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Racismo

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Por Bianca Morais

O Centro Universitário Una, muito além de instituição de ensino superior, tem como um de seus pilares a inclusão. A série de reportagens sobre 60 anos da Una, mostra diversos projetos de extensão que promovem essa rede de apoio e troca. 

Dando continuidade a série, o Contramão traz hoje uma iniciativa muito importante da instituição que, desde 2016, estimula o diálogo e combate ao racismo. Batizado de Pretança, o projeto mostra mais uma vez como, além de educar e preparar alunos para o mercado de trabalho, a Una quer formar cidadãos conscientes de seu papel na sociedade oferecendo a eles uma formação humanista.

Racismo é um assunto extremamente delicado, principalmente dentro de instituições de ensino. Não é de agora que estudantes negros sofrem discriminação dentro de faculdades, muitas vezes, já foram noticiados na grande mídia vários episódios de preconceito, piadas de mal gosto, trotes polêmicos. 

O Pretança traz para o Centro Universitário Una e para a comunidade em geral, por ser um projeto aberto ao público, um espaço de discussão sobre questões raciais, o reconhecimento da cultura negra, demonstra como o racismo é configurado na sociedade e como deve ser combatido, isso tudo através de debates, rodas de conversas, entrevistas, entre outros. Pretança é um espaço de acolhimento, diversidade, onde o aluno pode compartilhar suas dores e lutas, é um local de resistência em cima de um sistema que por anos os excluiu.

O começo

O Projeto de Extensão Pretança, idealizado pela professora e coordenadora do programa, Tatiana Carvalho Costa, na realidade, partiu de alguns movimentos anteriores realizados pelos alunos do campus Liberdade. Por volta dos anos de 2013 e 2014, devido a políticas federais, como o Fies, Prouni e as cotas, houve um aumento significativo de estudantes negros e de periferia nas faculdades particulares.

“Sobretudo no campus Liberdade, localizado em um lugar super elitizado, zona sul de Belo Horizonte, houve um estranhamento por parte de estudantes e professores brancos, daquela quantidade de pessoas negras ali, o aumento de pessoas não brancas em ambientes acadêmicos que historicamente são embranquecidos”, esclarece a coordenadora.

Devido a dois episódios específicos de racismo dentro da faculdade, as reclamações de atitudes preconceituosas cresceram, por isso, coordenadores e diretores do campus se uniram e tiveram a iniciativa de um evento para discussões de questões raciais.

 

“Foi incrível, a gente aprendeu muito coletivamente, e os alunos que organizaram esse evento, ainda criaram um coletivo de estudantes chamado ABUNA, Afro Brasileiros da Una, mas aí eles se formaram, algumas pessoas saíram da instituição e essa coisa acabou. Isso em 2015”, conta Tatiana.

Em 2016, depois de um semestre sem novas iniciativas sobre discussões raciais, na época, Tatiana, uma das poucas professoras negras do campus, se viu cobrada pelos alunos. Ela que sempre esteve engajada em outras ações fora da escola, próxima ao movimento negro no geral, resolveu tomar a frente e propor um projeto, que inicialmente seria somente para o curso de jornalismo.

“Basicamente, era um projeto de extensão para produção de conteúdo audiovisual, fotográfico e textual. Além disso, a ideia era promover rodas de conversas para que as pessoas participantes entrassem em contato com os principais conceitos e dessem conta de compreender a questão racial que se dava naquele momento”, relembra ela.

A ideia inicial era algo pequeno, no entanto, logo na primeira roda de conversa chegaram pessoas de vários cursos, inclusive colaboradores, e foi quando a instituição começou a entender a necessidade de se ter um espaço mais amplo de acolhimento para além do seu propósito inicial. Inspirados pelo Una-se contra a LGBTfobia (veja a matéria sobre o projeto), passaram a atuar em um tripé de acolhimento, incentivo e diálogo, com a verba do projeto adquiriram livros de discussão racial para a biblioteca e também passaram a promover eventos e participar de outros.

A evolução

Ao longo dos anos, o projeto Pretança cresceu e passou a ter reconhecimento externo, como as ações em parceria com o EDUCAFRO, o curso preparatório para Enem que discute questões de cidadania e direitos humanos e com a Comissão para a Promoção da Igualdade Racial, da OAB.

