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Polícia Militar

Foto Divulgação

O carnaval de Belo Horizonte tem crescido cada vez mais ao longo dos anos e em 2017 a folia promete. Com uma programação extensa, serão cerca de 363 blocos desfilando pelas ruas da capital, 30% a mais que ano passado. Os organizadores que esperam 2,4 milhões de pessoas, trarão novidades para o entretenimento dos foliões. Dois palcos serão montados na Avenida Brasil e um na Praça da Estação, além de um escorregador gigante, o “Skolrrega”.

A festa que cresce em proporção pede um policiamento mais intensivo para que todos possam curtir e aproveitar a festa em segurança. Pensando nisso, a Polícia Militar de Belo Horizonte trabalhará em conjunto com outros órgãos, Prefeitura de Belo Horizonte, Polícia Civil, Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros Militar, Ministério Público e Juizado de Menores.

O policiamento contará com todo o efetivo já existente no Comando da Capital, que é formado por 4.472 militares, mais o reforço da Tropa Especializada, Tropa administrativa e militares da Academia de Polícia Militar. A operação intitulada “Operação Carnaval” terá como base diversas ações e operações preventivas e repressivas, feitas de forma a combater o crime e desordem nas ruas durante toda a festa.

A corporação, também em parceria com o Batalhão de Trânsito, trará um reforço para as Operações Blitzen, em especial a Lei Seca. Na tentativa de inibir o uso de bebidas alcoólicas por motoristas que decidirem ir para a folia de carro. E assim, evitar tumultos e acidentes. Com esse reforço e o planejamento prévio já realizado, a PM terá Bases Comunitárias instaladas, além dos postos existentes.

Com esse planejamento e reforço por parte dos órgãos responsáveis por essa grande festa, fique atento e não reaja, proteja-se e procure um policial perto de você ou ligue para o 190. Segurança é tudo.

Por Ana Paula Tinoco

Membros e representantes da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil do estado de Minas Gerais realizaram o segundo dia de manifestações em Belo Horizonte. Na manhã desta terça-feira, 20, os manifestantes caminharam da Praça da Assembleia até a Praça da Liberdade, região centro-sul de BH, e protestaram em frente ao quartel do comando geral da PM/MG.

Durante o ato, uma operação de trânsito, realizada na região, bloqueou o acesso de veículos no entorno da praça. Servidores da ativa e reservistas participam do movimento que é contrário à Proposta de Lei Complementar 257 e a Proposta de Emenda à Constituição 287, que tramitam no Congresso e visam a renegociação das dívidas dos estados com a União e alterações no sistema previdenciário vigente.

Há 9 anos trabalhando como policial militar, R.D.J é a favor da manifestação realizada pelos militares. Ele explica que, ao contrário de outras carreiras e sistemas de remuneração e salário trabalhistas, os militares não possuem direitos assegurados pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) como, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), adicionais de periculosidade, insalubridade, noturno e pagamento por horas extras de serviço.

Em contrapartida, existem outros direitos específicos, criados para a classe: férias prêmio, progressão salarial por tempo de carreira, paridade entre os vencimentos de servidores que estão na ativa e na reserva, entre outros. “Esse projeto, alvo das recentes manifestações, tinha como alvo essas garantias, ou seja, elas seriam extintas, prejudicando a classe militar, bem como a instituição”, afirma o militar.

Outro ponto defendido é o direito de greve. Para ele, se os projetos forem aprovados pelo Congresso Nacional não haverá outra alternativa a não ser a paralisação das atividades. “Sabemos que a sociedade mineira precisa e merece do empenho de cada um de nós na lida contra a criminalidade e para garantir a segurança. Mas não podemos aceitar que nossas carreiras e conquistas sejam atingidas por esses projetos nefastos”, posiciona.

