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Foto: Igor Cerqueira

A coordenadora de comunicação da Transvest, Luísa Reiff, conta sobre as ações da ONG e quais medidas adotadas no período de pandemia

Por Bianca Moraes

Em meio às comemorações do mês da visibilidade trans, o Jornal Contramão vem trazendo uma série de reportagens sobre o assunto. Mas, é no dia 29 que se celebra o marco das manifestações de pessoas trans que lutam por justiça, igualdade e reconhecimento todos os dias.

Para dar início, hoje você confere uma entrevista sobre a ONG Transvest com uma de suas voluntárias, Luísa Reiff, jornalista, pós-graduada em Comunicação Digital pela PUC Minas e mestranda em Comunicação e Gestão de Indústrias Criativas pela Universidade do Porto. Hoje, Luísa coordena o Núcleo de Comunicação da ONG desde fevereiro de 2020 ao lado das designers Fernanda Carvalho e Camila Moraes.

A TRANSVEST é uma ONG que tem como principal objetivo combater a transfobia e incluir travestis, transexuais e transgêneres na sociedade. E, foi fundada no final de 2015 a partir de uma inquietação de professores que lecionam em colégios de classe média e classe alta, acreditando no poder transformador da educação.

A idealizadora do projeto é Duda Salbert, ativista, professora e vereadora mais votada de Belo Horizonte. No Brasil, 90% das travestis e transexuais estão na prostituição. Segundo Duda, em um vídeo publicado em seu instagram sobre a Transvest, a transfobia odiosa da sociedade expulsa esse público do mercado formal de trabalho, e por isso, a ONG aparece como uma esperança para eles.

Confira abaixo a entrevista que conta um pouco sobre essa organização.

Qual a principal diferença da Transvest de quando começou para atualmente?

A pandemia alterou muito o funcionamento da ONG. O cursinho preparatório para Enem, as oficinas, aulas de defesa pessoal e passeios culturais foram inviabilizadas pelo Covid-19, portanto, hoje nossa atividade principal é o programa de Renda Mínima Trans, idealizado pela fundadora, vereadora e professora Duda Salabert e efetivado pela equipe da ONG, em especial a coordenadora e psicóloga Patrícia Oliveira. Temos cerca de 150 pessoas cadastradas e, mensalmente, trans e travestis recebem um depósito de R$100. Para trans e travestis idosas (ou seja, acima de 35 anos devido à expectativa de vida), o valor é R$200. Também distribuímos cestas básicas, roupas e outros artigos que chegam à ONG através de doações.

Como o cursinho tem se mantido durante a pandemia? Como tem sido as aulas?

Todas as nossas atividades presenciais foram interrompidas. Nosses alunes não têm acesso garantido à internet ou a aparelhos que permitam o acompanhamento das aulas e nós não teríamos como garantir um ambiente seguro para todes. Neste momento, o foco principal é a sobrevivência.

Quais têm sido as maiores dificuldades para vocês nesse momento?

A manutenção das doações. Nossa vaquinha online  é nossa única forma de sobrevivência e o momento é delicado. Através das redes reforçamos a grande necessidade da ONG de manter – e aumentar – as doações e isso tem sido uma grande dificuldade. Vale dizer que temos profunda gratidão por todes que nos apoiam com doações fixas, pontuais ou que divulgam nosso trabalho.

Como são escolhidos os voluntários e quais são as principais funções que eles exercem?

Nossa equipe no momento é enxuta porque as aulas estão pausadas. No funcionamento normal temos uma série de professores que chegam até a ONG pelas redes sociais ou por conhecidos. Atualmente, nossa equipe fixa é a Duda Salabert (fundadora e coordenadora), Patrícia Oliveira (coordenadora e psicóloga), Luísa Reiff (coordenadora do Núcleo de Comunicação), Fernanda Carvalho e Camila Moraes (designers) e Luciana Gravito (dentista). Também contamos com a colaboração pontual de muitas outras pessoas e contamos com professores voluntários que são captados no início de cada ano letivo.

Qual nível de aceitação da ONG na cidade?

