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Inclusão

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O autismo tem amplitude de doenças não-raras e já é aquele um por cento que precisa ser mais reconhecidos pelos órgãos competentes.

Por Lucas Requejo

No dia 4 de maio, foi realizado um webinar sobre autismo no ambiente universitário, mostrando como os professores podem realizar a integração de alunos com TEA (Transtorno de Espectro Autista) sem que as aulas não sejam comprometidas e nem infrinja o desempenho do aluno durante sua formação no ensino superior.

O TEA, mais conhecido como autismo, está em uma crescente que preocupa especialistas. Segundo o portal Canal Autismo, o número tem aumentado, passando a ser um transtorno não-raro. Estima-se que um por cento da população brasileira que ou nasceu com, ou desenvolveu o TEA.

Porém, se diz estimativa, pois o TEA não possui uma estratégia de diagnóstico bem desenvolvido aqui no Brasil, haja visto que nem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) possui um levantamento assertivo sobre o assunto.

Pensando nisso, a Una se adiantou e ofereceu este evento, por meio do Projeto de Extensão “Ciclo de debates sobre sociedade inclusiva”, que serviu de aporte para discutir um assunto tão importante. E, para abrir a palestra, a professora Carla Soares, de 44 anos, mediou com acadêmicos da universidade e revelou suas expectativas:  “A ideia do webinar é mostrar como o NAPI (Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão) trabalha na inclusão de alunos já diagnosticados com o TEA e trazer todo o aporte de conhecimento sobre os caminhos que a Una traz, em prol da inclusão destes estudantes”.

O Welder Vicente, coordenador do NAPI, de 36 anos, é psicopedagogo formado na UFMG e trabalha na absorção de alunos que possuem transtornos de caráter psicossocial. Trabalhou com diversos projetos, mas, na Una, é mais gratificante. “Meu mestrado é sobre o autismo e eu amo desdobrar este assunto, pois trabalhamos muito para que a inclusão de alunos deste espectro na Una seja cada vez mais volumoso e, consequentemente, satisfatório”.

Welder conectou diversos aspectos do TEA; iniciando com um breve histórico no webinar. “O autismo era encarado como esquizofrenia. Dentro do Hospital Colônia – conhecido como o local que ocorreu o holocausto brasileiro, em Barbacena (MG). Os autistas eram isolados e dormiam sob o chão frio durante o inverno, além de serem submetidos a torturas”.

E complementa: “Com o passar do tempo, como hoje nós conhecemos três níveis de autismo, a primeira era colocada como síndrome de Asperger. Ainda por cima, a psicologia contemporânea começou a relacionar o diagnóstico do autismo diretamente à gestação, transferindo à mãe uma culpa, colocando-a como “mãe geladeira”, dizendo que ela foi tão fria a ponto de não se conectar ao feto, e que, por isso, a criança nascia autista”.

Ao inserir o tema dentro das vias legais e estatísticas, Welder mostrou gráficos que demonstraram a evolução mediante à responsabilidade de políticas públicas para pessoas especiais. De modo geral, as estatísticas começaram a ser levantadas em 2008, com a criação da lei de cotas. A partir de 2015, o TEA foi integrado em todos os seus níveis, e hoje, possui até carteirinha comprobatória.

O autismo era enquadrado, ainda, como Asperger. A partir de 2010, o MEC (Ministério da Educação e Cultura) passou a levantar o cenário de ingressantes com autismo em universidades a nível federal, regional e estadual. De lá até 2019, em todos os aspectos, o volume cresceu mais de 150% em todos os cenários. Porém, o MEC não realizou mais nenhum levantamento desde 2020, mas Welder menciona que, a cada 10 mil alunos matriculados ao ano, dois são autistas.

No cenário qualitativo da formação e das matrículas dentro da Una, Welder cita os cursos mais procurados como comunicação, pedagogia, psicologia e direito. Porém, sinaliza algumas deficiências: “As áreas de exatas, como engenharia e matemática, e outras de humanas, como moda e arquitetura, não tem uma matrícula sequer”.

Em relação ao ambiente de estudos na universidade, ele traz que, por direito, cada aluno pode ter um mediador interno, para auxiliá-lo na adequação em geral, e que, o custo com este processo não deve ser repassado ao aluno, de forma alguma.

Sobre o desenvolvimento e suas percepções, Welder afirma: “O autista tem algo que chamamos de hiperfoco, e temos que trabalhar para que o aluno não o perca, pois será certa a sua desistência do curso. Mas, não significa que ele terá redução de conteúdo por isso. O que é preciso ser trabalhado é a sua ambientação e seu interesse no curso o qual escolheu.”. E completa: “Já encontrei até professor autista. É gostoso ver ele lecionando o que ama. O hiperfoco ajuda muito.”

O dia a dia do estudante autista, em meio à sua adaptação dentro do ambiente, pode trazer alguns perrengues iniciais, mas que todos precisam ser salientados. Ele citou um exemplo relacionado ao hiperfoco, onde uma estudante, devido estar próxima ao ar-condicionado, somando a temperatura à poluição sonora, ela teve uma crise de ansiedade. Tudo conseguiu ser controlado, graças ao excelente trabalho do NAPI.

