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Rebeca Araujo

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Por Rebeca Araújo –  Poligrafias – Parceiros Contramão HUB

Desde que tenho consciência de quem sou, desejo entregar uma bula a quem me conhece. Sim! Dessas que vêm em remédio e informam contra-indicações, sintomas e modo de uso. É que eu sou a instabilidade em pessoa, e acabo funcionando de formas variadas dependendo do organismo. Penso que com instrução, as pessoas lidariam melhor comigo -ou eu lidaria melhor com elas. De toda forma, ultimamente tenho pensado em entregar uma bula pra você também, que acha ser bom o suficiente pra jogar comigo. Entregar a você que, de tão convencido, seria capaz de jogar minha bula fora, mesmo sem capacidade alguma de lidar comigo sem ajuda.

Convenhamos: Você sabe que este texto é seu e ponto. Não é preciso endereçar.

Mas sou eu quem quer entender a que ponto chegamos. Porque, de inicio, deixei claro meus termos -ou pensei ter deixado! Disse que não sei lidar com a saudade. Esse era o pior sintoma que eu poderia apresentar e o mais difícil de lidar. Não que eu seja desesperada pela presença, só sinto que a falta é vazia e estar só, não agrega nada. Sendo assim, pra não deixar a relação tóxica, você só precisava não brincar de fazer falta. Eu odeio esse joguinho de quem corre atrás de quem, então reagi com total repulsa.

Pedi insistentemente que ignorasse minhas instáveis variações de humor e você pareceu concordar, entender e respeitar. Inclusive, aprendi a aceitar pacientemente sua bipolaridade teatral, prometendo relevar todas as besteiras que saíssem da sua boca, sem raciocínio, mas foi insuficiente. Você continuou agindo como se eu fosse novidade e, a cada crise, você fugiu como se não houvesse tratamento específico.

Tô confusa agora, principalmente pelos inúmeros questionamentos da sua parte. Quando cobro demais, ou sinto sua impulsividade agressiva demais, quando me importo demais e analiso demais. Não havia concordância nisso? Se você tivesse uma bula como guia, as consequências entre nós não surtiram tanto efeito. Provavelmente teríamos salvação, se você tivesse entendido minha função. Mas seu ego é tão imponente, que nem percebe o prazo de validade terminando. A minha paciência que tá acabando. Então, não aja de forma desesperada quando o prazo vencer e eu não puder ser usada mais por você.

Tudo é uma questão de interesse mesmo. Minha finalidade foi atrativa pros seus medos. Eu era tão frágil no início e você parecia tão forte e evoluído, que até pra mim, a bula pareceu descartável. Foi aí que você se tornou capaz de fingir. E logo pra cima de mim, que tenho um super poder de constatação de promessas vazias no histórico.

Que sou um problema nível tarja preta, eu sei. Só que você parecia o cara certo pra mudar minha composição. Não que eu fosse me tornar outra pessoa, ou que agiria de forma massiva a partir de então. Mas eu pretendia me tornar alguém mais leve, alguém que mais pessoas gostariam de ter no armário sabe? Só pelo simples fato de você lidar comigo, ao que parecia, tão bem.

Errei feio ao não ter te dado uma bula. É isso que tô adiando encarar.

O mais triste é perceber que pra você, a falta dela não significa nada. Você tá tão preocupado em ser bom o tempo todo, que me faz parecer ruim por exigir o mínimo. Nada está bom. Nós não estamos bem. Você não entendeu meu modo de ser e tá desperdiçando o tempo tentando. Não vai funcionar.

Era pra sermos companheiros. Era pra quando um precisar, o outro ser capaz de amenizar a dor que tentasse chegar. Entretanto, somos um e um, competindo por quem está mais certo, em quem há mais marcas, quem é mais difícil de lidar. Hoje, sua alergia a mim é tão forte, que não sou capaz mais de remediar.

No fim, talvez você não me conheça tão bem quanto eu conheço você. No fim, se o ultimo fio de esperança continuar, talvez sua bula chegue pelos correios semana que vem.