“Cenário de guerra”

“Cenário de guerra”

Ação da PMMG, durante ato contra o aumento da Tarifa, repercute nas redes sociais

A manifestação organizada nas redes sociais pelo Movimento Passe Livre BH (MPL-BH) e Tarifa Zero contra o aumento da tarifa das passagens (R$ 3,10 para R$ 3,40) começou por volta das 17h30 de ontem na Praça Sete, de forma pacífica.  Pouco depois do inicio da passeata, que seguiria da Praça Sete até a porta da Prefeitura de Belo Horizonte, para contemplarem o ato de “pular a catraca”, o grupo de manifestantes, cerca de 5 mil, segundo os organizadores e 400 conforme a Policia Militar, encontraram um bloqueio militar na avenida Afonso Pena, impedindo que os manifestantes seguissem até a PBH.  Desviando a rota, os manifestantes entram pela Rua da Bahia encontrando outro cerco de policiais.

De acordo com relatos postados no Facebook, a confusão deu inicio após a negociação com os policiais – de liberarem uma faixa da via. Policiais dispararam bombas de efeito moral, bala de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, ação que foi registrada e confirmada por diversos vídeos e relatos nas redes sociais.

“Mal eu me virei para ver o que os manifestantes iam decidir, ouço a primeira bomba. Me assustei e imediatamente comecei a procurar o fotógrafo que estava comigo. Meio cega pelo gás de pimenta e tudo o mais que eles jogavam eu o vi. Em sua frente, os militares com armas em punho atirando a esmo. Tentei gritar, dizer que estava trabalhando e que queríamos apenas sair. Pareceram não ouvir. Vejo que o fotógrafo parou de correr e só o ouço dizer: ‘Acho que fui atingido’.”   Bárbara Ferreira, repórter do Jornal O Tempo.

“Alcancei a multidão quando já subiam a Rua da Bahia… o clima estava muito tranquilo, nenhum sinal de baderna ou confronto. Mas havia um cordão de policiais impedindo a passeata de seguir. Alguém passou dizendo que eles deram 3 minutos pra liberar a via. (Oi???). De repente… BOMBA…. várias…!!! Posso dizer com experiência de causa…nunca vi tantas ao mesmo tempo, em tão pouco tempo e em circunstância mais desnecessária!! Corri pro primeiro refúgio que vi junto com um monte de gente…o hotel Sol!! Uma chuva de bombas de gás encurralaram manifestantes e vários funcionários dentro do saguão que ficou tomado pela maldita fumaça.” Teo Nicácio, artista.

Violência Gratuita

Para os participantes do Ato Contra o Aumento, a ação foi considerada “gratuita e violenta”.  Após a investida da PM, houve correria na Rua da Bahia e dezenas de pessoas buscaram refúgio no Hotel Sol.

“Cenário de guerra” assim descreveu a assessoria do Hotel Sol. Segundo a assessora Larissa Tonnich, eles estavam em meio ao confronto: “Policiais descendo e Manifestantes Subindo. Quando começaram as bombas muita gente correu para se proteger. Não tínhamos como controlar a entrada, não era só de manifestantes. Tinham pessoas que não estavam na protesto, mas que entraram para se proteger. Vários andares foram invadidos. Alguns manifestantes chegaram a bater na porta dos hospedes.”, relatou.

“A gente não solicitou a entrada da PM eles entraram atrás dos manifestantes, soltaram bombas (tem tudo registrado em vídeo). A ação durou 4 horas e os manifestantes ficaram contidos na área do restaurante”, declarou Tonnich. Sobre eventuais prejuízos materiais, a assessora destacou o cancelamento de reservas, hospedes solicitando a troca de hotel, além de um portão e um granito quebrado durante a invasão.

Nas redes sociais, manifestantes relataram a tentativa de se refugiar no hotel e como ficaram confinados lá, durante a investida da PMMG.

“Assustador e bizarro: mais de 50 pessoas, inclusive eu, foram mantidas nos fundos de uma hotel pela Polícia Militar. Sem poder sair ou gravar a situação, sem poder telefonar e sem que ninguém de fora pudesse entrar até determinado momento. (…) Havia menores lá dentro, 5 eu contei. Havia aposentados. Havia jovens. Havia adultos. Tudo que a PM queria que houvesse, porém, era terror. Por isso o tenente* discursava eternamente, por isso nos filmaram rosto a rosto e anotaram nossos nomes, por isso ameaçaram, por isso meus amigos continuam lá, presos. Pelo terrorismo que aqui não é crime, mas ordem (e progresso)”. Nina Lavezzo de Carvalho, estudante.

Durante a confusão, 62 pessoas foram detidas, alguns jornalistas foram proibidos de registrarem as ações, várias pessoas ficaram feridas entre elas o repórter o Jornal O Tempo, Denilton Dias, que foi atingido por uma bala de borracha. Ao tomar conhecimento do fato, às 23h37, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, publicou a “Nota de Repúdio à PMMG”.

(…) “O Sindicato dos Jornalistas não aceita a violência contra a imprensa livre. O ataque e intimidação a jornalistas é temerário no Estado democrático de direito, tendo em vista a necessidade de preservação da liberdade de expressão e das garantias constitucionais da atividade jornalística. Assim, o Sindicato exige uma resposta do Governo de Minas sobre o atentado contra a imprensa, assim como espera esclarecimentos sobre as demais denúncias de prisões arbitrárias e violações de Direitos Humanos durante a manifestação.”.

Em nota oficial, o Governo do Estado determinou uma apuração rigorosa dos fatos, destacando que, a Secretária de Direitos Humanos e Cidadania está acompanhando os desdobramentos do conflito.

Com relação aos lamentáveis fatos ocorridos na noite de hoje, no conflito com manifestantes contra a Prefeitura de Belo Horizonte pelo aumento das tarifas de ônibus, o Governo do Estado determinou uma apuração rigorosa dos fatos. A Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania está acompanhando os desdobramentos do conflito e participará diretamente da investigação a ser feita pelos órgãos competentes, incluindo a escuta livre de todos os envolvidos e a perícia das imagens obtidas pela imprensa e pelas câmeras de vigilância. O Governo de Minas Gerais reitera também sua posição de garantir o direito democrático de livre manifestação, assim como o de ir e vir de todos cidadãos, e a não tolerância com agressão a agentes públicos no exercício de sua função.

Novo Ato

Está marcado para ás 17h, desta sexta-feira, o 2º Ato Contra o Aumento da Tarifa. A Defensoria Pública de Minas Gerais protocolou nessa terça-feira (11) uma nova Ação Civil Pública (ACP), com pedido de liminar, suspendendo o aumento das passagens de ônibus em Belo Horizonte. No documento, a defensoria questiona dados que apontam redução no número de passageiros, prejuízo com a não fiscalização do projeto do Move e o elevado custo de manutenção do serviço.

Da Redação
Foto colaborativa: Reginaldo da Silva

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