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Vamos começar a semana com música? Segue a nossa penúltima banda do Almanaque de Bandas Independentes de BH, produzido pela jornalista Bianca Morais. 

PAPA BLACK

Amigos da Duetê e com um produtor que entende da indústria musical em Belo Horizonte, está a Papa Black.

Se você já foi ao Major Lock (casa noturna de Belo Horizonte frequentada por jovens), talvez você os conheça por Black n’ Yellow.

Frequentadores do lugar que serviu de primeiro palco para grandes bandas de BH como Skank, Jota Quest, Tianastácia e Lagum, os amigos Ítalo Martins, Guilherme Saffran, Hiago Dias e Gabriel Alonso, o Popota, sentiam falta de um show ali que não fosse um cover de banda de rock antiga. Foi então que tiveram a ideia:

“Vamos formar uma banda e começar a tocar no Major Lock”

Tendo em vista que eram amigos de promoters da casa, viram ali a oportunidade de mostrar o som da Black n’ Yellow para o público belorizontino.

A banda tinha esse nome porque, segundo o vocalista Ítalo, a banda “tinha dois pretinhos: eu e o Popota e dois loirinhos: o Hiago e o Saffran”. Preto e Amarelo, Black n’ Yellow.

Hiago foi o primeiro a deixar a banda por motivos de trabalho. Amigos de longa data, Ítalo não queria que ele sumisse dessa maneira da história da banda e o convidou para produzi-la.

Com Hiago assumindo o papel de produtor, a Black n’ Yellow passou a se profissionalizar, correr atrás de show e de uma formação maior da banda.

A banda

A primeira formação começou com o Ítalo no vocal, o Hiago e o Saffran no violão e o Popota no Cajon. Era uma banda descontraída de amigos, que tocava em alguns rolês para animar a galera.

Para se profissionalizar, após a saída do Hiago, a banda precisava de um guitarrista e um baixista. O Popota tinha um amigo, o Fábio Fuly, que iria comprar um baixo. O Ítalo virou para o Popota e falou:

“Beleza, manda 25 músicas para ele aprender a tocar.”.

O Fuly chegou no dia do show cheio de papel de partição embaixo do braço. Entrou no palco, tocou com a banda e dali não saiu mais.

Ok, agora precisavam de uma guitarra. O Ítalo tinha um amigo de escola que tocava, o Lorenzzo Antonini.

“Cara, quer entrar na minha banda?”

“Quero”.

Pronto. Mais um integrante.

O Popota saiu.

O Luqui entrou na bateria, substituindo o Cajon. Depois acabou saindo também, entrando no seu lugar o Yuri, que também saiu. Por fim, apareceu o Caio Plinio, primeiro baterista oficial da Papa Black. Os outros eram apenas freelancers.

Nesse meio também teve a Júlia, que trouxe a voz feminina para a banda durante um tempo.

O então advogado/músico Lorenzzo Antonini foi seguir a carreira de advocacia e deixou a banda. No seu lugar entrou Artur Santos, Tuts para os íntimos. O Artur, assim como o Hiago (já produtor da banda), produzia eventos. Em um ou dois shows da Papa Black em que o Hiago não conseguiu aparecer, o Artur foi no lugar dele, conheceu a banda, se apaixonou e quando a vaga do Lorenzzo apareceu, não restaram dúvidas, era a vez do Tuts assumir esse lugar.

Na formação atual também tem o João, tecladista e Cassio Santos, o percussionista.

É possível perceber que as entrevistas de emprego para uma vaga na Papa Black não são muito difíceis, porém as vagas já acabaram.

A Black n’ Yellow começou sendo uma banda de amigos que queriam tocar Natiruts, Rael e Gabriel, o Pensador no Major Lock. Através da influência das músicas que tocavam, foram montando uma identidade e a vontade de se profissionalizar e fazer um trabalho autoral foi crescendo.

Por que contei toda essa história da formação?

Porque quando os meninos deixaram de ser a Black n’ Yellow para ser a Papa Black eles tinham um objetivo claro: se profissionalizar. Deixar aqueles 200 reais em consumação no bar do amigo no passado e voar alto. Acontece que em uma banda, nem sempre todos estão na mesma sintonia. Quando você quer deixar a “parada mais séria”, quem está ali só por diversão acaba ficando para trás. E mais uma vez, isso não é um problema. A amizade prevalece, mas em determinado ponto da caminhada para o sucesso é necessário abrir mão, por exemplo, de cachê, que passa a se tornar caixa para a banda. Entre outras mudanças, definir prioridades que, só quem quer seguir esse novo rumo, topa.

O ano de 2019 foi de transição para a banda, começando 2020 trabalhando mais forte. Com novos lançamentos, mas ainda tocando covers no repertório. Afinal, para uma banda ser atrativa para contratantes, precisa de um cover, mas tudo isso com o objetivo fixo de criar caixa para produção do material autoral que tanto almejam.

A mudança de nome

Se a primeira coisa que lhes vêm à cabeça ao escutar “Black n’ Yellow” é a música do Wiz Khalifa, não é só na sua, é no search do Google também. Digita lá esse nome e aparece a versão original, a versão ao vivo e vários covers.

Nome de banda já é algo complicado, mas quando ela tem o mesmo nome de uma das músicas mais famosas de um rapper americano, parece até auto sabotagem.

E eles perceberam isso. Não dava para competir com a canção, então era necessário encontrar um novo nome.

O nome, além de tudo, ainda era difícil de escrever, ninguém conseguia marcar @blacknyellow nas redes sociais bêbado na balada. Quando os meninos estavam no Uber e contavam que tinha uma banda, o motorista perguntava o nome e ao escutar a resposta, a primeira reação era: “o quê?”

Os flyers de evento com o nome errado.

Mudar era necessário e urgente. A banda estava com o lançamento do EP marcado e não tinham um novo nome e não queriam lançar com o antigo.

Foi em uma tarde, na praça do Papa, que o Ítalo (o que menos concordava com a mudança de nome, muito apegado o garoto) soltou um: “por que a gente não chama Papa Black?” Papa, porque é um dos lugares mais notórios de BH e um dos favoritos dos garotos, e Black, para não perder a identidade que carregaram por tantos anos.

O primeiro EP então foi lançado em Março de 2018, já com o novo nome da banda: Papa Black.

A Papa Black

Ítalo, o furacão, nunca consegue passar despercebido em lugar nenhum. Um verdadeiro vocalista, com presença de palco e estrela na testa. Gosta de holofote e é um cara muito emocionado.

O Saffran, junto com o Ítalo, é o integrante mais velho da banda e traz calmaria para a energia que o amigo tem.

Fuly, rapaz peculiar, sabe dar informação de tudo, desde medicina forense até astrologia, gosta de um forró e de um Led Zeppelin.

Caio, o maestro. Internamente acabou assumindo a função de produtor artístico, conteúdo teatral e trouxe o show business para a banda.

O Cassin traz a swingueira com toda a sua percussão.

Artuzin é o mais novo da banda e mais empolgado. O João, o amigão. E o Hiago, o paizão.

Junta esses oito garotos, muito pop, muito rap e muito reggae. Se antigamente se rotulavam somente dentro de um determinado som, como reggae music ou rap, hoje a Papa Black quebra essa crença e coloca de tudo na sua música.

O Ítalo é um cara de momento e vemos isso claramente nas composições da banda. Com muito freestyle e improviso, quando a ideia vem na cabeça ele bota para fora, sem muito planejamento.

A maioria das músicas da Papa Black nasceu dentro do estúdio. Enquanto os músicos chegam com a estrutura harmônica, o Ítalo compõe a letra na hora da gravação. Com ele não tem aquele negócio de “gosto de ir para o campo escutar os pássaros e tomar um café coado pela avó”. Com ele é energia o tempo todo, o garoto é ligado no 220v.

Falando Mercadologicamente:

Muitas bandas que passaram por este almanaque têm contratos com distribuidoras de música que os ajudam a espalhar seu som e fazer com que cheguem a mais pessoas.

Pois bem, a Papa Black também trabalha com uma distribuidora, a Sony.

