Crônicas

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No dia último domingo, 21 de março, foi comemorado o Dia Mundial da Infância. E para comemorar e trazer de volta lembranças dessa época tão especial, a jornalista Bianca Morais nos agraciou com uma crônica. 

 

A infância na casa da vovó

Por Bianca Morais

Fecho os olhos e me lembro dos anos dourados. 

– “As férias chegaram!”

Isso significava que era hora de fazer as malas, pegar o máximo de roupas que cabiam dentro dela e partir para casa da vovó! Encontrar com os primos e ficar por lá até o dia que ela se cansasse da nossa bagunça e nos devolvesse aos pais.

Brincadeiras durante todo o dia, fazíamos teatro e interpretávamos os personagens da nossa novela predileta, montávamos um salão de beleza na sala com direito a tudo, incluindo cabelo e maquiagem. E a  unha só quando a gente conseguia pegar os esmaltes da vovó escondidos, porque quando ela descobria era uma baita confusão. A cabaninha a enlouquecia, já que usávamos todos os seus lençóis limpos e almofadas chiques do sofá, tudo espalhado pelo chão. 

À noite expulsávamos nosso tio do quarto dele e ficávamos lá, alguns amontoados na cama de casal e outros nos colchões. Fingíamos que estávamos dormindo, luzes e tv apagadas, assim que escutávamos o primeiro ronco da vovó era só bagunça. Assistir filmes até depois da meia noite, guerra de travesseiros, virar a madrugada contando histórias. 

Uma vez ou outra, nosso tio expulso do quarto pelos sobrinhos, se fantasiava do personagem do filme Pânico para nos assustar. Agora pense em um monte de crianças acordadas em um horário que não deveriam, e de repente entra o Pânico no quarto. Era gritaria total. Nessa hora a vovó acordava, xingava e colocava todo mundo para dormir. 

No dia seguinte vovó não poupava. Bem cedo já abria as cortinas do quarto e cantava “deixa a luz do céu entrar”, e ali não importava que horas a gente tinha ido dormir, todo mundo tinha que estar de pé na hora que ela mandasse.

Café da manhã na mesa, cada um com a sua canequinha, as das meninas super poderosas ficam guardadas até hoje, 20 anos depois. No almoço o cardápio não tinha dúvidas, macarrão com batata frita. Podia fazer todos os dias que não enjoávamos. E claro, cachorro quente para o café da tarde.

Tempo bom que não volta mais. 

Juntar todo mundo e ir até a banca para comprar figurinha e completar o álbum, trocar as figurinhas entre si, alugar um filme na locadora, brigar pelo controle remoto e para ser o primeiro a jogar video game, colecionar adesivos, passar trote pelo telefone. 

Hoje, os primos estão mais velhos e muito longe um dos outros. As férias agora cada um tira numa época diferente, mal conseguimos nos encontrar. A saudade e a nostalgia que vivemos é saber que curtimos uma fase muito boa. A infância será para sempre um momento de alegria e coisas boas em nossas vidas.

 

*Edição: Daniela Reis 

**Revisão: Italo Charles 

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A semana começa com um  texto do e-book “Escrita Criativa: O avesso das palavras”, produto final do projeto de extensão conduzido pela escritora e  professora do Centro Universitário Una, Geanneti Tavares Salomon. 

A produção é de Larissa Medeiros, que é estudante de Publicidade e Propaganda na Una e contadora de histórias desde que se entende por gente. 

Mulher de vinte

Larissa Medeiros

As luzes estão apagadas quando chego, a casa está silenciosa, exceto pelo som da televisão na sala. Vejo Daniel dormindo na poltrona, os óculos escorregando para a ponta do nariz; ainda de sapatos e com a roupa do trabalho, caiu no sono assistindo a um programa qualquer de entrevistas. Decido dar uma olhada nas crianças primeiro, subo as escadas pisando o mais suave que consigo, abro a porta, que range um pouco, mas que não incomoda duas pequenas criaturinhas enroladas em seus cobertores. Beijo a cabeça de cada um e sinto o cheiro de xampu nos cabelos, um livro de fábulas está caído no chão e tenho certeza de que fizeram o pai lê-lo ao menos três vezes antes de pegarem no sono. Sorrio, eles são a melhor coisa que eu poderia ter feito no mundo.

Desço as escadas e vejo a TV desligada, Daniel agora está escorado no balcão da cozinha com um copo na mão; ele ergue os olhos pra mim, e por um momento tenho certeza de que ele sabe. Que consegue ver algo em meus olhos, que sente o cheiro a metros de distância. Mas ele sorri, um sorriso cansado. Me aproximo e o beijo de leve, ele toca minha cintura – não segura, não puxa, apenas toca. Ele diz que vai pra cama e, apesar do semblante abatido, sugere algo na voz. Ouço-o arrastar os pés pelos degraus, mas me permito um momento a sós na cozinha.

