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Projeto de Extensão promove a diversidade e inclusão nos espaços acadêmico e social

*Italo Charles especial para o Contramão

Respeito, liberdade e sobrevivência são alguns aspectos que marcam a vida das pessoas LGBTQAIP+ em todo mundo. Hoje, 17 de maio, é celebrado o Dia Internacional da Luta contra a LGBTfobia.

A data foi criada em 2004, referência ao dia em que Organização das Nações Unidas (ONU), em 1990, retirou a Homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), desde então o termo homossexualismo deixou de ser considerado.

Entretanto, no Brasil, a data só foi incluída no calendário oficial em 2010, através do Decreto Federal de 4 de junho (daquele ano) sancionado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Para a população LGBTQIA+ o dia 17 de maio não é somente para celebração, a data também tem o objetivo de chamar atenção para o combante ao preconceito, discriminação e a violência que sofrem os gays, as lésbicas, bissexuais, as pessoas transexuais, travestis, não binárias entre outras. 

Vale ressaltar que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIAP+ no mundo, sobretudo trans e travestis. Segundo o boletim de violência da Associação Nacional de Travestis (ANTRA), em 2020 foram registrados 175 assassinatos contra pessoas trans e travestis.

Outro dado importante é a estimativa de vida de pessoas trans e travestis que não passam de 35 anos. Mas claro, para além de todas as estatísticas, a população LGBTQIA+ diariamente enfrenta obstáculos em busca da sobrevivência e respeito.

Una-se contra a LGBTfobia

Há dez anos, iniciava um projeto de extensão com o objetivo de promover uma cultura de respeito aos direitos humanos e à diversidade sexual e de gênero dentro do ambiente universitário.

O Una-se contra a LGBTfobia — Projeto de extensão do Centro Universitário  Una — foi idealizado e coordenado pelo jornalista e professor, Roberto Reis. Segundo Roberto, o intuito era criar um espaço que acolhesse pessoas LGBTQIAP+ e, sobretudo, desenvolvesse formação cidadã em conjunto a formação profissional.

Ao longo dos 10 anos de projeto, várias ações foram realizadas, como palestras, rodas de conversas, cobertura das Paradas LGBTQIAP+ de Belo Horizonte e Contagem. 

Visto que, inicialmente, o Una-se Contra a LGBTfobia tinha o intuito de promover as ações dentro do ambiente acadêmico, o projeto teve grande repercussão e se tornou referência ganhando o Prêmio Direitos Humanos e Cidadania LGBT.

Uma das grandes ações que o Una-se promoveu, foi levar a gestão da universidade a proposta de inclusão do nome social, um grande marco que levou o nome da Una como um dos primeiros Centros Universitários a aderir. 

Para o coordenador, o projeto surgiu como um propósito de vida, uma vez que a pauta LGBTQIAP+ sempre esteve presente na sua vida pessoal e profissional. “O projeto alinha muito com meu propósito de vida, eu sempre quis mudar o mundo, fazer parte de algo que mudaria o mundo. Hoje eu vejo o quanto o Una-se cresceu, conseguimos trazer mais presença, com o tempo obtivemos mais pessoas trans e pessoas com deficiência para explorar a temática LGTBQIAP+ ”, comenta Roberto Reis.

Roberto Reis – Coordenador do Una-se

Depoimentos

Jacson Dias – Cinema e Audiovisual 

“O Una-se  é o projeto que me trouxe a consciência no meu lugar no mundo, tudo que sei e hoje uso no meu trabalho tem um pouco do UNA-Se. Vida longa a esse projeto tão importante para sociedade como um todo!”.

 

Felipe Bueno – Jornalista

“Quando o professor Roberto Reis idealizou o projeto Una-se, em 2011, vivíamos uma expectativa muito grande em relação aos direitos de LGBTQs e equiparação da união homoafetiva ao casamento civil, que se tornou possível a partir do reconhecimento do Supremo Tribunal Federal naquele ano. A partir de então, as temáticas de diversidade sexual ganharam cada vez mais espaço dentro do debate nacional. Paralelo a isso, houve uma crescente reação conservadora, por parte de grupos políticos, aos anseios das minorias. A luta se intensificou para que direitos fossem mantidos e espaços conquistados. Tudo isso só reafirmou a necessidade de nos posicionarmos sempre, de afirmar uma identidade. 