Apesar de ser favorável às paralisações, ele afirma que a segurança da população é algo que será priorizado, “Ressalto que, ainda que haja escala mínima de trabalhos, não é interessante ter nenhum policial a menos nas ruas”, afirma. Para R.D.J, a reivindicação dos militares não possui o intuito de prejudicar a sociedade. “Infelizmente vivemos uma crise financeira e política sem precedentes no país e o movimento que estamos realizando é um reflexo disso. Nossa luta é por direitos, não por privilégios. Se trata de um movimento que está contando com o apoio do Comando da instituição e não será desfeito enquanto nossas garantias estiverem à salvo”, conclui.

Reportagem: Lucas D’Ambrosio

Em Belo Horizonte as manifestações este ano tiveram uma baixa adesão em comparação com o mesmo período em 2013. Para entender essa mudança de comportamento o jornal Contramão conversou com o sociólogo Yurij Castelfranchi e o colunista Pedro Munhoz, que fizeram uma análise sobre os protestos em Belo Horizonte e seus possíveis desdobramentos.

 Em 2013 as manifestações mobilizaram um grande número de pessoas às ruas, neste ano em BH o número reduziu consideravelmente, você observou com surpresa essa redução do número pessoas?

Nenhuma surpresa era exatamente o esperado. Como sociólogo, desde os fatos das manifestações de setembro e sua repressão, não tinha dúvida de que as manifestações atuais tivessem essas características, embora como cidadão que participa das manifestações torci e tentei contribuir para um alcance e participação maior.

A polícia especificamente em BH age de forma intimidadora, você vê como uma violação a constituição ou é somente uma ação preventiva à minoria que vai a esses movimentos a fim de depredar o patrimônio público\privado?

Infelizmente, a polícia agiu de forma bastante irregular, e foram denunciados diversos abusos que não podem ser justificados de forma alguma a partir do comportamento ilegal de alguns manifestantes. Se até a polícia viola a lei, não tem esperança para a política e a democracia.

 A violência da polícia contribuiu para o aumento das manifestações?

No ano passado sim, foi um dos vários gatilhos que contribuíram para a avalanche.  Neste ano não, porque a grande maioria dos manifestantes do ano passado já não encontrava nas pautas atuais e na forma atual motivação para a ação.

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

A necessidade inadiável e imprescindível de reformar a politica, a justiça, a polícia.  De repensar a máquina de decidir que chamamos de democracia.

 Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

Um desafio e um perigo: caso esta necessidade, este grito das ruas não seja levado a sério, o risco é a degenera da vida política, o surgimento de uma antipolítica e de formas radicais de populismo fundamentalista, como já aconteceu, por exemplo, na Itália. Os partidos políticos têm que voltar a pensar mais em programas e ideais, e menos em alianças e marketing.

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

 As manifestações de junho de 2013 serviram como uma primeira experiência de ação política nas ruas para toda uma geração de brasileiros. Nesse sentido, por mais difusas e contraditórias que fossem as pautas levantadas por manifestantes de diferentes interesses, pode-se dizer que o saldo, de uma forma geral, foi positivo. As ruas se transformaram em uma ampla arena de trocas (e de enfrentamentos), onde pessoas desde sempre mais ou menos alheias às reivindicações dos movimentos sociais se confrontaram com aspirações e demandas antigas de vastos setores da sociedade que, na verdade, nunca tinham saído das ruas. Além disso, parece ter aflorado em parte dos brasileiros o hábito de trazer a política para mais perto de seu cotidiano. Isso é perceptível: pessoas que se enxergavam como alheias ao processo político ou enxergavam a política como um ente essencialmente maligno, corruto e distante, sentem-se agora mais aptas para discutir o assunto. Os protestos ajudaram a gerar nos mais jovens a consciência de que eles mesmos são e devem ser agentes políticos.

Por outro lado, as manifestações acabaram abrindo espaço para discussões urgentíssimas, como a relativa à desmilitarização das polícias e o direito à fruição dos espaços públicos. Os protestos acabaram por levar a realidade da violência policial para a classe média e isso leva uma discussão antes restrita às pessoas e entidades que militam pelos Direitos Humanos para um público mais amplo.

Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

 A presença de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente em 2014. Em parte isso se deve à postura da grande imprensa, que insiste em pintar os protestos como se fossem o tempo todo um cenário de guerra. Ajudou-se a criar essa imagem de que quem vai às ruas é sempre violento e isso, naturalmente, amedrontou as pessoas. Não se enfatizou que boa parte dos confrontos, na verdade, começaram com a atuação desmedida das forças policiais, o que levou muita gente a concordar com ações policiais absurdas, como as que vimos recentemente em Belo Horizonte e São Paulo.

Pedro Munhoz

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

 As manifestações de junho de 2013 serviram como uma primeira experiência de ação política nas ruas para toda uma geração de brasileiros. Nesse sentido, por mais difusas e contraditórias que fossem as pautas levantadas por manifestantes de diferentes interesses, pode-se dizer que o saldo, de uma forma geral, foi positivo. As ruas se transformaram em uma ampla arena de trocas (e de enfrentamentos), onde pessoas desde sempre mais ou menos alheias às reivindicações dos movimentos sociais se confrontaram com aspirações e demandas antigas de vastos setores da sociedade que, na verdade, nunca tinham saído das ruas. Além disso, parece ter aflorado em parte dos brasileiros o hábito de trazer a política para mais perto de seu cotidiano. Isso é perceptível: pessoas que se enxergavam como alheias ao processo político ou enxergavam a política como um ente essencialmente maligno, corruto e distante, sentem-se agora mais aptas para discutir o assunto. Os protestos ajudaram a gerar nos mais jovens a consciência de que eles mesmos são e devem ser agentes políticos.

Por outro lado, as manifestações acabaram abrindo espaço para discussões urgentíssimas, como a relativa à desmilitarização das polícias e o direito à fruição dos espaços públicos. Os protestos acabaram por levar a realidade da violência policial para a classe média e isso leva uma discussão antes restrita às pessoas e entidades que militam pelos Direitos Humanos para um público mais amplo.

 Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

A presença de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente em 2014. Em parte isso se deve à postura da grande imprensa, que insiste em pintar os protestos como se fossem o tempo todo um cenário de guerra. Ajudou-se a criar essa imagem de que quem vai às ruas é sempre violento e isso, naturalmente, amedrontou as pessoas. Não se enfatizou que boa parte dos confrontos, na verdade, começaram com a atuação desmedida das forças policiais, o que levou muita gente a concordar com ações policiais absurdas, como as que vimos recentemente em Belo Horizonte e São Paulo.

Como você vê a ação da polícia durante as manifestações de 2014?

No primeiro dia de protestos, no dia da abertura da Copa, um imenso contingente policial foi deslocado para a Praça da Liberdade para proteger o Relógio da Copa. A imagem era chocante: centenas de policiais protegendo aquilo que, para muitos, era um símbolo da FIFA. O comando da PM parece ter se descuidado de deslocar seus efetivos para as proximidades e isso resultou em danos ao patrimônio público e privado. Depois, desconhecendo o caminho do meio e se negando a fazer qualquer esforço minimamente razoável para permitir as manifestações e o patrimônio, a polícia foi a outro extremo. Ao invés de cercar o relógio da Copa ou qualquer outro único bem, cercou os manifestantes e os impediu de sair de um espaço restrito por horas. A tática é conhecida como Caldeirão de Hamburgo, por ter sido utilizada para conter manifestantes na Alemanha da década de 80. Cercaram os manifestantes com pesadíssimo aparato policial armado e os impediram de sair dali, frustrando ao menos dois direitos constitucionais: o direito de ir e vir e o direito à de manifestar-se em espaços públicos. Embora muita gente aprove, temos que ter em mente que é ilegal e que a polícia precisa se esmerar para cumprir suas funções institucionais sem atropelar as liberdades constitucionais de ninguém. Junte-se a isso várias denúncias de prisões irregulares, provas forjadas e violência injustificada e teremos a certeza de que a PMMG, assim como as demais polícias militares brasileiras, são completamente despreparadas para uma democracia.

Você considera a ação inconstitucional?

 Sim, pelos motivos que listei acima.

A liminar foi derrubada, no seu entendimento há chances de uma reviravolta?