Todo o webinar foi acompanhado por mais de 50 participantes no geral e todos saíram realizados com a excelência das falas de Welder e todo seu conhecimento, agregando grande sabedoria a um tema que, a cada dia, precisa ser minuciosamente adequado ao nosso conhecimento, pois, como Welder finalizou a sua palestra, “não dá mais para sermos segregados por não nos conhecerem de fato”.

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Por Lucas Requejo

Tudo na vida necessita de transformação, reconhecimento e adaptação. Por dois anos, tivemos que se adaptar ao novo modo de viver, sem deixar de amar e cuidar uns dos outros. Porém, há mais anos existe uma parcela da nossa população que ainda precisa ter seu espaço ampliado para essa recepção de cuidado: as pessoas com Autismo.

Infelizmente, de acordo com dados do Canal Autismo, portal especializado no assunto, relata que o número proporcional de incidência aumenta a cada período de estudo em que se esclarece diagnósticos de TEA, preocupando especialistas. Isso torna imprescindível que todos os órgãos, diretos e indiretos, tomem iniciativas de acolher essas pessoas que precisam buscar seu espaço desde criança.

Mas, e em casos que ultrapassam a faixa escolar e ingressam à faixa universitária? Pensando nisso, a Una te convida a responder a esta pergunta em um webinar virtual, que será aberto para o público geral, em seu Projeto de Extensão – Ciclo de debates da área de Ciências Humanas.

Evento: O Autismo na vida adulta: A inclusão no ensino superior

Data: Quarta-feira, 4 de maio

Horário: 18 horas

Convidado: Welder Vicente – Mestrando em Educação: Conhecimento e Inclusão Social na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Psicólogo pelo Centro Universitário Una e Líder de Inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior da mesma instituição, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação Especial e Direito Escolar (GEPEEDE) – FaE/UFMG.

Mediadores: Profª. Carla Soares e Acadêmicos do projeto

Se inscreva pelo link https://bit.ly/CHUNACDU0405 (copie e cole no seu navegador) e o acesso é gratuito

Participe e faça parte da inicialização deste fato tão importante!

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Capacitismo no ambiente acadêmico dificulta relacionamentos, aprendizados e vivências de pessoas com deficiência 

Por Milena Vieira

Ativista feminista, mestranda no programa de pós-graduação em Comunicação Social da UFMG e criadora do blog “Disbuga”, Fatine Oliveira tem distrofia muscular e é cadeirante desde os oito anos. Trata-se, hoje, de importante voz sobre a experiência da mulher com deficiência, assim como em relação às atitudes e aos comportamentos preconceituosos dentro e fora do ambiente escolar. Ao longo dos anos, houve momentos em que Fatine foi infantilizada, submetida a olhares curiosos e a excessos de elogios, por fazer atividades normais ou impedida de participar de exercícios coletivos por não serem aptos às suas necessidades. 

À forma de Fatine, milhões de brasileiros lidam, todos os dias, com situações capacitistas. O capacitismo pode ser definido como toda forma de discriminação contra as pessoas com qualquer tipo de necessidade especial, seja ela física, seja auditiva, visual, mental e/ou múltipla. Tal comportamento nasce de um sistema excludente, opressivo e preconceituoso, no qual se enxerga a diferença como tradução de indivíduos incapazes de pensar por si mesmos e de atuar em sociedade. Revela-se no cotidiano, sobretudo nos meios acadêmico e profissional, por vezes inconscientemente, como em falas ou atitudes que expõem sentimentos de pena, proteção excessiva e/ou inferioridade, o que afeta violentamente a vida desses cidadãos.

Em uma sociedade, tudo que está fora ao que é posto como “padrão normal” pode sofrer preconceito e discriminação. Pessoas que não aderem às “normas” costumam ser invisibilizadas, marginalizadas e pouco aceitas nos espaços sociais, seja de maneira óbvia e transparente, seja de forma velada e não explícita.

No ambiente acadêmico, onde muitos indivíduos passam grande parte de seu tempo, as pessoas aprendem, ensinam, trocam experiências, constroem laços e memórias, além de lidar com as diferenças. Para que isso aconteça, é preciso que tal espaço seja inclusivo e acessível a todos. 

Segundo Welder Rodrigo Vicente, líder do Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão (NAPI) do Centro Universitário UNA, é determinado por lei que escolas e universidades tenham adaptações em seus ambientes, o que inclui materiais e metodologias, para que atendam às pessoas com deficiência (PCDs), tanto alunos quanto professores e funcionários.

“O NAPI foi pensado, inicialmente, para atender uma demanda de inclusão, a partir do movimento dos alunos com deficiência, principalmente auditiva, realizado no final de 2010, de forma mais intensa. A partir da necessidade do estudante surdo, viemos a olhar para outras necessidades. Se tenho 50 alunos com algum tipo de deficiência, tenho que atender aos 50; se não, não estarei incluindo”, destaca. 

De acordo com estudo feito pela plataforma QEdu, a partir de dados do Censo Escolar 2016, apenas 26% das escolas públicas e 35% das instituições particulares estão aptas, nas cidades brasileiras, à criação de ferramentas de inclusão e acesso, para que as pessoas possam ter um ensino de boa qualidade. 

Já para falar sobre processos inclusivos nas universidades, é preciso, antes, levar em consideração a desigualdade social, fruto do sistema capitalista e da falta de investimento nas áreas sociais, culturais, de saúde e educação. 