Eu participei do projeto de extensão como voluntário em seu surgimento. E, embora o seu propósito fosse contribuir para a minha formação em jornalismo e levantar discussões dentro e fora do ambiente acadêmico, a partir do Una-se eu adquiri autoestima, força, orgulho e me senti, realmente, dentro de uma comunidade, acolhido. Hoje, ao olhar para trás, vejo com orgulho o que foi construído. Eu me sinto grato por tudo que aprendi com os professores envolvidos, em especial o Roberto. E acredito que tenha deixado minha contribuição também. O projeto ainda me acompanha, trouxe sentido à minha carreira e vida. Eu desejo que este importante trabalho cresça e alcance ainda mais pessoas”.

 

Débora Gomes – Jornalista

“Participei do Una-se bem no comecinho. Eu era estudante do curso de jornalismo e o projeto, além de me mostrar na prática o dia a dia da profissão – com reportagens, entrevistas, produção de fotografias e matérias -, também me ensinou muito sobre respeito, diversidade e afeto. Lembro até hoje da primeira vez que filmamos na rua, o receio e a alegria que acompanham os aprendizados andaram juntinhos.  O Roberto Reis, que conduzia o grupo de alunos do Una-se, sempre foi, pra mim, um grande exemplo de pessoa e profissional. Aprendi bastante com ele e tenho muito orgulho em ter feito parte dos primeiros passos do “Una-se”.

 

Bárbara Andrade – Jornalista

“O Una-se é um projeto lindo que prega o respeito, a empatia, luta por direitos e ensina muito. Participar dos primeiros passos do Una-se foi muito engrandecedor!

Projetos como este são capazes de mudar para melhor a vida de muita gente! E, saber que com o passar dos anos, o Una-se ganhou mais força e visibilidade é incrível. Parabéns a todos os envolvidos nesta história tão especial”.

 

Ruth Pires – Psicologia

“O Una-se chegou pra mim em um momento muito importante, logo quando começou a pandemia. E tem um significado muito importante na construção da minha identidade em relação à população LGBTIAP+. Lá eu pude experimentar, debater sobre os diversos temas e me entender melhor enquanto mulher negra lésbica.

 

João Brasil – Psicologia

“Participo do Una-se desde maio de 2020, quando recebi um convite para participar do ‘primeiro evento digital do projeto’. Era uma roda de conversa com relatos e experiências de pessoas que integraram o projeto ao longo da sua existência. Foi amor à primeira vista!

Logo procurei a coordenação para saber como participar e mostrei tanto interesse que uma semana depois, já estava conduzindo uma roda de conversa sobre relacionamentos homoafetivos.

Por muito tempo, a minha orientação sexual não foi tema fácil para mim. Mas, já vinha há alguns anos me desconstruindo e descobrindo como a vida pode ser mais leve quando se é livre.

Considero a minha entrada no Una-se como a “cereja do bolo” nesse processo. Ter este compromisso, poder me conectar com a comunidade, dialogar, estudar, aprender e conviver tem me fortalecido cada vez mais”.

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Bandeira com as cores da causa LGBT no Beira-Rio (Reprodução)

          Time belo horizontino fundado em 2019 possibilitou a inserção de pessoas LGBTQIA+ no futebol

Por: João Gabriel

O futebol é mesmo fascinante e sempre conquista mais amantes ao redor do planeta, sendo indivíduos de diferentes classes sociais, nacionalidades, etnias, idades, gerações e gêneros. Todos reunidos ansiosamente à espera do gol, acompanhando lances protagonizados pelos artistas do jogo.

Com a missão de proporcionar um espaço inclusivo e de aceitação no esporte, nasceu em 2017, no Rio de Janeiro, a primeira edição do campeonato de futebol gay do Brasil: A Champions LiGay – nome inspirado na famosa Champions League – que por sua vez é organizada pela LGNF (Ligay Nacional de Futebol), disputada em quadras society. A segunda edição do torneio foi disputada em Porto Alegre/RS e passou de 8 para 12 clubes, a mais recente aconteceu em Belo Horizonte no ano passado, desta vez com 28 clubes de diversas partes do Brasil.