Temos uma resposta muito positiva em BH e em diversos outros lugares do Brasil (apesar de nossa atuação ser limitada à capital mineira). Porém é inegável o enorme preconceito e perigo passado pelas pessoas trans e travestis seja em Belo Horizonte ou em qualquer outro lugar. Nós somos um movimento de resistência.

Vocês ainda mantêm a sala no Maletta? E a casa? Se não, por qual motivo elas não funcionam mais?

Não temos uma sede fixa porque não há verba, mas esse é o nosso grande sonho! A sala do Ed. Maleta é cordialmente emprestada pela Patrícia Oliveira para algumas de nossas atividades.

Os cursos oferecidos aos alunes trans e travestis têm ajudado no mercado de trabalho?

Têm sim. Nós temos muites alunes que conseguiram entrar em cursos superiores graças à preparação que lhes foi oferecida. E para além disso, o atendimento psicológico gratuito também auxilia es alunes a lidarem melhor com os estudos, a vida e com suas lutas internas.

Houve avanço em relação aos alunes?

Houve sim, além dos citados acima, no ingresso a cursos superiores, também temos exemplos de alunes que abriram pequenas empresas ou conseguiram trabalhos e freelas com o auxílio da ONG e de voluntáries.

Vocês tem alguma notícias de ex alunes que fizeram o curso, se conseguiram passar em alguma faculdade, alguma história interessante?

Temos atualmente 3 ex alunas matriculadas em universidades públicas de Minas, um grande orgulho para ONG!

A iniciativa da ONG tem contribuído na autoestima e no aumento da confiança das pessoas trans?

A ONG viabiliza a autoestima de diversas formas, seja auxiliando no processo de retificação de nome e gênero, auxiliando na inserção social, apresentando novas possibilidades de existência e ajudando a executar a mudança concreta que é almejada por todes.

De qual maneira as pessoas podem estar ajudando a ONG?

Através da vaquinha online. Também temos um Picpay: @ongtransvest

E vale dizer que o engajamento em nossas redes sociais, comentários, compartilhamentos e indicações é de enorme ajuda!

Qual a importância da ONG na visibilidade trans e na luta contra a transfobia?

É um instrumento, mas uma andorinha só não faz verão. Formar profissionais trans e travestis é muito importante, mas precisamos de empregadores, colegas de trabalho, vizinhos, e conhecidos que sejam esclarecidos quanto à questão de gênero. Todes precisam ser agentes contra a transfobia. A luta por direito e igualdade vai além da própria bandeira e o nosso objetivo só será alcançado se tivermos todes ao nosso lado. É preciso ser atuante, ser aliado, ser agente de transformação e lutar sempre pela vida, respeito e justiça. Não podemos deixar de citar também a importância urgente de políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas trans.

Conheça mais sobre a ação Renda Mínima Trans @ongetransvest

“As palavras destacadas em itálico tem como função promover a inclusão de todas pessoas sem o uso do gênero”.

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Por Italo Charles

No Brasil, janeiro tem sido marcado pelas manifestações de pessoas transexuais e travestis. O mês se tornou referência em 2004 através de um movimento de Trans Ativistas na porta do Congresso Nacional e, desde então, o Ministério da Saúde estabeleceu o dia 29 de janeiro como Dia da Visibilidade Trans.

Em meio a todas as manifestações políticas que a causa carrega, que tem como objetivo dar espaço as pessoas transexuais e travestis, há ainda alguns tabus a serem desvendados, por exemplo, o entendimento acerca da “identidade de gênero”. Mas, para começar, precisamos entender o que significa gênero. 

As discussões sobre gênero começaram, no Brasil, por volta dos anos 70 através de grupos feministas que lutavam por igualdade de direitos em pleno período de ditadura militar e, a partir desse período, os movimentos se intensificaram e têm ganhado forças dia após dia.

Nesse contexto, o conceito de gênero refere-se sobre os aspectos sociais atribuídos ao sexo. Ou seja, gênero têm relação às construções sociais e não a condições naturais (biológicas). Dessa forma, gênero é compreendido como tudo que foi definido socialmente ao longo da história e que se atribui como função ou comportamento designado a alguém baseado no seu sexo biológico.