Fatine Oliveira, por exemplo, foi uma jovem estudante de baixa renda, e ressalta a importância de discutir o assunto: “Não posso, simplesmente, virar e falar que tive acesso, ou não tive. Quero que entendam que a deficiência não é o pior. Vários outros tópicos da questão social também são ruins. Não consegui entrar na faculdade por falta de acesso. A maioria das pessoas com deficiência pertence a classes baixas, o que interfere mais ainda em sua vivência. Muitas pessoas não conseguem ver a dificuldade estruturada na sociedade. É muito complicado não ter esse apoio político do governo” 

Além de todas as complicações para ingressar no meio escolar, as pessoas com deficiência são, por vezes, expostas a expressões capacitistas de todos os tipos, dos velados aos ostensivos. Uma das vertentes do capacitismo no ambiente escolar diz respeito ao momento em que as pessoas olham para aquelas com algum tipo de deficiência, enxergando-as como “coitadas”, “vulneráveis” ou “inocentes”.

No caso de crianças, aliás, todas são inocentes, e não só quando têm deficiência; no caso de jovens e adultos, eles acabam infantilizados. Deve-se pontuar que o capacitismo não acontece somente em situações ligadas ao corpo físico. Pessoas com deficiências não visíveis também são questionadas quanto à capacidade e à inteligência.

“Em minha vida acadêmica, só me incomodavam as pessoas que olhavam para mim fixamente. Às vezes, riam de mim e tiravam sarro, criticavam. A gente tem que passar por cima, mas havia coisas de que não gostava, mesmo. Eu ignorava, deixava para lá, pois tem coisas que precisamos superar”, conta Letícia Diniz, 22 anos, que tem Síndrome de Down e é estudante de Jornalismo no Centro Universitário UNA.

É possível que, em algum momento, qualquer um tenha presenciado ou feito declarações capacitistas. Frases do tipo “Dar uma de João sem braço”, “Você só pode ser retardado!”, “Está mais perdido do que cego em tiroteio”, dentre outras, são naturalmente usadas no dia a dia, sem que se considere o quanto reforçam a imagem da pessoa com deficiência como incapaz.

Outro gesto capacitista é tomar como superação os feitos de sucesso, esforços e conquistas realizadas por PCDs, a exemplo de frases como “Eu reclamando da vida e olha você aí, vivendo, apesar de tudo”, “Ela é tão inteligente, nem parece ser especial”, “Te acho tão guerreira por chegar até aqui”. A deficiência, porém, não impede a pessoa de alcançar seus objetivos. Exemplo disso são os Jogos Paraolímpicos, um dos maiores eventos esportivos do mundo a envolver PCDs, que mostram que qualquer indivíduo é capaz de descobrir (e superar) novos limites.

Em palestra sobre capacitismo, realizada na plataforma do YouTube, no canal TV FEC SC, Federação Espírita Catarinense, o pedagogo Eduardo Torto Meneghelli, mestre em educação, conta que, na Antiguidade, acreditava-se que os indivíduos que nasciam com alguma necessidade não agradavam aos deuses e não tinham alma. A deficiência era vista como castigo, e muitos acabavam abandonados, ou mortos, pelas próprias famílias.

Tal violência não acabou com o passar do tempo. No Brasil, em meio à pandemia, registrou-se crescimento de ataques contra pessoas com deficiência, sendo a maior parte vítima de familiares e conhecidos. Segundo Cleyton Borges, supervisor do Centro de Apoio Técnico da Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência em São Paulo, o isolamento fez com que tais pessoas ficassem mais expostas. Ele reforça a necessidade de conscientização da população quanto às denúncias, que podem ser feitas, de qualquer parte do país, pelo Disque 100.

Discutir o capacitismo não é somente um dever das pessoas especiais. A conscientização é popular. Para cortar as raízes estruturais do preconceito, é necessário que todos estejam dispostos a se pôr em posição de escuta e aprendizado. Além disso, é vital cobrar do Estado a garantia dos direitos humanos, para que, então, seja construída uma sociedade em que todas as pessoas consigam viver dignamente. “Um caminho para aprender mais sobre as diferenças seria assumir uma postura de abertura, em que o olhar superasse os limites do conhecido e alcançasse a potência de novos aprendizados, que só o outro pode oferecer”, destaca Fatine Oliveira. 

Manifestação pelo direito das pessoas com deficiência em 2013, na cidade de São Paulo (foto: Danilo Verpa/Folha S.Paulo)

 

 

 

 

 

 

 

Conscientização nas redes

Desde o início da pandemia, nota-se crescimento de conteúdos produzidos nas redes sociais, em apps como TikTok e Instagram. Em consequência do isolamento social, o número de visualizações e engajamento tem tido aumento relevante, se comparado aos anos anteriores. Mais do que apenas conteúdos, alguns influenciadores têm conseguido abordar assuntos delicados e importantes por meio do humor.

É o caso da influenciadora digital e psicóloga Lorrane Silva, mais conhecida como “Pequena Lô”, diagnosticada com displasia óssea. Ela tem quase 10 milhões de seguidores em suas redes sociais, e, em vídeos humorísticos, aponta os problemas sociais enfrentados por pessoas com deficiência. Além de se divertirem, as pessoas acabam conscientizadas com o conteúdo. 

