Há 25 anos o Brasil perdia Cazuza

Há 25 anos o Brasil perdia Cazuza

Cazuza morreu aos 32 anos de idade vítima de complicações em decorrência da AIDS

Vida e Carreira

Filho de Lucinha Araújo e João Araújo, ele era jovem de classe média, que não se contentava apenas com aquilo que lhe era mostrado, seu pai era um dos maiores nomes da indústria fonográfica do país, mas para ele isso não era o suficiente, ele queria mais, e mostrar seu talento sem depender do nome que seu pai adquiriu com o passar dos anos.

No ano de 1981 ingressa no grupo Barão Vermelho, que lança seu primeiro álbum no ano de 1982, e logo em seguida emplaca os maiores sucessos da época como “Bete Balanço”, fazendo sucesso nas rádios de todo o país e fazendo diversos shows, inclusive no Rock in Rio, em sua primeira edição no Brasil, em 1985. No mesmo ano do Rock in Rio, Cazuza decide abandonar o Barão Vermelho e seguir sua carreira solo, com o lançamento do disco “Exagerado”.

11733731_783343338449149_2076776090_o
Infográfico: Marina Rezende

Cazuza para os fãs

Para algumas pessoas, o dia sete de julho é um dia comum, mas para quem conhece e gosta da obra do cantor e compositor Cazuza, não é tão simples assim, é um dia triste, de memórias e lembranças de um ídolo que se foi jovem vítima da AIDS. “Assisti um show de Cazuza no Palácio das Artes em 1989, pouco antes de Cazuza falecer, em 1990, estava muito magro, com um lenço na cabeça, foi um show muito intimista, ele estava bastante debilitado por causa da doença e apenas com a voz baixa e seu violão. A plateia bastante emocionada”, desabafa Valéria Bontempo, 49, que é professora universitária.

Com um público bem diversificado e de todas as idades, o cantor tem um público bem fiel as suas letras e composições atualmente, mesmo 25 anos após seu falecimento. Para o publicitário Rodrigo Franco, 27, “Cazuza entrou em minha vida aos 12 anos de idade, quando iniciei a minha adolescência, meus amores platônicos dessa época foram embalados ao som de Caju. Tenho algumas semelhanças com o meu ídolo, principalmente a forte ligação com a mãe. Deixou o legado de um jovem rebelde que sempre demonstrava seus sentimentos e de forma translouca, acreditava que o Brasil poderia mudar”.

Legado de Cazuza:

O Jornal Contramão conversou com Thiago Pereira Alberto que é especialista em Crítica e Produção Cultural em Belo Horizonte.

Qual a sua análise sobre a carreira do cantor e compositor Cazuza?

Cazuza é um dos nomes cruciais para se entender a música brasileira dos anos 1980 para frente. Ele gostava e fazia e compunha rock, mas também gostava e compunha exemplares típicos de MPB, bossa nova, etc. Não era um xiita, não se escorou apenas nessa trincheira fundamental que foi o rock brasileiro dos 80´s. Regravou Cartola, Caetano Veloso (e foi regravado por ele), tem parcerias com Gilberto Gil (em “Um Trem Pras Estrelas”) e Ney Matogrosso (no campo afetivo e profissional) e por aí vai. Sua discografia pode se apresentar meio errática, mas possui exemplares notáveis do que de melhor se produziu na música brasileira durante o período em que viveu tanto nos excelentes primeiros discos do Barão quanto na carreira solo. Trata-se de um nome maíusculo, importantíssimo não só no campo da música, mas como retrato comportamental de toda uma geração.

Até que ponto você acha que a doença de Cazuza interferiu em sua carreira?

Interferiu, primeiramente, no sentido de abreviá-la, muito precocemente. Prova disso é a quantidade de material pós-morte que se apresentou depois. O que é algo bastante lamentável. Outro ponto de vista é justamente a opção de Cazuza, corajosamente, lidar com sua condição em público, na vida e na arte. É muito difícil, a partir de certo momento de sua carreira, isolar o dado da doença de sua trajetória. Ele se tornou uma espécie de exemplo e de vitrine da AIDS no Brasil, de forma muito nítida. No campo da criação, desenvolveu canções magníficas, densas, sobre sua situação, o embate entre vida e morte, sua condição de figura pública, etc. Não podemos esquecer que Cazuza morreu trabalhando, febrilmente, em busca de registrar tudo que podia; situação que é bem ilustrada no disco “Burguesia”. Podemos acreditar então que Cazuza tinha muito a produzir ainda.

Qual a sua opinião sobre a saída de Cazuza do Barão Vermelho? Para você, isso teve um impacto positivo na carreira do cantor?

Minha opinião é de que o público ganhou mais do que perdeu. Particularmente sou um admirador da obra do Barão pós-Cazuza, apesar de ter em alta conta os discos com Cazuza cantando e compondo, talvez estejam ali os melhores momentos criativos de ambas as partes. Mas, assim como o Barão driblou muito bem- e a duras penas- a ausência de Cazuza, a narrativa construída por Cazuza solo é interessantíssima, especialmente por tudo aquilo que pontuei na primeira resposta. Acho que ambos os lados encontraram saídas válidas e interessantes para seguirem em frente.

Qual o maior legado que Cazuza deixou para essa geração que não teve a oportunidade de o ver de perto e vivenciar sua obra?

A coragem, a personalidade, a liberdade musical, a firmeza poética, a vontade de narrar com precisão, em um primeiro momento, o seu “aqui e agora” de noitadas e amores expressos nas garrafas e bitucas de cigarro no Baixo Leblon, e, em um segundo momento, os temas universais à condição humana como a ética, o tempo, o amor e a morte.

Por: Raphael Duarte

Foto: Vivacazuza.org/ Divulgação

NO COMMENTS

Leave a Reply