Música

2 588

Por Gabriel de Souza

Profeta, conhecido pelo seu nome e pela sua arte disruptiva, é um cantor da cena do rap underground de Belo Horizonte, que começou a sua jornada cantando no coral da Igreja e logo percebeu a música como uma ferramenta de expressão de seus pensamentos e de sua narrativa no mundo.

O jovem apresenta sua estética através das artes plásticas e musical, o desenho foi visto por ele como uma forma de se aproximar de outras crianças na sua infância. De uma forma que foge do convencional ele também se apropria de elementos do mainstream nos seus ritmos e letras.

Na música “Broken Toy Boy”, Profeta faz referência a masculinidade tóxica do mundo masculino contemporâneo e a supervalorização da beleza estética reforçada pelas redes sociais e aplicativos de pegação, como também um próprio fenômeno percebido dentro da comunidade  LGBTQIA+.

Falando em apropriação, a música traz um trecho em inglês cantado pela artista Lourandes. A música também dilata as vivências e indignações vividas pelo artista, como racismo, o capacitismo e a homofobia, junto a um audiovisual que usa técnicas de edição, com as estéticas de vertentes do glitch.

Já na música “Ato II. Oração”, Profeta traz um “song love” como uma carta descrevendo o amor por um alguém e as formas de lidar com essa emoção, entrelaçado com outras tramas de sua vida, e volta para o sentimento original da letra que é o amor.

O clipe possui trechos em VHS mostrando a infância do artista aliado a um ritmo melancólico e nostálgico, aliado ao audiovisual que faz uma auto expressão exibindo o  passar do tempo e o amadurecimento do artista, produzindo assim, uma obra de  auto reflexão com o tema para quem assiste.

A obra é produzida com a participação de Maria Flor de Maio @marioflor.maio e Andy na Arte, e figurino com mix e master por Porreta. A direção e roteiro por Isis Grazielle, fotografia por Gustavo Koncht, o designer gráfico com João Guilherme e edição e montagem com @gusta_aguiarc.

 

* A matéria foi produzida pelo Icon Releass, projeto do aluno de Publicidade e Propaganda da Una, Gabriel de Souza.

0 1974

Por Daniela Reis 

O TBT de hoje relembra acidente aéreo ocorrido nos Estados Unidos, no dia 3 de fevereiro de 1959, que resultou na morte dos músicos Buddy Holly, Ritchie Valens e The Big Bopper, além do piloto Roger Peterson. Este dia seria definido posteriormente por Don McLean, em sua canção American Pie, como “o dia em que a música morreu”.

Buddy Holly, Ritchie Valens e J. P. “The Big Bopper” Richardson, considerados grandes nomes  do rock and roll global na época, faleceram e deixaram uma legião de fãs.

O Acidente

No dia 3 de fevereiro de 1959, estavam no avião monomotor, modelo Beechcraft Bonanza B35: Buddy Holly, Ritchie Valens, Big Bopper e o piloto Roger Peterson. Os músicos estavam na turnê The Winter Dance Party, voltada apenas para o centro-oeste dos Estados Unidos, e iria cobrir 24 cidades dessa região durante três semanas. Após uma série de divergências entre os organizadores, o trio deixou de seguir o trajeto de ônibus e passou a considerar um avião para transporte, já que o inverno estava rigoroso e os musicistas estavam em condições precárias, por conta da estrutura feita para seguir por terra não estar preparada para o frio. Holly e mais dois outros companheiros de banda iriam viajar inicialmente na aeronave, mas ambos cederam os lugares para Bopper e Valens, com destino para Fargo, na Dakota do Norte. Infelizmente, por falha humana e os obstáculos do clima, Peterson estava sem visão e pensou que estava com o veículo nas alturas, enquanto, na verdade, estava caindo.

Tempos de luto para o Rock 

A notícia da tragédia caiu como uma bomba, especialmente porque o rock já estava sofrendo perdas: em 1957 Little Richard abandonou a carreira musical e virou pastor. No ano seguinte, Jerry Lee Lewis se envolveu em um escândalo ao casar com sua prima de 13 anos e Elvis Presley foi convocado pelo serviço militar.

Quando o acidente tirou a vida de Buddy Holly, Ritchie Valens e The Big Bopper, foi como se o rock tivesse morrido também.

A história do acidente aéreo é retratada no filme “La Bamba” (1987), e também lembrada na canção “American Pie” (1971), de Don McLean, que “batizou” esse dia como “O Dia em Que a Música Morreu”.

