Jornalista por profissão, bailarino por paixão

Jornalista por profissão, bailarino por paixão

0 597
A capital mineira deixa a desejar no quesito cultural, tanto na questão da acessibilidade a programas artísticos culturais, quanto nas oportunidades de se viver da arte.
Muitos bailarinos, por questões sociais, não sabem das oportunidades provenientes da dança ou, por questões financeiras, não podem dedicar-se o tempo preciso para que isto um dia ocorra.
Conversamos com Rafael Pereira Francisco, 25, bailarino há dez anos, e estudante do último período de Jornalismo. A seguir, Rafael conta um pouco sobre estas questões  e sua trajetória na dança:
Rafael Pereira durante aula de Ballet Clássico
Rafael Pereira durante aula de Ballet Clássico
Como surgiu seu interesse pela dança?
 É meio engraçado, porque meu interesse começou assistindo vídeos do Michael Jackson, ele tem umas linhas clássicas,uma base clássica.
Quando eu tinha uns 13,14 anos fui buscar minha irmã no ballet com minha mãe, a professora perguntou se eu não queria fazer uma aula experimental, me apaixonei, achei lindo!
Não só o ballet, todas as danças, mas só o ballet era acessível para mim na época. Foi aí que eu comecei a dançar, estudar, pesquisar sobre o ballet clássico, bailarinos brasileiros.. Fui cada vez mais me apaixonando.
Como você vê sua relação com o Ballet e o Jornalismo?
 Desde que eu comecei a fazer ballet, nunca tive a visão de me tornar um profissional da dança. Acho que pelo ambiente que eu cresci, minha realidade social, eu não tinha o horizonte tão aberto. Mas eu sempre gostei, porém com o tempo vi que as oportunidades são difíceis, e não tem que ter dedicação, tem que ter além da dedicação. É algo bem difícil.
Chegou um tempo que eu precisava trabalhar, queria ter minha grana..  E eu não culpo meus pais, mas pelo contexto social que estávamos inseridos eles também achavam que o ballet não me daria futuro. Foi uma escolha, não sei se errada ou certa, aí eu saí.
Trabalhei um tempo, peguei exército mesmo não querendo, e depois voltei pro ballet, com 19 anos. Aí eu vi que já estava meio tarde para confiar só no ballet para seguir uma carreira. Como eu sempre gostei de comunicação, Jornalismo foi uma área que me interessou e me possibilitou a estabilidade financeira.
 Quais seus objetivos com a dança?
Eu não tiro nada de dança (financeiramente), então eu não faço disso uma profissão. Meu objetivo é realmente fazer disso um estilo de vida. Enquanto eu puder, vou dançar.. Porque é o que eu amo, que me faz bem, que me traz paz de espírito, literalmente. Meu objetivo não é entrar em uma companhia, dar aulas.. Até porque estou fazendo carreira em uma outra profissão. Claro que tudo pode acontecer, oportunidades podem surgir, ainda que pequenas. Se acontecer, é algo a se pensar, não descarto isso.
 Como são as possibilidades de viver da dança em Belo Horizonte?
 De modo geral, a arte em BH é fraquíssima! Tem expandido muito, de uns cinco anos pra cá, na questão de movimentos culturais, circuitos culturais.. Isso tem crescido bastante. Mas a dança em geral, ela meio que se arrasta, quase perdendo o fôlego, porque não tem consistência. Belo Horizonte não tem incentivo por parte do estado, nem por parte privada. Então é muito difícil, as oportunidades são poucas.
É engraçado porque isso não faz parte da nossa cultura, a criança já cresce visando se formar em uma área acadêmica, nem passa pela sua cabeça as possibilidades de se tornar um músico, um pianista, um bailarino. Nossa cultura aqui, infelizmente, é estudar, passar na faculdade, tentar um concurso público e ter dinheiro quanto mais cedo melhor, para garantir a aposentadoria.
 Você acha que as oportunidades para bailarinos são mais possíveis em outros estados?
 Com certeza! Não sei bem o motivo, Belo Horizonte é uma cidade grande, mas não tem como ser comparada a SP e RJ, que são metrópoles, e por isto, você tem mais visibilidade e oportunidade.
BH tem pouca visibilidade, não só para o  Ballet, mas para certas profissões e formas de arte. Acho que aqui a arte não é tão valorizada quanto nestas outras cidades.
Fazer aulas de Ballet é acessível a todas as classes sociais?
Não, de forma alguma. E cai novamente na questão da cultura.
Tem o circuito cultural, a popularização do teatro, espetáculos baratos, mas não tem procura das classes mais carentes, porque não existe popularização da cultura em regiões menos favorecidas.
Prova disto é você pegar um cara que mora na periferia, ele nem sabe que existe o circuito cultural, e se o circuito cultural é de graça para todo mundo, ele deveria estar a par deste movimento. Com a dança acontece o mesmo, sem falar que o Ballet clássico é uma dança cara,em questão de figurinos, aulas..
Então está aí mais um problema. Nas periferias, a dança que existe lá dentro, é a que surge lá. O ballet clássico não chega lá, a não ser por iniciativas privadas, ou projetos sociais, mas que de modo geral, são poucos para sanar esta carência.
Texto: Bruna Dias e Guilherme Resende
Fotos: Bruna Dias

NO COMMENTS

Leave a Reply