O projeto também se desdobrou em grupos de estudos, e realizam atividades em parceria com outros programas ligados ao Ânima Plurais, política de diversidade da Ânima Educação, como o Antirracismo na Rede que é a produção de material de referência para as redes sociais e promoção de discussão entre intelectuais e profissionais negros em diversas áreas do conhecimento, e o Cineclube que visa promover sessões comentadas com debates abertos de produções cinematográficas africanas.

“Com a presença forte do Ânima Plurais e desse marcador institucional de discutir questões raciais de maneira mais profunda, o Pretança se desdobrou, então segue o projeto a partir da Cidade Universitária, e levamos o Cineclube para o nível Ânima, já tivemos 240  pessoas inscritas de diversas escolas do grupo”, explica Tatiana.

Além das parcerias, o Pretança tem uma bagagem de muitas realizações, já estiveram presentes em comunidades quilombolas, participaram de eventos como a Taça da Favela, o Festival de Arte Negra, durante a pandemia promoveu palestras com profissionais negros, sobre empreendedorismo, mulheres negras. No último semestre o projeto desenvolveu um podcast que irá estrear em breve e abordará diversos temas, como lugar de fala, violência policial, entre outros.

“Quando a gente fazia cobertura de eventos, amplificávamos esses eventos, como Prêmio Lei Leda Martins, Mostra de Cinema que tratavam especificamente de filmes negros, nós demos uma pequena contribuição ali, e ao mesmo tempo, também tivemos um retorno interno muito importante que foi trazer para dentro da escola, principalmente para as pessoas que participaram do projeto, um contato maior com essas questões, foi muito bonito, em questão de afirmação da identidade, do desenvolvimento de autoestima dos alunos e dessas percepções mais ampliadas das possibilidades de atuação”, completa Tatiana.

Durante uma cobertura do evento Festival de Arte Negra, uma aluna do curso de Jornalismo entrevistou Djamila Ribeiro, durante a conversa a ativista feminista negra, comentou como queria ter tido a oportunidade de ter um programa como o Pretança na sua época de faculdade. Ela gostou tanto do projeto que até hoje segue de longe com uma parceria.

“Ela lançou uma plataforma, Feminismos Plurais, a gente participou de uma ação dela Junto pela Transformação, acabamos ganhando algumas bolsas de estudo para alguns estudantes ligados ao Pretança fazerem os cursos de formação na plataforma, foi bem massa”, lembra ela.

A importância do Pretança

O Pretança sempre foi um espaço de acolhimento e compartilhamento de experiências, aberto à participação de todos aqueles dispostos a aprender sobre pautas de questões étnico raciais. São pessoas negras e não negras motivadas a encarar essa discussão, aprendendo mais e agindo em diversas frentes. 

Com um perfil de sempre propor ações, o projeto muitas vezes lida com assuntos delicados, situações pessoais de violência, camadas complexas do racismo institucional e estrutural, colorismo, feminismo negro, e com isso, ele se torna um espaço de compartilhamento, onde todos entendem que não estão sozinhos.

“São pessoas que se sentem absolutamente à vontade para abrir o coração e falar de problemas de autoestima que sempre enfrentaram e a maneira como o projeto foi acolhedor para a pessoa dar conta. Tem gente que acaba mudando, se compreendendo como negra, pessoas que entram ‘ah sou parda’, por ter ouvido a vida inteira que ser negro é algo ruim e acabou negando isso e acaba mudando de opinião sobre si mesma assim, aceitando mais sua identidade, tendo orgulho assim”, diz Tatiana.

O projeto cria um ambiente para que as pessoas possam se ver como propositivas, e coletivamente também propõe temáticas para contribuir no combate contra o racismo, a luta antirracismo e para estudantes que não são negros colaborarem com a luta antiracista, entender um pouco as dimensões do racismo na sociedade e se entender como pessoas aliadas, poder contribuir, primeiro para a descontrução do racismo em si e ainda como pensar de maneira mais ampla na atuação, no seu entorno imediato.

“Ele tem uma importância grande para os estudantes, sobretudo os negros, nesse lugar de se ver ali, de se ver em outras pessoas, de terem suas demandas acolhidas, de ter gente que entende quando essa pessoa fala ‘eu sofri racismo’, ‘eu passei por essas situações’, ‘é difícil estar aqui como uma pessoa negra’,’é difícil ter chegado aqui’, comenta a idealizadora do projeto.

A luta contra o racismo

Segundo a professora Tatiana, os sistemas econômico e político, e a maneira como a sociedade funciona depende do racismo, são necessários marcadores hierárquicos e um deles é a raça.