Embora eu tenha a convicção de que a razão está do lado dos movimentos sociais que impetraram o Mandado de Segurança para impedir a adoção da tática pela polícia, sou pessimista. É possível que se consiga a revogação da decisão que cassou a liminar, mas temos visto tantos e tão recorrentes atropelos dos direitos constitucionais tanto pela polícia quanto pelo judiciário, que começo a crer que quem deveria resguardar as leis a estão ignorando por mera conveniência política. Ou por costume, não sei. Veja-se o caso de Rafael Vieira, condenado pela justiça carioca por portar água sanitária e pinho sol, para citar um caso.

Entrevista Gabriel Amorim e Luna Pontone

Foto: João Alves

Um ano após o grande movimento que levou milhares de brasileiros às ruas, as manifestações ainda são alvo dos veículos de comunicação e causam polêmica. Tendo grande parte dos brasileiros dividindo opiniões entre ser a favor ou não, manifestantes continuam indo para as ruas em época de Copa do Mundo para mostrar sua indignação pela falta de respeito que o Governo trata sua população, não dando a eles seus direitos por completo.

O professor de Sociologia da UFMG Yurij Castelfranchi, a aluna de arquitetura membro do movimento Tarifa Zero Ana Caroline Azevedo e o Historiador Lucas Souto responderam algumas perguntas mostrando seus diferentes pontos de vista diante das manifestações ocorridas no passado que se estendem até hoje.

O que você acha que pode ser considerado o estopim da população querer organizar uma manifestação por tudo e sair depredando patrimônios públicos?

 Yurij Esta pergunta são 2 perguntas, e a resposta seria muito longa, então vou dividir. Mas, na minha opinião, a pergunta é formulada de maneira errada, por duas razões: não houve manifestação por tudo (foi mais complicado do que isso) e não houve “população sair depredando” patrimônio. Vou explicar:

 – No brasil não havia manifestações grandes há muitos anos e as manifestações com repressão violenta ou com atos de depredação eram pequenas e normalmente localizadas em lugares longe da atenção da mídia (ex.: amazônia, áreas rurais, periferias e favelas), por isso o público, e também muitos jornalistas, não estavam acostumados a ver tanta violência da polícia e tantas reações da população. Por tais razões, os enfrentamentos violentos nas manifestações, e as depredações, foram descritos com tanto clamor. Mas, se formos olhar com objetividade, de um lado, a porcentagem de pessoas envolvidas em enfrentamentos violentos foi sempre extremamente pequena: em junho do ano passado, manifestações que envolveram, no total, muitas centenas de milhares de pessoas no Brasil, tiveram algumas centenas de pessoas envolvidas em enfrentamentos violentos ou crimes: uma porcentagem muito baixa, comparável com a taxa de crime, por exemplo, entre operadores de muitas áreas importantes no Brasil, como policiais ou políticos. Não foi, então a “população” que saiu depredando, mas uma fatia muito grande da população que saiu  manifestando pacificamente. Os focos de violência foram agravados de forma marcada, a meu ver, nos casos em que a repressão da polícia se deu de forma indiscriminada e confusa, como aconteceu, no ano passado, por exemplo no Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Neste ano, em BH, as manifestações foram muito menores, muito pequenas. Mesmo assim, tratou-se de algumas milhares de pessoas participando, e apenas casos de enfrentamento violento com a polícia muito limitado, envolvendo muito poucas pessoas. Eu não diria que a população sai depredando, mas que uma parte (antes grande, agora pequena) da população saiu manifestando.

