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Praça da Liberdade

“O artista é o criador de coisas belas.

O objetivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista.

O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo ou para um novo

material a sua impressão das coisas belas.” – Oscar Wilde.

O artista plástico Alexandre Pastor, o Pastor, conforme a assina, veste um jeans surrado e cheio de manchas de tintas e uma camisa de malha branca furada no ombro esquerdo e também manchada de tinta. As mãos firmes e, ao mesmo tempo, leves e hábeis, esboçabam, na tela redonda, a fonte e o coreto da Praça da Liberdade. “Fiz apenas um esboço, pois preciso ver a fonte funcionando e a forma da água  subindo”, explica. O Pastor se descreve como um amante da beleza. “O artista vê o mundo como uma obra divina, e tenta passar a mesma emoção que sente ao ver alguma paisagem ou obra, se impressiona com as cores e formas”, define.

Um homem religioso e pai de um um filho chamado Davi sua paixão que reside na cidade de Búizios (RJ), Pastor sofreu represálias quando comunicou a sua família que viveria das artes. “Minha família queria me preder, e perguntavam se ele já tinha escolhido a praça que iria viver”, relembra. Mas não desanimou com a adversidade, persistiu.“É difícil fazer o que você gosta, mas é mais difícil você fazer o que você não gosta”, afirma.

O Pastor inciou sua relação com as artes aos seis anos, hoje, aos 47, o artista abandonou a profissão como estamparista de moda. Ele prefere pintar quadros de praças e paisagens e tem isso como profissão desde dos 20 anos. “Eu trabalhava numa estamparia, mas procurando sempre estar perto das artes, mas chegou um momento em que decidi focar somente nas pinturas. Larguei a vida que tinha e parti para São Paulo”, lembra.

Na capital paulista, Pastor conheceu seu mentor, o arquiteto e pintor Eduardo Pederneiras Mascarenhas que era amigo da familia e passou a frequentar o seu ateliê. “Eu chegava lá por volta de das 9h da noite e saía de lá de madrugada”, lembra. “Mascarenhas me passou conhecimento o tinha, os livros que ele lia e me indicava materias de leitura  e estudo. Juntos analisávamos obras que eu fazia. Nós analisávamos as as obras um do outro”, revela.

O Pastor não frequentou a Escola de Belas Artes e se considera autodidata. “Tenho formação autodidata, mas acho importante o estudos das artes. O ideal é se formar, caso não tenham a sorte que tive de encontrar alguém no caminho como eu conheci. Não fiquem esperando por isso, não. Vão atrás  de formação e aprendam a técnica, pois ela viabiliza muitas coisas, o conhecimento das cores, perspectiva, desenho, saber o que já se fez”, recomenda.

Por: Gabriel Amorim e Juliana Costa

Imagem: pinturas do Pastor

Carros, motos e ônibus circulam normalmente em volta da praça da Liberdade, pelos jardins casais namoram, gente comum corre, há fotógrafos atentos, estudantes passam, transeuntes passeiam acompanhados de seus cães. Frestas da luz de um sol branco, de calor fraco, penetram por entre os galhos das copas das árvores, pouco antes de se esconder por detrás duma densa nuvem cinza e, em seguida, desaparecer nas velhas construções que circundam a mesma Liberdade. Tudo estaria dentro da normalidade diversa que cabe nessa praça de traços iluministas. Tudo azul, como na música d’Os Mutantes. Mas, hoje, a alameda central abrigava uma surpresa: uma grande caixa azul escuro com os dizeres “Labirinto da Felicidade”.

Da caixa saiam sons incompreensíveis, despertando a curiosidade naqueles que estavam na fila para entrar. “Sabe o que tem lá dentro?”, se perguntam. Não há resposta. Enquanto isso a fila cresce, encabeçada por adolescentes com uniformes escolares e mochilas nas costas, senhoras, senhores, pessoas de meia idade, no final dela se concentram adolescentes com trajes típicos dos headbangers. Além dos ruídos é possível entrever a tela de uma televisão onde aparece um bebê sorrindo, vestido, também, em azul.

A publicitaria Isadora Moema sorri enquanto explica: a intervenção foi criada pela agência Lápis Raro, a caixa foi produzida pela agência Do Brasil. “Fora isso não posso revelar mais nada. No máximo, que a peça publicitaria foi feita em comemoração ao aniversário de uma empresa.”.

Quando Vânia Mendes e Rúbia Schwrtz saem da caixa já não há sol, tampouco o fraco calor. Na fria tarde de sexta-feira uma caixa azul atravessada no meio da praça da Liberdade interferiu na rotina das duas mulheres. A primeira vinha de uma aula de física quântica, a segunda acabava de assistir ao comédia francesa “A Datilógrafa”. Seguiam seus caminhos, cada uma de um lado da praça, até que, atraídas pelo “Labirinto da Felicidade” se conhecem enquanto esperam a sua vez. Rúbia Schwrtz, ainda com a pipoca na mão, conversava com Vânia Mendes. “Nos perguntamos o que era felicidade.”, conta.