“É muito cruel a maneira como a sociedade brasileira foi construída numa ideia de progresso que é racista, porque o progresso brasileiro é o genocídio indígena, é a escravização de pessoas negras e depois a subalternização sucessiva delas ao longo do tempo, não à toa a maior parte das pessoas pobres, 75% das pessoas que estão perto da linha da miséria no Brasil são pessoas negras, de acordo com os dados do IBGE. Então não tem jeito de ser eliminado de vez nessa geração quiçá na outra”, desabafa a professora.

Acabar com o racismo é algo complicado, mas é necessário diminuir a violência, e começar pelo entorno. Em uma instituição de ensino, responsável por educar pessoas para o mundo, é primordial a discussão desse assunto, e o Pretança é fundamental nessa batalha. No sentido institucional, a faculdade Una, vem buscando diversas maneiras para minimizar as situações de racismo, mesmo sabendo que é uma situação difícil.

“Por isso que eu gosto de olhar para o Pretança como lugar de acolhimento, porque combater essa violência é quase impossível do ponto de vista da tentativa de eliminá-lo, então a gente se acolhe, se fortalece mutuamente, traz pessoas aliadas para ajudar nessa luta, porque é uma luta e é preciso entender a dimensão dessa luta, cotidianamente as pessoas brancas desconstruindo o racismo dentro de si mesmas, as pessoas que estão à frente da gestão da instituição entendendo a dimensão do racismo institucional, as pessoas à frente de lugares de liderança, e poder em qualquer local entender como podem fazer diferença para diminuir as desigualdades”, conclui Tatiana.

O Pretança está sempre de portas abertas a todos, visite as redes sociais do projeto, no Facebook, Instagram e Youtube.

https://www.facebook.com/projetopretancauna

https://www.instagram.com/projetopretanca/

https://www.youtube.com/channel/UCOZraLVoSABf8NWSICwbYsg

 

Edição: Daniela Reis 

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Por Bianca Morais

Há alguns dias estava na internet assistindo resenhas de bases para pele tentando encontrar a ideial para mim. Minha maior preocupação era um produto que fosse de boa qualidade, não transferisse para a roupa e de longa duração, enfim, pontos que achava relevantes. A cor não foi um problema, a maioria das blogueiras brancas que encontrei, resenhavam uma base e davam mais dois ou três exemplos de cores que também cairiam bem para quem tivesse o tom de pele parecido com o delas. Minha pele é clara, por isso, sempre existem diversas opções para mim.

Nessa de assistir vídeos me deparei com um youtuber, Tássio Santos, e um título que me chamou muito a atenção: “A cor mais escura”. Nas resenhas o maquiador testa o produto mais escuro de uma marca e emite sua opinião. De início assisti a um dos vídeos que, na minha opinião, foi um dos mais polêmicos do canal, uma resenha sobre a base da blogueira de maquiagem Bianca Andrade, a Boca Rosa. Com milhões de seguidores, ela, que tem um importante papel de influenciadora e que deveria prezar por representatividade, falhou miseravelmente no catálogo de cores de sua linha.

O vídeo apresentado por Tássio tem como modelo Joyce, sua amiga, negra de pele retinta, e é na pele dela que são testadas as maquiagens. Já comecei o vídeo um pouco revoltada ao descobrir que o lançamento da marca foi feito apenas com as cores mais claras da linha, e como a cor mais escura ainda não tinha ficado pronta, ao invés de esperarem, simplesmente optaram por lançar sem e depois colocariam no mercado. Ou seja, a inclusão e a preocupação com as pessoas negras se quer foram levadas em conta. 

A base da linha Boca Rosa Beauty ainda traz diversos problemas e um dele é visivelmente a propaganda enganosa. Quando procuramos imagens da base da internet, a que aparece é de uma cor bem escura, porém quando vemos testada na pele de Joyce, é perceptível que não tem nenhuma semelhança, e na realidade, é muito mais clara. Ou seja, a Joyce, assim como milhares de outras brasileiras negras retintas, não são representadas. 

As preocupações que eu tinha sobre uma base se tornaram fúteis quando assisti aquilo, porque enquanto eu estava preocupada em achar uma base boa eu percebi que existem pessoas que não conseguem encontrar base nenhuma, porque não existe um produto que se encaixe no tom delas. É o racismo estrutural instalado na sociedade, “Preto é tudo igual”, então se uma cor serve para um, serve para todos. Errado!