“O preconceito ainda está longe de acabar. Muitas pessoas têm um pensamento muito fechado. Estou na internet para mudar essa visão em relação a nós, pessoas com deficiência. Quando comecei, impactou muito. Uma pessoa com deficiência, que dança, faz humor, formada em psicologia, não é todo dia que a gente vê. As pessoas com deficiência não ficam reunidas em um só lugar, mas, hoje, conheço muitas que estão na internet, pondo a cara à tapa para apresentar essas informações”. 

Origem do “capacitismo”

A palavra capacitismo é a tradução do inglês “ableism”, que, em português, significa “capaz”. Segundo a BBC, o termo foi usado, pela primeira vez, nos Estados Unidos, na década de 1980, e era mais conhecido dentro de organizações políticas pelo direito à igualdade. No Brasil, apesar de também existirem movimentos ativistas de pessoas com deficiência pela reivindicação de seus direitos, desde os anos 1980, o termo se popularizou em 2016, quando um grupo de jovens com deficiência se reuniu nas redes sociais e criou a hashtag #ÉCapacitismoQuando, com o objetivo de ampliar a discussão sobre a discriminação contra pessoas com deficiência. É importante que exista a denominação do preconceito, para que ele seja exposto e confrontado. 

Nas telas

Confira dicas de filmes e seriados que retratam a vivência de pessoas com deficiência e os efeitos de uma sociedade capacitista 

The Good Doctor (O bom doutor)

A série tem como protagonista Shaun Murphy, jovem autista formado em medicina, que sonha em ser cirurgião e tem suas habilidades questionadas e postas à prova o tempo todo, por colegas e superiores, após começar a trabalhar em um hospital famoso.

Extraordinário
O filme narra a história de Auggie Pullman, garoto de 10 anos, que nasceu com uma deformidade genética no rosto e precisou passar por 27 cirurgias plásticas. Com o apoio da família, Auggie começa a frequentar a escola pela primeira vez. 

Hoje eu quero voltar sozinho

Um romance brasileiro. Conta a vida de Leonardo, jovem estudante do ensino médio com deficiência visual. Aborda os desafios para a inclusão e os questionamentos sobre a própria sexualidade, após o protagonista conhecer Gabriel, novo aluno da escola. 

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Por Bianca Morais 

Hoje é comemorado o Dia Internacional da Síndrome de Down. A data foi criada pela Down Sydrome Internacional em 2006, e escolhida pelo fato de 21/03 representar a singularidade da triplicação (trissomia) do cromossomo 21, que causa está ocorrência genética.  

As pessoas portadoras da síndrome possuem necessidades especiais, mas nada que impeça ela de fazer qualquer coisa, incluindo o acesso à educação. Hoje, o Contramão traz uma entrevista com um bom exemplo de que é possível sim, fazer uma faculdade com down. Letícia Gaspar é estudante do curso de Jornalismo do Centro Universitário Una, ela cursa o 3° período.  

Letícia é exemplo de inclusão e diversidade. Confira. 

Por que você escolheu o curso de Jornalismo?

Escolhi jornalismo porque tenho habilidades em desenvolver textos e outras capacitações em exercícios de fala. Possuo muita oralidade em falar com as pessoas e costumo falar pausadamente. Procuro prestar atenção a todos os acontecimentos que ocorrem ao meu redor. Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de cursar jornalismo na faculdade Una. 

Como tem sido a sua trajetória na faculdade?

Essa trajetória tem sido com bons resultados e trabalhos bem elaborados de acordo com os professores e colegas de classe, dentro do esperado que eu pretendia exercer enquanto aluna e pessoa. Sou uma estudante que tenho muita vontade de estudar e aprender mais. 

Em qual área você tem vontade de atuar?

Eu pretendo atuar em televisão, na Rede Globo. Nas diversas áreas que envolvam o serviço de jornalista de jornal local, regional ou nacional. 

O que você se sentiu ao pisar a primeira vez na faculdade?

Me senti muito agraciada por viver esse momento de extrema alegria, amor e esperança. Pensava que realmente esse dia custaria muito a chegar, mas chegou rápido e foi muito bom. 

Como tem sido a sua adaptação na faculdade?

A minha adaptação está sendo bem gradual, estou dividindo parte dessa tensão com meus pais, com os colegas, e com todos os professores do curso. E tem sido muito eficiente. 

Você tem tido apoio dos professores e colegas do curso?

Sim, apoio incondicional em diversas situações com as quais exerço dentro e fora da faculdade. 

  O que você mais gosta em estar em uma faculdade? 

O que eu mais gosto na faculdade é a hora do intervalo, pois é um momento mais descontraído com os meus colegas de turma, gosto da universidade e contato com todos. 

Qual a diferença que você enxerga do ensino que você recebia na escola para o da faculdade?

A diferença é que na escola nós temos uma maior rigidez de horário, enquanto na faculdade podemos ter uma liberdade maior escolhendo as nossas matérias, fazendo os nossos horários, e estudando nas horas vagas. 

Em algum momento você sentiu algum medo ou receio ao começar essa nova jornada na sua vida?

Sim, um dia antes de entrar para o primeiro dia, me senti insegura para fazer novas amizades e conseguir aprender todos os conteúdos que antes eu captava pelo online. Pedi conselhos para a minha família que me ajudou a fazer esse meio de campo. Assim, fui tendo mais confiança em entrar para a aula, e com a ajuda da minha mãe, que assistiu comigo a primeira aula da professora Daniela, o meu processo de aprendizagem em sala de aula e meu relacionamento com os colegas foi muito melhor. 

