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Elas ganham espaço nessa arte marcada pelo protesto

A arte está quebrando os tabus da sociedade e abrindo espaço para as artistas

*Por Marcelo Duarte Gonçalves Junior

A voz feminina no grafite vem ganhando forças. A arte democrática é bastante presente em Belo Horizonte e pode ser vista em muros e prédios ao longo de toda a cidade. Alguns desses trabalhos foram produzidos e executados apenas por mulheres, que inspiram-se em formas, sentimentos e protestos.  “Para mim, o grafite é empoderamento e coragem. Sempre me escondi muito e quando passei a me dedicar à essa arte de rua, me soltei mais. O grafite foi uma válvula de escape, porque eu enfrentei vários problemas com autoestima,  e as tintas foram para mim uma terapia, uma forma de reconhecer quem eu sou.”  Comenta a estudante de publicidade Samira Fernandes, conhecida no universo grafiteiro pelo seu apelido Sam.

Para a estudante, Joice Oliveira, saber que o grafite vem ganhando reconhecimento e que também as mulheres estão conquistando cada vez mais espaço na arte é um indicativo de que nós estamos no caminhando para a igualdade na arte. “É muito interessante ver que o grafite à tempos vem ganhando os muros e prédios de BH, colorindo e trazendo muita diversidade,  e é extremamente importante ver que as mulheres vem ganhando espaço e podendo expressar cada dia mais que também pertencem a este movimento, que sempre foi tão predominado pelos homens”.  pontua.

Buscando sempre um olhar de inclusão o grafite é a forma de se expressar, muitas vezes com o teor de protesto, o que faz a arte sempre ser vistas sempre por várias interpretações. “O grafite é uma arte muito democrática, vai ter diversas interpretações e isso vai depender de cada um”. comenta a grafiteira Krol (Carolina Jaued).

Para Tina Funk (Marcia Cristina), artista plástica e grafiteira, a cada dia o mercado do Grafite é agraciado com a presença das mulheres, que buscam sempre inspirar umas às outras. “O reconhecimento é muito gratificante, é ótimo poder ver que as pessoas se encantam com um muro grafitado por nós.  Eu acho de extrema importância  poder grafitar e inspirar outras mulheres, no dia-a-dia”, comenta.

Mas engana-se quem pensa que ainda não existe machismo dentro da arte, muitas vezes algumas artistas são inviabilizadas dentro da arte não ganhando os devidos créditos. “Nós continuamos enfrentando barreiras, principalmente o preconceito, ainda somos vistas com olhares misóginos , como se o grafite pertencesse somente aos homens”, comenta a grafiteira Krol (Carolina Jaued).

Para a aluna do ensino médio Marcelly Fernandes, buscar cada dia mais a igualdade feminina dentro da arte do grafite é o primeiro passo para quebrarmos alguns estigmas que ainda rondam a sociedade. “Quando eu vejo um grafite a primeira coisa que me chama atenção é como a arte é transmitida por cores e formas que atraem o olhar, muitas vezes, a primeira impressão que temos é de nós perguntar quem foi o grafiteiro que fez. E esquecemos que uma mulher poderia ser a autora do desenho. Temos que mudar essa visão machista sobre a arte do grafite e um dos primeiros passos para acabar com isso é sempre incentivar as mulheres a conquistar o seu espaço.”, comenta ela.

Novas gerações

O grafite é uma arte que vem sendo passada de geração para geração, sempre carregada de bastante protesto. Mesmo tomando os muros da capital mineira para Carolina ainda temos muito ainda o que aprender e também podermos ensinar sobre a arte. “A cidade de Belo Horizonte ainda é muito fechada, as pessoas tem aquele jeitinho antigo e a cultura não muda de um dia para outro. As novas gerações que veem o grafite de forma diferente, aceitam os desenhos como arte e isso colabora para o crescimento do movimento”,  comenta Krol.

 

*A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

Residente no Brasil desde 1971, o pintor espanhol Carlos Carretero, teve suas obras destruídas na segunda-feira, 12. As obras que estavam expostas em seu ateliê no Centro de Cultura Flamenca “Los Del Rocio”, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, foram danificadas e objetos de decoração quebrados. Estipula-se que o valor do dano, no ateliê chegue a R$ 100 mil.