É entendido também que, o gênero faz parte de relacionamentos de grupos de determinada cultura e que impõe certas características  sejam designadas ao homem ou a mulher. 

Há quem já tenha ouvido “isso é coisa de mulher” ou “cuidar da casa e dos filhos é dever da mulher”. Ao observar essas situações fica claro que existe por trás dessas falas alguns estigmas atribuídos ao “ser mulher”. Dessa forma, é possível entender que o gênero extrapola as percepções acerca do sexo biológico e se torna uma construção social.

Identidade de gênero

A identidade de gênero está relacionada à construção do indivíduo perante a sociedade, ou seja, como este mesmo indivíduo se enxerga e em qual gênero ele se identifica. Sendo assim, o sexo biológico não está relacionado a identidade de gênero, mas sim na relação ao masculino, feminino e gênero fluido.

Geralmente, ao nascer as pessoas são designadas a determinado gênero a partir da genitália com a qual nasce, sendo assim, os pais e a sociedade escolhem os caminhos que o indivíduo deve seguir a partir disso.

Entretanto, algumas pessoas ao passar do tempo se identificam com um gênero que difere com o qual lhes foi imposto ao nascimento tendo em conta o sexo biológico e através das relações sociais, portanto, isso é a identidade de gênero.

Existem três principais identidades de gênero, mas é importante destacar que uma pessoa pode apresentar características apontadas como ‘masculina’ e ‘feminina’ em todos os casos. 

São: cisgênero, transgênero (Transexuais e Travestis), e não-binário.

Cisgênera é a pessoa que se identifica com o sexo biológico que lhe é designado no momento do nascimento.

A pessoa transgênera é aquela que se identifica como não pertencente ao gênero que lhe foi designado através da sua genitália durante o nascimento.  Entre trangeneres estão, homens e mulheres trans e travestis.

A pessoa não-binária é aquela que não se identifica completamente com o gênero designado no nascimento nem com o outro. Dessa forma, a pessoa não-binária pode não se ver em nenhum dos papéis atribuídos a mulheres e nem ao dos homens, mas também pode vivenciar entre os dois.

Vale ressaltar que muitas pessoas ainda se perguntam como um “homem ou mulher” podem nascer no corpo errado ou então como não se identificam com nenhum ou ambos gêneros. É possível dizer que não existe um aspecto causador.

Orientação afetivo sexual

Outro ponto importante nessa leitura é sobre as características que diferem a identidade de gênero com a orientação sexual. Muitos não sabem, mas não existe uma relação entre ambos conceitos.

De maneira fácil de ser interpretada, diz-se que orientação sexual é o desejo sexual que uma pessoa sente pela outra. Sendo assim, existem algumas características de orientação sexual principais.

Estas são: assexual,  bissexual, demissexual,  heterossexual, homossexual e pansexual.

Vamos lá!

A pessoa assexual é aquela que não manifesta interesse sexual por outra pessoa, entretanto é capaz de manter um relacionamento amoroso/romântico com outro indivíduo.

A Bissexualidade é compreendida como orientação afetivo-sexual a partir de um indivíduo seja ele cisgênero, transgênero ou não-binário que se sente atraído sexualmente ou romanticamente por pessoas dos gêneros masculino e feminino.

Os demissexuais, são pessoas que sentem atração afetiva, sexual e romântica somente quando há um envolvimento e laço emocional ou intelectual. De tal modo, pessoas demissexuais precisam estar “conectadas” para que haja algum tipo de relação. 

Heterossexuais são pessoas que sentem atração afetiva e sexual por pessoas do sexo oposto.

Homossexuais são os indivíduos que se sentem atraídos tanto sexualmente como romanticamente por pessoas do mesmo sexo. Gays e lésbicas se encaixam neste conceito..

Já a pansexualidade é compreendida como uma pessoa que sente atração afetiva sexual por um indivíduo independente do seu sexo e gênero.

 

*Edição: Bianca Morais e Daniela Reis

**A matéria foi produzida sob a supervisão da jornalista Daniela Reis