Como seus pais te apoiaram nessa nova fase?

Eles estavam conscientes de que eu deveria exercer uma profissão e me apoiaram bastante desde o online até o presencial, e sabiam que era isso que eu queria. 

Você sente alguma barreira sendo uma pessoa deficiente na faculdade?

Nenhuma, sou a única portadora da Síndrome de Down na UNA, e isso não me impede de estudar em uma faculdade de extrema importância na área de educação. Me sinto capaz de entender os diversos e variados assuntos que fazem parte do meu conhecimento em áreas de extremo desafio, fazendo minha formação com seriedade e inovação. 

Você acha que a faculdade poderia fazer algum tipo de adaptação para facilitar o acesso das pessoas PCD?

A faculdade já tem um setor, o NAPI, que ajuda as pessoas com deficiência, e pode estar sempre escutando todos os alunos da faculdade para trazer novas melhorias através de novas ideias. 

Qual conselho que você daria as pessoas com Síndrome de Down para que vençam o medo e entrem na faculdade?

O conselho que eu daria é para que as pessoas tenham persistência, otimismo, esperança e muita força de vontade, porque todos podem e tem direito de estudar aquilo que desejam, todos nós somos capazes de enfrentar qualquer tipo de desafio e isso é muito bom para ampliar os nossos horizontes. 

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Por Bianca Morais 

Hoje, 23 de abril, é Dia Nacional da Educação de Surdos. A data especial foi criada para celebrar as lutas e conquistas da comunidade surda na área da educação. No Brasil, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) é referência na área da surdez, desde o ensino a surdos até a sua atuação com ações de inclusão social. 

Conhecida como Libras, a Língua Brasileira de Sinais, é a forma utilizada por pessoas surdas e ouvintes, e está diretamente ligada a movimentos e expressões faciais para ser entendida. 

A Libras foi reconhecida como língua em 2002. Ela possui suas regras, é um conjunto organizado de sons e gestos que um grupo usa para se comunicar, um sistema que tem estruturas, sintaxe, semântica e pragmática próprias e bem definidas. Os sinais substituem as palavras de uma língua de modalidade oral auditiva.

Cada país possui sua própria língua de sinais, em todo o mundo existem mais de 200 línguas de sinais e cada uma tem suas específicas normas.

A história da educação para surdos

A comunicação com as mãos é uma realidade bem antiga, desde o tempo da pré-história, nossos ancestrais utilizavam-se delas para se comunicar. Com a evolução, as mãos passaram a ficar ocupadas com o manuseio de ferramentas para produção de ofícios, e por isso, a conversação passou a ser feita de forma oral, o que acabou por excluir aqueles que não conseguiam escutar.  

Por não conseguirem ouvir também não aprenderam a falar, dessa forma os surdos foram excluídos em vários momentos da história. Na Grécia Antiga, Roma Antiga e na Idade Média, eles perdiam seus direitos, eram considerados seres humanos incompetentes e sem conhecimento. Para a Igreja Católica a alma deles não era imortal, pois não podiam falar os sacramentos. 

Foi apenas na Idade Moderna que apareceu o primeiro professor de surdos, Pedro Ponce de León, um monge beneditino, nascido na Espanha, foi um dos pioneiros na educação dos surdos e mostrou ao mundo que eles eram capazes sim de aprender. 

Anos mais tarde aparece Charles Michel de l’Epée, conhecido como o pai dos surdos, mostrou que os deficientes auditivos eram cidadãos com pleno direitos na sociedade. O francês se dedicou à educação deles com o principal objetivo de poder ensiná-los princípios do cristianismo. Especialistas no assunto, afirmam que ele foi o primeiro a criar um alfabeto de sinais para alfabetizar os surdos e o utilizou para ensinar seus alunos em uma escola criada por ele em 1755.

A língua de sinais francesa, desenvolvida por l’Epée, teve grande influência na criação da brasileira, a libra foi criada por outro francês com base no método de Charles. Ernest Huet, nasceu em uma família nobre na França e teve acesso a uma excelente educação. Aos 12 anos teve sarampo e como consequência da doença perdeu sua audição e entrou para o Instituto Nacional de Surdos de Paris, após anos de envolvimento com os estudos, Huet se tornou professor.

Por seu admirável trabalho na educação de surdos, em 1855, a convite de Dom Pedro II, Ernest Huet veio para o Brasil e trouxe consigo o sistema francês de educação que ajudou a criar a primeira escola para surdos do país. O nomeado Imperial Instituto Nacional de Surdos Mudos, foi fundado no Rio de Janeiro em 1857, e com Huet a frente, educou milhares de surdos. Atualmente a escola criada por Huet, é o conhecido Instituto Nacional de Educação dos Surdos. 

A língua de sinais, desde sua criação, sofreu muitas retaliações, uma vez que antigamente se acreditava na cura da surdez. Para muitos a educação dos surdos deveria ser por meio da oralização, por isso, em 1880, uma conferência internacional de educadores, o Congresso de Milão, determinou a proibição do uso de sinais na educação de surdos na Europa. Em 1911, a escola criada por Huet, decidiu adotar a determinação do Congresso e estabeleceu que o “oralismo puro” deveria ser a única forma de educação dos surdos no país.  