Os artistas

Buddy Holly (Charles Hardin Holley)

Nasceu no dia 7 de setembro de 1936, em Lubbock, Texas. O artista é conhecido por ser um dos pais do rock and holl, não só por ter extremo talento para inovar o gênero musical, mas também pela influência que exercia aos futuros aspirantes ao estilo na época. Em uma das apresentações do músico pela Inglaterra, os jovens Paul McCartney (Beatles) e Mick Jagger (The Rolling Stones) assistiram a genialidade de Holly, e em futuras entrevistas ambos afirmaram que o guitarrista era uma de suas maiores referências.

The Big Bopper (Jiles Perry Richardson Jr)

Nasceu no dia 24 de outubro de 1936, em Sabine Pass, Texas. Bopper não só era um grande cantor, mas também um fantástico compositor. Dentre os grandes feitos na carreira de Richardson, estão as composições “White Lightning” e “Chantilly Lace”. A primeira, inclusive, foi a primeira canção que forneceu o primeiro lugar em rankings internacionais do cantor George Jones – este que Big Bopper foi um grande colaborador.

Ritchie Valens (Richard Steven Valenzuela)

Nasceu no dia 13 de maio de 1941, em Palcoma, Califórnia. O mais novo do trio, Ritchie, com apenas 16 anos, compôs a icônica versão da canção “La Bamba”, que mesclava pop e rock em uma produção autêntica e atemporal. Valens é considerado um dos pioneiros dos subgêneros rock latino e chicano, além de ter influenciado grandes artistas no futuro, como Ramones, Los Lobos e Carlos Santana.

 

 

 

0 971

Por Daniela Reis 

Amanhã, dia 23, completam-se dez anos da morte de Amy Winehouse. Ela foi uma cantora e compositora de destaque da música britânica que faleceu aos 27 anos vítima do uso abusivo de drogas.

Amy Winehouse nasceu em Londres no dia 14 de setembro de 1983. Aos 16 anos Amy começou a participar em grupos de jazz fazendo apresentações. Um amigo chamado Tyler James mostrou uma fita demo de Amy a uma gravadora e ela foi contratada pela Island/Universal.

Em 2003 a cantora e compositora gravou o seu primeiro disco, chamado Frank. Com a fama também surgiram os primeiros rumores de descontrole e do vício. Em 2006 Amy lançou o seu álbum mais famoso: Back to black. Celebrado pelo público e pela crítica, a criação arrebatou cinco Prêmios Grammys, batendo o recorde na ocasião.

Quando morreu, Amy contava com o impressionante número de mais de 4 milhões de discos.

Problemas com o vício

Em agosto de 2007 a cantora entrou em coma após uma overdose. Apesar de ter se recuperado do episódio, seguiu consumindo drogas lícitas e ilícitas.

Em janeiro de 2008 foi flagrada em vídeo usando crack, o que a levou a frequentar uma clínica de reabilitação.

Amy Winehouse faleceu em casa em Canden Town (Londres), no dia 23 de julho de 2011, vítima de uma intoxicação alcoólica aos 27 anos.

Documentário

Para relembrar a vida da artista, familiares e amigos relatam a sua trajetória em um novo documentário narrado pela mãe de Amy, Janis Winehouse-Collins. A produção batizada de  “Reclaiming Amy” apresenta imagens caseiras, fotos de família e entrevistas com amigos próximos que relembram os tempos mais felizes, mas também os sombrios, da cantora seis vezes vencedora do Grammy.

Winehouse-Collins, que tem esclerose múltipla, raramente fala sobre sua filha publicamente, mas compartilhou sua versão dos acontecimentos no documentário, encomendado pelas britânicas BBC Two e BBC Music, que irá ao ar na sexta-feira.

Winehouse, que lutou contra problemas com bebida e drogas durante grande parte de sua carreira, morreu de intoxicação por álcool em sua casa, no norte de Londres, em 23 de julho de 2011. Ela tinha 27 anos.

O documentário, que aborda os relacionamentos de Winehouse, a bulimia e seus problemas de saúde mental, detalha as tentativas sem sucesso de sua família e amigos em ajudá-la.

0 441

Devise é uma banda de rock independente de Belo Horizonte, formada por Luís Couto (vocal), Bruno Vieira (guitarra), Daniel Mascarenhas (bateria) e Bruno Bontempo (baixo), que há nove anos vem encarando o mercado da cena autoral mineira, trazendo composições originais com influências desde o Britpop até o Rock Mineiro.

Com dois discos lançados ao longo da carreira, a banda deu início em junho deste ano a gravação do terceiro, que promete ao público uma Devise mais madura, sem medo de arriscar novos elementos, porém sem perder a identidade.

Em comemoração ao dia do Rock, o Jornal Contramão, traz hoje uma entrevista exclusiva com o vocalista Luís Couto, contando o que podemos esperar do terceiro álbum de trabalho da Devise, que já teve três músicas lançadas, entre elas “Além do Próprio Espelho”, “Tempo Aberto” e “De Quanto em Quanto Tempo”, mostrando que o novo disco promete muitos sucessos. 

