#CRÍTICA – ESPECIAL MOSTRA DE TIRADENTES: “ANTES DO FIM”

#CRÍTICA – ESPECIAL MOSTRA DE TIRADENTES: “ANTES DO FIM”

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NOTA:  ☆ 

O longa “Antes do Fim” dirigido por Cristiano Burlan foi exibido ainda em Work in Progress na Mostra de Cinema de Tiradentes durante uma sessão da “Mostra Homenagem”. O longa que conta com a homenageada Helena Ignez e com o belgo-brasileiro Jean-Claude Bernardet é poético, significativo e emocionante. Burlan durante a roda de conversa disse estar bastante receoso e até mesmo envergonhado de mostrar o filme ainda em seu material bruto, sem tratamento de áudio ou imagem, entretanto, mesmo sem tais detalhes de suma importância, o longa ainda assim se mostrou repleto de significâncias e estrutura.

O filme conta a história de um casal de idosos ainda na flor da paixão. Ambos são bem próximos e íntimos, consegue-se ver claramente a união e a força do casal, que não aparenta possuir nenhum tipo de problema a não ser criar uma felicidade conjunta. Entretanto, o personagem de Bernardet que é homônimo pensa em realizar um suicídio e chama sua esposa, personagem também homônima de Helena Ignez, para realiza-lo ao seu lado. Jean-Claude alega não querer ficar completamente dependente de outra pessoa, que deseja morrer antes de tal fato acontecer, pois assim teria vivenciado sua vida com plenitude de independência. Helena apoia a decisão do marido, mas se recusa a fazer parte do suicídio coletivo. Tal fator foi uma escolha da própria atriz, que se recusou realizar o papel caso a personagem embarcasse na ideia do cônjuge, Ignez alegou que nesta altura da vida ela pretende apenas celebrar a vida e jamais a morte.

O filme é todo em preto e branco e possui um efeito Noir significativo, entretanto, sua forma experimental de se elaborar a composição fílmica em alguns momentos pode ser de certa forma cansativo, confuso e incômodo, principalmente pelo jogo constante de foco e desfoco realizado pelo diretor, como se a câmera utilizada estivesse no automático e buscando sempre pelos personagens a medida que entrassem e saíssem do quadro. Em outros momentos essa experimentação é deleitosa e poética, como nas cenas em que ocorre uma mistura musical à narrativa, com canções líricas e danças de ballet clássicos, como por exemplo a longa cena onde Bernardet se despe para a câmera e dança de uma forma envolvente e totalmente entregue.

Por mais que possua morte e suicídio como tema principal, ambos aspectos são tratados com sutileza e classe, onde os momentos alegres e de pleno companheirismo entre os protagonistas se sobrepõem aos demais conteúdos. Helena e Jean-Claude se permitem demonstrar total paixão não somente entre si, mas ao que estão fazendo, ao filme, à câmera, ao cinema. Antes do Fim foi uma escolha certeira para se passar em uma mostra como a de Tiradentes, uma vez que em pouco mais de uma hora conseguiu abordar e abraçar todos os principais tipos cinematográficos existentes, o ficcional clássico, o experimental e em certos momentos específicos, o documental.

Por: Isadora Morandi

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