Sim, a Sony, a famosa gravadora que também oferece contrato de distribuição de música para artistas em ascensão, e um desses exclusivos artistas são eles, a Papa Black. A música Procê foi lançada em parceria com eles e deu um resultado muito positivo.

A Papa Black, como todas as outras bandas desse almanaque, começou como uma banda independente. Há diversas concepções técnicas para conceituar “música independente”, mas informalmente falando, podemos entender o termo “independente” como uma produção autônoma que, geralmente, não possui financiamentos da indústria musical e cultural por trás. Mas a Papa Black, em um determinado momento, cresceu e precisou sair dessa independência e, de certo modo, amadorismo.

A Sony, com todos seus contatos, consegue levar seus artistas a playlists com milhares de seguidores. A gravadora trabalha com diversos tipos de contratos para bandas. A Daparte, banda que falaremos em seguida e gerenciada pelo mesmo produtor da Papa Black, também tem um contrato com eles, porém um pouco diferente, no caso deles é investido dinheiro.

Para fins de curiosidade, a banda Lagum tem o contrato 360, que é o contrato artístico onde a Sony banca tudo.

Enfim, quando a Papa Black decidiu se profissionalizar, eles não estavam de brincadeira. O Hiago, produtor, faz a mesma função da Cris da Duetê, que é a de ser alguém de fora atuando dentro da banda para ajudá-los a perder um pouco da visão artística e pensar na visão mercadológica.

Produção de conteúdo de qualidade em estúdios e reverter cachê em produção de música e clipe. O público está acostumado a receber conteúdo de todos os lados e, com certeza, aquele com maior qualidade irá atrair mais.

Ao longo dessa caminhada, a antiga Black n’ Yellow começou sendo uma banda cover e percebeu que, em um determinado momento, se saturaram de cantar músicas dos outros e queriam mostrar ao mundo o que era deles. Uma banda cover raramente vai sair da sua cidade natal porque, afinal, se for para contratar uma banda que toca músicas de outros artistas, os contratantes encontram-se na própria cidade. A Papa Black queria mais.

Enfrentaram dificuldades ao querer mostrar seu trabalho autoral na sua cidade, mesmo em se tratando da capital mineira. O perfil do contratante da própria cidade é querer uma banda cover para animar a galera. Perderam nisso, mas ganharam muito mais.

Fizeram uma música teste lá em 2017, quando a Júlia estava na banda. “Não dá mais” ainda é a música com mais plays nas plataformas de streaming. Viram resultado e investiram mais. O EP veio. Confira Tulipas no Spotify.

Papa Black é uma banda com visão de mercado, mas também com visão de parceria. Acreditam fielmente que o cenário das bandas independentes de Belo Horizonte não é de competição, mas de trocas. Um ajudando o outro, no final todos só tem a ganhar. Tem lugar para todo mundo, caminhando lado a lado, de forma democrática, abrindo espaço para todos tocarem e apresentarem seus trabalhos. Há uma valorização mútua. Apoie sua cena local. 

 

*Esse produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.

 

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Crédito: DIVULGAÇÃO

Retornamos do recesso!!!! A partir de hoje estamos de volta com as nossas matérias e publicações. E para dar start na primeira postagem do ano, trazemos a Banda Duetê que faz parte do Almanaque produzido pela jornalista Bianca Morais.

DUETÊ

A autora deste almanaque que aqui vos fala pede que antes de começar a ler sobre essa banda, vá imediatamente na sua plataforma preferida de streaming e procure a banda Duetê. Em seguida, clique na música Tô na Tua e coloque no último volume.

Ok, não precisa ser no último, mas alto o suficiente para que você sinta a energia.

Sentiu de primeira? Não? Tente de novo, e de novo, e somente quando você conseguir sentir pelo menos um pouquinho de energia volta aqui, porque agora vou falar de uma das minhas bandas favoritas de Belo Horizonte, o nome dela é Duetê.

Nada do que eu posso fazer vai te tirar de dentro de mim vem dizer que é aqui que quer viver uhuuuuuuuuuuu

Todas as bandas que estão neste almanaque são muito boas e eu gosto de todas. Não queria e nem sei se poderia me dar ao luxo de escolher uma favorita, mas a Duetê com certeza tem um espaço especial no meu coração, e eu digo o porquê.

1-         Acho que eu definiria o som deles como brasilidade e isso me atraiu desde a primeira vez que escutei.

2-         Os caras são simpáticos, viu?

3-         Eles têm uma produtora muito incrível, que faz de tudo para ajudá-los a alcançar o sucesso, inclusive ser legal com todo mundo que conhece a banda.

Tem outros vários motivos, mas talvez através desses três, o sentimento de conhecê-los cresça em vocês.

Mas agora vamos falar um pouco sobre eles.

Gabriel Costa, Gustavo Rabelo (também conhecido como Peixe) e Pedro Lacerda são melhores amigos desde o colégio.

A banda de pop rock começou inicialmente como um projeto solo do vocalista, o Costa. Lá em 2017, depois de um tempo tocando em bares, ele decidiu que queria gravar suas próprias músicas, quando nasceu Natureza e Sou Litoral.

Na época, o Peixe e o Vitin (ex-integrante da banda, tecladista, saxofonista e sanfoneiro) acompanhavam o Costa pelos botecos mineiros, enquanto o Pedro Lacerda, o Lamac, estava lá na Nova Zelândia.

O Lamac voltou da Nova Zelândia, entrou na banda dos amigos e quando foram lançar as músicas, o Costa não quis assinar sozinho um trabalho que teve participação de todos. Foi então que no dia 16 de julho de 2017 nasceu a primeira banda dos meninos, Costa e os Mitos.

Curiosidade n°1: O Lamac, segundo ele próprio, aprendeu a tocar baixo uma semana antes dessa data aí em cima. Ok, provavelmente não foi uma semana antes. Mas até entrar na banda, o baixista não sabia tocar baixo. Antes de voltar de viagem ele era DJ, mas cansado da vida de mixagem, ao retornar ao Brasil e ver os amigos tocando em bares pediu para acompanhá-los com um violão ou uma guitarra, instrumentos que ele tocava. Como o Costa já tocava o violão, o Lamac pegou o baixolão do pai do Costa e falou:

“Ah, então vou tocar ele.”.

Isso mesmo, sem medo de desafios, o guitarrista pegou o baixolão, começou a se dedicar, aprendeu, comprou seu próprio baixo e hoje está firme e forte.

Fica a dica: se você tem uma banda e está faltando um integrante, não procure alguém de fora com quem você não tem uma conexão. Pegue um amigo e o obrigue a aprender a tocar o instrumento.

O baixolão ele provavelmente devolveu ao pai do Costa.

A medida que os meninos começaram a entrar de cabeça no projeto, tomando decisões, investindo dinheiro e pensando juntos, o nome Costa e os Mitos já não fazia mais sentido. Não era mais um projeto solo do Costa, mas sim um trabalho em equipe. A partir disso, decidiram mudar o nome.

Em busca de ideias para o nome da banda, a Lu, namorada do Costa e grande inspiração para canções da banda, sugeriu a eles que procurassem uma música deles que tivesse um nome legal. E daí veio a Duetê.

Duetê é uma música que conta a experiência que o Costa teve com um ser de outro planeta. Inicialmente, a música não tinha um nome. Porém, durante os shows, a galera pedia para tocar “aquela do et”; do et; du e tê.

Nesse meio tempo, o Vitin saiu da banda para seguir seus projetos.

A Duetê se formou então no dia 19 de fevereiro de 2019 com o trio Costa, Peixe e Lamac.

Provavelmente também o Vitin saiu porque não se encaixava mais na banda que é formada apenas de olhos claros, vai saber.

O objetivo dos meninos sempre foi ser autoral, compor suas músicas e gravar tudo que fosse possível, singles, EPs, álbuns e, é claro, viver de tudo isso.

Peixe e Lamac são formados em Engenharia. Peixe sempre escuta dos pais um “você acha que música vai te dar alguma coisa?”