1) Como surgiu a ideia do lançamento desse novo álbum?

A ideia desse disco vem desde do final de 2018, já vínhamos trabalhando em algumas músicas e começamos a estruturar o álbum a partir dali. Lançamos uma música no final daquele ano, que foi “Além do Próprio Espelho”, e lançaríamos mais alguns singles até vir o álbum cheio em 2020. Ficaríamos um ano trabalhando as músicas e o álbum no ano passado. Porém veio a pandemia e achamos que o clima do disco não tinha nada a ver com aquele momento que vivíamos, também não iríamos poder sair para tocar essas músicas, por isso, resolvemos adiar o lançamento. 

Tudo isso acabou sendo algo que fez bem para o álbum e para a banda, essa espera, porque em 2020 acabamos lançando um single novo, “Espera”, que ficou essa temática de pandemia, lockdown, também lançamos várias versões acústicas e isso movimentou bastante a banda e trouxe novas pessoas para escutarem o nosso som. 

Nesse meio tempo novas composições surgiram, entraram músicas novas, saíram algumas, mas a base do disco em si é muito forte, assim em termo de identidade esse novo disco marca um novo momento da banda e tudo mais. 

2) Quando começaram as gravações do novo disco e onde ele está sendo gravado?

Começamos a gravar mesmo no começo de junho de 2021, mas a gente já estava trabalhando forte nele desde março, pois ficamos um ano sem se encontrar, por questão de proteção, trabalhando à distância, tanto que as versões que lançamos durante a pandemia foram gravadas com cada um em sua casa. Retornamos no primeiro trimestre, passamos a nos encontrar para fechar as músicas, as composições, alguns arranjos, e em junho fomos para o estúdio, o Pacific Studio, do Cris Simoes, que é quem está produzindo o disco.

3) Como tem sido o processo de produção desse novo disco em um cenário de pandemia?

O processo é um pouco diferente do normal, é estranho gravar um disco com máscara, mas entendemos como isso tudo é necessário. Nós quatro estamos respeitando as medidas de isolamento e muito preocupados com a situação, então optamos por só tirar a máscara em momentos específicos, por exemplo, na hora de gravar voz. Achamos que seria pior, mais chato com todas essas questões, nem pelo uso da máscara, mas a situação em si, porém acabou sendo um alívio, ficamos preocupados com a tensão disso atrapalhar mas está tudo fluindo muito bem.

Como estamos respeitando ao máximo essas medidas de isolamento, nos sentimos de certo modo, seguros. O Cris, produtor, fica em uma sala diferente, nós conversamos pelos fones, tem tv e câmera, nos comunicamos dessa forma e só vamos na sala dele para escutar. É um processo diferente do que a gente sempre fez, mas é um retrato do momento que vivemos.

Por incrível que pareça, apesar de tudo, é o disco que a gente está gravando em condições mais difíceis, mas que está fluindo mais legal, estamos mais tranquilos, seguros, respeitando o espaço de cada um, com muita alegria. Quando eu vejo o Mike, o D2 ou o Bontempo gravando eu fico muito feliz de ver o que eles estão fazendo lá e acho que é assim com todo mundo, está sendo um escape super importante e também e um momento bacana para a banda.

4) O que o público pode esperar do novo disco? Quais foram as principais influências?

É um trabalho muito especial e diferente dos outros dois, nós temos um pouco disso, mantemos nossa identidade, mas buscamos sempre trazer novos elementos a cada álbum. Acho que o público pode esperar algo mais ousado. Ele tem momentos mais para cima e outros mais introspectivos, penso que é um álbum bem coeso, e apesar de momentos diferentes, as músicas conversam muito bem entre si. 

É um disco que a gente está curtindo fazer, e isso vai para o som, estamos felizes fazendo aquilo que amamos, tocando, estando juntos. 

Em relação às referências, temos uma muito forte ali da galera de Manchester, do início dos anos 90, Primal Scream, Stone Roses, Charlatans, Happy Mondays, Madchester, Oasis, todas essas bandas que são uma referência para nós. Muito rock mineiro também, nesse sentido somos muito bairristas, então dá para sentir um Skank, naquela fase do Cosmotron, Carrossel, algumas referências de música brasileira, como Lô Borges, rock nacional presente de certa forma com Charlie Brown e Legião. Inclusive tem referências de reggae, dub, uns elementos bem diferentes que nunca usamos e tem nos influenciado bastante.

5) Quem está por trás das composições das novas faixas e como foi esse processo de composição?

Geralmente eu escrevo, levo a música para a banda e trabalhamos juntos os arranjos, a maioria das músicas saem dessa maneira, mas tem também outros momentos que os meninos chegam com alguma ideia, um riff de guitarra, de baixo e aí eu acho que dá para transformar aquilo em uma música e trabalho em cima. 

