#vaitercopa, manifestações 2014 para onde foram?

#vaitercopa, manifestações 2014 para onde foram?

Em Belo Horizonte as manifestações este ano tiveram uma baixa adesão em comparação com o mesmo período em 2013. Para entender essa mudança de comportamento o jornal Contramão conversou com o sociólogo Yurij Castelfranchi e o colunista Pedro Munhoz, que fizeram uma análise sobre os protestos em Belo Horizonte e seus possíveis desdobramentos.

 Em 2013 as manifestações mobilizaram um grande número de pessoas às ruas, neste ano em BH o número reduziu consideravelmente, você observou com surpresa essa redução do número pessoas?

Nenhuma surpresa era exatamente o esperado. Como sociólogo, desde os fatos das manifestações de setembro e sua repressão, não tinha dúvida de que as manifestações atuais tivessem essas características, embora como cidadão que participa das manifestações torci e tentei contribuir para um alcance e participação maior.

A polícia especificamente em BH age de forma intimidadora, você vê como uma violação a constituição ou é somente uma ação preventiva à minoria que vai a esses movimentos a fim de depredar o patrimônio público\privado?

Infelizmente, a polícia agiu de forma bastante irregular, e foram denunciados diversos abusos que não podem ser justificados de forma alguma a partir do comportamento ilegal de alguns manifestantes. Se até a polícia viola a lei, não tem esperança para a política e a democracia.

 A violência da polícia contribuiu para o aumento das manifestações?

No ano passado sim, foi um dos vários gatilhos que contribuíram para a avalanche.  Neste ano não, porque a grande maioria dos manifestantes do ano passado já não encontrava nas pautas atuais e na forma atual motivação para a ação.

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

A necessidade inadiável e imprescindível de reformar a politica, a justiça, a polícia.  De repensar a máquina de decidir que chamamos de democracia.

 Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

Um desafio e um perigo: caso esta necessidade, este grito das ruas não seja levado a sério, o risco é a degenera da vida política, o surgimento de uma antipolítica e de formas radicais de populismo fundamentalista, como já aconteceu, por exemplo, na Itália. Os partidos políticos têm que voltar a pensar mais em programas e ideais, e menos em alianças e marketing.

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

 As manifestações de junho de 2013 serviram como uma primeira experiência de ação política nas ruas para toda uma geração de brasileiros. Nesse sentido, por mais difusas e contraditórias que fossem as pautas levantadas por manifestantes de diferentes interesses, pode-se dizer que o saldo, de uma forma geral, foi positivo. As ruas se transformaram em uma ampla arena de trocas (e de enfrentamentos), onde pessoas desde sempre mais ou menos alheias às reivindicações dos movimentos sociais se confrontaram com aspirações e demandas antigas de vastos setores da sociedade que, na verdade, nunca tinham saído das ruas. Além disso, parece ter aflorado em parte dos brasileiros o hábito de trazer a política para mais perto de seu cotidiano. Isso é perceptível: pessoas que se enxergavam como alheias ao processo político ou enxergavam a política como um ente essencialmente maligno, corruto e distante, sentem-se agora mais aptas para discutir o assunto. Os protestos ajudaram a gerar nos mais jovens a consciência de que eles mesmos são e devem ser agentes políticos.

Por outro lado, as manifestações acabaram abrindo espaço para discussões urgentíssimas, como a relativa à desmilitarização das polícias e o direito à fruição dos espaços públicos. Os protestos acabaram por levar a realidade da violência policial para a classe média e isso leva uma discussão antes restrita às pessoas e entidades que militam pelos Direitos Humanos para um público mais amplo.

Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

 A presença de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente em 2014. Em parte isso se deve à postura da grande imprensa, que insiste em pintar os protestos como se fossem o tempo todo um cenário de guerra. Ajudou-se a criar essa imagem de que quem vai às ruas é sempre violento e isso, naturalmente, amedrontou as pessoas. Não se enfatizou que boa parte dos confrontos, na verdade, começaram com a atuação desmedida das forças policiais, o que levou muita gente a concordar com ações policiais absurdas, como as que vimos recentemente em Belo Horizonte e São Paulo.

Pedro Munhoz

Qual foi o maior legado dos protestos de 2013?