Já Costa, o garoto rebelde, largou a faculdade de Direito e resolveu se dedicar a música. Dando aulas e se entregando com tudo a banda. No começo a mãe não gostou, mas hoje é uma das principais fãs. O pai, ao contrário, amou a ideia. Ele, que sempre quis ser músico, foi um grande incentivador do filho.

Curiosidade 2: se você já foi a um show da Duetê com certeza já viu o pai do Costa. Mas se você ainda não foi e depois de ler este almanaque já vai procurar a data pro próximo show deles, não vai ser difícil reconhecê-lo. Sempre na frente do palco, com o boné da Duetê, cantando todas as músicas. O dono do primeiro baixo que o Lamac tocou, é um verdadeiro apoiador da banda.

Dessa experiência de sair da faculdade para seguir a carreira musical que nasceu a música Valeu! da Duetê.

Valeu mamãe, valeu meu pai

Por continuar acreditando que seu filho ainda vai

Crescer e ser alguém de sucesso, por mais

Que muitas vezes não apresente progresso, eu confesso

As composições da Duetê são todas do Costa e o garoto é bom nisso. Dê uma palavra para ele que já nasce uma canção. Vamos aos exemplos (já deixa o Spotify aberto para acompanhar):

Lá fora: um dia em uma resenha na casa do Costa, entre uma cerveja e outra ele vira para alguém e pede uma palavra. Sorriso, alguém respondeu.

Vira para o Peixe e fala: canta essa palavra.

O Peixe: sorriso (leia no ritmo da música)

Dali o Costa tirou de letra o resto.

Quando vejo seu sorriso

De nada mais preciso, só consigo em ti pensar

E pelas ruas não canso de procurar

Sem saber o que tenho pra falar

Curto: A Lu, namorada do Costa, mandou mensagem para ele contando que iria cortar o cabelo. O Costa respondeu: Curto seu cabelo curto

Mais uma música saindo dali:

Curto seu cabelo curto, tô meio que viciado

É complicado sem você do lado

Não é justo seu vestido justo, aquele azul decotado

Assunto encerrado, eu tô grudado

Natureza:

Costa acorda em um sítio e vê um dia lindo. O que ele faz? Isso mesmo, música.

Havia dias que não via um dia como este dia

Havia tempos que não via um tempo como este tempo

Templo de inspiração, vou me preocupar somente

Em manter uma única vibração entre corpo alma e mente

Um dos diferenciais da Duetê são as letras, com certeza. Não são só sobre amor ou tristeza, são sons leves e fáceis de gostar. Nascem de uma palavra, de uma frase ou simplesmente de cantar algo sem letra no violão. Costa com a letra e o violão, depois o Peixe e o Lamac trabalham suas partes testando em seus respectivos instrumentos, vão para o estúdio e lá a produção fica por conta de moldar, acrescentar e dar vida aos singles.

A visão de mercado da Duetê

Diferente de algumas bandas que já apareceram aqui neste almanaque, a Duetê não se importa em, de vez em quando, precisar retirar um pedaço de uma música para torná-la mais aceitável ao gosto de um determinado público.

Com um objetivo muito centrado na cabeça, os três músicos, junto com a produtora e amiga Cristiana Corrieri, a Cris, passaram a ver a banda como uma empresa. Eles pensam na visão de mercado e apostam muito no marketing e conteúdo no Instagram para chamar a atenção das pessoas.

Desde o início da banda até hoje, eles admitem terem mudado como pessoas e profissionais, deixaram de lado a “banda com meus amigos” e adotaram uma visão de “banda que quer fazer isso para sempre”. Exigindo de si cada dia mais qualidade, quanto mais a banda cresce, mais procuram não cometer erros.

A Cris, produtora da banda, tem uma visão ampla de mercado musical e é uma pessoa de fora. O trio tinha uma visão romantizada da música, fazendo coisas criativas como queriam para mostrar ao mundo. Mas se tem uma coisa que o mercado musical não é, é romântico.

O Coto, lá da Lamparina e a Primavera, falou algo muito interessante em relação a esse mercado. Nas suas palavras, “a sociedade põe muito a música e outras artes como hobbies alternativos, só que não é nada alternativo, é profissão igual a qualquer outra.”.

Quando a Duetê toma para si uma versão de banda comercial, não quer dizer que eles vão perder a identidade, apenas que decidiram tomar um rumo que acreditam ser o certo.

Muito influenciados pela banda Lagum, como empresa, tomaram decisões e fizeram mudanças. Admitem que às vezes pode ser difícil desapegar de uma música para torná-la mais comercial, mas acreditam que trará resultado.

Quando você acredita no seu potencial e concentra seu foco naquilo, todo o esforço vale a pena.

Todas as bandas têm o sonho de alcançar seus objetivos, impactar pessoas através da música e subir em um palco e ver milhares de pessoas cantando suas canções. Como o próprio Costa já disse nos shows da Duetê é emocionante ver tanta gente cantando junto com ele as letras de músicas que compôs num pedaço de papel.

Ninguém sabe a receita certa do sucesso. Se alguém soubesse, milhares de artistas já estariam estourados por aí. Diferentes caminhos são tomados pelas bandas tentando alcançá-lo e, enquanto acreditarem no que fazem, nunca será tarde para tentar.

 

*Esse produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.

 

 

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*Por Bianca Morais

Se você gosta de dançar ao som do Lamparina, você também vai gostar de dançar ao som do Rosa Neon. E vice-versa.

Pop-Popular. Intitulados como safadeza suave, o som deles também pode ser conhecido como pop tropical.

Cheios de malemolência, cor, saliência.

Uma libriana, um leonino, um taurino.

Marina determinada, Marcelo debochado, Luís durão.

Todo mundo é cantor, todo mundo é compositor e todo mundo vive só de música.

Essa banda é marcada por três integrantes de personalidade marcantes e diferentes que juntos vem encantando multidões pelo Brasil inteiro e o mundo. Descritos pela revista Rolling Stones como “banda pop queridinha do Djonga”, eles foram apadrinhados pelo rapper que, assim como ele, correm muito atrás do que querem e sonham alto.

E quando eu digo alto, eu digo nível Anitta. O grupo ficou muito conhecido pela produção de um clipe por mês, assim como a cantora pop fez. Acontece que a Anitta é milionária e para ela um trabalho desses é algo comum. Agora pega uma banda independente de Belo Horizonte sem dinheiro que resolve fazer um clipe por mês.

E deu certo.

Depois da gravação do clipe Fala lá pra ela, o primeiro single da banda, eles gostaram tanto do trabalho que produziram, da correria e da raça que colocaram nele que alguém soltou ali:

“Vei, a gente tinha que fazer isso pelo menos uma vez por mês”.

No começo aquilo soou como loucura (e realmente era). Mas foi uma loucura que deu muito certo. De gênio e de louco todo mundo tem um pouco. Eles são loucos por terem tido a ideia, mas principalmente gênios por terem conseguido colocá-la em ação. Entraram de cabeça no projeto e conseguiram sucesso e reconhecimento.

O segredo por trás de tudo é ser criativo. Com ideias simples, mas inovadoras, você consegue alcançar tanta gente quanto um artista com muito dinheiro.

De novembro de 2018 a junho de 2019 a banda lançou 8 clipes (1 por mês), todos na pegada mais pop possível, trabalhados no audiovisual. Trouxeram com eles muitas referências, principalmente de artes plásticas. Junto ao pop, também uniram elementos das músicas eletrônicas, com muito beat e diálogo com músicas brasileiras.

Como eles próprios falam, suas referências vão de Caetano Veloso a Claudinho & Buchecha, de Marília Mendonça a Gal Costa. É um som diferente que em uma primeira escuta você não consegue identificar o que é. Da segunda vez também não, mas que é gostoso, é.

A primeira faixa do disco foi lançada e em menos de 24 horas tinha dado quase 10 mil views. Algo que não tinha acontecido em nenhum trabalho solo de cada um deles. A partir disso, perceberam que juntos eram muito mais fortes. A sensação de “não tem como dar errado”.

Foram lançando mais músicas e o retorno do público só aumentando, com mais views e pessoas comentando na internet.