Sobre as pautas da manifestação, acho que o jornalismo brasileiro, diferente do europeu, estava despreparado para entender este tipo de fenômeno, e não foi entender suas pautas porque não sabia como lidar com uma movimentação que não um “chefe de partido”, uma liderança, um único porta voz. Mas com certeza não foi “por tudo” que os manifestantes manifestaram. O grande estopim das manifestações foi muito claro e único: um grito de protesto contra uma maneira de funcionamento da política (e da democracia) que é visto como inaceitável. Nossos representantes, tanto no nível local quanto federal, são eleitos democraticamente. O que as manifestações nos disseram é que isso não significa que a população aceite delegar aos representantes democraticamente eleito qualquer escolha em nome dos eleitores: estão pedindo transparência real, participação real, influência nas deliberações. Este tipo de protesto contra o funcionamento da política tomou a forma de duas principais reivindicações: contra a corrupção, de um lado, e em favor de um uso mais transparente dos recursos e ouvindo mais a voz da população. Por isso, o estopim, no ano passado, foi o aumento das passagem de ônibus, em cidades onde as prefeituras não prestavam conta de forma transparente de como eram feitas as concessões, de porque a passagem tinha que ser aumentada se as empresas já possuiam lucros extremamente grandes, etc. Em suma, os protestos pegam como “gancho”, como “lead”, muitas coisas, locais ou nacionais (ex.: em BH, Fica Ficus, o viaduto e sua reforma, as ocupações urbanas, a mobilidade, etc.), mas a mensagem é só uma: o funcionamento da máquina política está  errado, e os manifestantes não aceitam mais que os problemas sejam resolvidos “de portas fechadas”.

 Ana Caroline – Não existe isso de manifestação por tudo, todas as manifestações tem pautas definidas e discutidas anteriormente em assembléias, nas reuniões dos movimentos sociais. O estopim é o descaso do poder público para com a população, né? Na copa, vimos milhares de pessoas sendo retiradas de suas casas, políticas higienistas com moradores de ruas, proibição do trabalho de alguns profissionais informais, como os barraqueiros do Mineirão e os pipoqueiros, passagem cara demais em comparação com o salário médio de BH, etc. Todas as pautas muito legítimas que merecem atenção do governo.

Lucas Souto – Os motivos que levam as pessoas a se manifestarem são múltiplos. Passa por desigualdades sociais históricas, que levam a formação de movimentos por direitos das chamadas ‘minorias’, à péssima qualidade dos serviços públicos ofertados por municípios, estado e federação. Claramente nas jornadas de junho do ano passado, e do junho atual, os holofotes da Copa das Confederações e Copa do Mundo fez com que muitos movimentos sociais ganhassem juntos as ruas. As depredações, ou a chamada ‘ação direta’, faz parte da posição daqueles que adotam a tática black bloc. Quem já vivenciou uma manifestação pessoalmente sabe que a parcela dos que adotam essa tática é mínima, até mesmo por uma falta de disposição a esse tipo de enfrentamento físico. A imprensa muitas vezes tenta fazer essa vinculação direta, “manifetação/depredação”, para justificar uma ação rígida da polícia. Como muita gente nunca foi a uma manifestação, acaba indo pelos noticiários e se posicionando contra o ato de se manifestar, o que, ao meu ver, é lamentável.

Antigamente as manifestações não eram tão frequentes como hoje. E tudo ficou mais evidente, pelo menos a meu ver, depois das manifestações ocorridas em Junho/Julho do ano passado. Você acha que a voz do povo perdeu força nas manifestações deste ano?

 Yurij  –  Sim, claro. A onda de junho foi muito grande e surpreendente, e está ligada tanto a problemas internos da política brasileira, quanto ao fenômeno global dos protestos “em rede”. Este ano as movimentações agregaram muito menos pessoas, e perderam sua força. Isso devido à vários fatores. Em primeiro lugar, as eleições que estão chegando: de um lado, pessoas que foram juntas nas manifestações no ano passado, agora não querem se juntar, pois agora apoiam partidos diferentes. As pessoas que estão com medo de que o Governo Dilma possa perder, e dar lugar a um governo mais autoritário ou mais corrupto, não querem agora protestar, preocupadas. As pessoas que, ao contrário, são adversárias do atual governo e querem outros grupos no poder, não querem agora correr o risco de enfraquecer políticos locais que podem ser importantes na corrida eleitoral contra o Governo Federal, e não querem juntar-se a movimentos considerados de esquerda. Além disso, o movimento do ano passado não conseguiu agregar de forma estável as pessoas, e as manifestações durante a copa do mundo são consideradas problemáticas, ou injustas, por muitas pessoas.