Com a boa recepção do campeonato, várias outras equipes do gênero continuam a surgir pelo país entre elas o “Predadores FC” do bairro Ipiranga, região Nordeste de Belo Horizonte. O clube mineiro teve sua criação em 19 de Fevereiro de 2019 com a proposta de acolher e inserir LGBTs no futebol.

Seu surgimento se deu neste período após a dissidência entre integrantes de outros clubes da categoria. A equipe conta com staff que inclui comissão técnica formada por duas treinadoras, personal trainer e psicólogo esportivo que se encarregam na manutenção da filosofia de trabalho, da técnica e autoestima dos atletas durante as competições oficiais e treinamentos.

Reiterando o espírito coletivo e a seriedade do trabalho realizado, o presidente Marcos Berna comentou “Nossos atletas/irmãos são muito conectados a família Predadores Futebol Clube. A frente da psicologia  desportiva temos o grande profissional Nil Costa que sempre pratica intervenções no cotidiano, e passa várias técnicas de relaxamento, auto controle e ansiedade.”  Segundo ele, as treinadoras e o psicólogo desempenham a função de forma voluntária.

Fora das quatro linhas o time ‘Predadores’ não contempla o amparo e auxílio de padrinhos ou patrocinadores, embora muitas vezes surgem interessados ou aproveitadores que acabam declinando o projeto no meio do caminho por inúmeros motivos “Tivemos apoiadores temporários, muitas promessas feitas e poucas cumpridas. Sempre aparecem pessoas que querem divulgar sua marca sem ajudar em nada a equipe. Mas, aos poucos identificamos as reais intenções e afastamos alguns. Alguns resolvem não patrocinar pela equipe ser LGBT, outros não renovam por opção própria ou tendo outras modalidades em vista”, esclareceu Marcos.

Quanto a escolha dos atletas, o clube adota uma política que vem a corroborar com o sentido de diversidade em todos os níveis, sem impor restrições a possíveis jogadores quanto a faixa etária, biótipo, padrão estético ou fisiológico. “Basta ter vontade de competir, recrear, que está dentro de nossa filosofia. O único pré requisito básico é ser integrante da nossa sigla LGBTQIA+. Aos interessados, só nos procurar no Instagram, via direct ou demonstrar interesse e comparecer em nossos treinos. Todos são muito bem vindos”, reforçou o presidente.

Sobre a presença de pessoas que sejam heterossexuais na composição do elenco, ela é parcialmente permitida, porém, sob algumas regras e exceções “Na categoria feminino podem sim atletas heterossexuais, no masculino permitimos treinos esporádicos, mas veremos a participação em campeonatos. Porque seria (caso acontecesse) uma forma de excluir os LGBTs que estão conosco no dia a dia.” 

Como consequência em torno dessa ação, mudanças positivas são proporcionadas no cotidiano dos jogadores envolvidos. Henrique Júnio, 21, relata sua sensação de poder vivenciar a experiência “Quando cheguei no time fui bem recebido por todos, não sabia que tinha time gay. Foi onde comecei a me abrir mais, foi uma experiência muito boa, hoje tenho o Predadores como minha segunda família. Não abro mão dele por nada.”

A rejeição à comunidade LGBTQIA+ no ambito geral do esporte revela sinais de mudanças mundo afora. Em pesquisa divulgada pela BBC em 2016, a conclusão é que 82% dos torcedores britânicos de várias modalidades, não se importariam se um jogador de seu time anunciasse ser gay. Apenas 8%, disseram que fariam questão de deixar de acompanhar a equipe se isso ocorresse. Neste mesmo levantamento 71% dos entrevistados defenderam que os clubes devem contribuir no combate a homofobia.