Passo os dedos pela bancada cara que terminamos de pagar há pouco tempo, e sei que é uma vida boa. Daniel é um bom homem. E é por isso que não conto, porque nenhuma vez é culpa dele, nenhuma vez é para machucá-lo. Quando me deito na cama de outro homem, faço isso por mim mesma. Faço isso pela garota de vinte anos que, num momento de carência, ligou pro cara que ela tinha certeza de que iria correndo feito um cãozinho bem treinado e, num descuido, fez um bebê com ele. Faço isso por tudo o que perdi desde então, todas as noites em que troquei taças de champanhe por mamadeiras. Sexo selvagem no sábado à noite por sexo conveniente no domingo à tarde. Todas as viagens que poderia ter feito, todos os caras que poderia ter conhecido e por quem poderia ter me apaixonado loucamente.

Apago as luzes e subo para o quarto, Daniel está no banho. Por um milésimo de segundo, me ocorre entrar no chuveiro com ele, mas então penso em todo o tesão e empenho que teria que colocar nisso, e acabo indo pro banheiro das crianças do outro lado do corredor. Quando volto, ele está sentado na cama com a luz do abajur acesa e quando me deito, ele a apaga. E ele não faz ideia de como odeio isso, de como odeio que ele não queira ver meu corpo. Ele toca em mim com gentileza, mas sem paixão. Como se fôssemos fazer a lista de compras pro mercado, e não sexo.

Então, quando um cara charmoso fez eu me sentir jovem e desejável outra vez, eu cedi. Uma aventura boba e sem significado, uma estupidez. Uma noite para não pensar em trabalho, casamento, filhos ou qualquer coisa pela qual os adultos se matem. Uma noite pra ter vinte anos de novo e fazer sexo sem amor, sem medo de acordar as crianças no quarto ao lado ou de ouvir ele dizendo que não, não quer tentar uma posição nova. E quando a embriaguez passou, juro que me arrependi. Me senti suja e mentirosa, covarde.

Mas tudo sempre recomeça. Na segunda, uma crise com os filhos e você precisa perder um dia inteiro de trabalho numa reunião na escola. E esse dia perdido significa muito quando as contas chegam na terça e você não tem ideia de como pagar mais uma prestação do maldito carro que você nem queria. Mas comprou porque sua amiga Cláudia da faculdade tem um igual e, quando vocês saem pra almoçar na quarta, ela diz que você precisa retocar o botox, o que só te lembra o quão velha você está ficando. Te tirando totalmente a vontade de vestir uma lingerie nova na quinta e acaba transando com uma camiseta manchada de molho. E é tão frustrante, que quando a sexta chega e você, só por um dia, pode fingir que é jovem e sexy, e que pode tomar quantos drinks quiser – mas só toma dois, porque no dia seguinte tem alguma apresentação de escola e você não pode estar de ressaca –, você não resiste.

Eu não deveria pensar em prestações ou botox enquanto a respiração de Daniel está ofegante no meu ouvido. Enquanto ele pressiona meu seio por cima da blusa que ele nem se deu ao trabalho de tentar tirar. Às vezes finjo um orgasmo, mas em dias como hoje ele está cansado demais para notar.

E não o culpo, não vou obrigá-lo a me fazer gozar quando sei que ele precisa acordar cedo para levar as crianças pra escola, enfrentar trânsito para chegar ao trabalho e aturar um emprego que odeia, mas que nos permite viajar duas vezes ao ano.

E é por isso que não conto a Daniel. É injusto, eu sei. Mas quando sinto um homem que não é meu marido dentro de mim, não é no pecado que penso. Não penso em abandonar minha família, em largar meu emprego, em sumir no mundo com um cara quase dez anos mais novo que eu. Não poderia fazer isso. Quando sinto um homem que não é meu marido dentro de mim, não é no pecado que penso. É na liberdade. Na liberdade de poder ser uma pessoa que não existe mais, de ser a mulher que eu queria ter sido, de dar a ela a vida que ela merecia. Esquecer só por uma noite a vida tranquila e confortável, mas que não traz novidades. As responsabilidades de ser uma boa profissional e ao mesmo tempo uma boa mãe, que é exaustivo. E principalmente, o marido gentil e excelente pai, mas por quem nenhuma de nós duas jamais esteve apaixonada.