Ana Caroline – Não, apesar da campanha midiática pra criminalizar as manifestações, como você mesma resumiu na primeira pergunta como “quebrar tudo” e isso não é verdade, de maneira alguma, os movimentos sociais que já existiam antes ou que surgiram a partir de junho de 2013, ficaram fortalecidos. A gente teve tempo pra estudar, agregar gente, se preparar e tornar as reivindicações mais concretas. Isso não é perder voz, mas ir às ruas de forma pautas específicas.

Lucas Souto – Não. Manifestações de rua sempre aconteceram no Brasil, mas normalmente muito vinculados a movimentos sociais, o que tornava seu volume de participantes pequeno. Aqui em Belo Horizonte mesmo é só observar o “Grito dos Excluídos”, que ocorre anualmente em todo sete de setembro. O que foi visto em junho de 2013 foi algo que surpreendeu a todos pelo volume. Pessoas que até então não estavam junto aos movimentos sociais, acabaram somando as manifestações chamadas pelos movimentos sociais – como na origem de tudo, o Movimento Passe-Livre de São Paulo. Essa presença massiva, que tem muito a ver com as crescentes revoltas populares no exterior, pegou todos de surpresa. Aquela massa era múltipla. Tinham instituições ligadas a partidos; tinham pessoas que tiveram um espasmo cívico; etc. Mas o decorrer do ano trouxe uma nova postura de muitas instituições que, ligadas ao governo, resolveram não apoiar os atos contra a Copa da FIFA. Muitas pessoas já começaram a vislumbrar as eleições e resolveram não ir as ruas. Muita gente ficou com medo do terror implantado pelas promessas de forte aparato repressivo e decidiu ficar em casa. Muita gente realmente estava perdida naquelas marchas e decidiu voltar a sua posição de origem, ignorando aquilo que as levou as ruas em 2013. Creio que quem está indo as ruas agora são aqueles mesmos grupos sociais que já iam  antes das jornadas da Copa das Confederações. E suas causas são legítimas e muito importantes.

 O que você acha da repressão por parte dos militares ao tentar abafar a situação?

 Yurij  As estratégias de repressão mudaram em vários aspectos, neste ano, as forças de polícia chegaram mais organizadas e preparadas, mas há diferenças grandes em cidades e com diferentes tipo de manifestantes. Em alguns casos, houve erros ou abusos graves das forças de polícia, já denunciados às autoridades.

 Ana Caroline A repressão policial é descabida, desproporcional. Uma das pautas é a desmilitarização da polícia e o fim do modus operandi que sobrou da Ditadura Militar no país. Não podemos aceitar esse estado de exceção imposto durante a copa em que manifestantes são perseguidos e torturados, protestos são cercados e impedidos de acontecer, e a nossa liberdade de expressão e manifestação completamente cerceada.

Lucas Souto – Acho desproporcional e, muitas vezes, ilegal. Já nas jornadas de 2013 assistimos uma série de pessoas gravemente feridas por estilhaços de bombas de gás, balas de borracha acima da linha da cintura e espancamentos físicos. Não só entre os manifestantes, mas também membros da imprensa. A truculência da repressão mostra um despreparo enorme para lidar com o público. Despreparo que vemos no cotidiano, com desrespeitos em abordagens e blitz, e que ganha ar de sadismo quando vemos as notícias de espancamento de ativistas. Aqui em Belo Horizonte mesmo, nesse momento tão importante e de manifestações já esperadas, a Polícia Militar está ser Ouvidor de Polícia, principal cargo para denúncias de abusos na instituição. Ou seja, as questões são muito bem orquestradas para que a repressão seja feita de uma maneira agressiva e ostensiva, que gere temor nas pessoas de se irem as ruas protestar. Táticas que, para mim, não condizem com um estado democrático.

 As manifestações são realmente uma boa alternativa para a população ir em busca de seus direitos?