Nesse disco, especialmente, tem parceiros de fora, tem dois amigos, Pedro Dias e o Fernando Pádua, que escreveram comigo, De Quanto em Quanto Tempo, o João Ferreira, da Daparte, tem uma letra que escrevemos em parceria. Outra coisa legal é que pela primeira vez, tem uma letra do Mike (guitarrista), foi feita em parceria, mas grande parte é dele, até então ninguém da banda tinha escrito uma letra além de mim, e foi bem legal.

6) Como você define a evolução da Devise do começo até hoje?

Esses dias eu estava lembrando da gente entrando no estúdio para gravar o primeiro disco, e o quanto nós éramos mais inseguros e ingênuos em algumas questões, que para um primeiro disco são até importante, ter essa ingenuidade, e acredito que a grande evolução da Devise está aí, hoje em dia nós somos extremamente seguros do que queremos ser, do que queremos fazer, não temos mais medo de experimentar novas coisas, de trazer novos elementos e colocar no som, se não ficar bom a gente tira. Nos permitimos mais, mas sempre mantendo uma identidade muito clara, isso é muito importante, evoluir mas ter algo forte que as pessoas lembrem do nosso som, por mais que elas vejam que é diferente de certa forma, elas sabem que é a Devise.

7) Quais são as expectativas para o lançamento do novo álbum?

A expectativa é enorme, mas como a gente ainda está nas gravações, estamos focados nisso, queremos aproveitar ao máximo esse momento, curtindo muito o processo. Nós já temos uma programação de datas e tudo mais, é provável que as pessoas comecem a conhecer o disco no início de agosto, que a gente solte ali algumas músicas inéditas e até o fim do ano todo ele lançado.

8) Como tem sido a distância dos palcos?

A distância do palco é algo muito difícil, porque nós somos uma banda muito de show, de tocar, e a gente até entende a importância de estar ali presente na internet, mas o nosso rolê sempre foi estar junto tocando, e quando você não está fazendo show, obviamente, isso diminui, por mais que a gente esteja no estúdio, é diferente, então tem sido bem difícil, mas entendemos como necessário para o momento. 

Não dá para fazer show, eu acho que nem conseguiria fazer, se alguém falasse “ah pode tocar”, eu não tocaria, não me sentiria bem, não é o momento, isso é muito maior que a nossa saudade dos palcos. É difícil, é ruim, é uma das coisas que mais amamos fazer nessa vida, mas é necessário para proteger todo mundo.

9) Uma boa lembrança dos palcos depois de tantos anos de estrada?

Os shows na Obra são o que nós mais lembramos, por mais que já tenhamos passado por palcos, festivais grandes, ali na Obra é quando estamos em casa, é quando as pessoas mais próximas de nós gostam de ir nos ver tocar, a galera da Obra nos recebe muito bem, essa lembrança é muito forte e é algo que sempre está rondando a gente. Mas também tem muitos outros momentos legais, encontro com ídolos, bandas amigas, a gente na estrada, sempre dávamos um jeito na logística de ir juntos, porque apreciávamos muito esse momento, 8, 9 horas na estrada trocando ideia, são grandes lembranças.

10) Sabendo que hoje é o dia do rock, para você, vocalista da Devise, o que o rock representa em sua vida? 

Rock dá sentido para muita coisa da minha vida, eu não seria essa pessoa que eu sou hoje se não fosse o rock, e eu acho que significa, principalmente, liberdade de ser o que você quiser ser, de poder ser o que você quiser ser, de olhar para o outro e também deixar ele ser o que ele quiser ser sabe, penso que tem a ver com transgressão. Vemos os caretas dentro do rock e para mim não faz o menor sentido, porque o rock não tem nada a ver com caretice, preconceito, o rock não é isso. Resumindo, o rock me formou pessoalmente entendendo isso dessa forma, e é uma coisa muito importante para mim. 

 

 

0 1965
Banda Daparte - Reprodução do Instagram

Encerrando o Almanaque de Bandas Independentes, produzido por Bianca Morais, e divulgado no Jornal Contramão nas últimas semanas, a jornalista faz uma reflexão sobre as principais dificuldades que esse cenário de bandas enfrentam e ainda comenta qual o papel das gravadoras nesse meio, elas que por muito tempo foram o principal engajador para que os artistas tivessem sucesso, hoje, já não é mais exatamente dessa forma. 

Tempo e grana. Quando o assunto são bandas independentes buscando ascensão no mercado musical, uma das principais dificuldades que encontram são esses dois fatores.

