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2 2002

Por Bianca Morais 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12 milhões de brasileiros sofrem com depressão, a população está adoecendo em quantidade e velocidade preocupantes. Janeiro é o mês dedicado a conscientização para os cuidados com a saúde mental, cuidar da mente é cuidar da vida, o ser humano é um conjunto de corpo, mente e espírito, muitas vezes acaba se cuidando apenas do corpo e se esquece de cuidar da mente, sendo que ela influencia diretamente no corpo, se a saúde mental não está boa, ela pode atingir o corpo, abaixando a imunidade, por exemplo.

Em 2014, com objetivo de conscientização da promoção e proteção da Saúde Mental,  psicólogos da cidade de Uberlândia em Minas Gerais criaram o termo “Janeiro Branco”, uma campanha brasileira que tem o propósito de dar visibilidade para o tema e fazer com que as pessoas busquem ajuda, para cuidar do psicológico.

Nos últimos dois anos, com a pandemia que ocasionou o isolamento social, muitas pessoas descobriram que “saúde mental” não é brincadeira. Sofrer em silêncio não é saudável, desabafar com os amigos é bom, mas é necessário a consciência de que um apoio profissional é muito importante. 

Em entrevista ao Jornal Contramão, a psicóloga Nicole Ornellas Nunes, psicoterapeuta com especialização em transpessoal sistêmica com ênfase em Relacionamento Abusivo e Violência Doméstica – Formada pela Acadêmia Forense em Sexologia Forense, Crimes, Psicopatologia Forense, Mediação de Conflitos e Gerenciamento de Crise responde questões sobre o Janeiro Branco e sobre saúde mental.

 

  1.       O que é o Janeiro Branco?

Janeiro branco é uma campanha voltada para a prevenção da saúde mental, visa dentro da saúde, não só a ausência de transtornos psicológicos, mas seu bem-estar e a forma como você se percebe entre as situações da vida, como você lida com seus sentimentos e emoções.

  1.       Quando essa campanha teve início?

Surgiu em 2014 por psicólogos e estudantes de psicologia em Uberlândia, Minas Gerais. No primeiro ano da campanha, as ações foram realizadas através de mini palestras, roda de conversa entre outras ações, já em 2016, tomou maior proporção com a ajuda das redes sociais e outros profissionais da saúde mental também de outros estados.

  1.       Por que a cor branca?

O Branco traz clareza, paz e tranquilidade. É uma cor que sugere libertação, que ilumina o lado espiritual e restabelece o equilíbrio interior. Por ser ausência das cores, acredita-se que como em uma “folha ou em uma tela em branco”, todas as pessoas podem ser inspiradas a escreverem ou a reescreverem as suas próprias histórias de vida, colocando cores, detalhes e alegrias.

  1.       O que você acha sobre as promessas de ano novo? Você acredita que elas possam causar frustrações?

Sou a favor, desde que todos estejam abertos para as mudanças. Mas o que vem acontecendo ultimamente são pessoas que não saem da sua “zona de conforto” e repete as mesmas ações de anos anteriores, e desta forma se torna inviável uma colheita diferente. Sim, as frustrações surgem quando coloca-se muita expectativa nos processos, e dentro das promessas para um novo ano, existe uma autocobrança enorme e uma baixa tolerância a aceitar falhas que em outras palavras são as” frustrações”. Tudo bem se você falhar!

  1.       Como psicóloga, qual sua opinião sobre a importância do Janeiro Branco?

É importante para conscientizar as pessoas de que os cuidados com a saúde mental começa de cada um,  que nossas ações ou a ausência delas, refletem na vida do outro, ter responsabilidade afetiva, empatia, são pilares fundamentais que contribuem para essa campanha.

  1.       Você percebe um aumento na procura de atendimento psicológico nos últimos anos? Se sim, ao que se deve isso?

Sim, sempre existiu um tabu dentro da psicologia, e, todos esses preconceitos foram sendo desmistificados ao longo dos anos, acredito que a internet e suas redes sociais tem muita influência para esse crescimento. Hoje qualquer ser humano tem acesso as informações e por conseguinte tirar suas dúvidas e se inteirar nos assuntos pertinentes a área, o que antes muitas vezes eram velados.