O álbum completo foi lançado no dia 5 de setembro de 2019 e a capa prestou homenagem aos Doces Bárbaros, disco lançado em 1976 pelo quarteto: Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia.

Faixas:

Fala lá pra ela

Estrela do Mar

Vai Devagar

Brilho de Leão

Picolé

Embalagem

Pirraça

Ombrim

Rosa Neon

Cê Não tem dó de mim

A banda começou lá em 2018. Todos os membros, na época o Luiz Gabriel Lopes, o Marcelo Tofani, a Marina Sena e a Mariana Cavanellas (aquela do Lamparina e a Primavera), já tinham seus trabalhos e um público fiel. Dali já era um passo para o sucesso. Quando eu digo um passo, eu digo turnê na Europa. Mas falo disso mais para frente.

Foi em um show em julho daquele ano, em Milho Verde, que os quatro integrantes se apresentavam com seus respectivos trabalhos e se encontraram. Em determinado momento do show, subiram ao palco do festival que acontecia e cantaram “Rosa Neon”, uma música que a Mariana Cavanellas já tinha. No momento em que cantaram juntos sentiram uma energia, uma conexão forte, aquele arrepio na espinha. A partir dali resolveram seguir juntos.

No dia seguinte já estavam escrevendo a segunda música da banda, Estrela do Mar, sentados à beira de uma cachoeira, e então não pararam mais.

O nome da banda, claro, veio então da primeira música que cantaram juntos.

Como todo mundo já tinha outros trabalhos, eles não partiram exatamente do zero como outras bandas que contei aqui. Eles tinham público e contatos, e se você chegou até aqui neste almanaque sabe que esses são elementos fundamentais para uma banda.

Com a banda já formada, fizeram cerca de 4 shows no Brasil e foram convidados a tocar na Europa. Sim, isso mesmo, na Europa. Mas isso tem um porquê.

No começo da banda eles não tinham um assessor de imprensa, mas tinham contatos. Então criaram um mailing com todos os contatos de imprensa, festivais e produtores e mandaram os lançamentos com o release dos clipes, falando sobre a banda.

O Luiz já tocou na Graveola, conceituada banda de Belo Horizonte (confira o som deles nas plataformas de streaming), que já fez algumas turnês mundiais.

Pois bem, em um belo dia, um sujeito dono de uma rádio lá do interior da Alemanha, onde a Graveola tocou há uns 10 anos atrás, escutou o Rosa Neon e gostou.

A rádio estava organizando um festival no interior do país e convidou os músicos. Seriam quatro cidades, eles receberiam um X valor de cachê e teriam que se virar com ele.

Eles fecharam, é claro, e a turnê deu certo. Acabaram fazendo outros shows em Portugal e no final foi tudo perfeito. Levaram o nome Rosa Neon para o mundo.

Para registro, o dinheiro do cachê ficou por lá mesmo. Compraram equipamentos e garantem que voltaram felizes.

Atualmente, a banda é um trio, o Luís, o Marcelo e a Marina (Luís e Marina são um casal, mas ser vela não é um problema para o Marcelo). A Mariana saiu para se dedicar a sua carreira solo.

Os três são muito amigos e juntos exalam sucesso. Tocaram este ano no palco do festival Sensacional no Mineirão ao lado de nomes grandes como Elba Ramalho, Emicida, Baiana System e dos amigos Hot e Oreia.

Os três são a prova de que é possível, sim, viver apenas de música.

*Vale lembrar que os três também têm trabalhos solos*

Mas são três indivíduos completamente apaixonados por música e que, segundo eles próprios, não sabem fazer outra coisa. (letra maior)

A vontade de entrar em uma toca e viver como um monge por lá acontece muitas vezes. O mundo da música é cercado de muita pressão, perrengues, noites mal dormidas e show atrás de show. Mas por trás de tudo isso, existe algo significante em fazer o que ama, e é isso que mantêm os três firmes e fortes. Não existe algo que amem mais que música.

O segredo do sucesso deles é muito parecido com o da Lamparina e a Primavera, quando dizem sobre ser você mesmo e seguir sua essência. Para o Rosa Neon, muita gente segue algo que está na moda e pensa “vou fazer igual”, mas acaba morrendo afogado.

A metáfora em questão é: faça o que você gosta e, quando a onda vier, você vai surfar nela. Mas se a onda tiver passando e você tentar entrar apenas para fazer sucesso, meu amigo, você vai levar um caldo.

Rosa Neon está nessa onda, surfando da melhor maneira possível, fazendo um som diferente que agrada a muitos. São três compositores que carregam bagagem e a colocam nas letras que produzem, cada um deixando seu pedaço ali e se ajudando.

Muita música de amor e muito ginga. A gente sente muita coisa boa ao escutar essa banda. Com um base boa de fãs, eles não têm “medo de ser feliz”, se jogam, fazem o que querem, quem gostar, gostou, e claro, evoluindo, aprendendo e crescendo cada vez mais.

Agora vai lá escutar Ombrim e vê se não dá uma vontade de dançar e depois postar um foto no Instagram com a legenda: ai que delícia o verão, a gente mostra o ombrim.

 

*Esse produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.

Por Bianca Morais

Matizar: Fazer passar gradualmente de um matiz a outro: a arte de matizar as cores.

Em busca de uma palavra que remetesse a mistura, a banda que não tem um estilo fixo, nomeou-se Matiza, sinônimo de misturado.

Com formação atual de Eduardo Maia (vocal), Bruno de Maria (vocal e guitarra), Pedro Martins (baixo e vocal), Lucca Azevedo (guitarra) e Flávio Marcos, o batata (bateria e percussão), a banda define seu som como pop progressivo, um derivado do rock progressivo, o prog.

Para conhecimento geral, o Batata tem esse apelido porque a irmã dele tinha apelido de batata e antes dela o irmão dele teve apelido de batata, e antes dele a outra irmã teve apelido de batata. Todos estudaram no mesmo colégio e o apelido é de família.

Não só Batata tem nesse almanaque, mas segura mais um pouco que lá na banda Daparte aparece um Cebola. Só continuar lendo.

Agora, se assim como eu, você nunca havia ouvido falar desse gênero, e achava que prog era algo relacionado a eletrônica, deixa eu te explicar um pouco sobre.

O progressivo é um estilo de música que surge quando o artista mistura muitos estilos. Tem a ver com a ideia de pegar coisas e tentar juntar de forma a criar algo novo, independente. É como se fosse um rock alternativo, se assim ficar mais fácil para você entender. Porém, como a banda anda bem distante do rock e não tem muita guitarra distorcida. Não dá para classificá-la dentro do rock e seus subgêneros, por isso se enquadram numa pegada mais pop.

O principal compositor da banda, o Bruno, carrega consigo grande influência do MPB. Inclusive, ele tem um projeto solo de Bossa Nova. Escutem Samba da Bahia, nas plataformas de streaming. Os arranjos e melodias bases elaborados pelos outros integrantes da banda seguem influências de todos os lugares que já passaram e músicas que escutaram.

Quando você escutar Matiza, o termo progressivo irá vir a sua cabeça de primeira, porque a sonoridade deles remete a muita coisa que provavelmente você já ouviu durante sua vida, mas ao mesmo tempo consegue ser bem diferente.

É, não dá para explicar muito além disso, mas dificilmente uma banda consegue classificar e enquadrar o seu gênero dentro de um só, de primeira.

Pode ser que você diga que te lembram 5 a Seco ou Jorge Vercillo. Alguns arriscam que os vocais das músicas, principalmente do primeiro EP, que tem muito vocal com três ou quatro pessoas cantando ao mesmo tempo, relembra a música mineira de antigamente, aquele MPB do Clube da Esquina e Milton Nascimento. De mineiro também são comparados a 14bis.

Se assemelham a banda britânica Yes por conta do rock progressivo.

Agora, para finalizar essa classificação das influências, segundo o baixista Pedro, se Incubus fosse mineiro, seriam iguais a eles.

Enfim, depois que você escutar e chegar a alguma conclusão, conta para eles que irão adorar saber.