O Congresso de Milão foi considerado uma grande opressão sofrida mundialmente pela comunidade surda, ali eles perderam o direito de se comunicar da forma que desejavam com o uso das línguas gestuais. Aquele congresso foi organizado por um grupo de pessoas que eram contra o uso da língua de sinais e todos ali presentes foram selecionados para garantir que o oralismo vencesse. Esse episódio foi apenas mais um na incansável luta dos surdos contra os preconceitos e a opressão. 

A educação hoje é um direito de todos, porém isso apenas ficou estabelecido na Constituição de 1988. Foi através de muita batalha e ao longo de anos usando a língua de sinais de forma clandestina, que a comunidade surda alcançou essa primeira conquista de inclusão por parte do governo. Posteriormente outros avanços aconteceram por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e de 2000. A Libra, no entanto, só foi reconhecida como língua em 2002 pela Lei n°10.436 que determinou que:

Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

A lei também coloca como dever do governo e órgãos públicos apoiar e difundir a libra.

A regulamentação ocorreu em 2005, quando um decreto presidencial incluiu a inserção de Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício dos magistérios médio e superior. 

Segundo o IBGE, no Brasil, existem cerca de 10 milhões de pessoas com surdez. Vale lembrar que a surdez tem graus diferentes sendo eles: leve, moderado, severo e profundo. 

Pensando sempre no lema de transformar o país pela educação, que o Centro Universitário Una, instituição reconhecida por seus projetos de inserção social, conta com Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão – NAPI, entre os suportes que ele oferece está a inclusão de deficientes auditivos. Conheça o projeto

O NAPI

Em funcionamento desde 2011, o NAPI (Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão) tem como base o compromisso da Una com a formação integral e humanista de seus estudantes, pautada na visão institucional de acolhimento das pessoas.

O núcleo é um espaço que oferece suporte psicopedagógico de intervenção e prevenção nos processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais e pedagógicos do aluno, e atuam sobre os múltiplos fatores que possam intervir em seu desenvolvimento integral e nas questões ligadas à aprendizagem. O NAPI também é o apoio às pessoas com deficiência e/ou com transtornos que afetam o conhecimento, nestes casos, são realizados acompanhamentos periódicos, articulações com setores, professores e coordenadores, que promovem de forma individual de acordo com as necessidades de cada sujeito.

Através de estudos, os membros do NAPI entendem as demandas e necessidades por parte dos alunos e oferecem suporte para a superação dessas dificuldades para que o estudante possa ter um melhor aproveitamento acadêmico e equidade no quesito ensino-aprendizagem, tudo isso leva em consideração o histórico do estudante e as variáveis pessoais, curriculares e organizacionais. 

Em busca de uma inclusão para os alunos com deficiência auditiva, o núcleo fornece o AEE – Atendimento Educacional Especializado, com acompanhamento de intérpretes diretamente aos alunos em sala de aula. Como vimos até aqui, durante toda sua trajetória dentro do sistema de educação, os surdos sempre sofreram um abandono, a Una então cumpre seu papel como instituição de ensino ao inserir esse público, disponibilizando o profissional tradutor intérprete nas aulas, palestras, vídeos institucionais e em qualquer outro espaço que o aluno demandar dentro da instituição, como biblioteca, coordenação de cursos e áreas de atendimento ao aluno.

Além disso, a Una oferece a disciplina de LIBRAS em cursos de licenciatura e de forma optativa nos cursos de bacharelado e tecnólogos, e o NAPI oferta cursos de extensão de LIBRAS para colaboradores, estudantes e comunidade em geral.

Welder Rodrigo, é líder do Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão e acredita muito no compromisso que o lugar promove. “O NAPI já proporcionou a inúmeros alunos a alcançar seus projetos de vida, o grande sonho de uma graduação ou uma nova profissão, por meio dos acolhimentos, oficinas e os atendimentos educacionais especializados a estudantes com ou não deficiência”, diz ele. 

Fora o núcleo, o NAPI possui um projeto mensal chamado “NAPI Olhares Múltiplos” que tem como objetivo discutir, em forma de seminário, assuntos tanto relacionados à UNA como presentes na sociedade. Normalmente esses eventos são amplamente divulgados dentro da universidade e abertos à comunidade. Nos últimos dois seminários foram discutidos os temas “O protagonismo do estudante Autista, Down e Surdo no ensino superior” e “Discriminação Racial”, ambos com bastante engajamento.

Recentemente o núcleo também passou a oferecer oficinas com o objetivo de aprimorar os conhecimentos dos alunos. Essas oficinas são discussões abertas sobre métodos de estudos, como gerenciar o tempo, oratória e estilos de aprendizagem, é uma troca de conhecimentos e técnicas entre os próprios alunos e o NAPI. 

Os atendimentos do NAPI são realizados com hora marcada individualmente ou em grupos. Durante a  pandemia, porém, esses encontros presenciais foram suspensos, o recurso das aulas online fez com que o núcleo precisasse se adaptar e desenvolver novos métodos de atendimentos para que mesmo de longe pudessem oferecer uma assistência de qualidade. Durante as aulas, os acompanhamentos continuam, mesmo que através de mensagens para a compreensão do aluno. Os demais auxílios, como organização de cronograma, é marcado um horário na semana para uma conversa e fazer o acompanhamento psicopedagógico. O núcleo entra em contato com alguns desses alunos após algum tempo de ajuda para acompanhar como foi para eles essa experiência.

