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Quem matou Marielle?

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Por Bianca Morais

8 de março de 2017, dia das mulheres, Marielle Franco estava na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e fez uma chamada: “Cláudia Ferreira, Jandira Cruz, Eloá, Eliza Samudio”, AO qual o público respondia “Presente”, relembrando mulheres que foram mortas violentamente para que não fossem esquecidas.

Um ano depois dessa chamada, no dia 14 de março de 2018, Marielle foi atingida por tiros perto da cabeça. Os criminosos emparelharam o carro com o dela e efetuaram diversos disparos que atingiram também o motorista Anderson Gomes. A assessora parlamentar, Fernanda Chaves foi a única sobrevivente da tragédia.

O TBT de hoje do Jornal Contramão relembra esse brutal assassinato que completou 3 anos nesse domingo (14), sem solução. Ainda fica a pergunta que nunca se calou: Quem mandou matar Marielle e por quê?

A noite do crime:  

Era uma quarta-feira, dia 14 de março de 2018. Marielle chegou por volta das 19h a um encontro de mulheres negras contra o racismo e o preconceito, que aconteceu na Casa das Pretas, na região da Lapa. Foi seu último evento público. 

Às 21h, Marielle sai do local e entra no carro, no banco de trás junto com sua assessora. O curioso é que ela nunca andava atrás, porém nesse dia em específico se juntou a Fernanda para ver algumas fotos e ainda comentou com Anderson  “hoje vou de madame aqui atrás”. 

O que os passageiros daquele carro não sabiam é que desde que chegaram no evento estavam sendo observados por um “Cobalt”. O veículo chegou um pouco antes de Marielle e ficou de tocaia esperando-a sair. Quando o carro que Anderson dirigia saiu da Lapa, o dos assassinos os seguiu. 

Em determinado trecho do percurso, mais especificamente na Rua Joaquim Palhares, em uma região sem presença de câmeras, com iluminação baixa e saída para vários lugares, os bandidos esperaram uma curva para que Anderson diminuísse a velocidade e então dispararam os tiros. 

A forma como executou-se o assassinato não deixa dúvidas de que foi muito bem planejado. A perícia mostrou que a munição usada por eles havia sido desviada da polícia militar e levantou suspeitas sobre participação de pessoas ligadas à PM. A rapidez do ataque e escolha da arma demonstra uma experiência por parte do atirador, o que leva a crer que era uma pessoa com treinamento para isso.

Às 21h30 daquela quarta-feira, Marielle Franco foi assassinada. Tentaram calar a voz da ativista, mas ecoaram o grito do povo: Marielle Franco? Presente!

Quem foi Marielle Franco?

Mulher, negra, militante, lésbica, de periferia. Socióloga com mestrado em administração pública. Marielle era a representação de vários grupos de minoria da sociedade, entendia na pele todo tipo de preconceito que a sociedade enfrenta e por isso era tão abraçada por muitos. 

Em 2017, Marielle concorreu nas eleições e foi eleita a 5° vereadora mais votada do Rio, com mais de 46 mil votos pelo PSOL. 

Marielle era defensora árdua dos direitos humanos. Ela incomodava, por sua constante busca por igualdade, muitas vezes nomeada pela classe conservadora como “defensora de bandido”. Atuava diretamente na comissão que fiscalizava as ações da intervenção federal no estado do Rio, denunciava violência policial. Marielle perturbava porque batia de frente com a desigualdade.

Para ser escutada, Marielle gritava bem alto, não aceitava ser interrompida, lutou muito para chegar no lugar onde estava. Ocupou um espaço que historicamente mulheres de sua classe não ocupavam. Ela era exemplo, desafiava os limites aos quais a colocaram quando nasceu. Sua história será para sempre lembrada, principalmente, por apesar de ter ultrapassado as barreiras que a cercavam, estudou, fez graduação, mestrado, trabalhou, se tornou parlamentar, e mesmo assim isso não a livrou de ser morta pelo sistema.

Quem matou Marielle?

São três anos de impunidade para um delito covarde e violento contra uma mulher defensora dos direitos humanos e um homem, marido e pai de família. Quem puxou aquele gatilho? 

Em março de 2019, a polícia apresentou dois suspeitos, Élcio de Vieira Queiroz, ex-PM, motorista na noite do atentado e Ronnie Lessa, militar reformado da polícia, atirador. Acusados, porém três  anos após a morte de Marielle, nenhum deles condenado, estão soltos. Dúvidas existem muitas, certezas quase nenhuma. Qual a motivação do crime?

Até hoje a polícia não encontrou uma motivação sólida. Marielle morreu no centro de uma das cidades mais conhecidas do mundo e até hoje sua investigação não teve um fim. Nenhuma resposta. Foi um crime político? Foi milícia? 

A defesa dos réus nega a participação deles e afirma que o Ministério Público não tem provas o suficiente para sustentar as acusações. Um caso envolto de sucessivos tropeços. Na época, segundo o jornal “O Globo”, a polícia ignorou o testemunho de duas pessoas que estavam no local, na polícia civil a investigação já passou pelas mãos de três delegados diferentes, o carro e a arma nunca foram encontrados. O descaso é certo, chega a ser inadmissível uma investigação tão lenta. 

A esperança que apareceu nos últimos meses é a força tarefa criada pelo MP do Rio de Janeiro para tentar acelerar as análises do homicídio. Designaram uma equipe de promotores voltados exclusivamente para o desfecho do caso.

O que sabemos de fato é que três anos é tempo demais, é uma ferida que nunca vai ser cicatrizada. Marielle morreu, mas vive dentro de cada pessoa que busca por justiça em um país tão violento e impune. 

 

*Revisão: Italo Charles

**Edição: Daniela Reis