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Pulse

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A manhã do domingo, 12 de junho, dia dos namorados no Brasil, trouxe como manchete a notícia: uma casa de shows em Orlando havia sofrido um ataque em que cerca de 49 pessoas foram mortas e outras dezenas ficaram feridas. A motivação para o crime ainda era uma dúvida e a identidade do atirador não havia sido confirmada. Seu alvo um estabelecimento frequentado por pessoas LGBTS.

O autor dos disparos, que fora identificado como Omar Saddiqui Mateen, segundo investigações do FBI, não possuía nenhuma ligação com grupos religiosos extremistas e de acordo com a família, Mateen era instável e intolerante e seu crime motivado por homofobia embasadas pelo fundamentalismo religioso. Entre os leitores brasileiros houve divisões, de um lado aqueles que se mobilizaram e do outro aqueles que decidiram apontar culpados na tentativa de anular o verdadeiro motivo dessa barbárie: o ódio.

“Me sinto de certa forma com mais medo da sociedade atual, que cada dia deixa claro que o preconceito existe e está crescendo, impulsionado pelos discursos fundamentalistas dos que dizem religiosos. Os atentados só constrangem e cumprem o papel inverso do que queremos, que é a total liberdade de poder e vir, de poder demonstrar o afeto abertamente e de forma tranquila sem temer a violência no nosso cotidiano.”, relata Pablo Abranges, estudante de Jornalismo.

O que houve nos Estados Unidos não é um crime isolado, apenas mais um entre muitos. O mês em que essa tragédia aconteceu nos leva ao passado e nos faz lembrar “ A Batalha de Stonewall”. O estabelecimento, um bar, frequentado por gays, lésbicas e travestis foi palco da violência e intolerância da polícia que sob a alegação da falta de licença para a venda de bebidas alcoólicas espancou e prendeu todas as travestis que se encontravam no local.

Os policiais que tinham como habito invadir o local, naquela noite de 1969, enfrentaram resistência por parte dos frequentadores que se solidarizaram diante da brutalidade usada contra as travestis. O confronto durou duas noites e diante da desistência dos policiais o domingo, 28 de Junho,  entrou para a história  como o Dia do Orgulho Gay.

Esses dois casos apesar dos 46 anos que os separam fazem parte do que é chamado Crime de Ódio. O que choca, no caso da boate Pulse é o número de pessoas que foram assassinadas e feridas em apenas uma noite. Mas a  violência contra os homossexuais acontece todos os dias e cresce gradualmente ao redor do mundo. Na atualidade, existem 76 países que são hostis à homossexualidade e aplicam leis homofóbicas contra seus cidadãos, incluindo a pena de morte. A maioria desses países se encontra na África e no Oriente Médio.

“A gente pode buscar desde a violência que busca a eliminação do outro até a violência mais cotidiana, mais corriqueira que aparece na piadinha, no comentário, na exclusão. Tem vários graus. É importante prestar atenção, muitas vezes o combate dessa violência deve se dar, principalmente, por meio da educação. A gente só vai criar uma cultura do respeito se a gente conseguir discutir isso de maneira adequada em diferentes ambientes: local de trabalho, escola, família, na rua.”, explica Roberto Reis, idealizador do projeto Una-se.

No Brasil, o Grupo Gay da Bahia – GGB – no ano passado, 2015, chegou ao número alarmante de 312 mortes, em um levantamento que abrangeu todo o território brasileiro.  Entre o número total de vítimas a maioria é gay (52%). As Travestis são o segundo grupo que mais sofre com a violência (37%), seguidas por lésbicas (16%) e bissexuais (10%). Sendo o Estado de São Paulo o líder com 55 assassinatos. Segundo essa mesma pesquisa o perfil das vítimas varia, ou seja, não há um perfil. A única coisa em comum entre elas é a orientação sexual.

O estudo que é realizado pela entidade tem como base notícias que são divulgadas em diversas mídias e dados dos bancos de ONGs. Esses números ao serem contabilizados trazem, também, os suicídios. Mortes essas que são causadas pela não aceitação da família ou da sociedade, o que levanta a discussão mais uma vez que não importa se é direta ou indiretamente, mas a homofobia mata.

O que nos abre outro panorama diante das mortes causadas, um homossexual é morto no Brasil a cada 28 horas de acordo com dados do GGB, que é a falta de diálogo que muitas vezes marginaliza as vítimas por sua orientação sexual. Esses dados colocam nosso país na liderança do ranking de violência contra os homossexuais e levanta o debate de que gênero é algo a ser discutido  na tentativa de que assim diminua o preconceito e aumentar a empatia para com as pessoas.

Reis ao falar sobre o assunto deixa claro a importância de levantar essa bandeira: “A escola é um local privilegiado para essa discussão, uma vez que a gente pode preparar esse aluno e essa aluna não apenas para uma prova ou mercado de trabalho, mas, também, para viver em uma sociedade plural. É fundamental que a escola discuta gênero, pensando que discutir gênero é discutir uma cultura de respeito e respeito a diversidade.”

Texto Ana Paula Tinoco