Manifesto celebra o Dia Nacional da Luta Antimanicomial
Centenas de pessoas desfilaram pelas ruas de Belo Horizonte, reivindicando uma cidade que acolha a diferença e a diversidade.
No Dia Nacional da Luta Antimanicomial, 18 de maio, o Fórum Mineiro de Saúde Mental, com a Associação de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais, organizou mais uma edição do Desfile da Escola de Samba “Liberdade Ainda que Tan Tan”, que reivindica uma cidade que acolha a diferença e a diversidade.
Neste ano, a manifestação homenageia o psiquiatra italiano Franco Basaglia, que veio ao Brasil nos anos 1970 e inaugurou o diálogo “Reforma Psiquiátrica” – que discute, por exemplo, a ineficácia de manicômios e encarceramento.
Desde a visita de Basaglia, houve importantes avanços na política antimanicomial, mas essas conquistas ainda são vulneráveis e há possibilidade de retrocessos. Há quem defenda a internação em manicômios, e muito frequente os encarceramentos são tratamentos eficazes.
A cirurgiã-dentista Vanessa de Moura foi internada três vezes em manicômios da cidade e afirmou: “É um inferno. Você entra de um jeito e acha que vai sair melhor, mas pelo contrário, você sai bem pior”. Moura revela que ficou enclausurada por 30 dias, entre homens e com pessoas menos orientadas que ela. “Eu procurei ajuda e foi isso que eu encontrei. Agora eu fiquei sabendo do centro de convivência. Lá eu faço mosaico, faço pintura e, claro, tomo minha medicação, vou às consultas com psiquiatra”, conclui Moura.
Com o tema “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça: por uma sociedade sem manicômios!”, seis blocos desfilam pelas ruas da capital até à Praça da Estação, cantando o samba enredo deste ano:
Samba Manifesto
Autoria: Coletivo do Centro de Convivência Providência
Refrão
Se já teve Bombrilhão e também
Psiu psiu
Foi por causa de Basaglia da Itália
Pro Brasil
Junto com Napoleão o lamento registrou
De um povo abandonado, sem saúde e
Sem amor
Foi entrando pela frente que Basaglia
Quis chegar
Barbacena não sabia mas iria se afundar
Refrão
Eu não sou de oba oba e não quero confusão
Quero ser tratado apenas como um
Louco cidadão,
Se Basaglia veio aqui pra poder me libertar
Para que retroceder se é necessário caminhar.
Eu chamava por xangô, por pajé e por tupã,
Foi Basaglia quem chegou e me mostrou
O amanhã.
Impossível era o passado, o possível já
Chegou,
Tratamento em liberdade minha vida
Começou.
No país das maravilhas é onde posso crescer,
Movimentos sociais pros meus direitos valer,
A história da loucura marcou o meu coração
Se existo loucamente é para salvar sua geração.
Eu não posso me calar nem tampouco
Consentir
A serpente higienista não pode me excluir
Ao lado de marco cavalo minha marca vou deixar
Nem de cabeça pra baixo eu irei me rebaixar.
O Dia Nacional da Luta Antimanicomial foi instituído após profissionais da saúde mental, cansados do tratamento desumano e cruel dado a usuários do sistema de saúde mental, organizarem o primeiro manifesto público a favor da extinção dos manicômios, durante o II Congresso Nacional de Trabalhadores da Saúde Mental, realizado em 1987, na cidade de Bauru/SP. Naquela manifestação, nasceu o Movimento Antimanicomial.
Texto e fotos: Camila Lopes Cordeiro