O NAPI oferece ao estudante da Una um espaço de escuta e acolhimento, ele ajuda a promover a elevação da autoestima, da autoconfiança e maturidade do aluno, necessárias ao seu desenvolvimento acadêmico, buscando despertar o potencial motivacional, criativo e cooperativo dos mesmos.

Os intérpretes 

 

maria Evaristo – interprete de libras

Marina Evaristo dos Santos, 30 anos, é intérprete no NAPI – Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão, em entrevista ao Jornal Contramão compartilhou um pouco de sua experiência e vivência na área. 

  • Qual o papel de um intérprete na educação dos surdos?

O papel do intérprete na educação dos estudantes surdos é mediar a informação entre o professor e o aluno. Auxiliar na tradução dos textos na língua portuguesa para LIBRAS. A primeira língua dos surdos é a língua de sinais e a segunda língua é o português em sua modalidade escrita.

  •  Quais as principais dificuldades da inclusão de pessoas surdas nas universidades? 

 – A ausência de materiais adaptados para os estudantes surdos,

 – Escrita acadêmica ( a primeira língua do sujeito surdo é a Libras e o português em sua modalidade escrita como segunda língua. O letramento acadêmico que envolve os gêneros secundários (trabalhos de conclusão de curso, relatórios, provas, livros didáticos) são mais difíceis para os surdos por não possuir uma adaptação em Libras,pensando o intérprete como tecnologia assistiva.

 – Normalmente os TILS ( Tradutor/intérprete de Língua de Sinais) não são formados na área em que o estudante surdo estuda.

  • Qual o maior desafio para a educação de surdos?

 O maior desafio na educação dos estudantes surdos é a inclusão linguística dentro da sala de aula, na maioria das vezes os estudante surdo necessita do intérprete para ser incluído. É preciso que as instituições de ensino promovam cursos de Libras para os funcionários ouvintes, para que os estudantes surdos sejam incluídos linguísticamente.

  •  Qual a importância que você como intérprete enxerga na educação de surdos?

O profissional intérprete de Libras é importante para a inclusão linguística dos estudantes surdos, ele é o mediador entre o estudante surdo, os professores e também os colegas de sala.  

  • Quais medidas você acha que poderiam ser tomadas para uma maior inclusão dos surdos no meio acadêmico?

– Poderiam ampliar a acessibilidade em Libras dos materiais didáticos

– Promover cursos de Libras para o público interno e externo da faculdade

– Aulas com recursos visuais para facilitar a compreensão dos conteúdos

  • Sobre o NAPI – Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Inclusão, qual a importância de um núcleo como esse em uma faculdade para o público com deficiência auditiva?

O NAPI é muito importante na inclusão dos estudantes surdos, porque  o NAPI oferece o intérprete de Libras para estudantes surdos que são usuários da língua de sinais e também o intérprete repetidor para estudantes surdos que são usuários da leitura labial.O NAPI oferece cursos de Libras para alunos, professores e os demais funcionários, promovendo assim a inclusão linguística para estudantes e funcionários surdos.     

Nesse dia tão importante de reconhecimento pelos surdos que ao longo da história correram atrás de reconhecimento e aceitação pelo direito de ensinar e aprender, é relevante ressaltar que muitos surdos ainda não têm acesso à educação, muitos até pelo medo do desconhecido. Muitos pais deixam de levar seus filhos com deficiência auditiva à escola, por se sentirem inseguros sobre a inserção dos seus filhos nelas, e muitas vezes até porque essas escolas não oferecem a estrutura adequada para os receberem. 

São muitos anos de luta que ainda não acabaram, é necessário mudança e é indispensável que seja para agora, a inclusão educacional de pessoas com surdez pede pressa, pois essas pessoas não podem mais esperar. Educação para todos, e para agora.

 

*Edição: Daniela Reis

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*Por Bruna Silva Araújo Nunes

Toda criança com deficiência tem o direito de estudar e à ela deve ser garantida uma educação inclusiva. Pensando na inclusão, o sistema de ensino brasileiro promove algumas iniciativas de integração, como é o caso da Sala de Recurso que trabalha com a inclusão de crianças especiais da educação infantil ao ensino fundamental I.

Implantada a cerca de treze anos a Sala de Recursos Multifuncionais (SRMF), realiza atendimento educacional especializado visando promover uma condição melhor de acesso, aprendizado e conhecimento para alunos especiais, através de uma serie de atividades voltadas para as diferentes necessidades desses alunos. Para entender melhor essa parceria na educação com as escolas e familiares entrevistamos a professora Elzeni Rodrigues, especialista em psicopedagogia e libras que atua a mais de vinte e cinco anos nesse segmento.

 

Como funciona a Sala de Recurso?

R: A Sala de Recurso dá um apoio para os pais e professores, além de atender os alunos. Os alunos são recebidos nessa sala onde é feita uma avaliação para ver a necessidade dele. Quer dizer, cada um tem uma dificuldade, então de acordo com a dificuldade que o aluno apresenta é que é feito um trabalho social, pedagógico, de coordenação motora e também um atendimento e orientação aos pais e professores além da adaptação de material de acordo com o nível pedagógico dele.

