Crônica

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Hoje é dia de escrita criativa aqui no Contramão! A Produção é de uma aluna de Publicidade e Propaganda, se liga no textão!

Ela não vai mais voltar

Por Larissa Medeiros 

Fala pro seu coração desistir de disparar toda vez que o celular vibrar

Ela não vai mais voltar

Provavelmente é só um colega da faculdade, chamando pra tomar uma cerveja

Jurando que essa noite você vai esquecê-la

Mas você prefere ficar em casa

Lendo o livro de poesias que ela gostava

Pra ver se assim consegue encontrar algum código, decifrar algum enigma

E entender o porquê de ela ter partido.

Você pode parar de ensaiar suas falas no espelho

Ela não vai mais voltar

Você não vai precisar fazer esse discurso

Sobre como as últimas noites foram tão mais frias sem os batimentos cardíacos dela sobre seu peito

Sem os cabelos dela no travesseiro ao lado

Ou a gargalhada dela que enchia o quarto, o apartamento e a sua vida.

Pode parar de deixar a porta do quarto destrancada

Ela não vai mais voltar

Ela não vai entrar na ponta dos pés e se aninhar a você

Tranca a porta, dorme com a solidão por hoje

E amanhã, quando acordar

Não precisa comprar a geleia que ela gostava de comer no café

Afinal, só vai servir pra vencer na geladeira, porque você sabe

Ela não vai mais voltar.

Pode jogar todos os discos dos Beatles dela fora

Vender os livros num sebo

Dar as roupas dela pra caridade

E até adotar um gato, já que ela não vai estar lá pra reclamar da alergia

Eu sei que ela jurou amor eterno

E que garotas podem ser más às vezes

Mas também sei de outra coisa

Ela não vai mais voltar

Então toca sua vida como todo mundo faz

Com um lado da cama vazio

Um coração cicatrizando

Mas com uma boa história de amor pra contar.

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Por Larissa Medeiros 

Chego cedo, é claro. Mesmo após passar horas me convencendo de que toda roupa que experimentava mostrava pele demais ou pele de menos. Mesmo após ter discado o número dele quatro vezes e ensaiado um discurso falso em que meu gato teria morrido tragicamente e que tudo teria que ser cancelado. Mesmo após me desviar do caminho intencionalmente na tentativa de me perder e nunca mais ser encontrada pra dar explicações.

Mesmo assim, chego cedo, exatos 30 minutos mais cedo. A mesma antecedência de quando te encontrei pela primeira vez. Me lembro de quando te vi procurando por mim com os olhos na entrada, ele faz o mesmo. Ele também está usando uma camiseta preta, mas o sorriso ao me ver parece mais confiante do que o seu foi. Ele beija minha bochecha e se senta, e ele não sabe como foi gentil. E, droga, eu queria que não fosse tão gentil.

Passo a refeição inteira procurando por um motivo. Maus modos à mesa, hobbies esquisitos, um olhar demorado para o decote de outra mulher, uma gíria irritante, a confissão de um crime. Qualquer desculpa para que eu pudesse sair pela porta e nunca mais atender uma ligação dele, mas nada disso acontece. Ele é só um cara normal, e nós conversamos sobre todos os assuntos que aparecem na mesa, todos menos um. Porque toda vez que ele menciona alguém de seu passado, eu desvio os olhos ou finjo interesse em algo trivial do lado de fora da janela. E ele percebe, e me lança aquele olhar de sempre, o olhar de pena. O que é loucura, é claro que é, ele não sabe. Ou pelo menos não deveria saber.

E agora estou com você na cabeça. Isso é tudo o que eu não queria que acontecesse, e ao mesmo tempo, tudo que eu tinha certeza de que aconteceria. Seria impossível não compará-lo a você. E não é justo, quando você era tão familiar e ele ainda nem sabe qual é a minha sobremesa preferida. Tento evitar, mas todos os cheiros e todas as formas ao redor se tornam, de algum jeito, sobre você.

Ele fala sobre irmos a outro lugar, e acredito que talvez seja mais fácil nesse outro lugar. Mas enquanto caminhamos, ele segura minha mão, me fazendo recuar. Me fazendo recuar tanto, que um sorriso corado não justifica. Não é tão assustador assim um cara querer segurar a mão da garota com quem acabou de almoçar, é? Mas ele entende. E em alguns momentos coloca a mão em minhas costas, como que para me guiar, mas eu sei que é um disfarce para conseguir me tocar sem que pareça íntimo demais.