Sinto que ele vai gozar, não tento impedir, não tento fazer durar mais. Seu corpo relaxa e ele me puxa pra perto, Daniel nunca foi o homem que simplesmente deita de costas e pega no sono, ele me abraça e beija minha testa e sussurra que me ama. E sussurro de volta. Não é uma completa mentira, eu o amo quando brincamos com as crianças no quintal, o amo quando vamos à casa dos meus pais e eles riem juntos por horas, o amo quando ele assa biscoitos no natal. Eu só não o amo da forma como uma esposa deve amar um marido. Desesperada e irrevogavelmente.

Quando ele está quase adormecendo, ouço uma voz chorosa no corredor e rapidamente me levanto dizendo para ele não se preocupar. Depois de uma música de ninar para afastar pesadelos, não volto pra cama imediatamente, caminho pela casa por um tempo. Como um fantasma, como alguém que não devia pertencer a um lugar bonito e cheio de vida. Como alguém que por destino ficou preso ali. Acorrentado. Se lamentando pela vida que teve – ou pela que não teve. Esperando pela hora certa de se libertar. Esperando pra descobrir como se libertar.

 

Para acessar o e-book completo clique no link.

 

 

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Hoje o Contramão traz mais um texto do e-book “Escrita Criativa: O avesso das palavras”, produto final do projeto de extensão conduzido pela escritora e  professora do Centro Universitário Una, Geanneti Tavares Salomon. 

A produção é de Stella Marques. 

Ela é formada em técnico em Comércio pelo IFTM, graduada em Tecnologia de Marketing pelo UNOPPAR e atualmente cursa Publicidade e propaganda pela Una. Até o momento possui 4 (quatro) publicações realizadas através de concursos realizados pela Editora Vivara Nacional, 1 (uma) publicação realizada através do concurso realizado pela Editora Trevo e 1 (uma) coletânea de poesias publicada pelo Clube dos Autores. 

Liberdade?

Por Stella Marques

Tenho minha “liberdade”.

É o que dizem.

Mas será isso verdade?

Só vou se permitirem?

Sou feito passarinho,

Posso sempre voar,

Mas próxima deste ninho

Devo sempre estar

Onde possam me vigiar.

Com os olhos presos em mim,

O semblante de desaprovação

Prevejo que até no meu fim

Precisarei pedir permissão.

Esta gaiola encantada

Trapaceia e me apunhala

Me sufoca nessa cilada

Silencia o meu canto

Enquanto os abutres

se alimentam do meu pranto.

As grades dessa prisão

São invisíveis aos olhos

Mas não ao coração

Maldita gaiola sem grade

Malditas algemas de desaprovação

Maldita falsa liberdade

Que me sentencia à solidão.

 

Para acessar o e-book completo clique no link.

 

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Por Italo Charles

 

Ao contrário do que já aconteceu na história, 2020, com certeza, foi um ano atípico para a maior parte da população mundial. A começar pelo surgimento de um vírus que mais tarde, ao se proliferar, causaria uma das maiores pandemias já vividas e, posteriormente, com a rápida disseminação em diversos países as relações seriam afetadas.

Visto que a melhor tática, inicialmente, seria optar pelo isolamento social, os relacionamentos em vários âmbitos sofreram alterações. Empresas tiveram que criar métodos para possibilitar aos prestadores de serviços o trabalho remoto, a população teve que se adaptar ao novo modelo de vida permanecendo em casa e só saindo caso fosse necessário.

Espaços de convívio comum passaram a ficar vazios, corporações fecharam suas portas, comércios sofrem com a falta das vendas. Esses, entre outros, fatores viabilizaram novas maneiras de comunicação e aproximação para a manutenção da vida, de certa forma, saudável.

Neste contexto, a mídia e os canais de comunicação se adequaram para transmitir aos espectadores e usuários informações precisas e conteúdo de entretenimento e, a partir dessas modificações foi possível perceber o crescimento exorbitante de mídias digitais.

As redes sociais, nesse período, cresceram significativamente como instrumentos para amenizar a distância física entre pessoas e, também, como atalho para os processos trabalhistas.

Outrora, os aplicativos de vídeo chamada não eram tão usados como em 2020. Escolas, empresas e universidades passaram a utilizar esses sistemas para dar continuidade ao trabalho feito, seja em aulas, palestras, reuniões e afins. 

Mas, para além dos aspectos profissionais, o mundo começou a se conectar dia após dia através dos canais digitais, fossem eles por: videochamada, aplicativos de mensagem ou redes sociais.

O que antes era vivido por meio da presença física, encontros e toques começou a se tornar experiências virtuais, validando então os dilemas da aproximação. Dessa forma, os contatos, relacionamentos e encontros conquistaram novos formatos.

