VOCÊ NÃO ME ABANDONA, VOCÊ SÓ NÃO PERMANECE

VOCÊ NÃO ME ABANDONA, VOCÊ SÓ NÃO PERMANECE

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Por Jean Lescano – Poligrafias – Parceiros Contramão HUB

Vem cá, me traz aquela paz que só você me traz. Vem me levar pra outro lugar, pro melhor lugar, perto das estrelas e de frente pro mar. Vem, com essa mania de ter o dom de clarear, me fazendo sentir paz quando você chega.

Mas não permanece não, vem e me dá aquele tesão momentâneo, alimenta meu ID, porque o meu ego sinceramente não dá mais. Eu quero o prazer momentâneo, eu quero pra hoje, eu quero sentir o agora e me perder pensando no amanhã. Eu não pediria pra você se afastar, tu não conseguiria. Mesmo sabendo que você prefere calmante à um amor pra causar a paz, uma lata de cerveja à um chá, que ama pipoca enquanto eu a repudio.

Olha, eu sei como é o lance dos dias de hoje. Sei também que o lance de ser possessivo destrói as relações, não é de hoje. Sei que devo me conformar às regras pré combinadas de um caso. Já memorizei toda a ladainha contemporânea do desapego e compreendi, inclusive, que afeição é só uma ilusão sádica e temporária. Mas eu sinto. Eu simplesmente sinto. Eu sinto que você deveria ficar permanentemente impermanente.

Eu não quero que permaneça como uma incentivadora, eu quero que esteja aqui quando eu quebrar a cara seguindo o que eu acho certo. Não te quero pra apresentar pra minha família em um domingo de almoço, te quero pra embarcar em alguma aventura por aí e depois acordar no outro dia e agradecer pela simplicidade de sua companhia. Não pense que eu te quero pra casar, eu quero é rodar esse mundão, perder o chão, rodopiar, pular, gritar e no final sentir todos os desejos realizados.

Eu aprendi a te querer assim, impermanente. A verdade é que eu nunca gostei dessa coisa retilínea de começo, meio e fim. Acho careta. escroto e um tanto quanto utópico. Antiquado. Previsível demais para quem se equilibra na utopia de permitir que as sensações,prazeres e aventuras aleatórias orientem o viver e o pensar . Talvez seja por isso que mesmo hoje, depois de tantas outras, eu ainda não assimile o fato de eu não saber lidar com você mas, no fundo, entender sua impermanência, você não me abandona, você só não permanece.

Eu quero rir com você e conversar sobre porra nenhuma, com um pensamento qualquer e pensar sobre a origem da vida, se uma camisa azul é melhor que verde, porque Jack Daniels é pior que Catuaba.

A sua impermanência se resume em não permanecer, não querer ficar, mas estar. Na minha mente, na minha cama, nas minhas costas em carne viva. E sua impermanência é perdidamente apaixonante.

A verdade é que eu não lhe quero para mim, eu amo minha liberdade, não me leve a mal. Só quero que você saiba que tenho muito de você sorrindo, vivendo e às vezes também doendo em mim.

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