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livro infantil

Por Keven Souza

Hoje (18) se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil. A data é uma referência ao nascimento, em 1882, de Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura infantil brasileira. O escritor é a personificação erudita do gênero literário com obras clássicas ligadas a linguagem da criançada, como Sítio do Pica-Pau Amarelo, O Saci, Fábulas de Narizinho, Caçadas de Hans Staden e Viagem ao Céu.

São realizadas neste dia diversas ações, projetos e campanhas para celebrar a leitura infantil em toda a sua essência e universo lúdico que se faz singular. Acima de tudo, 18 de abril é também um momento de reflexão sobre uma iminente conscientização dos adultos e das instituições responsáveis pela formação das crianças acerca do incentivo à leitura desde a fase pequena. 

Seja na sala de aula, campo aberto ou até mesmo em casa, o ato de ler contribui para o desenvolvimento de capacidades que fundamentam a base de um ser pensante que está em construção. Mas em tempos de uso de tantas telas, e agora com o ensino remoto ou híbrido, os livros infantis ainda têm espaço na rotina das crianças? Será que a leitura possui ainda valor e magia? 

É a partir dessas nuances que muitos professores e escritores têm feito um trabalho genuíno, pensado em conservar o hábito da leitura e disseminar a importância do livro físico. E nesse mar de heróis literários, temos a jornalista, escritora e heroína mineira, Paula Fernandes, que procura voltar seus esforços e conhecimentos à atividades e ações transformadoras no mundo pueril. 

Natural de Belo Horizonte, Paula é amante da escrita infantojuvenil e sua paixão pela área vem desde cedo. “Sempre gostei de crianças e de literatura. Acho um universo lúdico e repleto de possibilidades. Por volta dos meus 18 anos, eu era catequista e achava a linguagem da Bíblia complexa para crianças menores de 9 anos. Fiz o resumo do Novo Testamento e imprimi, por minha conta, alguns livretos e conversava com meus catequizandos sobre o tema. Essa foi minha primeira experiência com o público infantojuvenil”, diz Paula.

Ela conta que mais tarde, como jornalista, a vontade de escrever para a criançada se tornou ainda maior após perceber um gap de assuntos destinados ao público infantil. “Ao fazer matérias jornalísticas sobre educação e saúde, percebi um gargalo de alguns temas, por exemplo, sobre inclusão e política, e queria retratar algumas realidades de forma que não subestimassem a inteligência das crianças, aliás, elas são extremamente inteligentes”, explica. 

Com olhar disruptivo e voltado ao universo infantil, em 2016, Paula uniu literatura, inclusão e diversidade em seu primeiro livro, “O que Beca tem de diferente?”. Já no ano de 2018, lançou “Aprendendo sobre Honestidade com Lili”, levando a criançada a pensar, refletir e aprender um pouco sobre honestidade e política. 

Em 2019, a escritora escreveu o livro “Turminha Adownrável”. Na obra, a autora abre espaço para a discussão sobre o tema síndrome de Down, de modo simples e lúdico. Trabalho que entretém, informa e emociona, e que, de certo modo, traz orgulho aos leitores mineiros. 

Incentivo à leitura 

Ao adentrar nas páginas de um livro, aprendemos não só novas palavras e frases, mas também outras culturas e o que se mais tem rico na mente humana: a imaginação. 

O poder de imaginar é uma excelente experimentação, e é ainda mais forte quando se é menor. As crianças podem adquirir novas habilidades e diferentes conhecimentos através do imaginário que a leitura permite. Hoje, é mais do que comprovado que por meio dela o leitor mirim aprofunda o conhecimento, constrói relacionamentos interpessoais e desenvolve a empatia, além da cognição.   

Para Paula, o livro é um instrumento poderoso na fase pueril. “Certa vez, eu li que ‘os livros são portas para o conhecimento’. Acredito que o gosto pela leitura deve ser desenvolvido já na primeira infância, pois estimula a criatividade, a imaginação, o raciocínio, a criticidade, a reflexão, desenvolvimento cognitivo, ampliação de vocabulário e muito mais”, afirma. 

Segundo ela, escrever um livro voltado ao público infantojuvenil, bem como estimular o hábito de ler, não é uma tarefa fácil. Requer seriedade além de técnicas que ajudam a reter a atenção dos pequenos. “É imprescindível ter responsabilidade com o que você está escrevendo, sobretudo, com o público infantojuvenil. Todos os meus livros passaram por uma revisão cuidadosa de profissionais das áreas da educação e da saúde, além de especialistas nos assuntos que escrevo para os menores”, ressalta. 

Entre as estratégias para se fazer um bom livro infantil citadas por ela, estão a criação de tema, enredo e vocabulário adequados para a faixa etária; a utilização de título de fácil memorização; uso de muitas cores e ilustrações chamativas; uso correto da tipografia e animais nas histórias. 