A mãe de Mendes namora aos 83 anos. Schwrtz tem uma tia de 83 anos, morando com ela, que faz faculdade na Fumec. Na fila, as mulheres de meia idade se vêem cercadas de entusiasmados adolescentes. Isso é também motivo de reflexão para elas. “Idosos e adolescentes parecem estar felizes, e nós, onde encontramos a felicidade nessa correria?”, questiona Vânia.

Elas tem ainda mais em comum, são artistas: Rúbia é arquiteta e decoradora, Vânia é regente da orquestra Jovem Sol das Gerais – grupo formado exclusivamente por mulheres. Quando entraram na caixa se disseram surpresas ao se deparar com muitas de suas precoces reflexões. “É mais óbvio do que imaginamos”, se espanta Mendes. Sobre o que há na caixa não revelam muito: “Risadas de neném, paisagens, é muito íntimo, são coisas”, reflete a regente que conta ter assinado um acordo para não falar o que viu no Labirinto. Ao fim, recomenda: “Vale a pena entrar para saber o que tem lá dentro.”.

 

Por Alex Bessas

Foto por João Alves

Os vendedores de rua estão presentes em nosso cotidiano. Diariamente, os vemos e ouvimos anunciando itens que nos interessam ou não, mas estamos sempre apressados e focados em nossa existência que não prestamos atenção nesses “personagens” que nos circundam e podem revelar boas histórias de vida.  Há 29 anos, João Alves da Rocha (69) tem sua banca de frutas e doces no mesmo ponto, na Rua Gonsalves Dias em frente ao antigo prédio do IPSEMG, uma banca de estrutura simples, asseada, tratada com esmero.

O comerciante diz que a rua é “um presente de Jesus”. Ao longo do tempo Alves conquistou clientes fiéis e amigos. “Eu tenho uma família, alguns desgarraram de mim, mas de vez em quando chegam aqui com a família.”, afirma. Residente do bairro Santa Teresa, João Alves está no segundo casamento, é cristão, pai de 10 filhos a maioria casados, trabalha sozinho, de segunda a sexta, das 7h às 17h.  Para chegar à Praça da Liberdade, ele usa duas conduções, o metrô e um ônibus. Todas às segundas ele vai até o CEASA comprar as frutas e faz todo o percurso utilizando o transporte público.

 Os alimentos são armazenados com cuidado no estacionamento onde guarda o carrinho “é um lugar bem asseado, não tem rato, barata é bem ventilado e detetizado.” ressalta o comerciante. Sobre a violência João Alves conta que “uma pessoa foi pagar uma compra de cinco reais com uma nota de dez reais, a nota sumiu no ar, o cara saiu pulando entre os carros, eu fiquei com dó da dona perdoei o valor da compra e dei a ela cinco reais”.

Para se divertir João gosta de ir ao clube aos finais de semana com o neto. “Vou ao clube da copasa com meu netinho, ficamos lá o dia inteirinho”, conta. O comerciante se considera muito feliz, tem casa própria, e com o dinheiro que ganha com sua banca paga faculdade de uma de suas filhas e vê o trabalho como uma terapia e tem vontade de chegar aos 100 anos.

Há poucos metros do senhor João, conhecemos também outro trabalhador diário, Rogério José dos Santos. Vendedor de pipoca e guloseimas na porta do Centro Universitário Una da Rua da Bahia, diz que antes teve apenas dois empregos e herdou do pai o carrinho em 1949 aos 15 anos. Desde, então, não tem outra atuação profissional que não seja ser pipoqueiro. “Estou, há 20 anos trabalhando aqui, e a maioria dos meus clientes são alunos, ex-alunos e a família deles que por tradição compram em minha mão desde a infância”, afirma. O único filho de Santos não tem interesse em seguir os caminhos do pai, mas parece não se incomodar com isso. Em suas horas vagas gosta de viajar, principalmente para “Roça”, como diz.

A vida de ambos é bem diferente e ao mesmo tempo parecida, pois além de exercerem a mesma profissão, são distintos em comportamento. Seu João é falante, gosta de demostrar o que senti e o que pensa. Já seu Rogerio é pacato um pouco tímido e objetivo. Mas a maneira como vivem o cotidiano em meio ao transtorno do movimento urbano chama a atenção por simplesmente concordarem em ser felizes.