Tomara que ele não me beije. Todas as vezes em que ele olha pra mim por mais de um segundo, torço para que não me beije, não quero sentir outra textura se não a sua. Mas ele beija, sem me dar tempo pra pensar. E pela primeira vez minha mente se esvazia. Não penso sobre o toque dele no meu cabelo, nem no momento em que ele me puxa pela cintura, muito menos no que minhas mãos enlaçando seu pescoço significam. Eu apenas sinto. E quando nos afastamos, eu só penso nos olhos dele. Não nos seus.

Quando se dá conta do meu espanto misturado com choro, ele começa a falar, mas eu o calo. Nenhuma mulher quer ouvir desculpas por ter sido beijada apaixonadamente. Certamente se alguém precisa pedir desculpas sou eu, por ter desaprendido a beijar lábios que não fossem os seus. Mas eu sorrio. Um sorriso bonito e divertido, o primeiro desses que consigo destinar a outro homem. Sorrio porque sei que o pouco que conheço dele, está disposto a amar. E o pouco de amor que você me deixou, estou disposta a oferecer. E lá do céu, sei que você piscou pra mim. E eu só tenho a agradecer.

 

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*Por Moisés Martins

Desde a descoberta do vírus SARS-CoV-2, conhecido como Covid-19, a humanidade passa por momentos difíceis, esse ser invisível foi capaz de mudar a vida e o destino de todos.

Logo, uma das medidas de segurança adotada pelo governo de Minas, foi esvaziar as escolas públicas e privadas. Eu pergunto: Onde estão nossas crianças, aquelas que muitos dizem ser o futuro da nossa nação?

Eu busco respostas para essa pergunta todos os dias, ao olhar pela janela e ver uma escola completamente abandonada, a alegria que aqui existia tomou lugar para o silêncio e uma solidão sem fim. Os gritos e as conversações cessaram, por aqui é como se o tempo estivesse parado.

Durante o dia os pássaros cantam, e a noite ouço o estridular dos grilos, uma sinfonia animal tomou conta dos espaços que antes eram habitados por jovens e crianças do ensino médio e fundamental. Quando chega a noite, as luzes tentam iluminar o lado mais sombrio de uma escola vazia, é uma tristeza que parece não ter fim.

Com a ajuda de fenômenos da natureza, principalmente as chuvas, os matos têm crescido cada vez mais, e a poeira nos vidros das janelas aparenta cada vez mais um ar de lugar esquecido.

Nossas crianças, estão “presas” dentro de casa, ligadas ao mundo virtual e circundadas da tecnologia, enquanto os pais se submetem todos os dias a pegar conduções completamente lotadas para ir ao trabalho, correndo sérios riscos de terem contato direto com o vírus. Hipocrisia? Talvez!

Mas a economia precisa se manter, os pais e mães de família precisam levar alimento para dentro de casa, e a educação e o ensino se mostram cada vez menos importantes nesse país capitalista que visa somente o lucro.

Em casa, só os que possuem acesso a internet recebe informações e aulas online, uma pesquisa publicada em 29 de abril de 2020 pela Agência Brasil, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), juntamente com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação

(Pnad Contínua TIC), mostra que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros que não acessam a rede, um número bastante expressivo.

Em 2020 fomos pegos de surpresa, sofremos e tivemos muitas perdas, foi um ano muito difícil, mas acabou! E nele ficou toda a angústia e frustrações causadas pelo vírus.

O ano de 2021 chegou, e junto com ele a esperança da vacinação. Temos vacina! Ufa, que alívio. Agora, será quanto tempo mais nossos jovens vão demorar para retornar às escolas? Quanto a essa resposta, acredito que vamos ter que aguardar mais um pouco, já que o público jovem ainda não é prioridade no calendário de vacinação.

Aguardamos ansiosos para que todos os brasileiros se vacinem, e junto a isso, nossas escolas voltem a funcionar, cabe aos nossos governantes criar um plano de ação para que o ensino presencial volte gradativamente, e os alunos possam começar a correr atrás do prejuízo e do tempo perdido. Dias melhores virão, e em breve nossas escolas vão estar prontas para receber os alunos novamente, o sol há de brilhar e toda alegria perdida será restabelecida. Que não percamos a esperança!