Como foi a implementação da Sala de Recurso nas escolas públicas? No quesito acessibilidade

R: Facilitou muito a vida a vida das pessoas com deficiência, porque os alunos não tinham acesso a escola regular, eles iam para a escola especial e com a implementação da Sala de Recurso tiveram que capacitar professores para estarem fazendo esses trabalhos junto aos alunos especiais e as professoras deles.

Como esse acompanhamento especializado ajuda esses alunos nas áreas acadêmicas e sociais?

R: Nas áreas acadêmicas ele vai para a Sala de Recurso e tem uma aula diferenciada. Se ele está estudando matemática, na Sala de Recurso ele vai aprender a matemática de outra forma, brincando, jogando, cantando, se ele tem que aprender a tabuada dependendo do nível dele a gente trabalha com musiquinha ou jogos para ele entender como funciona a tabuada, porque na sala de aula a professora não tem como fazer isso, ela vai passar a matéria, explicar e pronto.

Na parte social, por exemplo, nós já tivemos um aluno que não sabia tomar banho e precisou passar por uma orientação através da Sala de Recurso, então a professora dessa sala que vai trabalhar isso. Até em questão de convívio, eu já tive um aluno que não conseguia se socializar, ele veio com um mandado judicial, então ele veio para mim e fiz um trabalho com ele para que se acostumasse comigo e depois aos poucos colocando mais um aluno dentro da sala. Às vezes eu saia com ele para outras salas para ir se socializando e voltar a frequentar o recreio ou a escola.

Como os demais colegas de sala de aula, podem ajudar esses alunos especiais a se sentirem mais incluídos?

R: Primeiro a gente faz uma preparação na sala de aula, informamos que tem um aluno assim, que tem dificuldade. E na realidade, todo mundo tem alguma dificuldade, um usa óculos porque não enxerga direito, o outro usa aparelho auditivo porque não escuta bem, então a gente vai explicando para eles entenderem que todo mundo tem um tipo de dificuldade em alguma área e que aquele coleguinha que está vindo tem essa ou aquela restrição.  Então eles acabam ajudando o tempo todo, por exemplo,  aquele aluno que é autista e sai muito de sala, eles são os primeiros a falarem “não professora pode deixar que eu vou atrás”, e eles vão lá e buscam o coleguinha, ajudam a vigiar e tomar conta na hora do recreio. Mesmo tendo uma professora para isso, a professora de apoio, os outros alunos entendem e muitas vezes colocamos um colega que tenha mais afinidade do lado desse e aí a tendência é aquele que tem mais condição ajudar o que tem menos.

O apoio da família em qualquer idade é importante. Como é o trabalho da escola em parceria com eles?

R: É importante a família ter consciência da dificuldade do aluno e do que precisa ser trabalhado com ele. Não adianta a escola fazer a parte dela se em casa a família não der continuidade, ou então, na escola a gente ensina e chega em casa os pais passam a mão na cabeça e não deixam fazer nada “ai tadinho não sabe nada”.  Tem outras situações também, como ao contrário, cobrar demais sendo que ele ainda não tem condição. Então, o ideal é a família participar das reuniões, de treinamentos na escola, porém essa pe a parte mais difícil, é o que a gente menos tem. Infelizmente a maioria das famílias não participam e isso dificulta nosso trabalho, mas que é importantíssimo é.

Hoje nos temos varias atividades em jogos que ajudam no desenvolvimento de crianças especiais, como eles podem ser aplicados fora de sala de aula?

R: Os jogos pedagógicos ajudam de acordo com a dificuldade do aluno e pra cada uma utilizamos um tipo de jogo. Você usa uma sequência numérica para um aluno que tenha essa dificuldade. Para os que tem dificuldade de concentração pode-se aplicar sequência de cores, por mais bobo que pareça ajuda a pessoa a ter mais atenção. Se ele precisa desenvolver o movimento de pinça, começamos a desenvolver o movimento de amassar, pegar nas coisas e se for mais voltado ao movimento da escrita pode se usar um pegador de gelo para mover peças. Esses jogos não são só brinquedos, mas o aluno brincando começa a aprender coisas que  já foram explicadas várias vezes e ele não entendeu, mas quando ele vai brincar acaba aprendendo mais fácil.

Durante essas décadas na área da educação como você vê esse processo de valorização da educação especial?

R: Nossa! Mudou muito, antes a gente trabalhava e não tinha nada, tudo tinha que ser construído e era tudo dentro da escola especial. O aluno com deficiência não estudava na escola regular, e às vezes era apenas um déficit de atenção, uma coisa mais simples que uma psicopedagoga com alguns atendimentos resolveria. E de lá pra cá mudou muita coisa, hoje temos palestras, congressos, tem muito material na internet e antes não tinha nada disso, as pessoas não sabiam falar ou discutir o assunto e a maioria dos profissionais que ajudavam os professores eram os médicos. Fazíamos curso de capacitação com fonoaudiólogos, com otorrinos, pediatras, fisioterapeutas, eram os próprios médicos e pessoal das clinicas que capacitava a gente na APAE, pois não existiam pessoas da área da educação capacitadas para poderem estar fazendo esse trabalho com a gente, hoje em dia temos nas grades curriculares de alguns cursos a matéria de inclusão.