 Yurij – Manifestações não podem ser uma alternativa, a meu ver: ou seja, é impossível fazer política ou pedir direito só manifestando. As manifestações não são uma alternativa, mas um sintoma de algo que não está funcionando, e que os políticos deveriam escutar com atenção. E são um importantíssimo meio, complementar, para aprender a fazer política. E um importante instrumento de cobrança e de luta. Eu vejo nessas manifestações um momento muito importante para a democracia no Brasil, especialmente pela presença, nelas, de pessoas que raramente participaram de manifestações no centro da cidade (moradores de periferia, jovens que não faziam política, etc.).

Ana Caroline –  Ir às ruas reivindicar direitos é uma forma importante de mostrar que nós estamos aqui, cientes dos nossos direitos e que nós vamos lutar por cada um deles. Além disso, é também uma forma de retomar a cidade, entregue aos automóveis, ao consumo e a publicidade.

 Lucas Souto – Bem além de ser ou não uma alternativa, o ato de manifestar é um direito amparado na Constituição. As manifestações de rua são cotidianamente vistas em outros países. Santiago, no Chile, está passando por uma série de manifestações de rua essa semana por conta da luta estundantil pela educação superior pública e de qualidade. Há poucos dias milhares de espanhóis foram as ruas pedindo pela república quando o rei local abdicou. O ato de manifestar é justo e traz um enorme aprendizado de direitos e deveres para quem o faz. Com isso, acho importante que elas aconteçam e que se tornem um hábito dos brasileiros.

A força como a policia está agindo para conter os manifestantes – você acredita que esse pode ser um bom caminho a ser seguido pelo PMs, visando as duas manifestações pacificas ocorridas nas últimas semanas?

 Yurij  – A tática do cercamento dos manifestantes possui, a meu ver, efeitos muito negativos, embora possa resolver alguns problemas táticos imediatos. Mas não sou especialista em segurança pública e não posso opinar.

 Ana Caroline –  Não, de jeito nenhum. O que eles estão fazendo é impedir as manifestações de acontecerem, e isso é uma suspensão do nosso direito garantido em constituição de protestar.

 Lucas Souto – Não. A tática do “caldeirão de Hamburgo” (Hamburger Kessel) adotada pela polícia na manifestação da Praça Sete é alvo de críticas internacionais há anos. No Brasil ainda fere o artigo 5º da Constituição Federal em diversos pontos. Não se pode criminalizar as manifestações, como o ato de ir a rua em si já fosse passível de que a polícia impeça o direito de ir e vir das pessoas. Se as forças policiais são incapazes de distinguir quem comete um crime, como depredação, de alguém que está apenas caminhando diante de uma manifestação, ela é incompetente. Logo, a tática inconstitucional de impedir as pessoas de deslocarem pelo território da sua cidade e país, visando atender os interesses de um governo e instituição internacional (FIFA), não são nem um pouco positivas.

Texto: Bárbara Carvalhaes
Fotos: João Alves e Lívia Tostes

A Polícia Militar de Minas (PMMG) irá reforçar a segurança nas áreas externas dos shoppings centers da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em virtude da ocorrência de assaltos nesses estabelecimentos. De acordo com a PM, foram quatro assaltos em quatro meses na RMBH.

Ainda, segundo a Polícia Militar, além do reforço do efetivo serão destacados policiais à paisana circulando entres os frequentadores dos shoppings. “Vamos anunciar uma atuação ainda mais próxima, nestes locais, com homens atuando na parte externa”, informa o Comandante do Policiamento da Capital, coronel Rogério Andrade.

De acordo com o Coronel, a  PM estuda a possibilidade de instalar pontos de apoio dentro dos shoppings, em parceria com suas administrações.

Segurança Interna

Na quarta, 25, uma relojoaria do Pátio Savassi foi assaltada por dois homens e uma mulher que se passavam por clientes. Uma funcionária foi baleada e socorrida no Hospital João 23, ela não corre risco de morte. Em nota ao CONTRAMÃO, o shopping, informa que nenhuma informação sobre segurança pode ser divulgada e que a joalheria assaltada tem segurança própria.

Os shoppings Cidade, Diamond Mall e BH Shopping não quiseram se pronunciar a respeito da segurança interna.

por João Vitor Fernandes

Foto: Hebert Zschaber