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Hoje é dia de texto do e-book “Escrita Criativa: O avesso das palavras”, produto final do projeto de extensão conduzido pela escritora e  professora do Centro Universitário Una, Geanneti Tavares Salomon. 

A produção “Alice” é da estudante de Biomedicina, Gabriela Rocha Coutinho.

 

Alice

*Por Gabriella Rocha Coutinho

Sempre fui silenciada

pelo que existe de mais bonito em mim:

os meus excessos.

Essa tentativa de me chutar para dentro da caixa

de onde eu saí,

como se eu fosse domável.

A vida toda eu fui imparável.

A história real é muito vazia de malícia:

peco justamente por acreditar tanto.

Sou tão mais simples do que a imagem que pintam,

mas ninguém quer saber a verdade.

O quadro já está feito.

A voz incomoda

e todos os dias rompo novas grades

dessas prisões da vida.

Sempre fui de chutar as portas.

Algemas não me cabem.

Há uma gratuidade inadmissível

nessa mania de apontar dedo

e profanar ofensas.

É arrancar o meu chão

onde eu mais tinha fé

que a base era sólida.

Me transformaram em bala

e me disseram para encontrar a paz.

Me pedem palavras e compreensão

quando eu menos tenho controle.

Sou sozinha no escuro da noite

e sigo esperando por perdões que nunca vêm.

 

Sempre entreguei de graça,

passando a 130 no quebra-molas,

me colocando como o peso menor na balança.

Vesti a máscara de palhaço

e acordei outro dia sem mostrar nem uma lágrima.

Chega de me desmontar para te ver respirando

e sustentar seus traumas para que eles me ataquem.

Me disseram que o amor tudo suporta,

mas eu nunca vi nobreza nisso.

Escuto seu grito e não julgo necessário ficar.

Não existe amor

onde meus sentimentos

são enfiados para debaixo do tapete.

Sempre convivi com a ameaça do abandono,

mas nunca reconheci a minha própria força.

A verdade é que eu já estive

várias vezes

nessa toca de coelho,

mas eu me belisco:

nunca mais vou retornar.

Nunca mais serei a mesma passividade

que um dia eu fui.

Encontrei a superfície

e agora posso respirar.

Aprendi a nadar nesse mar de rumores.

 

Para acessar o e-book completo clique no link.

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*Por Moisés Martins

Antoine Laurent Lavoisier, conhecido como Lavoisier foi um grande químico do século XVIII, o parisiense se interessou pela ciência e tomou gosto pela química, logo ficou conhecido por derrubar teorias científicas. 

Em 1777, era o princípio da conservação de massas, conhecido pela frase: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Hoje, em pleno século XXI, a então frase ainda é muito usada, e é por isso que resolvi usar ela para falar de transformação.

Do lado de fora da janela do meu quarto, me chama atenção um pé de Sechium edule, o famoso “pé de chuchu”, em algumas regiões recebe o nome de machucho, caiota e pimpinela, mas aqui, é só chuchu mesmo.

Mas vocês devem estar se perguntando: O que o pé de chuchu tem haver com transformação? É aí que começa a história!

Por se tratar de uma trepadeira herbácea (Plantas de caule macio ou maleável, normalmente rasteiro), o pé de chuchu necessita de um apoio superficial para que consiga crescer e se ramificar, o daqui de casa por exemplo, cresceu sobre uma goiabeira.

No princípio havia a dúvida se o pé de goiaba seria sufocado pelos ramos, mas logo descobrimos que plantas trepadeiras não são parasitas, então optamos por deixar a natureza seguir o seu curso. Meses se passaram, e já não era mais possível ver as folhas e nem se quer o próprio tronco da goiabeira. O pé de chuchu tomou forma e logo veio a colheita.

Nos primeiros meses o chuchuzeiro surpreendeu a todos, teve um mês em que foram colhidos quatrocentos frutos, uma média de quinze por dia. Foi uma grande transformação, com tanta fartura, a felicidade de quem o plantou foi duplicada, e famílias foram contempladas com a hortaliça que foi ganhando cada vez mais cuidado e atenção, além da fama.

Ninguém se quer lembrava do infrutífero pé de goiaba, nem mesmo os pássaros, que aproveitaram os raminhos fechados para fazerem seus ninhos e se reproduzirem, as lagartas faziam os seus casulos e se transformavam em lindas borboletas, e os filhotes de Gambá ficavam escondidos nos emaranhados do chuchu, enquanto sua mãe os alimentavam. Uma verdadeira obra da natureza.