De acordo com o artista, a galeria já havia sido invadida outras vezes, sendo vítima de furtos em certa ocasião, levaram computadores e telefones.  Segundo o pintor, desta vez não levaram nada.

Nos atos de vandalismo, foram escritas frases como “família, paz e sexo”, em alguns quadros do artista.  A obra “Crucificado”, uma das preferidas do autor, recebeu a frase “mais amor, menos crack”, com corações vermelhos.

Para Carlos, as frases são estranhas e sem conexão. “Não há nenhuma relação entre as obras danificadas, destruíram de forma aleatória. Colocaram massa corrida nos manequins e em muitas pinturas. Salas do ateliê foram pichadas com as palavras “Bertini” e “Ber”, acredito que possam ter relação com o autor do ato.”, desabafa.

Segundo Carlos Carretero, estão sendo pensadas medidas para evitar novos ataques. Quando encontrou as obras danificadas e a bagunça no ateliê, foi um choque. Já que não é apenas proprietário, mas também autor das artes. Para ele a primeiro momento foi impactante, mas agora, já olha de outra forma.

Novo olhar

Pensando em mudar o cenário atual do ateliê, Carlos revela um futuro projeto, baseado-se na ideia de um amigo próximo, “ele (amigo) propôs expor as obras danificadas e as fotografias das pichações no ateliê e depois tentar recuperá-las”.

Texto: Victor Barboza
Foto: Ítalo Lopes

“O artista é o criador de coisas belas.

O objetivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista.

O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo ou para um novo

material a sua impressão das coisas belas.” – Oscar Wilde.

O artista plástico Alexandre Pastor, o Pastor, conforme a assina, veste um jeans surrado e cheio de manchas de tintas e uma camisa de malha branca furada no ombro esquerdo e também manchada de tinta. As mãos firmes e, ao mesmo tempo, leves e hábeis, esboçabam, na tela redonda, a fonte e o coreto da Praça da Liberdade. “Fiz apenas um esboço, pois preciso ver a fonte funcionando e a forma da água  subindo”, explica. O Pastor se descreve como um amante da beleza. “O artista vê o mundo como uma obra divina, e tenta passar a mesma emoção que sente ao ver alguma paisagem ou obra, se impressiona com as cores e formas”, define.

Um homem religioso e pai de um um filho chamado Davi sua paixão que reside na cidade de Búizios (RJ), Pastor sofreu represálias quando comunicou a sua família que viveria das artes. “Minha família queria me preder, e perguntavam se ele já tinha escolhido a praça que iria viver”, relembra. Mas não desanimou com a adversidade, persistiu.“É difícil fazer o que você gosta, mas é mais difícil você fazer o que você não gosta”, afirma.

O Pastor inciou sua relação com as artes aos seis anos, hoje, aos 47, o artista abandonou a profissão como estamparista de moda. Ele prefere pintar quadros de praças e paisagens e tem isso como profissão desde dos 20 anos. “Eu trabalhava numa estamparia, mas procurando sempre estar perto das artes, mas chegou um momento em que decidi focar somente nas pinturas. Larguei a vida que tinha e parti para São Paulo”, lembra.

Na capital paulista, Pastor conheceu seu mentor, o arquiteto e pintor Eduardo Pederneiras Mascarenhas que era amigo da familia e passou a frequentar o seu ateliê. “Eu chegava lá por volta de das 9h da noite e saía de lá de madrugada”, lembra. “Mascarenhas me passou conhecimento o tinha, os livros que ele lia e me indicava materias de leitura  e estudo. Juntos analisávamos obras que eu fazia. Nós analisávamos as as obras um do outro”, revela.

O Pastor não frequentou a Escola de Belas Artes e se considera autodidata. “Tenho formação autodidata, mas acho importante o estudos das artes. O ideal é se formar, caso não tenham a sorte que tive de encontrar alguém no caminho como eu conheci. Não fiquem esperando por isso, não. Vão atrás  de formação e aprendam a técnica, pois ela viabiliza muitas coisas, o conhecimento das cores, perspectiva, desenho, saber o que já se fez”, recomenda.

Por: Gabriel Amorim e Juliana Costa

Imagem: pinturas do Pastor