Comparações a parte, a banda é uma mistura de influências que cada integrante traz em sua bagagem. Tem Tame Impala e Avenged Sevenfold (principalmente nas guitarras e solos) vindos do Bruno e do Lucca. Tem Pink Floyd e Boogarins do Batata, tem o soul e o black music vindos do Pedro e o Dudu gosta de música nordestina.

A banda nasceu em 2017, logo após um encontro por coincidência entre os amigos Bruno e Edu (mais uma para a série: “BH é um ovo”).

O Bruno tocava em uma banda cover de Avenged Sevenfold e o Edu foi assistir. Depois do show foram conversar e ali resolveram fazer uma banda de música autoral. Sem mais delongas, foi isso.

A banda começou a ensaiar em agosto daquele ano e fizeram seu primeiro show em outubro de 2017, em uma sexta-feira 13. Data meramente ilustrativa, nenhum azar tiveram, apenas o de não conseguir tocar um repertório 100% autoral. Atire a primeira pedra uma banda que nunca tocou um cover para vender show.

Mas nem os covers deles são normais, eles colocam a parada do progressivo até nisso.

Depois do primeiro show como Matiza e tocando cover, as composições já estavam a todo vapor. Dali para frente, aos poucos foram conseguindo encaixar o autoral no repertório.

Pedro e Batata ainda não estavam na banda, nessa época seus lugares pertenciam ao Vitão no baixo e Vivi na bateria.

O Vitão precisou sair por problemas pessoais e por indicação de um amigo em comum, o Pedro entrou na banda.

O primeiro contato do Batata com os meninos foi em um festa de Halloween da engenharia elétrica da UFMG. Batata, já formado, estava ajudando seus calouros a organizar a festa. Foi então que chegou uma banda com o instrumentos na mão e perguntaram:

“Quem vai montar o palco para nós?” (Caso não tenham pegado, a banda era a Matiza)

O Batata olhou para seus calouros, seus calouros olharam para ele e rolou um “ferrou”.

Porém os olhos de Batata era apenas para assustar os garotos, já que ele é engenheiro de áudio e manja tudo do assunto.

Foi lá, arrumou o palco, regulou o som durante o show, sucesso.

Ali a banda conheceu quem seria seu futuro baterista quando o Vivi precisou se mudar para São Paulo a trabalho.

Em determinado momento da trajetória, sentindo falta de mais som, chamaram o Lucca para ser o segundo guitarrista.

Desde o começo até hoje muita coisa mudou, a banda foi criando mais familiaridade com seu som e cada dia mais levando o projeto com mais seriedade. Se antes era tudo festa, hoje ainda é festa, só que também é trabalho, e muito trabalho. Se no início a grana de cachê era repartida igualmente para os membros, hoje eles que lutem porque toda grana que fazem vai diretamente para o caixa da banda que é usado para produzir, lançar música e fazer marketing digital. A seriedade com que levam a banda é algo que mudou muito ao longo do tempo.

Ainda em busca de saber qual é o público alvo da banda, trabalham com anúncios de Facebook ads e no Instagram. Procuram direcionar as músicas para os mais diferentes grupos, analisando como esse público responde aos anúncios, aos vídeos e buscando resultado para entender quem gosta do conteúdo.

Assim como a Chico e o Mar, a Matiza também conta com o apoio de uma distribuidora de música, a Distrokid. Hoje tudo é online e o Spotify e Deezer, por exemplo, são a melhor maneira de divulgar seu trabalho. Essas empresas tomaram o papel das gravadoras e o contrato que antes se fazia com elas, pode ser feito agora com as distribuidoras que colocam suas músicas na plataforma de streaming. Dentro do mundo musical, existem rumores de que em um futuro bem próximo, até mesmo essa distribuição deixará de existir e as bandas terão contrato direto com os streamings.

Atualmente, poucas são as bandas independentes que realmente almejam tocar nas rádios, porque se tornou algo muito difícil de se atingir, principalmente se você parar para escutar as músicas que são tocadas em rádio. Existe uma determinada fórmula, músicas com menos de 3 minutos, refrãos mais simples e fáceis de decorar.

A Matiza é um exemplo de banda que resolveu por não se adequar ao mercado da música comercial. Quando você escuta um som deles, entende de cara o motivo disso. Eles contam com muitos elementos específicos; tem dueto, solo de guitarra, de baixo. Mesmo sabendo que isso não deixa a música atrativa aos olhos comerciais, os meninos preferem fazer a música deles, lançar do jeito que ela é, do jeito que gostam e depois descobrirem quem vai querer ouvir.

Aconteceu isso com o último lançamento da banda, Noite em BH.

“E nós em paz, a noite em BH

Sobe-desce Bahia

De amores que eu vivi”

Inicialmente, a ideia era fazer um pop palatável, que cairia na graça do povo, quem sabe das rádios (indo contra seus princípios). Não demorou muito para a banda ver que não era o que queriam. Bruno chegou com o final instrumental da música, dois solos de guitarra, no meio dobra a guitarra, tem solo do Lucas primeiro, depois tem mais solo do Bruno, depois os dois dobram juntos.

É muita guitarra. Agora já imaginou se isso se encaixaria em um padrão comercial? Jamais. Nem um pouco preocupados com isso, bateram o martelo e soltaram do jeito que queriam.

Particularmente, que música boa. Só não ganha de Tropical Gin (a minha favorita).

Noite em BH foi composta pelo Bruno para sua namorada. A lírica é sobre um romance na cidade de Belo Horizonte. Que belorizontino nunca teve um amor que subiu e desceu Bahia? Quer banda mais mineira que isso?

Outra curiosidade é que a música veio primeiramente do projeto solo de bossa nova dele, mas ao cair na mão do Batata, Pedro, Dudu e Lucca, ganhou uma dimensão completamente diferente.

Assim como Noite em BH e Tropical Gin, a banda é cheia dessas músicas que vão te envolver e levá-lo para uma parada bem diferente de tudo que você está acostumado a ouvir. São sons experimentais, de viajar na música mesmo. Vale a pena conferir.

 

 

 

 

 

*Esse produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.

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Venha conhecer mais sobre essa banda que é destaque no cenário musical de BH

*Por Bianca Morais

A velha guarda do rock belorizontino foi representada neste almanaque pelo trio de bandas parceiras, os “frendes” que estão nessa estrada há mais de 10 anos. O estilo rock tem sumido e não que ele esteja morto, mas é cada vez mais raro você ver aqueles meninos de 17 ou 18 anos, amigos de colégio, formarem uma banda de rock. Em meados de 2014 e 2015 houve um boom desse fenômeno, mas hoje a frequência é muito menor. Os jovens de hoje se influenciam por outros tipos de música. Por isso, quando apareceu a Chico e o Mar, a Devise vibrou.

Quem é Chico e o Mar e porque eles cativaram as bandas de rock de BH, eu vou contar agora.

O nome da banda Chico e o Mar não nasceu do Rio São Francisco que deságua no Oceano Atlântico. Na verdade, nasceu de um brainstorming de ideias vindas de uma noite qualquer na cobertura do apartamento do vocalista Daniel Moreira, onde estava ele, o Caio Gomes, baterista, o primo Paulino e o Jairo da banda Young Lights.

*Escutem Young Lights nas plataformas de streaming. A banda, além de parceira dos caras da Devise, também apadrinhou a banda Chico e o mar e serve de muita inspiração para os garotos.*

A banda precisava de um nome e de uma coisa eles tinham certeza, queriam algo brasileiro e leve. O avô do Dan se chama Chico e o vocalista sempre quis colocar o nome dele em algum projeto. Pois bem, a noite terminou e no dia seguinte o Jairo mandou uma mensagem pela manhã para o Dan escrito “Chico e o Mar”, e foi isso. A banda agora tinha um nome para se apresentar.

Você quer algo mais brasileiro que o nome Chico e mais leve do que a palavra mar?