 

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Mais um texto do ebook “Escrita Criativa: O avesso das palavras” do projeto de extensão orientado pela escritora e professora do Centro Universitário Una, Geanneti Tavares Salomon

A produção de hoje é da aluna de Publicidade e Propaganda da Una Contagem, Thays do Nascimeto Silva.

Um lema de amor

As vantagens da solteirice são:

Sentir-se livre para ser quem você é, estabelecer suas prioridades

Fazer o que quiser, sentir o ar puro do campo

Se molhar na chuva sem medo.

Muito se fala sobre skincare, mas o verdadeiro autocuidado está na saúde mental.

Ter o poder de escolha, valorizar o que vale a pena

Não se importar com comentários alheios que não vão acrescentar em nada

Um período para novas experiências, se redescobrir, e o mais importante ser feliz.

Exercer seus direitos, vestir o que quiser te fará sentir confortável e segura

Entender que o seu tempo é precioso, aproveite sem pressa.

Solteirice não significa viver na solidão, muito pelo contrário.

É um ato de amor próprio.

Para acessa o ebook completo, acesse o link.

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*Por Bianca Morais

Bom dia, Roy Orlison. Meu nome é Bianca e tenho 24 anos. Fiquei sabendo que sua música “Pretty Woman” lançada em 1964 foi um grande sucesso. 

Nessa época, minha mãe e nem eu, pensávamos em nascer ainda. Já minha avó, com certeza, era aquele exemplo de uma mulher bonita descendo a rua, do tipo que você adoraria conhecer.

Parece que o sucesso não parou ali nos anos 60, certo? Em 1991, quando aí sim a minha mãe já era uma linda mulher, a música ganhou o Prêmio Grammy de melhor interpretação vocal masculina. Uau!

Lá em 2004, dessa vez eu já estava nascida, mas no caso eu era uma pretty little woman, com sete anos. Foi nesse ano que a Rolling Stone, a revista mais famosa no mundo da música, classificou “Pretty Woman” em #222 lugar de sua lista de 500 melhores canções de todos os tempos.

Música boa mesmo!

Hoje, dia 8 de março, é comemorado o dia de todas as Pretty Woman do mundo, é o Dia Internacional das Mulheres. Elas, fortes, independentes, empoderadas, que não baixam cabeça para ninguém, enfrentaram muitas batalhas para estarem onde estão atualmente, no mercado de trabalho, em posições de liderança e bem sucedidas, merecem sim um dia só delas. 

Roy, nesse dia tão importante para nós mulheres, parei para analisar a letra da música que achei que tanto me engrandecia e vou ser bem sincera sobre o que descobri traduzindo-a. Quando minha avó era nova e um rapaz a cortejava enquanto descia a rua e fazia à ela mil e um elogios sobre a sua beleza e pedia para conversar, implorava um sorrisinho, ela com certeza morria de medo, mas ela mal sabia o que a palavra assédio significava naquele tempo. 

O pai dela agredia sua mãe, e ela assistia aquilo tudo calada, era normal, não existiam leis que a protegessem de fato daquilo, ninguém interferia. “Briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, diziam. Então Roy, quando você e outros rapazes da época cortejavam as mulheres como a minha avó, mesmo se elas se sentissem incomodadas elas iriam dar um sorrisinho, mas a verdade é que se ela estivesse interessada no flerte, na paquera, ela iria parar para conversar no primeiro “Pretty woman” e corresponderia, afinal paquera é troca, sem consentimento, é somente assédio. E você era insistente, não é mesmo?

Fique tranquilo, Roy, eu não estou aqui para sermões, só um conselho mesmo. Tenho certeza que em momento nenhum você quis faltar com respeito às mulheres, a música foi apenas uma maneira de ressaltar nossa beleza e carisma. Obrigada.

Pretty woman, walkin’ down the street

Pretty woman, the kind I’d like to meet

Pretty woman, I don’t believe you, you’re not the truth

No one could look as good as you, mercy

Ah, mas ei Roy, parece que no final ela voltou. Afinal você também tem seu charme, não é mesmo?

A todas as mulheres, desejo um feliz dia, somos todas Pretty Woman, de fato. E lembre-se, vocês não precisam aceitar algo que te constrange, hoje assédio é crime e pode ser denunciado. Flerte apenas com reciprocidade. 

 

**Roy Orbison faleceu em 6 de dezembro de 1988, a carta aberta para ele não é uma crítica, apenas um conselho de uma jovem a frente de seu tempo e que sabe na pele o que é viver o assédio.

 

***Revisão e edição: Daniela Reis e Italo Charles