Quem produz arte sempre tem ideias. Não há uma banda nesse almanaque que não possua pelo menos uma gaveta de idéias, composições, cifras e melodias que queiram mostrar ao mundo e ter oportunidade de gravar. Mas ensaiar, produzir e gravar é algo caro e nem todos têm poder aquisitivo para isso.

A parte financeira é difícil. Os contratantes de casas de show não querem bandas independentes, porque muitos deles procuram bandas covers que vão agradar mais o público. Aquele contratante que abre mão disso para contratar uma banda autoral não consegue entregar a eles um cachê tão bom. É difícil encontrar lugar para tocar, é difícil ser contratado. O dinheiro que comanda o mercado da arte pouco corre no mercado independente. A música em si ainda é subvalorizada.

Parte dessas bandas independentes, justamente por não conseguirem ter o dinheiro para produzir, tem outros trabalhos paralelos. Isso porque os músicos não conseguem se sustentar apenas com o cachê da banda, até porque esse dinheiro acaba sempre sendo revestido para o caixa da banda e suas demandas. Com outras ocupações e o trabalho semanal, acabam não tendo 100% do tempo para se dedicar apenas à música, atrasando seus sonhos. É possível gravar e produzir em casa, em estúdios mais simples e sair coisa boa, mas se você procura qualidade excelente é necessário investir, e esse investimento não é barato.

O tempo é limitado e muitas vezes não conseguem se encontrar como gostariam, principalmente durante a semana. Por outro lado, a demanda de conteúdo é alta, é necessário tempo para produzir as redes sociais, planejar clipes e idealizar projetos. Para uma banda conseguir se entregar totalmente ao que se propõe, precisa estar sempre junta e não é o que acontece muitas das vezes.

Paciência é a palavra-chave. Tudo tem seu tempo. Bandas como a Devise, Radiotape e Ous, por exemplo, com mais tempo de estrada, provam que é possível sustentar uma banda durante anos, mesmo tendo que fazer um paralelo com outros trabalhos, aceitar algumas consequências e encarar alguns desafios. O mais importante é não desistir.

Um outro problema que surge, principalmente quando se trata de uma banda com vocal, guitarra, baixo, bateria e teclado, é conseguir alcançar um público. Bandas de pop e rock deixaram de ser tão queridas pelo público que consome música hoje. Nos anos 80, 90 até o começo dos anos 2000 era possível encontrar muitas delas no cenário nacional e internacional. Bandas que marcaram épocas e existem até hoje, mas se você analisar principalmente no Brasil, poucas delas estão no top 10.

Nas rádios, encontramos cada vez mais artistas solos, onde a banda em si é formada por músicos que não tem visibilidade como o vocal principal, muitos sendo até freelancers.

O artista independente tem uma personalidade bem característica que é a de ser, na forma mais literal da palavra, INDEPENDENTE. Aquele que age com autonomia, não se deixando influenciar por ninguém. Por isso mesmo é tão difícil ser autoral e independente na arte convencional, entrar em uma caixinha de gênero, acompanhar o funcionamento do mercado e se adequar à indústria comercial. Além disso, as pessoas não estão preparadas para escutar o que elas não estão acostumadas.

A Daparte, por exemplo, uma das bandas desse almanaque que de fato é conhecida nacionalmente, são uma exceção. É raro encontrarmos hoje bandas de formação de quatro ou mais integrantes fazendo sucesso. Skank, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Jota Quest e outras bandas que estouraram anos atrás, não é o que se encontra hoje em dia.

Para conseguir conversar com o gosto do público dessa nova geração, as bandas precisam se desapegar um pouco do estilo individual e particular de cada integrante em prol do conjunto e dos objetivos finais. De maneira geral, para conversar a língua do momento, muitas bandas se desprendem de fragmentos das músicas ou das melodias para poder se encaixar. No entanto, há outras que não querem abrir mão e acabam não alcançando um público maior. Tem público para tudo, mas isso não quer dizer que uma banda irá se alavancar por isso.

Apesar de todas as dificuldades desse mercado da música independente, se o músico tirar da cabeça a ideia de ficar rico e convertê-la na ideia de fazer algo criativo, mesmo com pouco dinheiro, mas com dedicação e gostando do que faz, a parte de enriquecer e fazer sucesso se torna não um obstáculo, mas uma consequência.

As Gravadoras

Por muitos anos, ter uma gravadora ao seu lado significava sucesso e dinheiro garantido. Estou falando de disco de platina, daqueles que os artistas recebiam nos palcos dos programas de televisão como o Domingão do Faustão. Acontece que do mesmo jeito que esses discos se extinguiram e foram substituídos pelas plataformas de streaming, as gravadoras deixaram de ser a peça fundamental para fazer uma banda ter sucesso.