Ao longo do tempo, o nome começou a tomar outras proporções. No início, era algo que foi criado na pressa para suprir a demanda da banda de ter um nome, mas com a entrada dos outros integrantes foram atribuindo novos significados. Quanto mais o grupo de cinco garotos se conhecia e trocava experiências, mais o nome ganhava sentido diferente na cabeça de cada um. O mar é algo infinito, que nos faz navegar por oceanos desconhecidos e descobrir novas coisas. O nome é amplo e permite descobrir novos caminhos a cada dia.

A Chico e o Mar é uma banda independente que vem buscando sempre fazer as coisas com sua cara e encontrar o espaço dela no cenário. Nunca gostaram de tocar covers. Eles têm uma ideia muito forte de que você tem que ir a um show deles, escutar as músicas e depois de três ou quatro shows você já vai saber cantar todas suas músicas e gostar do trabalho deles. E eles estão errados? Claro que não. É muito comum bandas com medo de se arriscar no cenário musical e, por isso, acabarem colocando covers no repertório para agradar ao público. A Chico não quer isso. Eles não querem que vocês gostem deles por músicas de terceiros e o tempo que gastariam treinando música de outras pessoas, eles preferem gastar trabalhando nas próprias músicas.

Destemidos, eles sempre estão em busca de mostrar que BH não é somente o circuito do rock com banda cover. Eles querem ser a resistência, um grito de “tem música boa em BH”.

Com dois anos de banda, eles tem se sentido mais à vontade para percorrer diferentes cenários musicais. Se você escutar a primeira música “Vida” e a última “Afogado”, vai ver que eles deixaram de ser aquela banda que tocava somente romance e passaram a abordar novos temas como amizade, coisas que gostam de fazer juntos, um dia legal, trocas e relações familiares.

É muito gostoso escutar Chico e o Mar, principalmente se você é um jovem de 16 a 24 anos, porque você consegue se enxergar nas experiências. Ao longo do tempo, a nossa narrativa de vida muda, conforme vamos vivendo e ganhando experiência. Tem períodos que você passa por um término de namoro e outros que você está feliz com a vida.

Como tudo começou

Daniel Moreira tinha um projeto solo, mas ele não queria ser solo, queria os amigos perto dele. Foi então que lá em 2015 uma amiga em comum apresentou o Dan vocalista para o Caio baterista, já na intenção de que dali iria surgir um cunho musical. Acontece que além da música, nasceu uma amizade muito íntima e os dois começaram a construir juntos o sonho de uma banda.

Da primeira formação até hoje, muitas coisas mudaram. Com o primeiro baixista, o Bode, a Chico apresentava um som bem diferente, algo mais dark, que dizia muito a respeito do que passavam na época, adolescentes vivendo um contexto caótico (quem nunca passou por problemas na juventude, não é mesmo?). Mas esse som mais pesadão não deu certo e o Bode resolveu meter o pé.

Caio e Dan não desistiram do seu objetivo e pelo caminho encontraram o Calil, onde nasceu a segunda versão da Chico. O Calil era um tunisiano, não falava português, muito classudo no seu modo de tocar. Caio e Dan eram músicos que queriam se expressar pela música, colocar suas coisas no mundo e todo aquele perfil técnico do baixista não se encaixava a eles. O ritmo não inseria, mas era o que tinha para o momento.

Nesse meio os irmãos Guilherme Vittoraci e Gustavo Vittoraci entraram na banda trazendo consigo uma sintonia muito forte. O Caio tocou em igreja durante muito tempo de sua vida, o Guilherme e o Gustavo também. Tocar todos os finais de semana para um determinado público trouxe para eles muita segurança e capacidade de improvisação. Por isso, no primeiro ensaio deles rolou aquele clássico jam que durou uns 10 minutos e no final um olhou para o outro e falou “NU, que doido!”.

A Chico começava a crescer, mas ainda faltava um elemento, já que o Calil resolveu seguir seu caminho, pois viu que ali já não cabia mais.

Coincidências engraçadas, BH é um ovo. Lembra daquele encontro de rua que fez o Leo e o Rapha da Ous terem a ideia de voltarem com a banda? Então, aparentemente encontros ao acaso são muito mais comuns no mundo da música do que parece. Porque foi em uma ida à academia para cancelar sua inscrição que o Dan encontrou o Gabriel Frade.

Pois bem, quem é Gabriel Frade? O Frade é músico profissional há um tempão, já tocou em um milhão de bandas e foi desses rolês que ele conheceu o Dan. E ele também já estudou com o Guilherme lá em 2015. Ou seja, ovo.

No encontro na academia, o Dan contou para o Frade que estava procurando um baixista e o chamou para um ensaio. Frade enxergava no Dan uma determinação e vontade de crescer rápido e, por isso, foi todo nervoso para esse ensaio. Se preparou como se fosse uma entrevista de emprego, com medo. Mas deu certo. E até hoje ele está aí.

A chegada do Frade trouxe à banda um conhecimento de mercado. Eles já tinham músicas, ensaios, mas a chegada dele foi como sair da imaturidade e procurar se profissionalizar.

Os meninos não se conheceram no colégio, mas a vida os uniu e os fez compartilhar de uma amizade muito forte que qualquer um que acompanha a banda um pouco consegue perceber. As capas dos singles sempre são eles tumultuados, juntos, um em cima do outro. No Instagram, as fotos demonstram o carinho que têm um pelo outro, abraço, beijo no rosto, arrumar o cabelo, abotoar o botão da camisa, coisas simples de convivência que criaram e demonstram muito o que a Chico e o Mar é: jovens garotos com um sonho em comum e uma amizade linda.

As composições

As músicas da banda na maioria são composições que o Dan trouxe com ele da sua carreira solo e então os cinco repaginaram para a versão Chico e o Mar. Antes era uma versão mais Dan, mais grunge e a Chico colocou aquela pegada divertida, alto astral, leve, brasileira, dançante. Eles são o que eles próprios chamam de Indie Pop dançante.

Dan e Gui tem uma capacidade de composição rápida. É algo muito orgânico, depois que sai das mãos deles, o Caio pensa em um riff e uma melodia e em seguida vai para o Frade e para o Gui contribuírem.

A história por trás da música Vida:

Vida é uma canção que representa muito a ideia de como as letras que o Dan trouxe da carreira solo foram transformadas pela banda em conjunto. Ela nasceu de um romance que ele viveu, um relacionamento que ia e voltava (claro que você está passando ou já passou por isso, certo?).

“Claro que não vou te deixar

Para de pensar assim

Deixa o coração guiar

Segue o que ele mandar”

No final ela foi embora, o relacionamento acabou e o Dan estava solteiro, mas não sozinho, porque a vida o trouxe o Caio, o Gui, o Gu e o Frade. Juntos eles mudaram a melodia daquela canção e adicionaram um detalhe ao final.

“Mas não é você quem vai me fazer feliz

Não é você quem vai me deixar aqui”

Foi importante contar que depois de tudo positivo que a música trouxe, o romance acabou. Estamos acostumados a não querer que as coisas vão embora, mas uma hora acaba acontecendo.  A música então serve como abraço, um consolo para esses corações partidos.

Mas não só de tristeza e melancolia vive a Chico e o Mar. Sereno, a segunda música, já tem algo mais dançante, flertando com o pop.

A banda não se prende a estereótipos. Sempre se expressam da forma que querem e autenticidade é uma palavra boa para definir. E por falar em autenticidade, a banda já foi campeã de uma Sessão Autêntica, evento que acontece na casa Autêntica. Falaremos dela mais para frente.

Festa é uma pegada mais orgânica e lenta, com inspirações no Clube da Esquina. Carnaval é uma música mais animada. Já o último lançamento, Afogado, quebra todas as expectativas, ritmo lo-fi, baixa produção. O Gui fez o beat do celular e o Dan gravou em um fone de 10 reais. Mesmo assim, a música bomba nas plataformas de streaming.

A relação com os fãs

Se você está procurando uma banda para ser fã, a Chico e o Mar é uma ótima opção. Eles vão te tratar como amigos, trocar ideia com você e te chamar para beber junto antes dos shows. Como eles denominam o rolê, “Chico e o bar”. E se depois do show você ainda estiver animado, pode encontrá-los pela Savassi para beber mais e se divertir.