A escritora ressalta ainda que é interessante fazer uso de nomes de personagens na qual a criançada se identifique. Os sujeitos de suas estórias, por exemplo, foram desenvolvidos por influência de seus amigos e familiares. “Todos os meus livros são baseados em fatos e as minhas personagens são inspiradas em crianças reais, ora por meio de alguma matéria que escrevi, noticiário ou até filhos de colegas. Os nomes são em homenagem às crianças da minha família”, pontua. 

Como escolher um bom livro na era digital 

Embora as telas sejam grandes concorrentes do livro, temos que desprender a imagem de serem competidores e usar ambas a favor da aprendizagem àvida. 

O livro físico tem seu valor e não pode ser deixado totalmente para trás, isso é fato! Agora, é preciso unir forças com a tecnologia para que juntas possam atrair a atenção do leitor mirim e fomentar a leitura em toda sua totalidade. “Independentemente da era digital, o importante é estimular a leitura da criançada e os pais e professores devem ser grandes aliados”, comenta Fernandes. 

Dito isso, é preciso ter cautela na hora de escolher a leitura do seu pequeno. A autora do livro “Turminha Adownrável”, deslumbra que, de maneira bem objetiva e subjetiva, as dicas mais importantes na hora de buscar por um livro infantil é estar atento a faixa etária e a mensagem que aquele livro possui.

Outro ponto a ser destacado é usar a leitura atrelada aos interesses da criança, como fazer roda de leitura em parques e bibliotecas; diversificar os livros com personagens que estimulam a imaginação; bem como optar pelas obras clássicas do universo da criançada.

Paula e o cartunista e escritor Maurício de Sousa

Neste dia de celebração do livro infantil, leia para uma criança! Permita ela experienciar o poder da imaginação que se forma quando se entra em contato com o mundo da fantasia. A magia é real e precisa ser cultivada em toda sua instância e constância. 

Recado para marcar a data

Ler para uma criança é um portal para um universo repleto de conhecimento e possibilidades, além dela desenvolver habilidades que serão imprescindíveis para sua vida. Uma criança que lê será um adulto leitor, com mais criticidade, que brinca com vocabulário, que permite conhecer outros universos e com sede de conhecimento, porque sabe que será um eterno aprendiz”, diz Paula. 

Se você se identifica com o trabalho da Paula e quer mais sobre sua trajetória, siga ela no instagram e leia suas obras em seu site: Livrolândia

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A escritora Juliana James conversou com o Contramão e contou sobre a campanha e sua trajetória na literatura infantojuvenil

*Por Filipe Bedendo

Pessoa inquieta, produtora cultural, professora de teatro, pedagoga e escritora. É assim que a mineira Juliana James se define. Para ela, o caminho no mundo das artes surgiu bem cedo, apenas com 6 anos, quando começou as aulas aulas de teatro. Mas foi em 2013 que ela se lançou como escritora com o  livro “Qual a cor da sua vida?”. Desde então, não parou mais de escrever, já são 10 títulos publicados com temas variados que incluem diversidade familiar, inclusão de pessoas com deficiência, empoderamento feminino, e claro, fantasia.

Em março de 2020, Juliana lançou duas novas obras  e  começaria a divulgação dos títulos nas escolas, mas, assim como muitas pessoas, foi pega de surpresa pela pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). Sem poder dar aulas de teatro e ao olhar as caixas de livros paradas em casa, a escritora decidiu criar uma campanha na internet a fim de arrecadar fundos e fazer uma boa ação nas instituições públicas de Juiz de Fora e região.

O Contramão conversou com a escritora, que falou mais sobre a campanha e sobre o seu trabalho.

Como surgiu a ideia da campanha? 

No dia 14 de março, lancei dois livros novos na Biblioteca Municipal Murilo Mendes: “Entrei pra família”, que fala de adoção e diversidade familiar, e “A Lua e o Riacho”, que é um livro extremamente poético, cheio de figuras de linguagem. No dia 16 de março tudo parou e  fiquei com esses exemplares em casa. Iria começar um trabalho de ir nas escolas, como eu sempre faço. Mas, com os livros em casa,  sabia que seria difícil vender. Sou professora de  teatro, meus trabalhos pararam e eu precisava encontrar uma forma de sobreviver nesse meio tempo, porque não dá pra ficar dependendo do governo. Foi aí que decidi lançar a campanha. Os livros custavam R$30,00 e R$35,00, eu coloquei todos a R$20,00. E a cada R$20,00 arrecadado, um livro é doado para uma escola pública de Juiz de Fora e região. Vários amigos contribuíram. Divulguei nas redes sociais e no Whatsapp. Já até entreguei no Caic Rocha Pombo, na Zona Norte, no Caic Núbia Pereira e na AMA. Meu objetivo é tentar juntar pelo menos 20 livros para cada escola. 

A quarentena mudou muito a sua rotina de trabalho? Como foi a adaptação?

Sim. 

