Contramão HUB

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Por Débora Gomes – . as cores dela .  – Parceira Contramão HUB

Salvador, 

aprendi, ainda criança, que certas coisas, quando começam a doer, a gente não tem muito como remediar: carece deixar ao tempo, a Deus dará, como diziam antigamente.

te conto isso porque, de uns tempos pra cá, aconteceu o que eu muito fazia gosto de não acontecer: o jeito d’ocê existir, começou a me doer. eu evitei enxergar porque não queria perder da vida, a minha única chance de amor. mas nem sei como foi. quando percebi, já tava aqui chorando, três dias direto, sem sair de casa, sem falar com os outros, sem me ver no espelho. só pensava na dor. e quanto mais pensava, mais eu sentia. coisa que nunca senti antes, quase que uma falta de vontade de viver.

corri pra Bisa, depois de uma noite em que não vi estrela nenhuma. e então ela me alertou. disse que é bem capaz que a vontade do meu pensamento, prendia meu coração n’ocê e isso desencadeava toda dor. cá no fundo, eu sabia também que metade disso (isso a dor) vinha da minha certeza de que cê não voltava porque não mais queria. e isso, em si, fazia mais cicatriz do que se cê criasse coragem pra me dizer…

é que algumas coisas, Salvador, doem mais quando a gente supõe, do que quando a gente tem certeza. e sabes muito bem que sou dada a suposições e ilusões demais. e vai ver, é por isso que sofro tanto. 

aquelas mesmas cartas que viram nosso destino, já não te enxergam mais em mim. e fiquei pensando se o amor apaga e amarela assim mesmo, como caderno velho escrito à lápis. vai ver, no fundo, nunca foi amor. foi só essa vontade de que as coisas fossem diferentes porque danei de ver no seu jeito de enxergar o mundo, uma maneira mais bonita de se viver. e isso, nem sempre vai ser libertador.

no entanto, não te preocupes. teu lugar sempre prevalecerá nas cartas e nas canções, até quando o tempo carregar tudo…

ainda (e sempre) é com amor,
Alice.

 

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Por Bianca Rolff – Gauche – Parceira Contramão HUB

Eram aproximadamente cinco horas de uma tarde enfadonha, na qual tudo o que ela havia feito era tentar recuperar o irrecuperável. Eram consideráveis os volumes de romances que recebia cujos conteúdos ela não entendia como passavam pela triagem de seus superiores na editora, mas aquele em específico estava além de qualquer adjetivo negativo.
Uma história vazia, cheia de clichês mal utilizados e muito, muito sexo. Uma combinação bombástica e completamente estapafúrdia, mas ela nada podia fazer depois que o contrato já havia sido assinado entre o “escritor” e a editora.
Aliás, havia algo que ela podia fazer. Morrer antes que houvesse a publicação, constando seu nome como revisora. Talvez até mesmo nos agradecimentos feitos pelo autor, olha que honra. Sim, ela queria morrer.
Tomou mais um gole do chá de erva doce e suspirou, estalando o pescoço. Levou as mãos à nuca,  de onde geralmente puxava alguns fios de cabelo, mas se lembrou que não havia mais cabelos para puxar. Direcionou os olhos para o espelho e viu a imagem de uma jovem magra, com olheiras e os cabelos raspados como os de quem inicia quimioterapia.
Ela realmente parecia que ia morrer.
Largou o laptop sobre a cama e foi até a janela. Fazia um frio cortante, mas ela vestia apenas uma blusa fina de algodão. Eram tão poucos os dias de frio no ano que ela se recusava a vestir casacos e cachecóis em casa. Gostava da sensação de ver o corpo se arrepiar, a ponto de a coluna doer. Deixou o vento frio balançar as cortinas e atingi-la com força. Todo o seu corpo estremeceu e ela sorriu pela primeira vez naquele dia tão entediante.
Permaneceu ali, sorrindo de olhos fechados por mais alguns instantes, até que num movimento abrupto, fechou a janela e se voltou para o interior do quarto. No exato momento em que ele chegava.
Davi.
– Ou você aprendeu a entrar sem fazer absolutamente nenhum tipo de barulho na tranca da porta, ou eu suponho ter deixado, por relapso, a porta aberta. Diga que foi a primeira opção…?
– A segunda. Eu não conseguiria abrir aquele cadeado sem que você percebesse. Nunca.
Ele se aproximou e lhe deu um beijo gelado no nariz, fazendo-a espirrar. Davi colocou o casaco metodicamente na maçaneta da porta e se sentou sobre a cama, olhando para o laptop.
– Pelo jeito, você recebeu um exemplar e tanto, dessa vez – ele falou, sorrindo de lado.
Não era apenas o nome que tinham em comum, mas Davi era incrível e absurdamente parecido com o seu homônimo camaleão do rock. Isso era o que havia feito com que ela o olhasse pela primeira vez, mas não com olhos de admiração. Ela odiava Bowie. Mas adorava Davi com todas as suas parcas forças, após uma tarde de trabalho inútil.
– Vai ser publicado de todo jeito, com ou sem a minha revisão – disse ela, sentando-se ao lado dele e pegando o laptop de volta – É daquele garoto que venceu o programa da tv. O “príncipe da MPB”, como andam dizendo. Ele devia continuar cantando, ou seja lá o que ele faz. Qualquer coisa é melhor do que isso.
– Está com fome? Aposto que não comeu nada o dia inteiro. Você não pode viver de chá de erva doce.
– Não estou vivendo de chá – ela mentiu, sabendo que ele não acreditaria nela – Mas pode pedir uma comida chinesa. Com certeza vai animar o meu dia.
O delivery demorou três quartos de hora para chegar, tempo gasto com conversas, palpites de Davi sobre a obra inédita (ela devia continuar assim, será que ninguém percebia isso?!) e algumas trocas de carícias delicadas. Quando finalmente chegou, ambos devoraram os pedidos e depois se deixaram cair sobre o tapete da sala, ignorando as sobras de comida que se prendiam a ele.
Os olhos dela ardiam e sua coluna doía mais do que nunca.
Virando-se para o lado, ela encarou o perfil de Davi, que agora estava de olhos fechados. Ele era a reencarnação do Bowie, não havia outra explicação, apesar de eles terem estado concomitantemente vivos na terra durante vários anos, o que dificultava um pouco a teoria espírita. Talvez ele fosse um filho bastardo do artista, porque não? Ela ainda investigaria sobre isso.
Davi abriu os olhos e a encarou. Seus olhos eram ternos e cheios de alguma coisa que ela não conseguia decifrar, mas achava que era amor.
– Vou te deixar sozinha – ele disse, levantando-se lentamente, com um charme inglês que até ela precisava admitir ser considerável – A gente se vê amanhã? Isto é, se você não morrer antes, por causa dessa nova “tragédia”.
– Se eu morrer, faça uma festa. Eu volto pra agradecer.
Ele sorriu aquele sorriso torto de novo e, afagando a nuca dela, despediu-se com um beijo na testa. Quem, em sã consciência e com a aparência de um dos maiores astros da música de todos os tempos, despedir-se-ia de alguém com um beijo na testa?
Ela o amava. Por mais louco que parecesse, ela o amava, sim.
*
A campainha tocou naquela noite, fazendo-a levantar da cama, surpresa. Não esperava que Davi voltasse, ele não costumava mudar de ideia. Quando abriu a porta, viu-a, parada com os olhos esmeralda penetrantes, a encará-la.
– Achei que você pudesse querer companhia.
Sem dizer nada, ela deixou que a jovem entrasse em seu apartamento. Sentou-se no sofá e deixou que ela desabotoasse a sua blusa de algodão e retirasse a sua calcinha. A última imagem que viu antes de fechar os olhos foi aquele par de olhos verdes, um com uma pupila maior que a outra, a observá-la antes de sumir no meio de suas pernas.
E, em sua mente, tocava, incessantemente, “Rebel, Rebel”.