Dia e noite quando olho para o chuchuzeiro vejo uma cena diferente.

Pela manhã, o lindo assobio dos pássaros me acorda, a noite o barulho dos grilos e gafanhotos me incomoda, mas isso me deixa feliz, vejo que na natureza nada se cria tudo se transforma.

Às vezes o perder se faz necessário para entendermos o poder das transformações, podemos não assimilar logo de imediato o que está acontecendo, mas quando olhamos para trás podemos ver o quão a mudança é linda e se faz importante e necessária.

Hoje com a pandemia de COVID 19, e com o pedido de isolamento social para diminuir o contágio do vírus, as pessoas precisam ficar em casa. É necessário entender, o mundo é outro, os olhares são outros, as prioridades já não são mais as mesmas, o tempo corrido já não existe mais. O que vai ser de nós no futuro? Estamos sempre em processo de mudanças e transformações.

O cenário não nos permite caminhar mais sozinhos, o pensamento egoísta e o egocentrismo tomou novas formas, é necessário aproximação (mesmo que distante), é preciso ter empatia, escutar e entender o outro, só será possível erradicar esse vírus se a humanidade pensar e agir coletivamente.

Dentro de casa, buscamos o carinho de quem está do nosso lado, é como o apoio que o pé de chuchu precisa, sabe?. Estamos todos psicologicamente abalados, o momento é delicado, precisamos de afeto.

Da minha janela, vejo todos os dias o verdadeiro exemplo de transformação, e é com a brisa gelada do vento batendo agora em meu pescoço, que encerro meu texto com a esperança de que dias melhores virão, que a humanidade entenda que tudo que estamos passando agora faz parte de uma grande mudança no cosmo, e que só colheremos os resultados positivos dessa crise mundial, no futuro. Às vezes a dor se faz necessária para que haja um bom aprendizado. 

 

*A crônica foi produzida sob a supervisão do professor Maurício Guilherme Silva Jr. e da jornalista Daniela Reis

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*Por Ana Luiza Passos (aluna do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Una)

Desde que iniciou-se o isolamento social notei, principalmente nas redes, a crescente pressão em ocupar todo e qualquer tempo ocioso que temos. No início estava seguindo a receita ao pé da letra e depois de esgotar minha lista de atividades, o que me restou foi aquilo que antes era o que mais queria: tempo. E o tempo se mostrou um péssimo amigo. Ficar comigo mesma me obrigou a visitar algumas questões que, inconscientemente, evitava. Isso é nenhum pouco divertido.

Nós criamos distrações, fazemos de tudo para fugir de nós mesmos para não lidar com nossas dores. Mas sofremos ainda assim, a cada nova batalha travada, sangramos por razões que sempre se renovam. Nós apostamos e perdemos, amamos e nos magoamos. Um inquebrável ciclo centrado na nossa ideia do ‘eu’ e do ‘meu’. Construímos mil caminhos e esconderijos dentro de nós para fugir de nossos fantasmas, e, no fim, acabamos mais confusos e perdidos.

Uma parede com infiltração não deixa de estar danificada só porque colocamos um belo papel decorativo por cima. Enterrar os problemas com mil afazeres é apenas uma solução paliativa, não resolve e nem os faz, milagrosamente, desaparecer. Estamos cada vez mais doentes e o esforço para sempre aparentar estar bem é justamente o que está nos adoecendo. E se, ao invés de ignorar, nós olhássemos para nossos sofrimentos e os encarássemos, sem medo? Se lidássemos com as nossas questões a fim de entendê-las, será que ainda sentiríamos tanta dor? Nos mantemos em situações ruins por medo da mudança, do desconhecido. Mas nos escondemos tão profundamente de nós mesmos que nos tornamos desconhecidos. Nosso medo de encarar o que é real, muitas vezes é o que impede que nossas feridas se curem, o que nos atormentam o sono, o que nos corrói por dentro.

Talvez, nesse momento de isolamento social, o melhor mesmo seja desacelerar. Talvez não realizar várias atividades seja a coisa mais proveitosa a se fazer. Talvez repensar nossa vida, rever nossas prioridades, cuidar da nossa mente, do nosso emocional, seja a melhor ocupação para a quarentena. Talvez o que realmente precisamos é ser mais improdutivos.

 

*Revisão: Daniela Reis