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Copa do Mundo 2014

A Praça da Savassi tem vivido em ritmo quase carnavalesco durante a Copa do Mundo. Na noite de sábado, 14, o lugar virou palco de comemorações pela vitória da seleção colombiana. O amarelo do uniforme e os gritos de guerra eram constantes, assim como o sorriso dos taxistas e ambulantes que também aproveitavam a festa. O que faltou mesmo foram banheiros químicos espalhados pelo local, de forma que as bancas de jornal se tornavam mictórios para brasileiros e gringos.

De Manchester, o estudante Martin era só amor pelo país da Copa. Chegando em Belo Horizonte há duas semanas, o inglês decidiu ficar mais uma semana depois do jogo da Inglaterra, que acontece no dia 24, terça-feira. Suas palavras são carregadas de entusiasmo, “O que mais me chama atenção em Belo Horizonte é a noite. O pessoal é simpático e hospitaleiro, além de muito bonito. As mulheres são muito bonitas!”. Na noite deste sábado, o que espanta Martin é o grande volume de colombianos.

Aproveitando o forte movimento, ambulantes aumentaram significativamente seus preços: uma garrafa de catuaba costuma ser comercializado de R$ 12 à R$ 15 na região, ontem o preço mínimo eram R$ 20. Luís Gustavo de apenas 14 anos veio de Betim para se embrenhar entre os gringos e aproveitar a oportunidade para faturar. Otimismo é o que define o sentimento do taxista Cláudio: para ele o movimento tende a melhorar, mas desde já considera que o número de clientes aumentou consideravelmente. Para o profissional, a maior dificuldade é relacionada ao idioma e a grande variedade de culturas e línguas que desembarcam em BH, “mas o problema não é tão grave, por que a maioria vem sempre acompanhado de algum brasileiro”, ameniza.

O colombiano Pedro Antônio, que veio de Bogotá para acompanhar a vitória de sua seleção na tarde do mesmo sábado, também elogia os brasileiros, que classifica como uma gente muito gentil e bonita. O torcedor, no entanto, faz uma ressalva, “vocês são legais, mas poderiam estar mais preparados para a Copa”. Em relação ao idioma, ele revela que dificilmente encontra quem fale inglês ou espanhol, mas que os brasileiros são educados e falam devagar, o que facilita a compreensão, e que, portanto, não tem tido muita dificuldade em relação a isso.

Na noite de sábado a Savassi foi invadida pelos torcedores colombianos, o espanhol foi o idioma oficial da noite e os gritos de guerra faziam parecer que em Belo Horizonte a torcida é pela equipe da Colômbia. A falta de banheiros químicos, no entanto, foi o que destoou a festa, espalhando mau cheiro e constrangimentos em toda região. Este carnaval vai se alongar até o final dos jogos da Copa do Mundo, ainda é tempo de acertar as arestas.

Texto: Alex Bessas
Foto: Divirta-se Uai (Estado de Minas)

Em 2007, quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo em 2014, Herlanderson Silva sonhou com um evento que traria muita prosperidade para o bar que gerencia na Savassi. A região foi revitalizada há pouco tempo, além de abrigar muitos estabelecimentos e diversidade de pessoas – a combinação perfeita para unir o útil ao agradável: ganhar dinheiro e ter o prazer de receber turistas estrangeiros para torcer e ver o Brasil ser hexacampeão.

Entretanto a realidade hoje é outra. A poucos dias da abertura da Copa do Mundo, Silva não sabe dizer ao certo quando seu bar irá funcionar.

A dúvida surgiu a partir da experiência da Copa das Confederações, no ano passado. O bar, localizado à Rua Antônio de Albuquerque, sofreu prejuízos com os arrastões que pegaram onda junto com as manifestações que eclodiram por todo o país. “Estamos preparados para fechar as portas a qualquer momento se houver baderna”, explica.

No quarteirão da Rua Pernambuco, a livraria Status, investiu e apostou em um ambiente externo com música ao vivo, mas  foi impossibilitada de manter seu padrão durante os 32 dias de evento. “A Prefeitura de BH já nos notificou informando que não teremos alvará para usar o espaço externo, não será permitida música ao vivo nem montagem de telão, só poderemos utilizar o ambiente interno”, relata o gerente Charles Santana.

Em função de tanta burocracia, os demais bares da região decidiram não modificar nada no cardápio. Nada de coquetéis comemorativos, nem pratos novos, ou sequer decoração. “Apenas o reajuste nos valores, porque a Ambev já aumentou em 11% o preço da cerveja, que está por 7,90 a garrafa de 600 ml”, conta Jarbas Gomes, responsável pelo Baiana do Acarajé.

De acordo com Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel), após repercussão dos impactos que o setor de alimentação fora do lar sofreria com o segundo aumento consecutivo da tributação sobre bebidas frias, o Ministro da Fazenda se reuniu com o presidente executivo da Abrasel e representantes do setor de bebidas. Segundo Guido Mantega, aumento marcado para 1º de junho foi adiado para setembro e acontecerá de forma escalonada.

A ideia da Copa do mundo era mostrar uma cidade turística, capaz de receber pessoas de vários países. Por enquanto, consumidores e comerciantes estão muito receosos com o que irá acontecer nos dias de jogos, principalmente os que a cidade mineira irá sediar.