“Se não tem base para Joyce não tem para mim”, Tássio ressalta isso em praticamente todos seus vídeos de seu canal e quando terminei de assisti-los resolvi seguir seu conselho, perdi qualquer interesse em adquirir um produto não somente da marca Boca Rosa Beauty, como de qualquer outra que não atende a diversidade. Vivemos no Brasil, um país de várias cores e raças, logo uma marca nacional não se importar em lançar uma cartela de cores acessível é intolerável. Sempre ouvi falar bem do tal iluminador da Boca Rosa, mas não pretendo gastar meu dinheiro com uma marca que não traz na sua essência a representatividade.

Todos os anos, no dia 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra. Hoje, a internet está repleta de textos, vídeos comentando sobre o dia e pensei na melhor forma de abordá-lo. Me vi como uma mulher branca que não está no seu lugar de fala, mas que venho aqui para questionar essa realidade, mostrar um olhar crítico e abrir espaço para uma possível discussão. Meu papel como mulher branca é priorizar marcas que sejam inclusivas, é fazer o meu protesto todos os dias, mesmo que seja da forma mais simples, enquanto estiver maquiando o meu rosto. 

Blogueiras brancas que desenvolvem produtos para pele negra, não estão erradas em fazer isso, mas estão completamente equivocadas quando se dispõe a fazer algo que não vai atender a todos, sem pelo menos uma consultoria com alguém que tem poder de fala entre a raça. A indústria não valoriza a beleza negra, não são apenas essas blogueiras que agem irracionalmente, existe algo maior por trás delas, são as lojas que não compram as bases mais escuras para vender, grandes nomes como Payot que desenvolveu a base da Boca Rosa que não se preocupou em aumentar o número de cores, do empresário que não quis desembolsar verba para que ela fosse produzida. “A pobreza no Brasil tem cor”, e justamente por isso, muitas marcas não investem tanto em bases mais escuras com medo de não vender, de gastar dinheiro atoa. É um mercado preconceituoso e deplorável.

A questão “maquiagem para tons de pele negro” vai muito além da cor de uma base, outros muitos empecilhos podem ser apontados, outro exemplo, são as maquiagens das personalidades negras na televisão, ponto também comentando por Tássio em um de seus vídeos. Dependendo da base utilizada a pele negra fica acinzentada na televisão, são maquiadores que não usam produtos adequados para maquiar a pele negra e acabam deixando-as mais claras que deveriam, podemos observar isso com atrizes e jornalistas. Até quando existirá despreparo de maquiadores profissionais em maquiar alguém negro?

No final do vídeo de Tássio ele se desculpa pela fala magoada. Tássio não deveria pedir desculpa alguma, ao contrário, nós, a sociedade, a Boca Rosa Beauty, a Payot e todas as linhas de cosméticos preconceituosas que deveriam se desculpar com ele e com toda a comunidade negra que mais uma vez perde seu protagonismo, é calada, é diminuída.

O dia 20 de novembro não é apenas para se conscientizar, é para mudar. 

 

 

*Edição: Daniela Reis

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*Por Ana Flávia da Silva 

O mercado de trabalho é um ambiente onde a desigualdade está presente, principalmente se olharmos para questões como raça e gênero. A mulher negra dentro deste âmbito encontra inúmeros desafios, que estão diretamente relacionados ao racismo estrutural e institucional.

A desigualdade no mercado de produção está diretamente associada ao desequilíbrio social que vivemos no Brasil. Os dados apontam um crescimento do número de pessoas negras alfabetizadas e concluintes do ensino médio. Contudo o índice de analfabetismo entre as mulheres negras é duas vezes maior do que as mulheres brancas, segundo uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2014. No mercado de trabalho não seria diferente, tendo em vista de que o acesso à educação ainda é muito precário. Grande parte das mulheres negras que se formam do ensino médio encontram dificuldades de ingressar no ensino superior, os dados apontam que apenas 10% conseguem se formar na faculdade.

Segundo dados da Previdência Social, 39,08% das mulheres negras estão inseridas em relações precárias de trabalho, fazendo parte também do maior número de pessoas que trabalham sem carteira assinada e recebendo os menores salários. Em diversas áreas do mercado a presença de trabalhadoras negras é praticamente inexistente. Um bom exemplo é o Cinema Brasileiro, até o momento apenas duas cineastas negras conseguiram lançar longas-metragens.

