Recentemente, passamos a fazer oficinas e investir em projetos culturais de inclusão social que acredito que vão ressonar positivamente no mundo dos quadrinhos, que é muito fértil para esse tipo de iniciativa. Posso falar isso sem nenhuma falsa modéstia, pois quem esteve encarregada dos últimos projetos foram as minhas colegas, principalmente a Carolita Cunha. No início fiquei surpresa por termos sido convidadas para integrar a programação do FIQ, mas preciso puxar saco: faz jus ao trabalho que as minhas colegas tem feito.

 

Por Amanda Aparecida

Fotos: Arquivo Pessoal de Aline Lemos