A banda é construída em um conceito de amizade e, por isso, eles tentam quebrar a ideia de ídolo e tentam se aproximar dos fãs pela interação. “Chico e o zap” é o grupo de Whatsapp onde eles realizam uma troca mais íntima com quem curte o som deles. Esse público apresenta um retorno muito positivo ajudando a banda com divulgação, seja comparecendo em shows, divulgando clipes novos ou filtro do Instagram.

A ideia de Economia Colaborativa:

A Chico e o Mar é uma banda jovem, cheia de energia e vontade de produzir o novo. Porém, jovens e estudantes no começo da carreira, passam pela famosa dificuldade de todas as bandas independentes: a grana.

Acontece que a geração Z de mentes jovens e revolucionárias como a Chico e o Mar aprendeu como administrar essa situação a seu favor. Com a noção de economia colaborativa, a banda aprendeu a abraçar quem está por perto, fazendo trocas com as pessoas que estão no cenário da arte.

Belo Horizonte sempre foi um lugar de muito fluxo de produção. Principalmente em um momento que existem olhos voltados para a capital mineira, a ideia de pessoas produzindo em conjunto, crescendo e ganhando visibilidade é algo muito importante.

Ao invés de pensar no melhor fotógrafo da cidade, a banda vai em busca de pessoas que eles acreditam que são boas e possam trabalhar de forma colarativa com eles. Todos ganham. A banda tem crescido para fora da capital mineira, por isso, o trabalho de quem os ajuda também.

 

*Esse produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.

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*Por Bianca Morais ,

E hoje é dia de música!!! Sim, vamos dar continuidade ao Almanaque de Bandas Independentes. Na publicação de hoje, destaque para a banda Devise.

DEVISE

Mote:

Substantivo masculino.

[Literatura] Estrofe que, localizada no início de uma composição poética, é utilizada como razão da obra, desenvolvendo o tema do poema.

Ok, mas por que eu estou explicando isso?

Porque em francês a palavra Mote é traduzida como Devise. E é dessa banda que vamos falar agora.

Não, eles não são franceses, muito menos falam francês. Mas o vocalista, Luís Couto, na procura de um nome para a banda, para além de um significado, procurava por algum nome forte que soasse legal e marcasse a imagem da banda. Começou então a pesquisar qualquer coisa que viesse à cabeça e traduzia para outras línguas para ver se soava interessante em português.

Estudando um pouco a estrutura de poesia, acabou lendo sobre o mote, o tema central da poesia, a essência de tudo.

Pensou então “bacana, mas Mote é um péssimo nome para uma banda.”.

Jogou em um dicionário e em francês deu Devise.

Pronto, é isso.

Apesar de no final ter um significado marcante, não foi esse o principal objetivo.

A banda nasceu em 2012 na cidade de São João Del Rei, onde o Luís e o Bruno Vieira (Mike, guitarrista) cursavam administração na UFSJ (o Mike era calouro do Luís). O Luís já conhecia o Daniel Mascarenhas (D2, baterista) lá de Bom Despacho, cidade natal dos dois, onde tocavam covers. O Bruno Bontempo (baixista) foi o último a entrar, substituindo o Coruja que ficou um ano na banda, pois havia substituído o Rafael Carvalho, que virou médico em 2016 e saiu da banda.

O Luís e o D2 tinham uma banda cover, o Luís possuía algumas músicas engavetadas e pensou em colocá-las para jogo. Ele já fazia parte de uma banda autoral, a Churrus, (escutem Oldfield Park da Churrus, também nas plataformas digitais), mas sentia que os estilos não combinavam muito e resolveu começar um novo projeto.

Luís chamou seu calouro Mike para gravar algumas dessas músicas e foi instantâneo, a banda precisava de um guitarrista como ele. Na época foram gravando três ou quatro músicas, guitarra e voz, e foi quando decidiram começar a ensaiar com a banda toda. O Rafa e o Daniel iam para São João Del Rei e a banda começava nascer ali.

O primeiro EP saiu no mesmo ano. Houve o lançamento e começaram a fazer shows, principalmente em Belo Horizonte, Bom Despacho e São João Del Rei, as cidades com as quais tinham um vínculo pessoal. O repertório no início era mesclado com alguns covers, mas apenas para preencher o setlist, já que o EP contava com 5 faixas. Como uma boa banda independente no começo, por mais que tocassem cover, a Devise sempre procurou dar o seu estilo para essas músicas.

Durante o ano de 2013, a banda ficou um pouco parada voltando apenas no final quando começaram a gravar o álbum Lume. Em 2014, houve o lançamento do disco e desde então não pararam mais. Posteriormente, em 2017, veio o Petricor e diversos singles.

Informações úteis para você continuar lendo sobre a Devise: o apelido do Daniel é D2 por causa da época do colégio. Na sua turma tinham três alunos com o nome de Daniel e ele era o segundo (não tem nada a ver com o Marcelo D2).

O Bruno Vieira é o Mike. Quando era mais jovem, era branquinho, magrinho e o cabelo grande levou os amigos a chamá-lo de Mick Jagger ou Michael Jackson, então a junção desses apelidos deu origem ao Mike.

Explicações dadas, como bons rockstars, vou me referir a eles aqui pelos apelidos que são conhecidos.

Banda geradora de caixa, não é uma banda geradora de lucro

A Devise está no mercado de bandas independentes há oito anos e hoje é uma das bandas de rock mais conhecidas da capital mineira. Já tocou no mesmo palco de grandes nomes da música brasileira, como exemplo, a participação no Breve Festival com Mano Brown, Iza e Djonga.

Já produziu com Jean Dollabella, tocou junto com Andy Summers, do The Police e João Barone, do Paralamas do Sucesso. Foram entrevistados pelo Henrique Portugal e sempre é lembrada pelo Samuel Rosa, do Skank.

Mas nada veio de mão beijada para os meninos vindos do interior, que não cresceram na capital, não tinham contatos do meio musical e não conheciam produtores musicais, que são as principais pessoas para abrir portas para shows. Tudo que conseguiram até hoje foi porque desde cedo eles correram muito atrás para conquistar. Foi com o tempo e entregando shows de qualidade que passaram a criar os contatos.

Realidade seja dita que para uma banda independente se manter, principalmente quando quer atingir um material de qualidade igual ao da Devise, há um custo financeiro alto por trás. Todos os rendimentos deles são para a subsistência da banda, seja na gravação de discos ou clipes.

A Devise é uma banda geradora de caixa, não de lucro. O Mike, Luís, D2 e Bontempo não sobrevivem à custa da Devise. Eles, assim como a maioria das bandas independentes, têm outros empregos e são realistas quando afirmam que é necessário ter outro trabalho que permita fazer o que querem. No meio da música independente, é fundamental que uma banda ame o que faz, pois somente isso fará com que continuem.

Os meninos da banda sempre correram muito atrás de tudo que conquistaram e entre eles existe admiração mútua e amizade muito grande. Viver de música não é fácil e desistir nunca foi uma possibilidade, mas sempre que alguém estremece, o que os mantêm firmes e fortes são os shows. O vício dos quatro integrantes é o palco. Quando se reúnem em cima dele para tocar, sentem a energia, a força e a vontade de não se render.

A amizade é outro elemento fundamental para a sobrevivência de uma banda independente, porque quando um companheiro de banda pensa em desistir ou começa a ficar distante, é pela amizade que os outros o trazem de volta. É uma questão pessoal.

Parar? Jamais. A sensação que os novos lançamentos proporcionam a eles dá a sensação de que o trabalho está acontecendo e, mesmo com as dificuldades e perrengues, a banda está viva.

A sintonia da banda

A Devise é uma banda que trabalha em sintonia, cada um de seus membros traz ao grupo diferentes referências e, todas unidas, cria-se uma liga. Cada cabeça consome influências diferentes e também conversam entre si.

Uma analogia breve sobre a Devise, por Bontempo:

A música tem que funcionar como um carro.