“Embora vivamos em uma sociedade multirracial e haja muitos discursos de que no Brasil não há racismo, as mulheres negras têm grande dificuldade em se inserir em determinados lugares. Basta observarmos quantas mulheres trabalham em atividades de maior retorno financeiro. Quantas ocupam cargos políticos ou mesmo estão em altos escalões do governo?”, questiona Yone Gonzaga, Consultora em Relações Étnico-Raciais e de Gênero e Doutora e Mestra em educação pela UFMG.

A mulher negra ao buscar uma vaga de emprego por muitas vezes poderá ser julgada pela cor de sua pele, por seu cabelo entre outros atributos físicos. “Outra barreira é o fato de os Setores de Gestão de Pessoas ou Recursos Humanos das empresas, não estarem aptos tecnicamente para compreenderem a dimensão racial como um entrave para o ingresso de pessoas negras no mercado de trabalho”, conta Yone.

Dentro das empresas elas são a minoria, sendo que pouquíssimas conseguem chegar aos cargos de liderança. Conversando com um grupo de mulheres negras, foi possível encontrar alguns pontos em comum em seus depoimentos. O principal deles é de que dentro das empresas muitas vezes elas têm sua forma de trabalho questionada, e precisam sempre se reafirmarem para não terem suas ideias ou opiniões invalidadas.

O racismo estrutural como consequência do nosso processo de colonização corrobora com a situação de desigualdade dentro do mercado de trabalho. É interessante observar que o racismo muitas vezes não ocorre de forma explícita, e sim através de um comentários considerados inofensivos. Essas pequenas atitudes do cotidiano precisam ser reavaliadas, essa é uma batalha constante que precisa ser combatida por todos.

Ainda de acordo com Yone, a melhor forma de derrotar o racismo estrutural é a denúncia. “O silêncio em relação às diversas formas de discriminação racial e de opressão de gênero permite a reincidência. Penso que a questão racial é um problema que deve ser enfrentado por toda a sociedade brasileira e não somente pelo segmento negro. Afinal, não basta as pessoas fenotipicamente brancas fazerem discursos de que não são racistas. Elas precisam se posicionarem e agirem contra todas as formas de discriminação e opressão que têm no pertencimento racial a sua origem”, afirma.

O feminismo negro

A pauta da igualdade de gênero e racial está sendo discutida constantemente. Podemos dizer que o feminismo tem sido um grande auxílio para que as mulheres negras possam alcançar seus objetivos em suas respectivas carreiras. Está havendo uma ruptura nos padrões impostos pela sociedade, isto fica claro quando observamos o fenômeno da transição de cabelos. É possível perceber que esse foi um grande marco do feminismo negro no Brasil, colocando em evidência outros assuntos que estão diretamente relacionadas à diversidade. A rede de apoio que foi possível criar através do feminismo, tem servido de inspiração para que mulheres negras possam discutir os principais desafios que enfrentam na sociedade e partir disso encontrar soluções para mudar o cenário atual.

 

*A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis

Diversidade pode ser a palavra que contextualiza todo o primeiro semestre no Instituto de Comunicação e Artes da UNA.

No inicio do mês de abril, entre os dias 08 e 09, ocorreu o Circuito Comunica: Cores da Igualdade, organizado pelo coletivo ABUNA. O coletivo que, em tupi-guarani significa “Homem Preto”, é um grupo institucional formado por 11 alunos do Centro Universitário UNA, responsável por realizar o evento.

Com palestras e workshops, o Circuito foi de grande sucesso no ICA (Instituto de Comunicação e Artes). O workshop “Turbantes: Origem, Significados e Torções para o Cotidiano”, realizado pela estudante Énia Dára Medina, teve a participação dos professores e dos alunos que não tiveram vergonha de se jogar na moda dos turbantes.

Sob o comando da professora Daniela Viegas, os alunos do 3º período de Relações Públicas, organizaram o II Fórum Comunica intitulado como Diversifica. O evento contou com a presença dos palestrantes Cris Guerra, blogueira e colunista de moda, Wesley Schunk, médico e ex-BBB, Gustavo Jabrazi, representante da agência Filadélfia, Roberto Reis, professor e coordenador do UNA-SE Contra a Homofobia e Tania Rodrigues, representante do grupo Black Soul de BH.

Segundo Viegas, a experiência de organizar o Fórum foi muito gratificante, não só para ela, como para os alunos e participantes, pois todas as decisões sobre o evento foram feitas em discussões democráticas em um processo deliberativo.

