Batucada, arte e política marcam a abertura do FIT-BH 2018

Batucada, arte e política marcam a abertura do FIT-BH 2018

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Apresentação da performance “Batucada” intrigou o público no Parque Municipal. Foto: Guilherme Jardim

A abertura do 14° Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua surpreendeu ao público com apresentação que levou ao Parque Municipal batucada e política

Por Laryssa Xavier*

A abertura oficial do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte, ontem, dia 13, foi conduzida por apresentações cênicas e shows que levaram uma multidão ao Parque Municipal Américo Renné Giannetti, cerca de 5 mil pessoas, segundo a organização do evento.

Assim que os portões do Parque Municipal se abriram, máscaras, latas, panelas e bastões de madeira se misturaram ao público para dar início a primeira apresentação da noite, Batucada, do coreógrafo Marcelo Evelin.

A intervenção cênica mobilizou um público intrigado antes mesmo de se ouvir, de fato, o som do batuque do grupo. A apresentação gratuita teve duração de mais de uma hora e foi composta por um elenco de artistas e não-artistas.

Batucada, carnaval e protesto

Quem associou a proposta artística do grupo ao cenário político compreendeu o viés da apresentação. Criado em 2014, Batucada fez sua primeira apresentação em Bruxelas, na Bélgica, fazendo relação com as eleições do parlamento europeu.

Já aqui no Brasil, depois do ano de 2016, bater panelas ganhou muito significado e isso não passou despercebido ao olhar atento de Nívea Sabino, 38 anos, que assistiu a abertura do FIT-BH. “Bater panela nesse momento do Brasil é muito significativo. Eu fico pensando que, em mim, não é uma festividade. É mais um momento de reflexão”, pondera.

Já na visão do piauiense Marcelo Evelin, coreógrafo do grupo Batucada, em entrevista ao programa Agenda, da Rede Minas, a apresentação “tem um pouco de caráter de insurreição, um pouco de protesto, um pouco de carnavalização”.

A performance, pensada para 50 pessoas, contou com 40 participantes na abertura do FIT-BH, sendo 10 artistas e 30 não artistas. Para Marcelo Evelin, “o batucada não tem esse caráter de ser um espetáculo para ser visto, o batucada é uma experiência, para ser sentido”.

Nívia concorda, mas lamenta que nem todos puderam participar da experiência. “Achei uma pena a coisa de dizer que está livre, não tem ingresso, mas a gente precisava apresentar documento. Aí fiquei pensando que, às vezes, aqui no centro tem a galera que fica em situação de rua e podia estar aqui vivenciando também a experiência”, comenta.

A residência artística e o significado da arte

Espalhada no Parque Municipal, a plateia não teve um lugar fixo, com cadeiras ou arquibancada como é costume em apresentações teatrais. A proposta do grupo, no entanto, é uma experiência de residência artística, ocupando o lugar e dialogando com qualquer outro elemento em cena. Nesse caso, o público.

Apresentação de “Batucada” na abertura oficial do FIT-BH 2018 | Foto: Marcela Queiroz

A movimentação do grupo foi ruidosa. Passando entre as pessoas, abrindo espaço, o grupo de artistas e não artistas envolveu as pessoas, fazendo todo mundo interagir, andando para fugir do risco de ser ou arrastado ou atropelado pelo Batucada.

Ainda de acordo com Nívia, “a intervenção de passar no meio da gente, empurrando, vai causando um incômodo. Nesse momento, eu não consigo levar a batucada para o sentido de festa”.

Com os rostos tampados com máscaras pretas, fica no ar um tom de clandestinidade, fazendo que o público percebesse os indivíduos como um todo, igual. A identidade irreconhecível dos artistas deixou a abertura do FIT-BH intimidadora e dividiu opiniões.

“Essa abertura está unindo muitas pessoas diferentes, com uma proposta muito interessante”, disse Felipe Montezano. “Eu ainda estou tentando perceber quem são essas pessoas, esses indivíduos. Porque algum barulho eles estão movimentando em nossas vidas”, completou.

Já para um jornalista social, que também participou da abertura, e não quis se identificar, a intervenção não agradou. Ele disse que apresentação do grupo “não é arte”. Sobretudo no sentido financeiro, já que acredita que esse tipo de arte “não traria retorno”.

 *(A aluna de jornalismo escreveu a reportagem sob supervisão do jornalista Felipe Bueno).

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