As gravadoras deixaram de ser a única porta que se abre para o sucesso de bandas. Elas ainda são as que têm o dinheiro e são, de fato, uma grande ferramenta facilitadora, mas não são mais as únicas opções. Networking, não só no mundo da música, mas como em todos os lugares, é tudo. Se você tem contatos, eles serão uma das ferramentas mais valiosas. As gravadoras, além de dinheiro, possuem contatos. Elas também têm profissionais que sabem trabalhar nas mais diversas áreas, como o marketing e a publicidade. É um caminho que eles já conhecem e tem o dinheiro para acelerar as coisas.

O cenário, no entanto, mudou bastante. Antes as gravadoras pegavam artistas pequenos, investiam nele e esperavam o retorno financeiro que eles trariam. Hoje elas pegam artistas independentes que se consagraram dessa maneira e investem esperando o retorno. O apoio delas dá uma alavancada inicial que pode ser um fator de impulsão para a banda. Sem ela, é um caminho mais difícil, mas não impossível, considerando que a tecnologia e a internet são grandes ferramentas para divulgação.

A internet, juntamente com as plataformas de streaming, apareceu com as portas abertas para as bandas independentes mostrarem seu trabalho ao mundo. Dão aos artistas um poder de emancipação em relação às gravadoras e tem permitido fazer uma carreira mais sustentada e duradoura. Antigamente, para ser um grande fenômeno da música, você só estourava na mão de uma gravadora. Agora, com as possibilidades que a tecnologia proporciona, existe a possibilidade de você jogar sua música em uma rede social e, caso o

público goste, ajudarão na divulgação dela de forma gratuita. Assim, ela se espalha e aumenta a visibilidade dos artistas.

Um artista independente recebe pouco pela execução de sua música nas plataformas de streaming, os chamados royalties, porém ao mesmo tempo que acabam perdendo com isso, ganham a capacidade de atingir mais milhares de pessoas ao redor do mundo, gerando público e shows para conseguir cachê. Se a banda realmente for boa, as gravadoras vão ver potencial e investir.

Artistas independentes conseguem sobreviver sem apoio de gravadoras, a exemplo da Rosa Neon. Todos vivem apenas de música. Tudo bem que os diversos contatos que eles trazem de suas carreiras solos ajudam, mas provam que não somente as gravadoras possuem os respectivos contatos.

Um parêntese nessa parte para além das bandas independentes, artistas solos de Belo Horizonte, principalmente na área do rap, têm se destacado muito no mercado nacional, sobrevivendo com composições autorais e levantando públicos enormes. Estou falando do rapper Djonga, que apesar de ser um estilo muito diferente do pop e do rock, serve como influência para eles acreditarem que é possível alcançar o sucesso sozinho.

Uma dica preciosa para quem quer viver de música sem uma gravadora é estudar um pouco o panorama e se tornar um social media. Para uma banda crescer, ela precisa de público. Precisa de gente que acompanhe o trabalho e, para isso, é necessário divulgá-lo. Estudar esse meio auxilia a criar estratégias de atuação. Um dos principais papéis das gravadoras, além da parte financeira e do networking, é a de jogar você para o grande público e colocar em um status maior.

Uma alternativa para as bandas que estão começando e querem uma divulgação maior é se unir com distribuidoras, assim como faz a Chico e o Mar que trabalha com a Tratore. A empresa entrega as músicas dos artistas independentes para as plataformas de streaming, fazendo o som chegar a outros ouvintes. Aquelas playlist do Spotify, por exemplo, são muito úteis nessa divulgação, porque quem escuta outro artista acaba chegando até você. Além desse trabalho de distribuição, a empresa ajuda dando um retorno, apresentam vetores, mostram o que estão fazendo de certo, de errado e onde podem melhorar.

Se antes era difícil gravar uma música e custava muito caro, hoje você pode encontrar um estúdio bacana que cabe no bolso em qualquer lugar. Aquele seu amigo que formou em engenharia e se especializa em engenharia de áudio, vira produtor musical e constrói um estúdio muito bom. Como muitas das coisas atualmente são digitais, é muito mais fácil gravar e colocar na internet.

Independentemente de gravadora ou não, os artistas independentes sempre irão existir. Os que não permanecem nesse cenário, por vezes, são os integrantes, que justamente por isso acabam tendo um outro emprego. A vontade de fazer dar certo motiva a continuar sempre e o sonho da música não pode parar.

0 5643

Começar a semana com música e boas energias é a cara do Contramão! Hoje trazemos a última banda do Almanaque produzido pela Bianca Morais. Mas não fique triste, ainda vamos trazer conteúdos sobre o cenário das bandas independentes e muito mais!

Vamos ao show de hoje?

DAPARTE

E agora como fica Iaiá,

E agora como fico eu?