– Bia

Por David Abner – Start – Parceiros Contramão HUB

AVISO: O seguinte artigo contém grandes spoilers para Stranger Things 2. Leia por sua conta em risco

 

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Com a maioria dos fãs já assistindo a 2ª Temporada de  Stranger Things, eles estão achando que há uma espécie de seguimento relacionado com a ideia de que o episódio 7 é, para dizer, uma estranha partida para a série.

 

O Episódio 7 é quase como um piloto de uma história paralela para uma série completamente diferente com personagens diferentes. Matt Duffer explicou que episódios como este são para ajudá-los a adicionar alguns elementos diferentes da temporada para ajudar a mantê-los frescos como escritores:

 

“Se funciona para as pessoas ou não, isso nos permite experimentar um pouco. É importante para Ross e eu tentar coisas e não sentir que estamos fazendo o mesmo uma e outra vez. É quase como fazer um  pequeno episódio piloto no meio da sua temporada, o que é uma espécie de coisa louca a ser feita. Mas foi muito divertido escrever, transmitir e trabalhar. “

 

Tornou-se totalmente polarizante, com alguns fãs criticando-o como filler. Matt descreveu por que ele sentiu que sua inclusão era importante na nova temporada:

 

“Nosso teste do episódio foi que tentamos retirá-lo da série apenas para ter certeza de que precisávamos porque eu não queria isso lá como preenchimento – mesmo que alguns críticos nos acusem de fazer isso. Mas a viagem de Eleven se desmoronou, como o final não funcionou, sem ele. Então eu era, se isso funciona ou não, precisamos deste bloco de construção aqui ou todo a série vai entrar em colapso. Não vai terminar bem. O Conquistador de Mentes vai dominar Hawkins. “

 

Ross Duffer entendeu, falando sobre como ele se encaixa globalmente na evolução de Eleven, que está em andamento:

 

“Essa linha de história em geral é um dos maiores riscos que tomamos. Vamos continuar a fazer riscos para avançar para nos mantermos no controle. Eu não queria que ela simplesmente poupe magicamente o dia. Assim como Luke Skywalker, ela precisava sair sozinha e aprender algo sobre si mesma’

 

Stranger Things foi criado por Matt e Ross Duffer, também conhecidos como The Duffer Brothers, que dirigiram e produziram a série sob a bandeira Monkey Massacre, juntamente com Shawn Levy, produtor produtor co-executivo e Dan Cohen, do 21 Laps Entertainment. A série é escrita por The Duffer Brothers, bem como Justin Doble, Jessie Nickson-Lopez, Paul Dichter, Jessica Mecklenburg, Alison Tatlock e Kate Trefry.