Texto: Luna Pontone
Foto: Diogo Fabrin

Para criminalista, Antônio Donato dificilmente será condenado por todos os crimes de que é acusado. Pagodão contra o Nazismo, idealizado no Facebook,  está previsto para o dia  20 na Praça Afonso Arinos

As imagens do suspeito de apologia ao nazismo, Antônio Donato Baudson Peret, 24, tentando enforcar o catador de material reciclável Luiz Célio Damásio, 42, ganharam repercussão nacional, desde o dia 05 de abril,  e geraram uma mobilização nas redes sociais, na última semana. No Facebook, está programado para o dia 20, um evento denominado Pagodão contra o Nazismo com o objetivo de “pressionar os órgãos públicos pelo avanço da investigação e das punições”, conforme esclarece uma das organizadoras que prefere se identificar como responsável pela página Anarquistas Ensinam (link).

A mobilização será na Praça Afonso Arinos, na Avenida Álvares Cabral, pretende reunir todo grupo antifascista de Belo Horizonte. “Nosso público é diverso, todas as cores, credos, estilos e etnias. O importante é ser antifascista!”, exclama a responsável. Além de esclarecer que o pagode almeja reunir “uma galera para se divertir, e que estimule os debates e a pressão popular sobre os casos”. A autora do evento explica ainda: “Nosso pagode é uma resposta às manifestações de intolerância e formação de quadrilha nazista que tem ocorrido em Belo Horizonte, que vão desde os trotes racistas na UFMG, até os casos mais recentes envolvendo os boneheads neonazistas”.

Apologia ao nazismo

Antônio Donato foi preso em Americana (SP), na segunda, 15, e esta detido no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) São Cristóvão, onde também estão Marcus Vinícius Garcia Cunha, 26 anos, e João Matheus Vetter de Moura, 20 anos, detidos no domingo, também acusados de agressões na capital. Donato responderá por incitação ao crime, apologia ao nazismo e ao racismo, lesão corporal leve, tortura, corrupção de menores (há uma foto de um menor, filho de um dos outros dois acusados, fazendo reverência nazista) e formação de quadrilha, a pena pode chegar a 24 anos de prisão.  Mas para a  advogada criminalista Gabriela Dourado, o suspeito dificilmente será condenado por todos os sete crimes de que é acusado. Ouça o podcast em que a advogada explica cada um desses crimes e suas respectivas penas, além de fazer uma análise do caso.

Por Ana Carolina Vitorino

Ilustração: Diego Gurgell

Envolvido em uma polêmica sobre racismo, o escritor Monteiro Lobato, autor do clássico infantil o Sítio do Pica-pau Amarelo, é um dos personagens do tema Racismo e Literatura, que será discutido no Café Controverso, que acontece no Espaço Tim UFMG do conhecimento, no próximo sábado, 24, às 11h. O autor que, em seus livros trata a personagem Tia Nastácia como “Preta Velha” e “macaca de carvão”, foi alvo de criticas de entidades ligadas ao movimento negro.

O Evento contará com a presença da professora da Faculdade de Educação da UFMG, Santuza Amorim e a professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e de Literatura Afro-brasileira da PUC-MG, Maria Nazareth.

Segundo Santuza Amorim , os negros são tratados, de uma forma geral,  de forma depreciativa, nos livros usados pelas escolas. “Na maioria das vezes, o negro aparece em situações subalternas. Tais livros não mostram essas figuras em famílias organizadas ou como trabalhadores que têm profissões bem situadas”, defende.

Já Maria Nazareth acredita que deve ser delegada aos professores a tarefa de dar o contexto em que a história foi escrita. Censurar uma obra que foi escrita no passado é desconhecer o contexto em que foi publicada. “Apagando a visão do livro não temos nem esse momento pra discutir formas de racismo” explica.

Leitores

Os alguns leitores de Monteiro Lobato o preconceito é inexistente. A dona de casa Danielle Caetano Tia Nastácia tem um papel muito importante na história de Lobato. “O papel dela é muito bonito, à vejo mais como uma vovózona de todos”, declara.

E o diretor executivo Guilherme Guerra completa dizendo que acha “isso uma bobagem. O racismo existirá enquanto tivermos que justificar porque alguém chamou a outra de preta, amarela etc.”, conclui.

Por João Vitor Fernandes e Rute de Santa

Foto: Internet