 As manifestações de junho de 2013 serviram como uma primeira experiência de ação política nas ruas para toda uma geração de brasileiros. Nesse sentido, por mais difusas e contraditórias que fossem as pautas levantadas por manifestantes de diferentes interesses, pode-se dizer que o saldo, de uma forma geral, foi positivo. As ruas se transformaram em uma ampla arena de trocas (e de enfrentamentos), onde pessoas desde sempre mais ou menos alheias às reivindicações dos movimentos sociais se confrontaram com aspirações e demandas antigas de vastos setores da sociedade que, na verdade, nunca tinham saído das ruas. Além disso, parece ter aflorado em parte dos brasileiros o hábito de trazer a política para mais perto de seu cotidiano. Isso é perceptível: pessoas que se enxergavam como alheias ao processo político ou enxergavam a política como um ente essencialmente maligno, corruto e distante, sentem-se agora mais aptas para discutir o assunto. Os protestos ajudaram a gerar nos mais jovens a consciência de que eles mesmos são e devem ser agentes políticos.

Por outro lado, as manifestações acabaram abrindo espaço para discussões urgentíssimas, como a relativa à desmilitarização das polícias e o direito à fruição dos espaços públicos. Os protestos acabaram por levar a realidade da violência policial para a classe média e isso leva uma discussão antes restrita às pessoas e entidades que militam pelos Direitos Humanos para um público mais amplo.

 Houve uma transformação nos protestos, de certa forma há um engajamento por parte da sociedade, o que esperar dessa transformação?

A presença de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente em 2014. Em parte isso se deve à postura da grande imprensa, que insiste em pintar os protestos como se fossem o tempo todo um cenário de guerra. Ajudou-se a criar essa imagem de que quem vai às ruas é sempre violento e isso, naturalmente, amedrontou as pessoas. Não se enfatizou que boa parte dos confrontos, na verdade, começaram com a atuação desmedida das forças policiais, o que levou muita gente a concordar com ações policiais absurdas, como as que vimos recentemente em Belo Horizonte e São Paulo.

Como você vê a ação da polícia durante as manifestações de 2014?

No primeiro dia de protestos, no dia da abertura da Copa, um imenso contingente policial foi deslocado para a Praça da Liberdade para proteger o Relógio da Copa. A imagem era chocante: centenas de policiais protegendo aquilo que, para muitos, era um símbolo da FIFA. O comando da PM parece ter se descuidado de deslocar seus efetivos para as proximidades e isso resultou em danos ao patrimônio público e privado. Depois, desconhecendo o caminho do meio e se negando a fazer qualquer esforço minimamente razoável para permitir as manifestações e o patrimônio, a polícia foi a outro extremo. Ao invés de cercar o relógio da Copa ou qualquer outro único bem, cercou os manifestantes e os impediu de sair de um espaço restrito por horas. A tática é conhecida como Caldeirão de Hamburgo, por ter sido utilizada para conter manifestantes na Alemanha da década de 80. Cercaram os manifestantes com pesadíssimo aparato policial armado e os impediram de sair dali, frustrando ao menos dois direitos constitucionais: o direito de ir e vir e o direito à de manifestar-se em espaços públicos. Embora muita gente aprove, temos que ter em mente que é ilegal e que a polícia precisa se esmerar para cumprir suas funções institucionais sem atropelar as liberdades constitucionais de ninguém. Junte-se a isso várias denúncias de prisões irregulares, provas forjadas e violência injustificada e teremos a certeza de que a PMMG, assim como as demais polícias militares brasileiras, são completamente despreparadas para uma democracia.

Você considera a ação inconstitucional?

 Sim, pelos motivos que listei acima.

A liminar foi derrubada, no seu entendimento há chances de uma reviravolta?

Embora eu tenha a convicção de que a razão está do lado dos movimentos sociais que impetraram o Mandado de Segurança para impedir a adoção da tática pela polícia, sou pessimista. É possível que se consiga a revogação da decisão que cassou a liminar, mas temos visto tantos e tão recorrentes atropelos dos direitos constitucionais tanto pela polícia quanto pelo judiciário, que começo a crer que quem deveria resguardar as leis a estão ignorando por mera conveniência política. Ou por costume, não sei. Veja-se o caso de Rafael Vieira, condenado pela justiça carioca por portar água sanitária e pinho sol, para citar um caso.

Entrevista Gabriel Amorim e Luna Pontone

Foto: João Alves

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