  1.       Como reconhecer que está na hora de procurar um psicólogo?

Temos uma cultura onde precisamos ter determinado “problema” para buscar ajuda, e não necessariamente. Não existe um momento exato, o trabalho de nós profissionais em teoria era para ser voltado para a prevenção, mas na prática, as pessoas procuram na UTI.

  1.       Qual o maior receio das pessoas em buscar ajuda de psicólogo? E como resolver isto?

O medo do desconhecido, por nunca ter feito, além do preconceito e crenças que existem na sociedade onde dizem que terapia é para “doido” ou terapia é um “luxo”. Só tiramos os receios e medos confrontando com verdades, pesquisem na fonte e só assim podem ter uma clareza sobre como funciona o processo.

  1.       O que se pode fazer para cuidar da saúde mental diariamente?

Ter uma saúde mental equilibrada requer muito mais de nós do que dos outros, ou seja tem muito a ver com nossos hábitos e comportamentos, diante disso, não gastar energia com aquilo que não podemos mudar, se colocar em primeiro lugar, saber dizer não, ter uma alimentação mais próximo do saudável possível, dormir bem, praticar atividade física, entre outras.

  1.     Em relação aos jovens e adolescentes, como os pais ou família podem identificar que os mesmos precisam de acompanhamento psicológico?

A fase da adolescência em si, já se torna um motivo para buscar ajuda de um profissional, principalmente por ser uma fase onde o jovem entra em conflito com sua própria identidade por ter muitas cobranças, não se ver como criança, mas também não é adulto.  Hoje em dia os pais não precisam lidar com eles sozinhos, e pedir suporte é de extrema importância para ajudar no desenvolvimento de cada um.

  1.     Como as doenças emocionais podem influenciar no cotidiano das pessoas?

Influenciam na mudança da rotina de uma forma que deixa de te trazer benefícios, se antes por exemplo, você produzia 10, e caiu para 6, é um dado a se observar, qual conflito não assimilado está sugando sua energia a esse ponto? A falta de motivação, ansiedade e estresse, libera descarga de adrenalina no corpo, e com o tempo esse excesso pode te deixar hipervigilante, ou seja, em estado de alerta sempre, e por consequência, insônias, aumento ou diminuição do apetite entre outros que com certeza desestabiliza não só o cotidiano, mas a vida.  

  1.     Qual dica você daria para que o tema saúde mental não seja lembrado apenas em janeiro, mas durante todo o ano?

É uma força tarefa, acredito que todos devem fazer sua parte nessa divulgação, tanto os profissionais sempre estarem lembrando em suas plataformas, como as políticas públicas com mais e mais campanhas nas comunidades para quem não tem acesso à internet, a própria sociedade criar esse interesse/ curiosidade para buscar e repassar por diante. A dica? Olhe para o lado, não chame a dor do outro de drama e nem “mimimi”, dessa forma vocês estariam não só lembrando, mas colocando em prática o que a campanha tem como objetivo.

  1.     Pensando na pandemia, existem algumas alternativas para manter a saúde mental durante este momento?

Existe sim, vale lembrar que não temos histórico na nossa memória de nada parecido com o que estamos vivendo hoje, portanto o desconhecido já desestabiliza, nosso cérebro tende a buscar sempre por fatos passados para repetir o comportamento seja de fuga ou enfrentamento, nesse caso ficamos paralisados e angustiados. Portanto, alguns “paliativos” ajudam como: evitar ver notícias onde disseminam o caos certificando-se da fonte, não sofrer por antecipação, ocupar a mente com cursos, leituras, assistir filmes que fujam do padrão de violência, além de manter uma alimentação saudável, meditação entre outras alternativas, vale aquilo que te traz bem-estar e que faça sentido para sua vida.