Vamos Celebrar?

Vamos Celebrar?

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foto: reprodução internet

Nas entrelinhas da composição, os últimos 20 anos contextualizados. Legião Urbana. Ano 1993. Álbum: Descobrimento do Brasil. Música: Perfeição. Que perfeição é essa que o líder da Legião Urbana quis escancarar em sua obra? Renato Russo abriu os nossos olhos a verdade. Uma verdade atual a ponto de acreditarmos que a inspiração poderia ser relativa aos nossos últimos cinco anos, mas não, a música é do início da década de 1990.

Antes da explanação da música, pensemos no título do Álbum. Renato Russo poderia, caso quisesse, resenhar com muita propriedade sobre o título do álbum. 493 anos após a mudança da rota, o 22 de abril de 1500, a chegada das caravelas de Cabral e por aí o início de tudo. Passemos disso.

Chegamos à Perfeição, uma poesia da contemporaneidade. Estrofes dignas de um filme baseado em histórias reais. O nome da música destaca a crítica ao país daquele ano e a todos os anteriores. Qualquer sinônimo de perfeição não cabe à nossa realidade. Não poderia ter um nome óbvio.

O compositor, Renato Russo, é hábil no ator de jogar com as palavras. Por que Perfeição? A intenção, talvez, fosse essa mesma, trazer à tona um olhar menos romântico do país, às vésperas das comemorações dos 500 anos e recém saído do impeachment do primeiro presidente eleito pelo voto direto, após 20 anos de ditadura militar. Renato Russo, quem sabe, fez uma alusão a frase do Fernando Pessoa, que com sutileza descreve a perfeição: “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugná-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito”. E aí, vamos celebrar?

“Vamos celebrar” é o carro que conduz essa composição. “Celebrar” aqui é ironia. A estupidez humana que não aprendeu com fatos históricos o sentido de empatia, a necessidade real de colocar-se no lugar do “companheiro” de luta. As nações vivem de acordos em acordos sobre muitas vertentes, a última e sempre corriqueira foi sobre emissão dos gases poluentes. Cumprem? E o tratado de 1992? Poxa vida, Tio San! Os nossos engravatados de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e do Belo Horizonte. Uma “corja” que embolsa impostos e sorri sem vergonha do espelho. Que se diz inocente entre delações e escutas ilegais. Assassinos inocentes, inocentes presos em suas próprias casas com receio de ladrões que moram ao lado ou na tv. Dos estupradores apoiados pelos nossos célebres machistas e covardes que tem a vítima como ré. Vamos celebrar?

O povo que vive como povo, mas almeja coisas individuais, como quem diz: “Quero somente aquilo que me satisfaça o meu umbigo, o meu vizinho que viva lá atrás dos muros dele”. O povo que vota em ficha suja porque “ele rouba, mas faz”. A polícia que mata pobre, mata preto e tem como suspeito constante a bermuda, o boné e o chinelo de dedo. Cuidado com a tinta do cabelo, meu jovem. Caso seja yellow, vá ao muro e levante os braços. Branco que mata branco em porta de boate. Governo inerte? Deixa-se investigar, rei do povo vira bobo da corte. Aliados e delatores. “Quero esse juiz para meu presidente!”. Queremos programas sociais. Queremos abrir a economia. Queremos ser potência. Não divulguem nossos grampos. Não temos aeroporto. Lava jato manda um abraço e o Tiririca também. Bancada evangélica com toda pompa e glamour. E ainda cabe mais viu, Renato? Nação que se uniu em Copa das Confederações, mas o 7x 1 foi um duro golpe. Nação que viu Gisele desfilar deslumbrante e Anitta reinar. Medalhas e medalhas. Nação que não investe nos atletas e não assistiu a Paraolimpíadas. Nação que não viu a tocha cair das mãos da Márcia Malsar, porque a nossa televisão precisava de audiência e não transmitiu, pelo menos o “Plin plin”, não. Nossa televisão já manipulava Renato?

Rio 2016 de muitos gastos, derrubada de casas para agradar os gringos. Mas agradar os gringos? Retiraram nossos povos, novamente. Rio 2016 maquiou a triste história do trabalho escravo na construção do Brasil. Não foi bonito assim. Grilhões, açoites e sangue. Humanos a serviço de humanos de forma vexatória. Os olhos do mundo dentro do Maracanã acompanharam uma festa de abertura majestosa que alertou o mundo sobre a preservação do meio ambiente. Balela. Nossos rios, açudes, fontes, nascentes. E aí Samarco? Pororoca teria acabado por ação da pecuária e hidrelétricas. Nada assombra o nosso castelo de cartas. Somos inatingíveis aqui no Planalto Central. Ah Renato, ainda deixamos águas paradas, o Aedes aegypti ainda está aqui e tem novos hóspedes: zika e chikungunya. Mais uma vez é a festa da torcida campeã.

Patrimônio mundial, nossos “absurdos gloriosos”. O roubo do pau-brasil, do ouro e da cana-de-açúcar. Marcas da exploração deixadas em belas igrejas como prêmio de consolação. Coloque a sujeira debaixo do tapete ou atrás de barreiras que cercam a poluição da lagoa. Saudamos: O conjunto arquitetônico da lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, agora é Patrimônio Cultural da Humanidade. Vamos celebrar! Celebramos com mão no peito ao ouvirmos a primeira nota musical – “Ouviram do Ipiranga”. Cantamos juntos meu caro. Cantamos muitas vezes O povo subiu a esplanada. Ouvimos que o gigante acordou e já dormiu. As lágrimas ainda são verdadeiras. Pelo no discurso sim, a não ser que surja uma CPI. Isso é frequente em nossos dias.

Desprezaram nossa gente. Após uma vida inteira de trabalho e contribuição para a economia do país, a aposentadoria se tornar um pesadelo. Além disso, muitos dos que já conseguiram receber o benefício voltam ao mercado de trabalho quando veem que o dinheiro ficou curto. Enquanto houver vida o trabalho não pode parar. Rui Barbosa disse: “quem não luta pelos seus direitos não é dignos deles”, e quem luta recebe?

A educação Renato, sobrevive pela insistência de alguns guerreiros. Nos falta somente o dinheiro? “Os recursos hoje existentes podem ser melhor utilizados”, disse o Ministro Mendonça Filho. Coitado, desconhece o sertão do país. O engajamento da sociedade seria então a razão da desigualdade no sistema educacional brasileiro? Os pais não podem, simplesmente, terceirizar para as escolas a responsabilidade de educarem os seus filhos. Todos fogem da responsabilidade, descaso. Os filhos que se comportam na presença das visitas. Façamos o que eles pedem. Venham! A receptividade do povo, o clima, as comidas e as praias ficaram guardadas na memória dos turistas. O amor tem sempre a porta aberta. Disse o turista japonês, em visita ao Brasil durante a Rio 2016: “O povo brasileiro é muito amável, isso é o melhor.” Se amar é o que sabemos fazer de melhor, perante o mundo desempenhamos esse papel com Perfeição. As verdades expostas na música podem abrir os nossos olhos para nossas futuras escolhas. “Será que vamos conseguir vencer?”

Matéria produzida pelos alunos do quarto período de jornalismo, Gregory Almeida e Lizandra Peres, na disciplina TIDIR/JOR2B

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