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Foto: arquivo pessoal.

Por Ana Clara Souza 

“Quando me descobri como artista, foi uma fronteira pra mim. Uma fronteira que me ajudou a pensar e a utilizar a dança de muitas maneiras. Estar sempre inquieto, procurando diferentes formas de, não só de expressar, mas também, de construir o movimento com diferentes corpos e fazer leituras diferentes das situações. Então eu trabalho assim.   Diversas metodologias em uma aula só! (…) Eu me considero uma pessoa aberta e disposta a criar novas realidades não postas, sabe?”

Dentro de uma entrevista de 19 minutos com o meu Diretor Artístico, Dadyer Aguilera, resolvi começar com esse trecho que é uma fala que me impacta. Sempre ouvi coisas semelhantes vindas deste cubano. Por isso, talvez, eu ainda danço.

Este cubano é o artista mais intenso que já conheci. Esse latino é Dadyer Aguilera.

Foto: arquivo pessoal.

O ano era 1969 e passaram 10 anos do famoso Triunfo da Revolução Cubana (1959). Na cidade caribenha de Guaimaro, em Camaguey – Cuba, nasceu do amor de um casal,  um menino miscigenado, cujo entusiasmo e espontaneidade veio junto ao primeiro choro de vida. Brota naquele momento o que só poderia nascer de um sol em sagitário, Dadyer Aguilera. 

Conheci o Dadyer através de uma professora, Danielle Pavam – que é sua esposa e que era a coordenadora de um grupo experimental de dança ao qual participava. Atualmente, é minha diretora na Cia que danço -. Ele foi ensaiar com a gente para uma performance. Na época, confesso que fiquei muito perdida. Ali já nascia uma visão de incompreensão sobre o Dadyer.  

No mundo elitista, branco e magro da dança, pessoas como eu, gordas, baixas, normais, porém,  diferentes, não são comuns. Nem as multiplicidades de corpos, cores, tamanhos, formatos, jeitos e trejeitos existentes no Brasil fizeram a arte da dança ser diversa corporalmente falando. Não que a dança não tenha dançarinos diversos, eu sou a prova viva que tem. A verdade é que, quando se imagina uma carreira de sucesso no meio artístico (especificamente, a dança), quais são as características que te vem à mente? 

Eu duvido que tenha sido uma pessoa gorda ou uma pessoa com deficiência (PCD), entre tantas outras diversidades. Relaxa! Eu não penso que você seja uma pessoa preconceituosa ou algo do tipo. Entendo que é o reflexo de uma estrutura colonizada, esteticamente branca, magra como, Ana Botafogo, Natalia Osipova, Marianela Nunez, Mikhail Baryshnikov e outros tantos padrões que sempre estavam nas capas e dentro das revistas, novelas, filmes, séries, e, hoje, em qualquer rede social.

É muito complicado viver em uma sociedade que não nos representa. É doloroso pensar que quase ninguém semelhante a mim irá chegar em um lugar de destaque nacional ou até mundial porque não é aceito nas normas. Afinal, eu preciso mesmo ficar nessa luta interna de tentar me enquadrar  nesse molde? 

Foto: arquivo pessoal.

Dito isso, nas minhas andanças por encontros confortáveis e seguros para o meu corpo e mente, me esbarrei com uma figura graciosa. Uau! Que estranho não ter que lutar contra as minhas curvas. Que louco poder dançar! Porque, como essa figura mesma diz (com seu sotaque fortíssimo cubano), basta ter um corpo para isso. 

Gozar de prazeres, diversões e autenticidades, sempre foi a característica desse menino de pele escura, pernas compridas, rosto quadrado, pescoço curto e uma mente borbulhante que adora metáforas. Nos tempos de ouro de Cuba, onde a vida era relativamente tranquila, a alimentação era gratuita, todos trabalhavam para o governo, tinham uma boa saúde pública e educação também gratuitas, além do direito a uma moradia.

Foto: arquivo pessoal.

Parte dessa estrutura pública de Cuba,  e a mais significante para Dadyer, foram  seus estudos no Ballet Clássico. De forma gratuita e com muita qualidade, ele viveu a primeira parte de sua formação em um internato artístico com influências do Ballet russo e norte-americano, trazidos no retorno da bailarina Alicia Alonso à Cuba, que modernizou e adaptou as metodologias e transpôs para corpos latinos, diferentes da cultura europeia.

