“Legião” de evoluções: como a geração de rock brasileiro nos anos 80...

“Legião” de evoluções: como a geração de rock brasileiro nos anos 80 mudou a produção musical no Brasil

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Desde que o mundo musical é mundo existe uma coisa chamada Produção Musical. Alguns podem pensar de início na imagem que se tem hoje, de algo grandioso, onde se é necessário um conhecimento muito grande para se lidar em uma carreira de um músico, principalmente quando ele entra em estúdio para registrar uma canção. Mas isso nem sempre foi assim, principalmente se pensando em toda a evolução que o papel da produção musical desempenhou todos esses anos.

A produção musical é associada principalmente às tecnologias disponíveis no mercado para a indústria fonográfica. E, assim como as tecnologias evoluíram com a descoberta de novas funções, necessidades e demandas, o próprio papel do “produtor musical” também evoluiu, assim dizendo. O produtor para poder executar a sua função junto ao músico, deveria cada vez mais se tornar um técnico que poderia entender, interpretar e manipular o maquinário ao seu interesse, para obter a sonoridade desejada respeitando principalmente o estilo musical do intérprete em questão. Daí então, as profissões de engenheiro e produtor musical quase que se fundiram em uma necessidade de mercado.

A princípio, as técnicas e tecnologias disponíveis quando a indústria musical começou a se formar eram muito limitadas, e o crescimento da indústria musical nos anos 1930 e 1940 se tornou visível graças a um processo de gravação aliado a uma tecnologia chamada de microssulco, que daria origem aos discos de vinil. Além do vinil, outra tecnologia surgida à época era a gravação feita em fita.

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A partir daí se inicia todo o processo de grande crescimento da indústria fonográfica, apoiada na cultura marginal de música. Nos Estados Unidos, enquanto 4 grandes gravadoras dominavam 75% do mercado musical, outras gravadoras como a Sun Records e a Atlantic Records iam pelo caminho oposto, investindo em Jazz, Soul, música Gospel, Rhythm n’ Blues e Country. A grande sacada foi investir nesses estilos marginais, que tinham um grande apelo de público, porém eram ignorados pela grande mídia e grandes gravadoras. Desde o fim dos anos 1950 até o meio dos anos 1970, o que ditava o sucesso eram os jovens e as suas gerações subsequentes, que alçaram ao sucesso desde artistas como Elvis Presley, Johnny Cash e Bob Dylan até bandas como Beatles, Rolling Stones e outras.

E por que toda essa introdução dizendo sobre o início do mercado musical americano? Porque essa introdução interessa ao dizer que estivemos duas décadas atrasados dos americanos na história da nossa indústria fonográfica. Enquanto o crescimento e desenvolvimento da indústria musical americana esteve centrada nas décadas de 1940 e 1950, o desenvolvimento da nossa indústria ocorreu nos anos de 1960 e 1970. Assim como a contracultura e o rock (impulsionado pelo público jovem) dominaram os mais vendidos dos anos 1960 e 1970 nos Estados Unidos, esse fenômeno aconteceu nos anos de 1980 e 1990 aqui no Brasil. O que se deve a essa mudança no cenário? A necessidade de estruturar melhor e registrar com mais qualidade os nossos artistas.

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Todos esses camaradas tem parcela de “culpa na evolução da produção musical no Brasil

Essa necessidade já existia, pois as décadas de 1960 e 1970 foram muito prolíficas nos experimentalismos, com expoentes do tropicalismo e do rock “ácido” no fim dos anos 1960 e começo dos anos 70. Porém, não se dava bola pra esse tipo de expressão artística, já que existia uma época de dura repressão na ditadura militar, que cerceava muito a liberdade dos artistas. Além disso, existia o monopólio do mercado por empresas estrangeiras, que limitavam muito o espaço para novos artistas, deixando outros hegemônicos que não batiam de frente com os “sistemas” da época.

Esse movimento contra os “sistemas” vigentes se tornou mais intenso após a onda punk que começou pelos Estados Unidos e Inglaterra e espalhou pelo mundo. O impacto no Brasil se sentiu através de uma juventude nascida em tempos de ditadura, que vivia sem uma visão de futuro clara, e com muita vontade de conquistar seu espaço na sociedade que via os punks como sujeitos marginais, assim como outros artistas anteriores à essa geração. O espírito punk levou várias bandas a se mexerem com o intuito de causar e aparecer para a sociedade, com sua ideologia anárquica e questionadora.

A aproximação do fim da ditadura militar proporcionou um espaço maior para o rock no Brasil, principalmente aquele rock influenciado pelos estilos punk e new wave. Com mais liberdade, esses grupos poderiam cantar suas músicas e colocar para fora anos de silêncio forçado. Assim, bandas como Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso e Ira! foram alçadas para o topo das paradas de sucesso, com letras que diziam o que aquela geração gostaria de dizer. Renato Russo, com letras intimistas e introspectivas, mas ao mesmo tempo explosivas, Hebert Vianna com seu humor e brincadeiras, a anarquia das letras dos Titãs, e o espírito Clashiano de Nasi se tornaram hinos para milhares de jovens por todo o Brasil.

Porém havia um outro problema: a sonoridade dos discos. Não acostumados com a agressividade do estilo praticado pelo rock dos anos 80 impulsionado pelo punk, os produtores deixavam os discos soando mais “fracos”, não transmitindo a real performance e energia dos músicos ao vivo. Toda essa questão acabou influenciando estúdios de grandes gravadoras a melhorarem seus estúdios, e contratarem produtores e engenheiros de som do exterior, que já tinham bagagem suficiente para comandar uma produção musical mais fiel ao original da banda. Assim, por sequência, uma nova geração de músicos, produtores e engenheiros começaram a surgir no Brasil, criando trabalhos de alto valor e que competem com trabalhos do exterior. Nomes como Rick Bonadio, Liminha e Carlos Eduardo Miranda fazem parte dessa história também, criando obras primas da música brasileira, principalmente do rock nos anos 80 e 90.

Reportagem Guilherme Resende

Fonte: MÚSICA E DISCO NO BRASIL: A trajetória da indústria nas décadas de 80 e 90

Autor: Eduardo Vicente – Tese apresentada à Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo

BRock, O Rock Brasileiro dos Anos 80 – Arthur Dapieve

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