O prazer da leitura acessível para todos

O prazer da leitura acessível para todos

Cerca de 500 deficientes visuais têm acesso a leitura em setor de Biblioteca Pública em Belo Horizonte.

O segundo andar da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, em Belo Horizonte, possui o Setor Braille, que, neste ano, completa 50 anos de existência. O setor possibilita o acesso à informação e à literatura para cerca de 500 usuários, além de contar com 400 voluntários que orientam deficientes visuais em pesquisas e leem livros ainda não disponíveis em modo adaptado (em Braille ou audiolivros).

De acordo com Glicélio Ramos, deficiente visual e coordenador do Setor Braille desde julho de 2014, a leitura e o estudo podem aumentar a autoestima dos leitores. “Através da cultura e do aprendizado, os deficientes visuais se sentem inseridos e úteis na sociedade”, afirmou o coordenador.

Corredor da biblioteca no Setor Braille (1)
Corredor de livros, setor Braille da Biblioteca Luiz de Bessa

O setor possui 1.600 títulos impressos em Braille, somando cerca de 6.100 obras, 2 mil audiolivros de literatura e 200 da área de Direito. O acervo é constituído por livros adquiridos por meio de doações de instituições que trabalham com pessoas com deficiência visual e também por produções em Braille realizadas na própria Biblioteca.

O próprio Ramos conheceu o Setor de Braille da Biblioteca quando, em 2000, ele se transferiu do interior para BH para cursar Administração Pública e encontrou ali um espaço importante para a vida acadêmica. “Foi através do Setor de Braille que tive acesso a muitos livros de literatura que queria ler, mas não tinha como. Eu, particularmente, gosto de ler em Braille. Como eu tinha acesso ao computador, mas não gostava de ouvir o livro literário, procurava o setor para ler os livros de literatura em Braille”, relatou.

Acessibilidade

No local, são desenvolvidas atividades informativas e culturais, como Cine Braille – exibição de vídeo com audiodescrição; Clube de Leitura; Hora do Conto e da Leitura; Clube do Xadrez; palestras; grupos de estudos para concursos públicos, com os temas Português, Direito e Raciocínio Lógico; exposições acessíveis, visitas a diversos museus e outras atividades inclusivas.

Sérgio Gomes Viana é deficiente visual, estudante de Direito e usuário do setor há oito anos. Para ele, o espaço é mais do que especial. “O curso de Direito, como todos os outros, exige muita leitura, então, como não existem livros de Direito em Braille, tenho que recorrer ao setor para estudar com os voluntários”, declarou o estudante. Para Viana, o deficiente visual é pouco lembrado.  “Nossa cidade está engatinhando em termos de acessibilidade, cultura e educação, principalmente para os deficientes visuais”, avalia.

De acordo com Ramos, na capital mineira, o setor é o único espaço que consegue fornecer informação e literatura aos cegos. “Acredito que a cidade está melhorando em termos de acessibilidade aos deficientes visuais, mas ainda está muito aquém do que poderia ser. Temos aqui no setor cerca de 2.500, 3.000 títulos adaptados para esse tipo de público. Em toda a Biblioteca, temos cerca de 260 mil títulos. Talvez seja 2% ou 3% do material que temos disponível para as pessoas que enxergam que esteja adaptado para as pessoas que não enxergam”, comparou.

Ledores

Deixando de lado a ideia de que se deve ficar em silêncio em uma biblioteca, o Setor Braille conta com o apoio de voluntários, também chamados de “ledores”, que trabalham com leitura viva voz, transcrições de textos e gravações. De acordo com o coordenador do projeto, Glicélio Ramos, a maior demanda do setor é a leitura voltada para concurso público. “Estamos com grupos grandes estudando para esses concursos. Temos de 10 a 15 pessoas procurando o setor todos os dias para fazer esse tipo de estudo. Além disso, a procura por obras literárias em Braille e áudio vem crescendo”, avalia.

Segundo a assessoria de comunicação da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, por meio do trabalho voluntário, foram feitos mil atendimentos em 2014. “Muitos visitantes descobrem que a biblioteca tem um setor braile, outros já ouviram falar do setor em algum momento e acaba vindo pedir informações. Falamos sobre o serviço dos ledores e muitos visitantes acabam se tornando voluntários aqui”, informa.

Para a voluntária, Rejane Pereira, 58, a atividade de ledora traz a oportunidade de estudar e aprender mais.”Sempre podemos ajudar com coisas que para nós são simples, mas que para eles são de grande valia. Trabalhei com um estudante, deficiente visual, que vinha de Nova Lima para a biblioteca, bem cedo, para estudar apenas 2 horas aqui no setor. Essa relação entre voluntário e o usuário do setor é muito rica e interessante”, explica a voluntária.

Serviço:

Para se tornar voluntário, é necessário comparecer ao setor e preencher um formulário próprio. Os voluntários são convidados a contribuir de acordo com a disponibilidade de tempo e demanda dos leitores.

Para se cadastrar no Setor Braille, é necessário apresentar:

  • RG (Registro Geral). No caso de criança, trazer também o RG ou a certidão de nascimento do menor e do responsável.
  • Comprovante de residência recente.
  • Contribuição de R$ 3 (três reais).

Texto e Foto: Victor Barboza

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