Com essa ressignificação, Dadyer entendeu  seu corpo e sua cor. Tinha ídolos parecidos com ele, e isso era o máximo. Cuba também tinha um racismo estrutural, mas ainda assim, mais consciente do que no nosso Brasil, brasileiro.

Aos 18 anos 

Na maioridade ele se forma. Era um bailarino profissional que rodopiava pelos palcos de Cuba. Porém, a situação econômica e política da sua amada Ilha caribenha não ia tão bem. É que na contagem regressiva de seu 20º aniversário, no dia 9 de novembro de 1989, caía por terra a “divisão” socialista e capitalista na Europa. O muro que se estendia em toda a Berlim ocidental, teve sua queda. Com falta de apoio financeiro da URSS Cuba entrou em decadência devido ao forte embargo imposto pelos americanos.

Cuba foi de um país desenvolvido cultural e economicamente, para um país com racionamento de energia elétrica, sem gasolinas nos postos, saques e roubos de animais com bastante frequência, dentre muitas coisas. No auge de seus 25 anos, já bailarino profissional, o cubano teve que se reinventar. Foi aí que veio para o Brasil em busca de melhorias. “Entrei na Companhia do Palácio em 99, com 28 anos. Foi uma mudança muito dolorosa para o meu corpo.” 

No Brasil, Dadyer começa a descobrir novas possibilidades e facetas. Se redescobre. Conhece duas de suas paixões, a dança contemporânea e o amor da sua vida – com quem se casou  e teve  sua segunda chica. Ele re-molda seu corpo e mente. Do en dehors, com os pés para fora, ele vai para os pés paralelos. Passa, em parte, pela novidade de pesquisa e, em outra, pela nova cultura que agora adentra seu coração cubano. 

Os negros já tinham conquistado dignidade em Cuba. No Brasil, nem na década de 90 e nem hoje. Isso foi um baque para ele e, ao mesmo tempo, uma nova porta para estudos, resistência e representação. Tudo através da arte. 

Foto: arquivo pessoal.

Assim, reverbera na sua dança uma potência inenarrável. Com uma infinita inquietude, não acha certo o monopólio de conhecimento e busca expandir e plantar toda sua sapiência nos que circundam. Talvez, por crescer em um país comunista ou talvez por ver r nas pessoas coisas que nem elas mesmas enxergam.

Através da conectividade de suas raízes, se tornou um bailarino intérprete que aprofunda o âmago de qualquer um que o assiste. Isso criou tantas possibilidades para ele, que a sua própria esposa me contou que é difícil acompanhar sua criatividade ao expressar as problemáticas do mundo através do corpo. “Bom, no dia a dia essa criatividade me mata. Mas eu tive que aprender a lidar com ela porque eu, na verdade, sou outro extremo, sou a pessoa que repete, que gosta da rotina e gosta de tudo já  conhecido. Lidar com o desconhecido, para mim, é muito diferente, muito desafiador. Eu aprendi que, às vezes, as coisas que eu achava loucura dele funcionavam. Descobrir algo novo o tempo todo pra ele, porque isso é natural dele, tá sempre inventando coisa nova, pra mim não era. E aí eu fico vendo gente, por que não, né? Coisas novas são tão necessárias.” Fala Danielle.

No Brasil
Foto: arquivo pessoal.

Se ele já era muito autêntico e bom na dança, o Brasil despertou ainda mais seu jeito único. Eu já tinha alguns atributos que descreviam esse homem de cabelo cacheado, alto, esbelto, classudo com uma postura de invejar e um cavanhaque, que para mim, é a marca registrada do Dadyer.

Na tentativa de explicar esse evento que nasceu lá em 1969, perguntei para algumas alunas dele como o descreveriam. Vale ressaltar que todas são brancas e magras. Tanto Janine, quanto Silvia, acabaram desenvolvendo uma resposta muito semlehante. Antes de qualquer adjetivo, vinha sempre um “Descrever o Dadyer, nu! Que difícil.” No final, saía talentoso, criativo, teimoso, desafiador, livre. O que mais eu posso falar… Hum… autêntico. Eu acho uma pessoa bem autêntica.” “Generoso, preciso, minucioso, gente boa. Ai, queria falar exigente, mas não é a palavra. Aí, a pessoa que te cobra porque ela sabe que você tem pra dar, sabe?” 