 

Stranger Things 2 estrela Winona Ryder, David Harbour, Finn Wolfhard, Millie Bobby Brown, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Natalia Dyer, Charlie Heaton, Joe Keery e Noah Schnapp. A série também adicionou Sean Astin (The Goonies), Paul Reiser (Aliens), Brett Gelman (Jobs), Dacre Montgomery (Power Rangers), a atriz dinamarquesa Linnea Berthelsen e a estrela da Broadway, Sadie Sink, na mistura também.

 

A Segunda Temporada de Stranger Things  já está disponível na Netflix.

 

Fonte: EW

Por Glaudson Junior – Start – Parceiros Contramão HUB

Falando sobre o Aftershow The Walking Dead The Talking Dead, o ator de Rick Grimes observou que, como ele nunca teve um papel nas franquias de Harry Potter ou O Senhor dos Anéis, ele sente como se ele pudesse ter um papel em Star Wars:

 

“Eu posso ter sido um fabricante de queijos. Ou um fazendeiro de porcos, mas [o ator do governador] Dave Morrissey e eu … Nós costumávamos a falar que éramos os únicos atores da British Equity que não estavam na franquia de Harry Potter, então talvez eu tivesse estado brincando sobre Hogwarts ou hobbit-ing sobre a Terra do meio, e eu sempre achei a ideia de colocar minhas mãos em torno de um sabre de luz.

 

The Walking Dead vai ao ar as noites de domingo. A série estrela Andrew Lincoln, Norman Reedus, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Lennie James, Sonequa Martin-Green, Alanna Masterson, Christian Serratos, Josh McDermitt, Seth Gilliam, Ross Marquand, Austin Nichols, Jeffrey Dean Morgan Tom Payne, Austin Amelio, Xander Berkeley, Pollyanna McIntosh, Steven Ogg e Katelyn Nacon.

 

Fonte:  The Talking Dead (via ComicBook.com)

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Por Giovanna Silveira – Métrica Livre – Parceira Contramão HUB

 

Quero ser dona logo.

Dona antiga, vivida, vencida

Dona respeitada, feita e ferida

Arrependida das más decisões mas

certa de vida

Dona do próprio tempo e do próprio gasto

Dona do amor e do marasmo

Talvez quem sabe

Dona de um espaço

Espero ser dona logo.

Não pra contar a mesma história de monólogo

Dona de mim, do eu lírico, ópio

Quero ser dona do meu real ilusório.

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Por Débora Gomes – . as cores dela . – Parceira Contramão HUB

Já era tarde quando cê me pediu que lhe explicasse, em palavras miúdas, o que era o amor. Lembra?! Eu fiquei assim meio sem graça (como sempre fico quando cê chega) e tive um medo danado de te decepcionar, dando uma resposta em que cê não acreditasse ou que não te fizesse sentir.

No rádio, o acordeon tocava uma velha canção que parecia ter saído das suas tardes de sol em Lisboa. Aí eu criei coragem pra te dizer que, pra mim, o amor era tudo aquilo: olhar por dentro devagar, encontrar o coração tranquilo, florescer tudo em volta e amanhecer sempre com esperança.

A gente perdeu o jeito de olhar as coisas devagar. Porque tudo fora da gente pede tanta pressa, enquanto o ponteiro do nosso relógio conta segundo por segundo, pra que a gente não desista de seguir. Vê? Tem amor nisso também. Tem amor na forma como a gente lida com o tempo, tem amor na forma do tempo entender nossa simplicidade.

Não é preciso ir tão longe, nem encontrar palavras grandiosas demais. O amor é essa delicadeza que toma a gente enquanto sorrimos ao pisar folhas secas no caminho de casa. É ver beleza na lua cheia apontando no horizonte ou encontrar desenhos nas nuvens de uma manhã azul. É olhar o outro com ternura. É abraçar os próprios medos com carinho. É esquecer o julgamento e acolher as imperfeições com silêncios. É transformar os vazios em doce melodia. É rir porque cê sorriu e isso, por si só, já é capaz de encher de amor a rua inteira.

Eu sei que já foi mais fácil viver. Mas não posso deixar de pensar em Guimarães Rosa, quando escreveu que “tudo que a vida quer da gente é coragem”. E precisa ter amor também. Pra olhar pra esses dias mais distantes, sem perder aquele encanto de viver, sempre presente nos começos.

Então, toda vez que cê pensar no amor, queria que se lembrasse de que ele vem de dentro, e pode se transformar em todas as coisas bonitas ao seu redor. Lembra de mim também. E das brevidades do nosso tempo…

Com amor,

 

Conheça também o coletivo We Love