É muito difícil dar aula de teatro online. Eu trabalho  com crianças, adolescentes e jovens, então, foi um desafio muito grande. Tenho mantido contato com os alunos, a gente tem feito alguns encontros digitais, mas o teatro é uma arte  que precisa do contato, precisa do afeto, de estar junto, ainda mais com crianças. 

Alguns dos seus livros são inspirados em pessoas reais, com problemas reais. Como é o processo de transformar esses assuntos em histórias lúdicas?

Para mim, o processo de escrita acontece de forma bem natural. Escrevo sobre coisas que eu quero defender, coisas que acredito e sobre pessoas que me inspiram. No caso de “Malu”, por exemplo, foi o último livro que escrevi inspirado em uma pessoa real, a Malu tinha um grave problema de saúde. Quando a conheci, a mãe dela me contou sua história  e a ideia veio na minha mente. Acho que cada escritor tem uma linha, cada pessoa escreve de um jeito. É claro que os livros são todos de ficção, alguns são inspirados em pessoas reais mas, mesmo assim, são livros de ficção. Acho que toda pessoa que escreve se inspira em alguém real. Alguma história do passado ou alguém que marcou muito a vida.

“Entrei para a Família” é um livro que abordamos diferentes tipos de família, incluindo casais homoafetivos e filhos adotados. Além deste, outros livros falam sobre deficiências e o papel da mulher na sociedade. Qual é importância de tratar esses temas com as crianças?

“Entrei pra família” é um livro muito bacana. Ele tem um cachorrinho como narrador e ele conta a história de uma garotinha que o adotou, esse é o gancho que faz ele explicar para as crianças o que é adoção. Ele explica que adotar é um ato de amor. Ensina o que está escrito no dicionário mas ele acaba explicando de um jeito mais simples e direto. E ele fala que a famílias são de todas as cores, que têm famílias de várias formações: tem a mãe com o filho, tem o pai com filho, tem família com dois pais, família que têm duas mães e tem família que a criança é criada pela avó, pelo tio ou por um irmão. O importante é o afeto que une as pessoas. Eu acho importante tratar desse tema. 

Tenho alguns amigos que adotaram. Tenho um casal de amigos que têm menininha e um casal de amigas que também têm um garotinho, então, esses amigos acabavam me pedindo para falar sobre isso. Nas minhas andanças de contação de histórias, outras pessoas que conheci me pediram isso. Fiquei com essa ideia na cabeça e então escrevi esse  livro. Coloquei o nome do personagem principal de Anny Eliza, que é o nome de uma garotinha que conheço e foi adotada. É um livro de ficção mas, como sempre, inspirado em pessoas reais que conheço.

Já recebeu alguma mensagem de pais que tiveram resistência aos livros por conta dos assuntos abordados?

Não, nunca. 

Na época que lancei “Céu de Outono”, que fala de empoderamento feminino, tive uma certa resistência por parte das escolas. É um livro que fala de gênero e é bem bacana, com ilustrações lindas. Mas, na época estava uma loucura essa coisa de “Escola Sem Partido” e de não poder falar sobre gênero nas escolas. Então, os diretores estavam com medo de me deixar contar essa história e as crianças entenderem ou levarem para casa de um jeito e alguns pais não aprovarem. Eu vivi isso, um certo temor por parte das instituições em falar sobre o assunto por receio de pais mais conservadores. Mas diretamente nunca me foi encaminhado.

Qual a principal mensagem que você deseja levar passar com os seus livros?

Não tem uma mensagem específica. Eu penso que preciso ajudar de alguma forma. Minha vontade é essa: contribuir para que as crianças se tornem cidadãos críticos e para que não sejam pessoas preconceituosas. Essa é a minha preocupação. Acho que são vários assuntos, vários temas e várias mensagens.

Você tem algum livro que marcou sua infância e te fez querer escrever?

Tenho contato com a leitura e com os livros desde muito cedo. Comecei a fazer teatro com 6 anos e fui apresentada a muitos autores. Tenho enorme gratidão ao teatro, então sou suspeita para falar. “A bruxinha que era boa” e “O Patinho Feio”, me marcaram muito, porque foram as primeiras peças que eu fiz e os primeiros textos que eu decorei. A “Maria Minhoca”, que é um texto incrível da Maria Clara Machado, “Crime Atrás da Porta” e os livros do Pedro Bandeira também. São vários livros que me marcaram, eu poderia fazer uma lista infinita.

O que você considera mais gratificante no trabalho e escritora e contadora de histórias?

Acho que o mais importante para mim e o que me deixa feliz, é que eu sou uma pessoa adulta e trabalho com algo que sou apaixonada desde a minha infância. Eu trabalho com que eu gosto, trabalho com arte, trabalho com teatro e com literatura. E isso me deixa imensamente feliz, apesar de ainda ser muito difícil trabalhar com arte.

 

 

*A entrevista foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis e Italo Charles