Se eu toda flor que eu tento cheirar,

O perfume é o seu.

Por um segundo fiquei sem saber

Achei que o rádio me falava de você

Numa canção de amor ouvi falar

Que eu levo a sério e você tenta disfarçar.

Quer música romântica? De sentimento? Baseadas em histórias reais? Melódica? Que fica na cabeça?

Apresento eles, a Daparte.

A Daparte tem contrato com a Sony;

A Daparte já tocou no altas horas;

A Daparte já gravou em estúdio famoso;

A Daparte já tocou no Circo Voador (um dos palcos mais tradicionais do Rio, em plena conquista do título da libertadores pelo Flamengo)

A Daparte já tocou em palco com gigantes da música;

A Daparte já tocou no Planeta Brasil;

A Daparte tem conta verificada no Instagram;

A Daparte já abriu show pro Skank e para o Cachorro Grande;

A Daparte fechou o último show do Cachorro Grande.

Se lendo isso você acha que a Daparte com toda essa bagagem tem lá seus mais de 10 anos de estrada, você está errado, a banda tem somente 4 anos e os meninos são todos jovens (nem todos) e sonhadores. João Ferreira (vocal e guitarra), Juliano Alvarenga (vocal e guitarra) e Bernardo Cipriano (tecladista) estão na casa dos 20 e poucos anos, Daniel Crase (baterista) uns 25 e o mais velho Túlio Lima, conhecido também como Cebola.

O Crase vem de crazy (aportuguesado) porque segundo os meninos ele é meio doido. O Cebola, quando criança, tinha planos mirabolantes e infalíveis, aí o irmão o apelidou assim.

Mas como uma banda tão nova conquistou tanta coisa importante que outras bandas mega famosas realmente levaram 10 anos para conquistar, eu vou contar agora.

O começo de tudo

O ano era 2015, João tinha uma banda com o Crase, a Gramofone; e o Juliano outra com o Bernardo, a Twig. As duas bandas terminaram na mesma época, porém a Twig tinha um show marcado na data do St. Patrick’s Day. Resolveram chamar o Crase, que já era amigo do Juliano, para tocar. O Crase chamou o primo, o Cebola. O João, que já conhecia o Juliano (por namorar a melhor amiga dele) pediu para entrar. E foi assim que a Daparte se apresentou pela primeira vez, mesmo ainda não sendo de fato a Daparte.

Sabe aquele grupo do Whatsapp que você tem com seus amigos? Essa é a Daparte. Todo mundo se zoa, de vez em quando briga, mas quem nunca? As personalidades diferentes se encaixam para formar a banda. Crase maluco, Bê caladão, Cebola o dentista, Ju o fofo e o João um pouco de todos e um pouco mais.

Ok, mesmo sendo um pouco de todos, talvez o João não seja dentista de fato. Mas o Cebola com certeza é formado e atuante. Nem todo mundo que está de fato em uma banda autoral consegue se sustentar somente com a música, mas isso a gente já está cansado de saber.

Agora imagina se você é fã da Daparte e se consulta com o Dr. Cebola. Privilégios.

Daparte de quem?

Quando foram tocar juntos pela primeira vez, decidiram que precisavam de um nome. O Cebola inventou um na hora, eles se apresentariam como “Seu Zeed”. Era um nome realmente muito ruim e a banda percebeu, por isso em outro show viraram o “Um Quinto”, outro nome também não muito bom.

Mas a busca pelo nome perfeito continuava. O acerto viria na terceira tentativa.

Em um show do Samuel Rosa com Lô Borges, onde estava à venda um livro que contava curiosidades do Clube da Esquina. Em um determinado capítulo contava a história do apelido entre os irmãos Lô Borges e Márcio Borges.

Um dia uma fã ligou para a casa do Márcio Borges e questionou se determinada música era “da parte de Mário Lô Borges”. Os irmãos acharam legal ela ter misturado o nome dos dois achando ser uma pessoa só e, dali em diante nasceu um apelido interno deles: “Da parte”.

Os garotos ao lerem isso acharam um nome interessante e o adotaram para a banda.

Escolha certeira (pela terceira vez).

Outra curiosidade: durante a infância, Juliano conviveu com Lô Borges e sempre via ele se referir a seu pai como da parte. Via naquilo um charme, então quando entendeu o nome não teve dúvidas. Era para ser aquele.

Se você chegou até aqui e ainda não sabe, o Juliano Alvarenga é filho do Samuel Rosa, vocalista do Skank.

Pois bem. Nome da banda ok.

Estilo musical

Influenciados pelo Clube da Esquina não apenas no nome da banda, mas em seu estilo musical, a banda carrega influência de muito rock e MPB dos anos 70. Beatles é uma das bandas favoritas em comum de todos eles.