Em solo brasileiro já podemos notar esforços, ainda que tímidos por parte de federações  neste sentido, desde a iniciativa de incluir o número 24 (medida adotada por alguns clubes na numeração de uniformes). Estigma que começa a cair aos poucos, mas que perdurou por bom tempo no imaginário coletivo, até a abolição de cânticos homofóbicos nos estádios, sob pena de multa a instituição que não se enquadrar. Atitude até então simples, que a médio/longo prazo pode trazer transformações profundas em outras áreas no país.

Esta modalidade que diferente de outras, não necessita um tipo físico específico para praticá-la (no âmbito amador), sendo sua aplicação acessível às pessoas de características singulares, baixos a altos, de franzinos a mais fortes, de magros a gordos. Considerado o  esporte mais popular do mundo, que em tese, deveria exercer seu principal valor social, a inclusão, independente das diferenças sejam quais forem. Como todo entretenimento é um reflexo de nossas qualidades e fraquezas enquanto sociedade, o futebol tem em sua história tristes capítulos, com episódios de racismo e homofobia ainda muito corriqueiros.

História

Em 1990, época a qual o tópico em relação à orientação sexual não era sequer mencionado e discutido no mundo do futebol, Justin Fashanu, jogador inglês de futuro promissor, foi o primeiro – e até hoje, único –  atleta do futebol da história a revelar publicamente sua homossexualidade estando em atividade na carreira, enquanto atuava na primeira divisão do campeonato inglês. Passou por clubes tradicionais do país como Manchester City e West Ham. Também vale destacar que ele foi o primeiro jogador britânico a valer 1 milhão de Libras em uma transferência.

Em virtude de sua declaração pública no ano de 1990 apesar de possuir destreza ímpar com a bola nos pés, Justin perdeu cada vez mais espaço no meio futebolístico sofrendo frequentes boicotes por parte de cartolas de outros clubes, passando a conviver com ataques homofóbicos cada vez mais pesados derivado de companheiros de time, torcida, dirigentes e imprensa, que volta e meia especulava a sua sexualidade e até mesmo de seu irmão John Fashanu, que também era jogador e passou a rejeitá-lo.

A somatória de acontecimentos negativos em sua carreira e vida pessoal atribulada, culminou no melancólico fim de Justin Fashanu, que decidiu pôr fim a sua vida  em 1998, após falsa acusação de abuso sexual por parte de um jovem de 17 anos. Antes de sua morte, Justin deixou uma carta, onde negava as acusações, afirmando  que o ato sexual foi consensual e que sofreu uma chantagem por parte do jovem que queria dinheiro, e ainda considerou a possibilidade de não ter um julgamento imparcial e justo em virtude de sua orientação sexual.

Eu percebi que já tinha sido considerado culpado. Não quero envergonhar minha família e amigos. Ser gay é uma personalidade muito difícil, mas não posso reclamar. Queria dizer que não agredi sexualmente o jovem. Tivemos sexo consensual, mas no dia seguinte ele me pediu dinheiro. Ao recusar o pedido, ele falou ‘espere e você vai ver só’. Se esse é o caso, eu ouço vocês dizerem, por que eu fugi? A justiça nem sempre é justa. Percebi que não teria julgamento justo por conta da minha homossexualidade”.

O ex jogador Richarlyson, que embora nunca tenha se declarado a respeito, como Justin, foi outro caso notório de como a intolerância e a discriminação no futebol ainda continuam presentes. O anúncio de sua contratação, feita pelo Guarani em 2017 foi recebido de forma negativa e jocosa, com piadas por parte da torcida rival, de figuras públicas como o vereador Jorge Schneider  e protestos da própria torcida do “Bugre”, apelido do clube de Campinas.

A decisão de um atleta em revelar este lado da vida pessoal divide opiniões. Falas controvérsias à respeito disso, como a do conhecido treinador Renato Portaluppi podem colaborar, ainda que indiretamente, para a invisibilidade de gays no futebol profissional. Em entrevista para o jornal Folha de São Paulo, há alguns quando indagado se um jogador deveria assumir ou não sua condição Se tem um gay na música é normal, se tem um gay ator é normal, se tem um gay em qualquer profissão é normal. Mas se tem um gay no futebol, vira notícia mundial. Por quê? Não entendo isso”, opinou.

 

* Matéria supervisionada por Italo Charles e Daniela Reis