D2: funciona como uma força, tanto fisicamente por tocar a bateria, como no som dele, que é bem particular e bate no peito de uma forma diferente dos outros bateristas. Sendo então o motor desse carro, algo que move. Mesmo com seu jeito caladão, ele faz as coisas acontecerem. Segundo os outros colegas de banda, também pode ser o tanque de gasolina, porque bebe muito.

Bontempo: seria o volante que, em suas próprias palavras “o chato que só dá a direção, mas não faz nada”. Manda ir para lá, vir pra cá, mas, na verdade, é apenas o famoso palpiteiro. Os colegas, no entanto, afirmam que é um homem franco, tanto na personalidade quanto no seu som.

Mike: os adornos, os kits. Tudo de requinte e tudo que a gente reclama em um carro. Todas as coisas bonitas, os detalhes, a atenção.

Luís: as rodas. Não importa se você tem um baita carro, um motor excelente, os adornos e kits mais bonitos ou quem está na direção, sem as rodas não se vai a lugar nenhum. É o essencial para o carro andar.

O Mike fissurado em Led Zeppelin, o Bontempo em Red Hot Chilli Peppers, o Luís em britpop e o D2 metaleiro. Essas referências são muito encontradas nas músicas.

Se você escutar Go With the Flow do Queen of the Stone Age, vai gostar de Bodatista.

Se você escutar Berlin do Black Rebel Motorcycle Club, vai gostar de Indra.

Resgatando todas as referências, acabaram produzindo uma identidade sonora que vem amadurecendo muito desde o primeiro EP até hoje. A mudança do som de um disco para outro se dá principalmente pelo reflexo do que eles estão consumindo como música.

Em oito anos de banda, a Devise aprendeu a ousar mais. Sem medo de arriscar, atribuem elementos que gostam e escutam em suas músicas. Já colocaram órgão por influência de Deep Purple, guitarras mais barulhentas por causa de Oasis e guitarras mais rasgadas por causa de Led Zeppelin e Whitesnake. Em um disco da banda você vai tudo isso e muita referência do britpop e indie rock. E assim eles se enquadram no famoso rock alternativo.

Cada música surge de um jeito. Algumas enquanto estão passando som antes de algum show, alguém começa a tocar alguma coisa e dali sai uma base que é trabalhada na produção. Tem as músicas que o Luís escreve, tem outras que saem de um riff do Mike. No Whatsapp, a banda tem um grupo destinado apenas às ideias sonoras, então quando finalmente se reúnem no estúdio o processo flui bem rápido. Eles apenas unem o que foi discutido anteriormente no grupo, consolidam e colocam em ação.

É claro que essa rapidez e fluidez vem também do tempo de banda, que faz cada um entender mais de si e do grupo, se comunicar e pensar melhor. Criar playlists com referências também é uma dica que a banda dá para que todos entrem em sintonia e entendam melhor o projeto que um deles está propondo.

O Luís é o compositor principal e o grupo trabalha em volta fazendo os arranjos ou interferindo em alguma letra que ele compõe. As composições mudam de acordo com o momento de vida pelo qual passam. As letras, em sua maioria, são inspiradas em situações cotidianas e pessoais.

O bilhete de Kurt Cobain a Arnaldo Baptista

Nem somente de algo pessoal falam as músicas da Devise, um exemplo disso é Bodatista. A música nasceu depois que Luís assistiu ao documentário do Arnaldo Baptista, mais precisamente no momento em que o artista fala do bilhete que Kurt Cobain, ex-vocalista e guitarrista da banda grunge Nirvana, escreveu para ele. Na época, Kurt veio ao Brasil e queria encontrar o integrante da banda Os Mutantes, porque o considerava sensacional. Porém, o encontro não aconteceu e, por isso, ele escreveu um bilhete ao músico:

“Arnaldo, te desejo o melhor e cuidado com o sistema. Eles te engolem e te cospem de volta como o caroço de uma cereja marrasquino. Com amor, Bill Bartell da Gasatanka Records e White Flag e Kurt Cobain do Nirvana”.

Isso o tocou muito, porque o vocalista enxergou que os dois artistas compartilhavam a mesma dor do julgamento das pessoas por ser quem eles queriam ser. Assim, resolveu fazer uma homenagem a ambos.

O nome da música vem da capacidade incrível do Luís de dar nomes (por mais que ele diga que não) a tudo. Fã de Kurt Cobain, Luís estudou o músico e descobriu que Cobain tinha um amigo imaginário e que o nome era Boddah, por isso Bodatista, vindo do encontro dele e do Baptista.

Luís, tenha a certeza de que sua imaginação e criatividade para nomes é realmente muito boa e muito diferenciada, por assim dizer.

Mesmo o rock não estando no seu auge, ainda há um grande público em seu favor. A Devise procura atrair a galera que quer conhecer bandas novas, abrindo a mente deles para o rock local, além de atingir pessoas que não querem ouvir AC/DC, Strokes e Oasis para o resto da vida (não que isso seja um problema).

Abrir a mente é algo essencial para começar a gostar de bandas autorais e independentes. A Devise foi a primeira que escutei. Me lembro como se fosse ontem o dia que uma amiga me fez ir ao show deles em um evento onde só tocariam bandas independentes e o ingresso custava 20 reais, no Espaço Do Ar. Imagina um lugar longe, é lá mesmo. E outro detalhe, só vendia cerveja artesanal e… xeque mate!

Para mim, jovem que ama cerveja barata e escutar bandas covers que tocam um pouco de tudo que eu gosto, ir a um rolê onde eu não saberia cantar nenhuma música e também não beberia, era um sacrifício enorme por uma amizade que valia ouro (a minha, no caso).

Chegando ao evento, para minha surpresa, não somente as bandas eram autorais, mas até o DJ só tocava música autoral. Me senti perdida e entediada, até que chegou a hora do show.

A minha amiga já era muito fã da banda e, como boa fã (e a amiga da boa fã), nos posicionamos na frente do palco. A Devise começou e imediatamente algo mudou. Tudo que eles tocavam me remetia a bandas que eu gostava muito. O show foi acontecendo e as músicas entrando na minha cabeça de uma forma involuntária. A voz do vocalista parecia tanto com a do Liam Gallagher que, quando ele abriu a boca para cantar Além do Próprio Espelho, na primeira frase “deixa o dia recomeçar”, eu achei que ia sair um “today is gonna be the day” ali. Não saiu, mas que música boa.

O show foi todo autoral e juro para vocês, nem um coverzinho. Eu não conhecia nenhuma música. A minha boca nem mexeu, mas a minha cabeça estava a milhão. Quando entramos no Uber para ir embora, fui despejando na minha amiga tudo que eu conseguia lembrar de frase ou de melodia para que ela me falasse o nome da música. No dia seguinte eu já estava com a playlist Devise pronta no meu Spotify e dali não parei de ouvir mais.

O segundo show que fui deles e o primeiro com as letras na ponta da língua, foi n’A Obra. Ali eu me sentia em um mega show, de uma banda super famosa que eu era muito fã. Eu realmente cantava as músicas com emoção e eu conhecia todas. Foi incrível. Dali para frente, em todos os shows consigo ir, eu vou e me divirto muito.

Agora eu vou falar porque você deve escutar as bandas independentes da sua cidade. Sempre vai ter show. Sabe a sua banda internacional favorita que vem ao Brasil de 2 em 2 anos e olhe lá? Então, sempre haverá show das bandas da sua cidade. Você sempre vai ter a oportunidade de sair pelo menos uma vez no mês para se divertir e cantar ao vivo as músicas que canta lá no busão ou no banho. Tem coisa melhor? Além disso, por que ouvir uma cópia de grandes sucessos se você pode ouvir algo original e diferente? É ótimo passar a madrugada bêbado com amigos ouvindo e vendo alguma banda cover reproduzir Live Forever do Oasis, Californication do Red Hot e You Shook Me All Night Long do AC/DC, mas experimenta a sensação de ir a um show da Devise e ouvir toda a plateia cantando o refrão de Sem Fim, em coro. Abra sua mente e dê uma chance para o cenário local.

 

*Esse é um produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.