Quando você pergunta à Daparte o estilo musical deles, a resposta vai ser Pop Rock. Agora, se você for tentar encaixar a Daparte no Pop Rock brasileiro, aquele que conta com grandes bandas como Skank, Barão Vermelho e Nando Reis, você vai se decepcionar. O som deles carrega sim essa influência, mas depois de quatro anos de muita dedicação a seu trabalho autoral, a banda vem criando uma identidade própria.

Mais próximos do que hoje chamamos de Pop Leve, aquele representado por Lagum, Vitor Kley, Anavitória e Melim, a banda mescla esses grandes sucessos atuais com a paixão pelo rock dos anos 90, como Oasis, Radiohead e Supergrass. É inspiração de todos os lados que os ajudam a criar, cada vez mais, a identidade jovial deles.

Manual de composição de João Ferreira

O ex relacionamento do João pode até ter partido seu coração, mas também serviu para boas canções. Principal compositor da banda, o músico tem consigo um caderninho em que anota seus sentimentos mais profundos e, quando necessário (ou quando o Juliano aparece com uma melodia), transformam aquilo em canção.

Assim aconteceu com a maioria das músicas desse novo disco que, por hora, está sem data de lançamento, mas com alguns singles já lançados.

Iaiá é um deles. Ela nasceu de uma melodia cantarolada que o Juliano mandou para o João e ele escreveu a letra inspirado no seu rompimento.

Iaiá é a música mais triste e mais alegre de todas. Ao mesmo tempo que você se pega cantando alto e dançando um som animado, você chora com a letra que conta como aquele alguém que você quer, não te quer.

Poxa João, eu e todo mundo que gosta de Daparte te entende e por isso que a gente gosta tanto. Quem nunca sofreu de amor nem precisa continuar, porque se em Iaiá você ainda dança, em 3 da manhã você chora junto com ele. Sabe aquela insônia que você teve quando brigou com a pessoa que gostava? Tá cantada ali.

A dupla João e Juliano, depois de trabalharem letra e melodia, mostram pro Cebola, pro Crase e pro Bê, que sempre acabam concordando.

Diferentemente desse novo disco em que os garotos se uniram para construir juntos com o estilo da banda, unindo comprometimento com a vontade de crescer, o primeiro álbum, o Charles, foi uma bagunça organizada. A banda já existia e a vontade de ser autoral sempre os motivou a escreverem suas próprias músicas, lançando seu próprio material. Foi então que os cinco decidiram que iriam lançar um disco para que as pessoas fossem aos shows e cantassem músicas deles.

Como já tinham as músicas escritas em seu particular, apenas juntaram e lançaram. Não foi um acordo de “vamos compor um disco”, foi mais para “vamos gravar um disco”.

Neste álbum, encontramos desde Guarda-Chuva, que é um pedido de desculpa do João a sua ex-namorada; A Cidade, canção que o Cebola fez com o pai; até a letra do Bê, Fênix, que não tem muito sentido, é mais uma viagem que o tecladista teve. 

No conjunto da obra, o disco ficou muito bom, fez sucesso e abriu portas para que os garotos tocassem Brasil afora.

A evolução

Sem medo do sucesso, a banda se preocupa apenas em fazer a sua arte chegar às pessoas. A cada dia que passa, evoluem mais como músicos e pessoas. A grande quantidade de shows e gravações fizeram os garotos evoluírem desde a maneira de se portar em frente a um público até em suas composições.

Quando a banda começou, João beirava os seus 15 ou 16 anos. Hoje mais velho e com mais vivências, amadureceu até mesmo em suas composições. A fase de transição da adolescência para a vida adulta deu uma visão bem diferenciada para ele, que acabou absorvendo novas inspirações e mudou principalmente a sua forma de pensar e produzir. O crescimento pessoal unido ao profissional fez todos eles criarem uma identidade única e original para a banda. Um som mais a cara deles.

A banda tem uma visão de onde querem chegar e trabalham cada dia mais para alcançar isso. Com o sonho de viver disso, a banda corre atrás de produzir material de qualidade, original e verdadeiro para, dessa forma, ganhar o mercado nacional.

E é então que aqui aparece para eles também a Sony. Diferente do trabalho que prestam para a Papa Black de distribuidora, a Sony tem um papel de gravadora para a Daparte. Esse último disco está sendo gravado com apoio de grandes produtores musicais e em um estúdio incrível.

A Daparte não quer atingir um público específico, o objetivo é alcançar pessoas acima de 0 anos e abaixo de 120, pessoas que vivem, que se identificam com as músicas. Talvez atinjam mais o público dos 20 e poucos anos que é a idade deles, mas qualquer um que já viveu uma história de amor cabe aqui.

 

*Esse produto resultado do Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Una da Jornalista Bianca Morais.