O belo-horizontino, habituado com o movimento boêmio da capital, terá que se adaptar neste período. Joana Melo, estudante de moda, moradora da região sul e cliente fiel dos bares da Savassi, diz que não tem intenção de assistir aos jogos na rua. “Já que não irão oferecer nenhum diferencial e diante da expectativa de violência, optei por torcer na casa de amigos”, explica.

Já em relação à exibição dos jogos, no interior dos estabelecimentos, a FIFA estabelece condições, que podem ser consultadas no site Exibição Pública FIFA. E sobre a colocação de telões nas calçadas dos estabelecimentos para a exibição dos jogos, o interessado precisa licenciar o evento na Prefeitura e seguir as condições da FIFA, de acordo com o regional Centro-Sul.

Já a Secretaria Municipal Extraordinária da Copa do Mundo (SMCOPA) disse que Belo Horizonte terá dois eventos oficiais durante a Copa do Mundo – os jogos que serão realizados no Mineirão e o FIFA Fan Fest, evento de exibição pública dos jogos, no Expominas.

Texto: Grazi Souza, Silva de Assis e Ursulla Magro

Foto: João Alves

Com desenho urbanístico concluído e apresentado à população na noite de ontem, no Cine Cento e Quatro, o projeto Corredor Cultural Estação das Artes contou com engajamento de diversos setores da sociedade civil. No próximo dia 10 de julho a Prefeitura de Belo Horizonte receberá o projeto e, através dele, pleiteará a verba de R$ 21,8 milhões pelo PAC das Cidades Históricas – programa do Ministério da Cultura que visa preservar o patrimônio brasileiro cujo repasse se dá através de convênio com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Segundo declarações do representante da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Álvaro Sales, em audiência na Câmara Municipal de Belo Horizonte, o Ministério da Cultura sinalizou positivamente ao projeto que deve ser aprovado caso pareça viável sua efetivação até a Copa do Mundo de 2014.

O desenho urbanístico, assinado pelo arquiteto André Buarque, foi elaborado a partir do constante diálogo com a sociedade civil que se organizou na forma de uma Comissão de Acompanhamento com representantes de nove diferentes esferas da comunidade: a Fundação Municipal de Cultura foi representada por Álvaro Américo Sales, o Conselho Municipal de Cultura por Rafael Barros, os movimentos sociais por Thiago Antônio Costa de Almeida, a classe artística por Henrique Alexandre de Sena, os comerciantes por Antônio Eustáquio, os moradores do entorno por Andréia Costa, os arquitetos e urbanistas por Flavio de Lemos Carsalade, os praticantes de modalidades de esportes urbanos por João Francisco Emmermacher Seixas, a população em situação de rua por Jadir de Assis e João Paulo Alves Fonseca foi o representante da mobilidade e acessibilidade. “O grupo, além de acompanhar o trabalho do desenho urbanístico, pensou em uma série de ações com o objetivo de ampliar o uso do Corredor Cultural e tem pensado em políticas públicas para este local, entre as preocupações esta a tentativa de alterar a lei de uso da Praça da Estação”, explicou o membro da comissão, professor de teatro e membro do grupo teatral ‘Espanca!’, Gustavo Bueno.

O jornalista e ativista cultural, Israel do Vale, que vem acompanhando as reuniões dos grupos desde o ano passado, explica que o primeiro projeto apresentado pela Prefeitura de Belo Horizonte sofreu diversas alterações até chegar ao desenho apresentado ontem. O ativista revela que, desde o início das reuniões com lideranças da comunidade, gestores e agentes culturais, houve a preocupação de resguardar quem já morava ou frequentava aquela região.

Gustavo Bones esclarece que o projeto apresentado ontem é a idealização do que deve ser o Corredor Cultural Estação das Artes. “Com a verba que deve ser destinada será possível a realização de melhorias pontuais, como a instalação de banheiros, a iluminação de algumas vias. O projeto que criamos é um projeto ideal, ele existe para que a cidade possa lutar por ele.”. Rafael Barros, Conselheiro Municipal de Cultura pela sociedade civil, ratifica a afirmação de Bones: “O projeto atual é muito amplo. Não sei precisar, mas talvez seja vinte vezes maior do que possibilita a verba que deve vir. Possivelmente, [o projeto] deverá ser trabalhado na próxima década.”. Entre as obras contempladas estão a criação de ciclovias, praças, iluminação, piso para pedestres, banheiros públicos, além de um parque aberto 24 horas. O complexo abrangerá desde a Avenida dos Andradas, na altura da Rua Varginha, no Bairro Floresta, até as proximidades do Parque Municipal, além da Rua Sapucaí.

Pensado para que as obras não conduzam a gentrificação – processo de valorização imobiliária em que a população carente é prejudicada, ou até expulsa da região -, Gustavo Bones revela estar preocupado quanto a realização do projeto: “Pensamos em meios de proteger a diversidade. Mas temos a preocupação de que o projeto não seja realizado desta maneira. Em nosso projeto as mudanças, as transformações não excluem a população que já estava lá. Ao contrário, tentamos ao máximo incluí-los. Tememos que isso não seja respeitado, que se adote uma política higienista.”.

Por Alex Bessas

Foto extraída do perfil ‘Corredor Cultural Praça da Estação’ no Facebook.