Resumir uma pessoa em algumas palavras é rude. Resumir o Dadyer em algumas palavras é padronizá-lo à todas as pessoas que têm as mesmas características que ele possui. Ele não é passível de definição, muito menos de comparação, as próprias entrevistadas entendem isso quando tentam. Tá tudo bem! Ele realmente é um extraterrestre inexplicável. 

Ele consegue te abraçar sem encostar em você. O remédio que ele mais faz propaganda é a ciência da dança. Para nós, alunas desse E.T, suas aulas são difíceis, são terapias, são alinhamento de chakras, são doloridas e o melhor de tudo, PARA TODOS!

Desde a Escuela Provincial de Arte de Camaguey, onde já vivenciava uma cultura onde arte é para todos, até hoje, com 53 anos, o brasileiro de alma e coração reforça o poder que a dança tem de transformar vidas. Sua forma de ver o mundo e ensinar  é refúgio de uma sociedade que ainda não entendeu muito bem o que de fato é a diversidade. Sua dança atravessa as pessoas como uma navalha afiada. Ele desafia qualquer esfera de proximidade. Ele é apaixonante.

Nos dias de hoje

Atualmente, ele reforça todas as possibilidades de mexer o corpo como crítica, política e sentimento através de suas experimentações e da Coaduna Cia. de dança ao qual é diretor artístico. Basta ter corpo, estar aberto para acessar outras perspectivas e ter vontade. Ele sabe da importância disso na vida de muitas pessoas, principalmente na dele, entretanto, quero reforçar que não se trata apenas de importância e sim de uma mente que não se rotula.

Tudo que é oriundo dos colonizadores, Dadyer faz o possível para fugir. Ele não quer mais o mesmo, ele quer corpos como o meu, como o seu – que está lendo essa revista porque de certa forma se identificou – , quer a diversidade abundante do nosso país. Na Coaduna não existe ninguém parecido. Tem gente alta, magra… mas também tem gente gorda, negra, mais velha. Para ele isso é dança, possibilidades infinitas de pensamentos, formas, trejeitos e jeitos. 

Foto: arquivo pessoal.

 

Os grupos denominados como skinheads são muito diversificados, não se trata apenas de um único segmento ou de uma única ideologia. Existem grupos que lutam contra o preconceito e outros que tentam propagar uma suposta supremacia racial e de valores. Conheça alguns grupos skinheads existentes no Brasil:

Skinhead Tradicional

Também conhecido como trad skin, é um grupo cuja influência remete aos primeiros grupos skinheads britânicos dos anos 1960. Nesta época, o reggae jamaicano e o soul eram muito populares entre os jovens operários ingleses. Este grupo é antirracista, até mesmo devido a sua influência e apreciação pela música dos negros vindos da Jamaica.

Nazi-skin

Conhecidos, também como White Powers, este grupo prega a supremacia branca e o antissemitismo. Os nazi-skins ficaram conhecidos por promoverem atentados violentos contra homossexuais, negros, miscigenados e pregam ao extremo o nacionalismo, é comum o enaltecimento da figura de Adolf Hitler e do símbolo nazista da suástica.

“É difícil definir o porquê deste tipo de ação, levamos consideração os valores morais impostos pala sociedade e o próprio sujeito, autor deste tipo de violência, muitas vezes, é um sujeito discriminado”, explica a psicóloga Michelle de Almeida.

Skinheads contra o preconceito racial

Com o intuito de fugir dos rótulos pejorativos que os skinheads tradicionais passaram a ser definidos, no final dos anos 1980, foi criada uma vertente inglesa denominada SHARP (Skinheads Against Racial Prejudice ou Skinheads Contra o Preconceito Racial, em tradução livre). O grupo SHARP tenta fortalecer o caráter de integração mostrado pelos primeiros movimentos skinheads e fazem frente ao fascismo e ao racismo de alguns grupos de skinheads, além de adotar a postura de não ter ligação com partidos ou outras organizações políticas.

Os Carecas do Brasil

No Brasil, existe uma vertente denominada “Os Carecas”, o grupo é nacionalista e integralista,  são declaradamente contra movimentos de esquerda, principalmente, o comunismo. Adotam uma moral conservadora relacionada com o combate às drogas e o lema é “Deus, Pátria e Família”.

 

Por Marcelo Fraga e Rafaela Acar

Ilustração: Diego Gurgell