 Por: Aline Viana e Gabriel Amorin

 Foto: João Alves

A Praça da Liberdade é conhecida como um espaço que oferece aconchego aos visitantes. Nela, jovens e adultos namoram, crianças jogam futebol, noivas posam para fotos e um artista plástico, em horário de almoço, recolhe pregos e arames que ficaram pelo chão depois da desmontagem do palco onde ocorreu o Encontro de bandas do SESC se apresentou no último final de semana. Hermes Perdigão, 48, fazia sua habitual caminhada no centro da praça e foi coletando do chão restos de materiais metálicos que lhe deram a inspiração para uma escultura. Ele se sentou na calçada do corredor das noivas e deu inicio a uma nova criação.

“Encontrado não é roubado, mas tudo pode ser transformado”, explica Perdigão que trabalha no Pampulha Iate Club, cuja sede administrativa fica nas imediações da Praça da Liberdade. “Eu gosto mesmo é de trabalhar com material reciclado e com teatro de bonecos também criados a partir da reciclagem”, garante. “Com esse material que recolhi aqui pensei em fazer uma escultura como se fosse uma cerca de arame farpado, só que uma cerca de arame de pregos”, revela.

Para Hermes Perdigão, a Praça da Liberdade é um espaço de inspiração para muitos artistas. “A praça é muito inspiradora, às vezes, tem gente ensaiando música aqui como violino, saxofone, flauta, como eu trabalho ali há 25 anos, eu vejo de tudo”. O artista plástico já esteve com suas criações, por outras vezes, na praça, ao lado de outros colegas de trabalho. Perdigão chegou, inclusive a gravar um vídeo intitulado Menor Guitarrista , que é um boneco, feito a partir de cartões telefônicos, tocando música no meio da praça, reciclados, mas com a mudança nos termos e regras do YouTube, em 2011, o vídeo acabou por ser bloqueado por usar uma música pertencente à gravadora britânica EMI. O artista plástico disse que pretende voltar à praça com sua obra finalizada para tirar uma foto dela no local de onde foi retirado seus materiais.

Por Juliana Costa

Foto Juliana Costa

Enquanto dois times aproveitavam as sombras e o ar fresco da Praça da Liberdade para disputar uma partida de futebol, nos banquinhos, quase arquibancadas, estavam casais namorando, pessoas estudando e até uma aula de mandarim era lecionada. Os estudantes do 5° ao 9° ano, participantes do projeto Escola Integrada, alunos da Escola Municipal IMACO, utilizavam o corredor central como “campo” e cones para delimitar o espaço do gol. E no momento em que a bola fugia do pé de um dos jogadores – quatro em cada time – e escapava dos limites estipulados para o “campo”, essa população da “Liba” trabalhava como gandula para a turma.

“Eles adoram!”, é o que garante a monitora, Karine Marques, 20, e é o que se percebe ao caminhar por ali. Os tênis desgastados, falsas chuteiras, de meninos e uma menina que corriam atrás da bola, com toda empolgação, enquanto outros ficavam apenas na observação e no bom papo nos banquinhos, como torcedores.

A monitora Karine Marques, que normalmente auxilia a criançada com os deveres de casa, afirma que a turma se diverte na praça e interage com os outros frequentadores. “Surge muita curiosidade pela parte deles, às vezes eles vêem pessoas que se vestem de forma diferente e eles perguntam por que”.

O aluno do 9° ano, Welerson Henrique, 15, acredita que a programação diferente quebra a rotina. “É legal que não ficamos parados, não só por jogar futebol, mas aqui tem uma paisagem muito ampla, reparamos nas pessoas e em tudo, queremos saber um pouco mais. Além do circuito cultural da Praça, que é muito legal”.

Por Ana Carolina Vitorino

Foto: Ana Carolina Vitorino

O coreto da Praça da Liberdade foi interditado em novembro de 2010 por problemas estruturais no forro do teto, mas as obras só foram iniciadas há 20 dias. O local era ponto de encontro para muitos jovens de Belo Horizonte, que, com a interdição, foram obrigados a buscar outros locais. “Agora, meus amigos e eu, nos encontramos no entorno da Praça, mas não é a mesma coisa, sentimos falta do coreto, era uma referência”, reclama o estudante Fernando Alvarenga, 22.

Construído em 1913, com projeto do arquiteto Luiz Olivieri, e tombado em 1977 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas gerais (IEPHA/MG), o coreto fez falta aos seus frequentadores. “Utilizava o coreto para me abrigar da chuva, encontrar com os colegas, sentar para conversar num ponto mais seguro durante a noite. A interdição me fez perder o interesse em ir à Praça”, expõe o estudante de Ciência da Computação Jefferson Machado, 23, que se sente indignado por não poder utilizar um espaço público durante todo esse tempo.

A restauração do monumento foi viabilizada por meio de um termo assinado no ano passado entre o IEPHA-MG e o Instituto Cultural do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG Cultural), e deve durar até maio deste ano.

Por Juliana Costa e Marcelo Fraga

Foto: Marcelo Fraga